sábado, 17 de janeiro de 2015
Álibi. Maria Bethania.
É batata! Vez ou outra você se vê num desses programas de índio inevitáveis e se pergunta: quéqueutôfazendoaqui? Churrascos com prazo de validade de duas horas, por exemplo. É nessa hora que sempre fantasio a perfeição. A perfeição atende pelo nome de Jair Rodrigues, Antonio Carlos Mussum, Maria Alcina e Wally Salomão. Churrasco perfeito.
Wally Salomão é co-autor da musica mais bacana desse disco: A faixa nº 4. O que nos remete a curiosidade desse disco icônico, que é a de, possivelmente, ser o único trabalho genial onde as três primeiras musicas não valem uma pataca.
O que torna indispensável o “Álibi” são as faixas 5, 6 e 7. Simplesmente são as versões definitivas de Ronda, Explode Coração e Negue. Isso em 1978. Seria algo comparável ao Pelé ser eleito o melhor jogador do século faltando vinte anos para o fim daquele centenário. Quero dizer, ninguém jamais interpretará melhor, enquanto esse globo for habitável, essas três musicas depois de 78.
Outra curiosidade do disco é que as duas parcerias com Bethania em musicas maravilhosas resultaram em uma coisa xoxa. E parceiras que em 1978 estavam no auge da voz. Alcione em “O meu Amor” e Gal em “Sonho meu”. Até Claudia Ohana e Marieta Severo no “Opera do Malandro” disco filme e disco peça fizeram mais bonito com Elba Ramalho neste “O meu Amor”.
“Cálice” está ótima com Bethania. Mas Cálice é Cálice. Possivelmente, junto com “Brejo da Cruz” e “Uma canção Desnaturada”, é a musica mais intensa do Chico. Meu, até Ritchie faria bonito! Seja como for, ainda perde para versão original com Milton no disco “Feijoada Completa”.
Voltando as faixas 5, 6 e 7. Me recordo de meu amigo Pimenta um dia asseverar: “Zeba, a coisa é o seguinte: se Maria Bethania cantar parabéns para você, nesta data querida...você realmente se sente envelhecendo mais um ano.
ZEBA
ET. Tá sem foto do disco, pq não sei como fazer isso.
terça-feira, 6 de janeiro de 2015
"É o que Temos" - Bárbara Eugênia
Nascida em Niterói e residente em
Sampa desde 2005, Bárbara Eugênia estreou com pé direito ao participar da
trilha sonora do filme “O Cheiro do Ralo” dois anos mais tarde. Desde então ela
tem atuado em diversos projetos solos ou em conjunto com outros músicos, sempre bem acompanhada, exibindo seu
talento tanto como intérprete, quanto como compositora.
Depois do promissor “Jornal da Bad”
em 2010, seu primeiro trabalho solo, Bárbara Eugênia seguiu conquistando
terreno até que obteve como prêmio no “Festival
MPTM (Música Para Todo Mundo)” a gravação de seu segundo álbum: “É o que Temos”,
lançado em 2013.
Com a produção e participação de Edgard
Scandurra (já parceiro dela em outros projetos)[1]
e de Clayton Martin (baterista do Cidadão Instigado), o disco ficou tão bom que faturou o
prêmio Multishow naquele ano. Vamos ao disco então...
Depois de iniciar suavemente com
“Coração”, a segunda canção merece destaque especial por resgatar “Porque
brigamos”, sucesso da Jovem Guarda no início do anos 70 com a Diana
interpretando uma versão de Rossini Pinto para “I am...I sad” de Neil Diamond. A
nova versão ficou tão boa que até mesmo o som do órgão de Astronauta Pinguim (tecladista) consegue nos levar para a atmosfera “brega” (sem nenhuma conotação pejorativa) que fazia parte da
gravação original da Diana. Para completar, o clipe dirigido por André
Gagliardo e disponível no youtube é
simplesmente genial.
