quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

música pra festa!




Rappa mundi: mesmo sem ser da Bahia, esse segundo disco do Rappa é perfeito pra animar festas, churrascos e assemelhados.
Não que seja superficial ou banal. O som é ótimo, suingado, animado, mas tem muitos bons timbres e muitos detalhes de sons, principalmente barulhinhos eletrônicos, melhor ouvidos em fones de ouvido. E flui do pop ao reggae e passa ao rock, com pitadas de dub jamaicano da melhor safra. E apesar de 3 versões e músicas de outros autores, dá pra ouvir direto e nem desconfiar disso. Um disco redondinho.

Começa muito bem com a conhecida 'A feira', com uma letra ambígua e malandra sobre 'ervas que aliviam e temperam'. Um excelente cartão de visitas, resumindo tudo descrito acima.

Na seqüência vem 'Miséria S. A.', de Pedro Luís (que também merece discos por aqui!). Lembro a primeira vez que prestei atenção na letra engraçada: estava numa pousada em Visconde de Mauá, RJ, pós almoço, naquela preguiça, naquele estado intermediário entre a vigília e o sono. Quando ouvi a música (com uma grande amiga), rimos tanto que o sono se foi... Pra quem não conhece, é aquele discurso de pedintes de dinheiro transformado em música.

'Vapor barato', de Waly Salomão (que em disco posterior do Rappa se envolveu mais com a produção) e Jards Macalé, já foi gravada por muita gente, mas as pessoas da minha geração (entre 30 e muitos e 40 e poucos), que não eram muito fãs de MPB, reconhecem essa como A Versão. Sempre um hit ao vivo!

'Ilê ayê', do baiano Paulinho Camafeu, também é uma versão sensacional, começando com uma guitarra com drive lindo e uma bateria atropelando tudo, cortesia dos Mestres Xandão e Yuka. Orgulho negro balançando o esqueleto.

'Hey Joe' (de Bill Roberts) é mais uma versão (de Ivo Meirelles e Marcelo Yuka). Mistura uma levada reggae (que incorpora riffs hendrixianos!, além de um break maneiríssimo) com passagens vocais rapeadas pelo Marcelo D2, parceiro e cúmplice da invasão carioca que se perpetrou na época e prossegue até hoje. A letra foi adaptada à realidade violenta e armada do Rio. 'Também morre quem atira'.

'Pescador de ilusões' é hoje uma música obrigatória nos shows do Rappa, cantada a plenos pulmões onde quer que seja tocada. E com razão, é pop, bela e cativante.

'Uma ajuda' traz o balanço pesado de volta, mesmo sendo quase romântica em sua letra. 'Como é bom te ver, é uma ajuda, se é!'

A seqüência daqui pra frente é matadora: 'Eu quero ver gol' (praia e futebol), 'Eu não sei mentir direito' (no país do futebol, o jogo de cintura ou ginga ou jeitinho brasuca podem se manifestar de muitas maneiras, e algumas positivas), 'O homem bomba' e a sensacional 'Tumulto' são, além de boas músicas, relatos cotidianos e críticas sociais muito autênticos e sem chatice, você ouve e se sente na narrativa, entendendo toda a situação, mesmo sem ser do Rio. Todas com excelentes quebradas de bateria, levadas reggae impulsionantes e aquele baixo preciso, além dos barulinhos eletrônicos.

O disco dá uma relaxada no final, que ninguém é de ferro.
'Lei da sobrevivência (palha de cana)' tem uma guitarra discretamente distorcida, mas já é mais lenta, antecipando o fim.

'Óia o rapa' (nota: rapa é um gíria carioca que significa a repressão aos vendedores de rua), de Lenine e Sergio Natureza, termina com chave de ouro, com uma bateria que parece eletrônica pela duras quebradas que não param de rolar ao fundo, além de uma voz distorcida (que parece do Lenine).
Eu já comprei o cd duas vezes, e duas vezes me roubaram. O jeito foi baixar... Espero que eles voltem a compor e tocar ao vivo em breve!!!
Ah, produção de Liminha.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O som do sim



Contundente.
Esse disco 'solo' do Herbert Vianna é anterior ao acidente que o deixou paraplégico.
Mas já tem um vigor contra a violência, que depois se mostraria mais presente nos discos dos Paralamas.
Ele convida vocalistas amigos pra dar um colorido muito legal e variado ao disco. Algumas sonoridades são bem diferentes das que estamos acostumados a ouvir com os Paralamas.

