terça-feira, 22 de novembro de 2011

Ultraje Acústico (2005)


O Ultraje a Rigor ficou refém do disco Nós Vamos Invadir sua Praia, lançado em 1985, e que é até hoje, um dos melhores do roquenrou tupiniquim já lançado. Já resenhado aqui, a bolacha era incomparavelmente dinâmica e contínua, daqueles (poucos) discos que colocados na vitrola, vão sem parar, vira lado A, lado B e ninguém cansa.


Fino representante da veia musical tipicamente paulistana, seu humor inteligente (Roger que é quase que sinônimo de ultraje) revisita o espírito de Adoniran, dos Mutantes, Premê e Língua de Trapo. Mas é claro: com sotaque próprio e (muito bem) calçando a irresistível botina do rock’n’roll.


Nesses anos todos, a banda lançou apenas 4 discos autorais com inéditas, 2 de releituras, 1 ao vivo (fora este aqui), e uma penca de coletâneas sobre as quais não têm a menor responsabilidade. Sendo que nos três primeiros anos de vida (leia-se: na mídia) saíram as obras fundamentais, como (o ainda não resenhado) Sexo! de 1987 juntando-se ao já supracitado.


Tudo isso pra dizer que no já típico especial Acústico MTV o repertório nem poderia deixar de ser baseado neste início meteórico de carreira. São simplesmente 8 canções desse primeiro disco (ficam de fora apenas Marylou, Eu me Amo e Se Você Sabia) e 4 do segundo (a favorita do Zeba, Terceiro saindo só no DVD).


Para este acústico da MTV o Ultraje foi na direção oposta àquela escolhida por contemporâneos como Paralamas, Ira e Titãs. Ao invés de aproveitar o formato do projeto para reinventar o repertório aproveitando naipe de sopros e orquestrações mirabolantes, o ultraje decidiu simplesmente manter o formato original das canções (quase) sem concessões.


Nas poucas variações, foram extremamente felizes como, por exemplo, na havaiana introdução para Ciúme que ficou sensacional. A instrumentação ficou a cargo dos violões de Roger e Sérgio Serra (que usa e abusa da pedaleira, conferindo ares de guitarra ao instrumento), e do convidado Ricardinho (muitas vezes no violão de 12). Com esta formação, e com Roger e Ricardinho tocando as sequências de acordes típicas do Ultraje, Sérgio Serra fica encarregado dos solos e licks característicos, muitas vezes fermentando a massa sonora dos outros dois, conferindo a este acústico, som de rock mesmo, muito mais do que de “luau”...


Da formação original de 85, só sobrou Roger. Hoje, temos Mingau e Bacalhau na cozinha (baixo e batera, respect.) e convidados especialíssimo para o show: Manito no Sax, Osvaldinho (Premê) no piano... Fuçando descobri que Edgard Scandurra foi membro fundador da banda!


Bem, voltando ao disco: pra quem abandonou (como eu. Ou teríamos nós sido abandonados?) o Ultraje em 1987, o melhor é ouvir as “novas” canções. Filha da Puta (canção de 89 que teima em se manter atual), Ah se Eu Fosse Homem (de 93, continuando a história de Ciúmes), Nada a Declarar e (uou uou uou, uou uou!!) Giselda (ambas de 99, embutidas num disco ao vivo); e as realmente novas, Cada um Por Si, Me dá um Olá (que tem um lindo arranjo vocal a La Beach Boys), Agora é Tarde e Eu Não Sei (versão em português para I Can’t Explain do The Who, que teria sido encomendada pelo Edgard...). De todas essas, nenhuma canção é tão revitalizadora como Nada a Declarar e seu refrão libertário. Só ouvindo pra saber o que estou falando, é a música favorita das crianças aqui em casa.


De certa forma, depois de Invadir a nossa praia há 25 anos, Roger desprezou o mundo do estrelato total e preferiu ser uma espécie local hero. Hoje a banda faz o papel de “quarteto onze e meia” no (fraquíssimo) programa do Danilo Genitili. O que pode parecer um ultraje aos fãs, pelo menos do ponto de vista do Roger tem a vantagem de poder sair pra tocar toda noite, dirigindo seu próprio carro...


[M]


Os: Este ano, o Ultraje tocou na virada cultural em Curitiba e no SWU em Paulínia (viajando pelo chão, hehe), onde protagonizou um quebra-pau com Peter Gabriel...