sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Bora Bora - Paralamas (1988)


Eu estava agorinha ouvindo uma palestra do marido da querida Beba, o Ricardo Piglia. Ele disse uma coisa super interessante sobre o momento da leitura e que rapidinho me instigou a escrever esse texto. O Ricardo acha que o ato de ler, a relação entre o leitor e o seu livro é algo muito íntimo.


Nunca havia passado pela minha cabeça a palavra intimidade para o ato de ler. É raro o encontro entre um ser inanimado com um ser animado gerar algo tão sublime e acho que a música quando encontra o ouvido humano gera o mesmo sentimento – a intimidade.


“Bora Bora” me traz um pouco essa sensação de intimidade. Não só pelas músicas contidas no redondo, mas pelas lembranças que carrega… De todos os Paralamas, Bora Bora é meu favorito. Adoro a capa branca e o Bora Bora colorido, ensolarado-vivo, estampado como um retalho de patchwork.


“Bora Bora” é vibrante, reggeado-rock, maré cheia de sopros, bateria vigorosa. O som transborda malícia e malícia atrai intimidade. E esse realmente é o fio do disco: em “Beco” a violência explode como se não fosse nada, em “Fingido” não sei se te amo para sempre ou pra nunca mais, em “Don’t Give Me That” e a pirada “The Can” com o jamaica Peter Metro e seu sotaque que só quem tem intimidade com o seu mundo consegue decifrar – don’t give me no coke no crack…


E o disco vai rolando e o rock vai pegando fogo. “Uns Dias”, mistura sensações, sabores, vertigens, uma onda diferente. É o ponto máximo, super acelerado, quase o êxtase. Na lindíssima “Quase Um Segundo” o disco faz uma curva, volta para dentro, vai acalmando… É simultaneamente delicada e forte. Piano com notas precisas, teus pêlos, teu gosto, teu rosto, tudo/ Que não me deixa em paz.


Intimidade?


“Bora Bora” é sonzeira. E daqueles que a gente para e pensa: peraí, isso aqui é bom demais! É ticket de viagem, entrega e transcendência. Tudo que deliciosamente a intimidade pode te oferecer…

[ANDRÉA]

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

ei ei ei ei!

Mas não há mesa, escrivaninha, colo, bancada ou desktop que tolerem o peso deste blog... Já vejo por aí, do outro lado da telinha, as perninhas bambeando, panturrilhas trêmulas, o chão cedendo, logo logo tudo vai pro chão: cabrum! Tem culpa eu? Tem culpa eu não, desde que a delegação de Niterói passou a dominar a área que isso aqui tá ameaçando explodir, é carro-bomba, carcaça, esqueleto, caveira...


Vamos a um "sopro de delicadeza"?


Sim, vinte anos antes de Nevermind (it was twenty years ago today, sgt pepper taught the band to play... Quarenta de hoje, portanto), o Rei vinha com seus Detalhes... É tão ruim que é bom. Linda canção, mas brega no último. Inauguração de uma era, de uma geração, bem, nem tanto, talvez de uma “faixa de mercado”. Cançãozinha niilista, melô do corno inconformado, o sujeito tem certeza de que ela, agora com outro, vai se lembrar dele, comparando a todo o momento o (outro) novo amor com o antigo (eu):

Não adianta nem tentar / Me esquecer / Durante muito tempo / Em sua vida / Eu vou viver...


Ahã... Na boa: melhor não, pro seu próprio bem. Eu não aguento aquela flautinha, aqueles arranjos orquestrais de Jimmy Wisner (wikipaedia!), caralho! Cadê os posts de death-trash-hard-heavy-speed metal do dão????


Acho que ele (o rei, não o Dão) já vinha ensaiando esses passinhos, o disco de 69 (em breve por aqui) também é pra chutar a taxa de glicose pra lá da estratosfera. Mas nada se compara com este aqui... A Namorada, De Tanto Amor, Amada Amante... vá ser apaixonado assim lá no raio que o parta! Apai$honado, isso é que é, porque essa toada vem vendendo (muito) disco desde então e até em Jerusalém!!!!


O foda é que estes discos antigos do Roberto, onde são bons (porque é sempre uma irritante mistura de lixo e obra-prima), são bons pra caralho! Então chega de reclamar, porque mal enxugada a chuva de lágrimas em Detalhes vem uma versão acachapante de Como Dois e Dois de Caetano Veloso. Não lembro de ouvir o baiano cantando isso. Bem, ou ele teve o bom-senso de não gravar, ou tive eu o bom-senso de esquecê-la (a gravação), porque simplesmente não dá pra ir além desta aqui. Ela é soul a la Tim Maia, densa, convincente, chuto que na voz do compositor original ela ficasse excessivamente afeminada (o que não é necessariamente ruim... Imagino uma Cássia Eller cantando isso aqui, meu deus! Ah, esquece, eu falava em afeminado não é?)