https://www.youtube.com/watch?v=Nr5xeHMIGDQ
Tudo se resume, tudo se resume a uma
Uma dúzia, tantas dúvidas, as mesmas velhas dúvidas
E você numa atitude irresponsável me deixou suspenso no ar
Não é do meu feitio, mas vou entregar
Se foram as noites brancas que te deiUma dúzia, tantas dúvidas, as mesmas velhas dúvidas
E você numa atitude irresponsável me deixou suspenso no ar
Não é do meu feitio, mas vou entregar
Por que essa roupa suja pra lavar
Se não tínhamos o menor cabimento
E pensando bem a gente deu o que tinha que dar
Mantendo como pano de fundo uma
crise de relacionamento, “Roupa Suja”, composta e gravada em parceira com
Pélico, mostra toda a sua capacidade de se cercar de bons músicos. O clipe,
lançado recentemente em uma versão mais “acústica”, também merece ser observado
com atenção: https://www.youtube.com/watch?v=pudTZfJllps
Você devia mudar o seu rumo
Você devia achar que merece mais
“O Peso dos seus Erros”, a quarta
canção do álbum, nos leva novamente para o ambiente da Jovem Guarda, mas desta
vez com uma canção de sua autoria. Você devia achar que merece mais
Em “I Wonder”, a parceria desta
vez é com os músicos de Mustache e os Apaches. O banjo de Pedro Pastoriz e o
coro bem arranjado produzem um resultado muito criativo.
A próxima canção, “Sozinha” é uma
adaptação feita por ela mesma de “Me siento solo”, do francês Adanowsky (Adan_Jodorowsky).
Eu, particularmente, não conhecia a original, mas cheguei à conclusão que a versão da Bárbara Eugênia
ficou muito melhor.
A sétima música, “Jusqu'a La
Mort” é, pessoalmente, uma das minhas prediletas. Para falar de amor, desta vez ela
se arrisca a compor em francês e acertou a mão incrivelmente, com uma
sonoridade que me faz pensar em um improvável casamento do rock progressivo (Pink
Floyd na veia) com o tropicalismo. O som de uma das guitarras me remete ao vocal da Gal Costa nos velhos tempos (viagem minha). Como se não bastasse, o clipe
é de uma sensualidade de muito bom gosto: https://www.youtube.com/watch?v=26qBo16Uo0A
Em seguida, ela acelera o ritmo
em um excelente rock com “Ugabuga Feeling”, canção na qual o amor se coloca de
uma forma mais visceral e carnal, sob uma batida bem primitiva. Sensacional.
Eu piso na poça debaixo da chuva
Sai um arco-íris com raios de sol
Eu danço no vento, me perco no tempo
Balanço, sacudo o cabelo e não fico só
Não tenho medo da chuva e não fico só
“Eu Não Tenho Medo Da Chuva e Não
Fico Só”, a próxima, é fruto da sua parceria com Tatá Aeroplano (que no
primeiro disco já tinha rendido bons frutos), contando ainda com a participação
de Chankas, com quem ela gravou o trabalho mais recente: Aurora. Nela o amor
flui leve, sem medo. Sai um arco-íris com raios de sol
Eu danço no vento, me perco no tempo
Balanço, sacudo o cabelo e não fico só
Não tenho medo da chuva e não fico só
Em “You wish, You get it”, retoma
o tom mais animado, alto astral, em uma
feliz composição dela, desta vez em inglês, tal como a canção que encerra o
álbum, “Out to the Sun”, que conta com a participação especial do violoncelo de
Peri Pane, outro parceiro que rende bons trabalhos para ambos, como na “Note”,
que faz parte do disco dele.
Por fim, tendo no amor das mais
diversas formas como fio condutor, ela vagueia pelas canções com sua voz doce e
afinada. Uma ponte unindo Niterói a São Paulo, canções próprias a versões,
letras em português àquelas em inglês ou francês. Quase sempre com clipes muito
bem produzidos (vale uma busca no YouTube na página dela). A sua beleza se traduz em suas canções. A continuar assim, sua carreira vai longe. Por enquanto, é o que
temos, mas para Bárbara, nunca é tarde, nunca é demais.
[1]
Entre outros projetos dela com Scandurra, destaca-se o a homenagem a Serge Gainsbourg
com o Les Provocateurs e a gravação do programa MTV na Brasa, com uma versão matadora
de “Dor e Dor”, do Tom Zé: https://www.youtube.com/watch?v=wbbKbTrl0WU
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sábado, 3 de janeiro de 2015
"Eu Menti pra Você", Karina Buhr
Cantora, compositora, percursionista, atriz, desenhista,
ativista, enfim, Karina Buhr é uma artista completa. E como se não
bastasse, os dois discos da sua carreira solo são tão bons que foi
difícil escolher qual deles seria primeiramente selecionado para entrar nesse
blog.
Depois de muito escutá-los, resolvi falar sobre o primeiro.
Com perdão do trocadilho, eu mentiria para você se dissesse que ouvi esse disco
na época do seu lançamento, em 2010. Não
me recordo ao certo como que fui descobrir a Karina Buhr, mas creio que foi em 2012 através da internet e posso afirmar que foi paixão à primeira
vista.
