quarta-feira, 19 de novembro de 2008

No Paraíso... Céu (2004)


Que a música brasileira é cheia de grandes cantoras, belas vozes, elegantes, sensuais, e de muito bom gosto não é novidade. Mas quando uma nova cantora aparece com repertório novo, banda nova, cara nova, tudo novo, e de muito boa qualidade é sempre uma delícia. É o caso da Céu, que apareceu com este disco homônimo de 2004, onde a mistura da tradição, violão, cavaquinho, pandeiro e percussão típica do samba, com a modernidade de scratches e loops eletrônicos convive com tamanha suavidade que mal se percebe a inusitada mistura.


Em Lenda, Céu canta suavemente uma ameaça a príncipe encantado: num instante você vira sapo. É ela quem manda, e já avisa de saída. O choro Malemolência é executado com scratches acompanhando cavaquinho, e em Roda ela adverte caiu na roda ou acorda ou vai rodar... Lúcio Maia (ver posts anteriores, sobre o Futura da Nação Zumbi) é convidado para tocar guitarra nesta faixa. Rainha é minha música predileta, coincidentemente é a única que ela assina sozinha a composição. A música é levada por um baixo hipnótico que comanda o ritmo da seção percussiva e o naipe de metais. O refrão em forma de pergunta-resposta é um primor e na música toda, Céu contrapõe força e suavidade magistralmente.


10 Contados é um lamento acústico (na harmonia, porque o ritmo é recheado de loops eletrônicos) de saudade, bem-humorado e Céu faz voz e contracanto, ficou lindo! Segue Mais um Lamento, de saudade como o anterior, só que mais sóbrio. Neste “mais um lamento entre tantos já feitos”, Céu é mais mulher que a criança-adolescente do anterior. Concrete Jungle é um dos dois covers do disco, e ficou sensacional. Céu mais uma vez suaviza a Selva de Concreto e a ginga lenta do reggae fica mais suingada, mais abrasileirada aqui. Lúcio Maia, de novo, ajuda nas guitarras ao lado parceiro e produtor Beto Villares.


Véu da Noite é quase um jam session da banda já que o verso da música é mínimo. Uma concessão justa, já que a música ficou excelente, muito bem temperada na seção rítmica e com o balanço certo de guitarra, teclado e sopros. O chorinho Valsa pra Biu Roque vem em seguida, apresentando um formato mais tradicional só de voz, violão e bandolim. Ave Cruz é uma queixa, meu deus faça o favor de retornar o recado... o meu cabelo insiste em acordar despenteado. Até pra se queixar ela mantém o bom-humor. Essa aparentemente foi a música de rádio do disco, que apesar da roupagem eletrônica é um samba.


De João Bosco e Aldir Blanc vem O Ronco da Cuíca, que ficou excelente nesta roupagem moderna, mostrando que o caminho que seu som indica encaixa muito bem na tradição da MPB. O disco termina com o sambinha Bobagem e o delicioso Samba na Sola, um elogio ao povo brasileiro, antes de uma versão remix de Malemolência. A foto da capa ilustra o primeiro verso de Bobagem: minha beleza não é efêmera como o que eu vejo em bancas por aí... Só essa foto já vale o disco. [MATEUS]


2 comentários:

  1. Parabens pelo texto. O final foi show de bola. Eh ateh sacanagem o que ela eh bonita. Entrou na fila no lugar de muita gente.

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  2. Esqueci de dizer que devo esta resenha à Andréa, que me "apresentou" o disco... [MATEUS]

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