Gosto muito de Você Não Sabe o Que Vai Perder (de Renato Barros, quem?). De certa forma (e talvez de maneira proposital, esta canção dialogue com Detalhes... Primeiro esta ameaça, depois o lamento em detalhes:


Já não encontro mais / Palavras pra lhe convencer / Que por incrível que pareça / Eu gosto é de você / Diz que eu nada faço por nós dois / Que venho uma semana / E só um mês depois / Eu volto pra lhe ver / Você não pode compreender / Se eu agi assim / Foi somente pra saber / Se existe por aí / Alguém melhor do que você / E sinto muito / Mas eu sou assim / Sei que cedo ou tarde / Alguém vai lhe dizer / Se você me deixar / Não sabe o que vai perder


Na cronologia do disco a história tá ao contrário, ok, era o Rei inspirando Tarantino...


E ainda tem Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos, sim, você sabe a história, o Rei escreveu para um Caetano exilado, deprimido, camarada meu de portobello naquela fossa... de novo: esta versão aqui é que é a definitiva! Rapidinha, sem maiores pretensões, gosto daquele violãozinho simplinho que deve deixar o João Gilberto mudo (bem, ele já não é de falar muito mesmo, não é?). Ahá! Taí o que eu falei sobre versões afeminadas das músicas do Roberto. Basta lembrar qual é a outra que ficou célebre desta...


O melhor sempre fica pro final (da resenha). Mas no disco, abrindo o lado B ouve-se que Todos Estão Surdos, A MELHOR MÚSICA DO ROBERTO CARLOS EM TODOS OS TEMPOS!!!! Gospel na letra, funk no ritmo, a mistura é irresistível. Se o rei fosse um pastor, isso seria a nossa conversão. Até o saudoso Chico Science (quase) caiu nessa com a fabulosa versão de sua Nação Zumbi, subvertendo o discurso final.


Uma canção como esta (e Jesus Cristo) me faz pensar: pena que o Rei não tenha sido Gospel Strictu Sensu, dedicação exclusiva...


[M]

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Sepultura, Arise...mais um de 91!









Realmente, como observou meu amigo e parceiro musical Mateus, 1991 foi um ano pródigo em bons lançamentos para o então um pouco desacreditado rock. Talvez tenha sido o último, talvez Nevermind na verdade marque justamente o fim de uma época, como argumenta com boas razões André Forastieri (aqui: http://noticias.r7.com/blogs/andre-forastieri/2011/09/23/nevermind-nao-importa/ ), então só nos resta comemorar os seus bons discos.

Porque este aqui é um blog de pessoas que adoram música, mas somos tiozinhos de 40 e poucos anos que aprenderam a adorar música ouvindo rock, sob uma provável ilusão de ótica de que este poderia ser 'rebelde' ou mesmo 'revolucionário', mesmo sob críticas paternais de 'alienado'. Talvez divertido seja o suficiente.


Its only metal, but I love it.


Então mesmo assim, lamento não ter ido no Rock in Rio e não ter visto o impressionante Slipknot e o sempre clássico Metallica (há mais de 20 anos, em 1989, eu os vi no Maracanãzinho, com o melhor som que já passou por ali!), nem a mistureba Paralamas/Titãs/Orquestra, nem os amigos do NX Zero, nem o divertido Matanza com BNegão...Isso pra não falar no aqui resenhado SEPULTURA com um showzaço com Tambours do Bronx que obviamente merecia o palco principal.

Aliás, como bem perguntou o blog collectorsrrom (aqui: http://collectorsroom.blogspot.com/2011/09/porque-o-brasil-nao-tem-um-festival.html ),

por que o Brasil não tem um festival exclusivo de heavy metal????




Os argumentos são tantos que nem vou me estender. Pessoalmente prefiro a não segregação, sempre gostei de ouvir vários tipos de música num festival, mas a verdade é que os organizadores de festival tem feito dias específicos para metal, não sei como será o SWU.