Baiana de nascimento, crescida em Recife, Karina Buhr é
daquelas que se entrega de corpo e alma ao que faz. Embora eu ainda não tenha tido a
oportunidade de assisti-la ao vivo (aguardo-a em Curitiba), já pude constatar
em vídeos que seus shows são espetaculares. Sua música é carregada de
energia. Seu suor, solidifica, vira pó.
Com currículo recheado de diversas manifestações culturais, em
1997 Karina Buhr formou a banda Comadre Fulozinha, com a qual gravou três
discos[1].
Esse rico histórico certamente contribuiu para que seu disco solo de estreia já
apresentasse uma sonoridade tão marcante, combinando canções ao mesmo tempo
bonitas e fortes. Mas vamos ao disco em questão:
Depois de abrir com a canção que batiza o CD, na qual o
sotaque pernambucano agrega muito à música e demonstra toda sua singularidade, o
disco segue com a original “Vira Pó”, para emendar numa canção que é, para mim,
uma das suas melhores: Avião Aeroporto.
“Porque o corpo humano tem a resistência
perfeita
Se bate de leve, dói, bate de com força, mata”
Se bate de leve, dói, bate de com força, mata”
Além de uma letra contundente, a música tem uma batida que
nos remete ao mangue beat. No youtube tem algumas versões dessa canção
nas quais ela dá um verdadeiro espetáculo. Recomendo a gravação no programa Na
Brasa, com a participação da guitarra singular do Edgard Scandurra: https://www.youtube.com/watch?v=cltr2yXbn0M
“Dorme antes do míssil passar
Daqui a um segundo Eu posso não ter mais você
Você não mais que isso”
Daqui a um segundo Eu posso não ter mais você
Você não mais que isso”
“Nassíria e Najaf” nos emociona ao falar do universo de
crianças que vivem nessas duas cidades iraquianas fortemente bombardeadas
durante a guerra do Iraque. Infelizmente, esse tema se mantém na Palestina,
Afeganistão e outros tantos lugares, tornando a música tragicamente
atual. Seu clipe é tocante: https://www.youtube.com/watch?v=aPx5e4BVlWI
O disco segue brilhantemente com “O Pé” e “Ciranda do
Incentivo”, canção na qual é faz uma paródia com o mercado fonográfico:
“Eu não sei negociar...eu sei no máximo tocar
meu tamborzinho e olhe lá...”
Depois vem “Telekphonen”, música experimental em que ela
insere uma letra em alemão. Som completamente diferente, mas que vale a pena
escutar. Nessa canção, ela faz uso do Theremin, instrumento
musical eletromagnético criado pelo russo de mesmo nome, cujos sons são obtidos
com movimentos da mão. Interessante.
Depois o ritmo diminui, sem perder o tom crítico em “Mira
Ira”:
“Tá tudo padronizado
No nosso coração
Nosso jeito de amar
Pelo jeito não é nosso não
Tá tudo padronizado”
No nosso coração
Nosso jeito de amar
Pelo jeito não é nosso não
Tá tudo padronizado”
O ritmo volta a subir em “Soldat”, o verdadeiro poema
cantado em ritmo punk-rock. Depois vem as igualmente boas “Esperança Cansa” (minha fúria odiosa já está na agulha) e
“Solo de Água Fervente”.
“Essa tarde dourada que traz
felicidade pras pessoas normais”
felicidade pras pessoas normais”
“Bem vindas”, a penúltima canção, é mais uma que tem uma
letra inspirada, mas dessa vez com um ritmo mais lento, quase como se fosse uma
canção de ninar. Excelente.
“Hoje eu não tô afim
de corre-corre e confusão
eu quero passar a tarde
estourando plastico bolha”
de corre-corre e confusão
eu quero passar a tarde
estourando plastico bolha”
O disco encerra com a criativa “Plástico Bolha”, afinal quem
nunca quis passar uma tarde estourando plástico bolha.
Enfim, trata-se de um disco impecável do começo ao fim, que
traduz muito bem a sua energia. Um som desses para nos encher de esperança de que não está tudo
padronizado nos nossos corações.
PS: para escutar, conhecer, ouvir, sugiro entrar no site dela, de onde se pode baixar ou comprar o disco:
http://www.karinabuhr.com.br/discos
PS: para escutar, conhecer, ouvir, sugiro entrar no site dela, de onde se pode baixar ou comprar o disco:
http://www.karinabuhr.com.br/discos
[1]
Karina BUhr participou de rodas e côco e ciranda em Pernambuco, e integrou
bandas como Eddie, Bonsucesso Samba Clube, Dj Dolores e Orchestra Santa Massa
(com Erasto Vasconcelos e Antônio Nóbrega).
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