'O muro', com meu conterrâneo niteroense Black Alien (um dos artistas/poetas subestimados e menos citados por aí), começa muito bem, fugindo do som rap característico, mas com forte letra, sobre a violência cotidiana e banal, aparentemente mais visível no Rio de Janeiro.
'Será que quem puxa o gatilho
vê que são pais, irmãos e filhos
que já não sabem mais dizer
de que lado o mal está'.

'História de uma bala' continua nesse tema, com a voz sempre malandra da Fernandinha Abreu e um excelente e surpreendente solo de scratch, cortesia do mestre DJ Nuts.

'Vamos viver' traz Sandra de Sá e um clima mais positivo e cotidiano, orquestra discreta, produção de Liminha, um dos vários produtores presentes no disco, escolha inteligente que traz mais variedade à produção.
'Vamos consertar o mundo
vamos começar lavando os pratos
nos ajudar uns aos outros
me deixe amarrar os seus sapatos'

'Partir, andar' é linda. Um som mais leve, próximo do som típico da convidada Zélia Duncan. Quase uma bossa nova. Emocionante.

'Mr Scarecrow' traz a voz rasgada da Cassia Eller. Rock'n'roll!

'Hoje canções' é a mais atípica do álbum. Composta com Paulo Sérgio Valle, é uma típica bossa de beira praiana que, para coroar e ressaltar isso, traz a voz de Nana Caymmi. Ainda tem Marcos Valle no arranjo, regência, piano e vocais. Herbert só no violão e voz, provavelmente num banquinho.

'A mais', composta com Pedro Luís, traz a voz de Fernanda Takai, que é muito discreta, quase backing vocal quando canta junto com Herbert. Mistura uma base meio programada e uns slides maneiríssimos.

'Inbetween days', cover do Cure, conta com os charmosos vocais de Érica Martins. Ficou diferente, quase bossa, tipo aqueles discos rock in bossa...quem sabe não foi colaboração oculta do Emerson Nogueira...

'Eu não sei nada' é a minha preferida. Voz rouca e gaita de Luciana Pestano (quem é essa mulher? me ajude por favor), gravada e exposta até na respiração ofegante. Tecladinho Hammond e piano de Henrique Portugal (do Skank, o grupo). Letra genial. Riff criativo de Mr Vianna.

'Um truque', com Moreno Veloso acompanhado de integrantes do 'Mulheres que dizem sim' e percussão de Dado Villa-Lobos, é legalzinha, balançante e divertida.
'E o som do sim
é tudo que se ouvirá de mim'

'Une chaison triste' é dedicada a Renato Manfredini Júnior. Bem francesa e marítima, mais ainda com a voz etérea e processada de Daúde. Lembra trilhas de filmes, com uns belos sopros. Encerra o disco de modo bem leve e alto astral.

Diga Sim!

sábado, 11 de dezembro de 2010

O Canto do Cisne da Gal



Já indiquei aqui alguma coisa do Roberto Carlos, que tem como destaque em sua trajetória a sua acentuada decadência. Gênio autêntico em minha opinião, mas que imagino ter uma montanha de contas e compromissos a saldar. Só isso justifica continuar do jeito que anda.

O mesmo vale para o Titãs...e para a Gal.

Em algum momento tiveram uma chance de ouro para parar, jogar toalha e curtir seus netos ou bichinhos de estimação em paz. Comprar brinquedos pra sobrinhos ou jaquetinhas pra poodles era o que poderiam estar fazendo já há algum tempo.

Mas não! deram uma de Rocky Balboa e insistiram. Lástima.

Tudo isso para indicar o MINA D'ÁGUA DO MEU CANTO.

Diz uma antiga crença que o cisne-branco é mudo durante toda a sua vida, mas pode cantar uma bela e triste canção imediatamente antes de morrer.

Esse disco foi o canto do cisne da Gal. Naturalmente ninguém aqui tá matando a moça, por óbvio.

Disco de 1995 realmente bom. Somente com musicas de Chico e Caetano. E musicas escolhidas a dedo!

Só para ficar numa única indicação de cada um: Desalento e Milagres do Povo. As demais seguem o mesmo padrão.

Sempre acreditei que atingir o seu melhor tão cedo acaba se tornando uma maldição. Gal fez o seu "Gal Canta Caymmi - 1976" e "Gal Tropical - 1979". Ok, maravilhosos, indispensáveis mesmo. O problema é o "Gal a Todo Vapor - 1971". Simplesmente não dava para fazer coisa melhor! Já em 1971 a moça iniciou sua queda. Claro! quem não desejaria uma queda nestes termos...mas...

O "MINA D'ÁGUA DO MEU CANTO" apenas findou o processo de forma elegante. Depois dele deixei de me preocupar com a Gal.

ZEBA