Sempre lembrando que apesar de assustadora em alguns sentidos, a platéia de metal em geral é menos 'problemática', como discretamente observou o globo (aqui: http://oglobo.globo.com/cultura/rockinrio/mat/2011/09/26/rock-in-rio-facts-as-curiosidades-dos-tres-primeiros-dias-de-shows-do-rock-in-rio-2011-925440293.asp ):"Hoje é rock mesmo. E por incrível que pareça, dá menos problema". Coronel Gaspar, chefe do policiamento no Rock in Rio, sobre o dia metaleiro.



Ao disco então.



Além do fato de 'ser de 1991', este álbum também comparece no livrão no qual nos inspiramos, 1001 discos pra ouvir antes de morrer.

O Sepultura em 1991 foi surpreendido em ser chamado pro Rock in Rio II, por pressão dos fã-clubes e inteligência do Medina, então tiveram que lançar às pressas antes do festival o disco numa pré-mixagem meio tosca mas interessante, chamada de Arise Rough Cuts, por isso aqui tem duas capas, a de cima é referente a este lançamento surpresa e hoje raro de encontrar.

O disco foi gravado em 1990 na Flórida, EUA, novamente com o produtor/engenheiro Scott Burns, que mais uma vez, dessa vez com mais dinheiro, fez um excelente trabalho, o disco tem um sonzaço, pesado mas nítido.


O som mudou um pouco depois de 'Beneath the remains', incorporando elementos de música industrial, iniciante na época (como Ministry por exemplo, com quem estiveram em turnê em 1992 juntamente com o inclassificável Helmet), acrescentando groove através de síncopas e quebradas na pauleira. Mas ainda é metal, thrash, death ou heavy, chame-se como quiser.

O disco entrou até na Billboard 200 USA na posição 119, alcançando a marca de um milhão de discos vendidos mundialmente em 1993.

Os sintetizadores, assim como nos 2 anteriores, ficam a cargo de Henrique, provavelmente o Henrique Portugal do Skank.



E claro, começa com uma paulada na cabeça: 'Arise'! Rapidíssima, agressiva, pesada, com um riff agoniado e uma bateria alucinada, além dos vocais sempre gritados do Max.

'Dead embryonic cells' é das minhas preferidas, pesada mas com aquela quebrada sensacional no meio, bateria com um sonzaço. Tem até um video (foram vários deste disco: Arise, Under siege e Orgasmatron!), estavam podendo os meninos...

'Desperate cry' também é legal sem ser mais do mesmo, começa com um belo dedilhado de guitarra limpa e depois vem aquele peso todo, mas quando começa a voz é que o bicho pega, uma levada avassaladora e cavalar!! E tem aquela quebrada no meio que continua sendo demais! Música longa com muitas passagens diferentes.



'Murder' e 'Subtraction' são boas músicas, sem nada especial.



'Altered state' já traz um idéia tribal a ser mais desenvolvida a partir do próximo disco (Chaos A.D.) e levada à perfeição em Roots. Mas é só no início, depois vem aquela massa sonora pesada e violenta.

'Under siege (Regnum Irae)' também começa com dedilhado, agora num violão e acompanhado por uma bateria com um som enorme. Diferente, mas depois entram os riffs brutais das guitarras e passagens mais trabalhadas, com vocais alterados eletronicamente (parecem gravados ao contrário). Mais uma música de muitas passagens, mas longe de ser confusa.



O disco prossegue à toda velocidade e peso com 'Meanigless movements', metal sem parar, mas sem maiores destaques, tanto nessa quanto na próxima música, 'Infected voice', a última do disco normal.

Digo normal porque no Brasil o disco incluía uma música a mais, um lado B do single de 'Dead embryonic cells', 'Orgasmatron' do Motörhead, que, pra variar, ficou sensacional, mesmo com a lenda de que o Max cantou bêbado...o Lemmy (se vc não sabe quem é, pare de ler já!) diz que gosta da versão mas não da voz...hahaha.

A versão relançada em 1997 também traz mais músicas: 'Intro', 'CIU (criminals in uniform)' e um mix diferente de 'Desperate cry' by Scott Burns, já que a mixagem posterior é de Andy Wallace.

E assim foi...depois do disco, sucesso mundial, excursão mundial. Antes de ir pro mundo, o Sepultura deu um show gratuito em Sampa na Praça Charles Müller, em frente ao Pacaembu. Esperados 10.00 fãs (e providenciada força policial para isto...), compareceram 40.000. O que aconteceu? Tumultos, brigas, muitos feridos e um morto. Culpa da banda, claro, que faz música pesada...Fala sério!

Sobram a fama e o prestígio. Sepultura, a grande banda brasileira. Que continua na ativa.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Vinte anos depois... Mais um de 91!

É na rua Paulo que me sinto bem
Pois meus amigos estão la também
Já faz algum tempo que não sei como é que estão
Advogados, bêbados, dentistas eu faço canção

Da esquerda para direita não consigo encontrar
Um lugar para residir um lugar para descansar
Sou menino da rua Paulo de um bairro em Budapeste
Sou menino de São Paulo lá da Vila Mariana


Os Meninos da Rua Paulo é um clássico húngaro de Ferenc Molnár datado de 1906, relatando a luta de gangues de Budapeste pelo controle de um terreno baldio. Do outro lado do oceano, quase um século depois, este outro Os Meninos da Rua Paulo é o sexto álbum do Ira! Fã da banda não sou, nem nunca fui, nem mesmo nos áureos tempos. E a escolha deste disco mostra isso.


Mas basta que o lick de abertura da Rua Paulo comece a circular pela minha corrente sanguínea... bing! Já era... Scandurra é foda. Scandurra é o cara, ele e a guitarra são uma coisa só. O Ira! é a banda do Edgard, eu vejo as coisas desse jeito, ainda que ele não tenha de maneira nenhuma esta postura, e, o mais importante, ainda que as canções da banda raramente orbitem em torno da sua guitarra, e sim o contrário: ele geralmente tem o contraponto inteligente, de muito bom gosto e, como não poderia deixar de ser, inspiradíssimo.


O disco veio à tona no emblemático ano de 1991 (ó aí, Dão! Mais um...). Ano dos Nevermind, Ten, Black Album, Blood Sugar Sex Magik (to cite a few...). Da maneira como eu vejo o rock nacional entretanto, isso não passa de mera coincidência. O ponto aqui é uma banda pioneira do movimento de renovação do pop nacional que assolou o país junto com a Nova República e o Rock in Rio (o I!) que busca novos caminhos. O que mais me interessa aqui é o que faz uma banda de garotos que cresceram, amadureceram e ainda amam o rock’n’roll, o bom e velho rock’n’roll... A faixa de abertura dá bem este tom, os garotos da Rua Paulo estão à procura do velho bando, que terá virado dele?



Eu entendo isso mais na psiquê do que na geografia. A grande encruzilhada do rock’n’roll: envelhecer. Os rebolados de Elvis, os cabelos longos de John, Paul e sua turma, você deixaria sua filha se casar com um Rolling Stone? Pra quem assistiu trechos dos mascarados Slipknot ontem, isso soa como música de câmara!


Eu já sou um homem, mas mereço umas palmadas
Ó amor te peço, só não batas na minha cara


Voltando ao Ira!, este o álbum de uma banda que lançou seu primeiro disco em 83, naquela onda toda positiva. Oito anos depois, não dá mais pra assustar ninguém, não é? Bem, e nem parece ser a intenção. O legal é que esse disco me parece muito honesto e extremamente bem equilibrado entre novas idéias, novos ares e o som original da banda, que aqui aparece bem em O Ladrão Era Eu, Um Dia Como Hoje, e da qual Amor Impossível é o melhor exemplar, uma bela canção para um imaginário amor impossível que sempre é possível no universo das canções.


Pense na mistura de We Will Rock You com Lucy in the Sky with Diamonds... Parece meio fora de sincronia, não? Mas aquie eles revisam a iiteressante versão (que eu desconheço...) de Raulzito para a clássica dos Beatles, que aqui vira Você Ainda Pode Sonhar, mensagem otimista com gostinho de nostalgia. Na abertura é usado o clássico ritmo de bateria-e-muro-de-palmas que costuma não deixar poeira sentada no hiperclássico da Rainha. Mistura improvável que funciona de maneira magistral: a versão ficou psicoheavyca.


O blues Prisão das Ruas e baladas como Cavalos Selvagens ou O Tolo dos Tolos (essas duas últimas na voz do Edgard) são mais sintomas da transição do garoto que está virando homem. Enquanto que a levada de Imagens de Você sugere o uso de ritmos eletrônicos (simulados de maneira inteligente por André Jung? Ou foram usados mesmo? Bem, não sei dizer...), coisa que poderia destoar e seria meio proibido nos discos primitivos da banda. E: o resultado ficou muito legal! Não Matarás é curiosa porque tem uma levada meio disco com guitarras country, wah-wah... outra mistura improvável que funciona bem. E o mandamento é claro:


Não matarás, não matarás, não matarás a ti mesmo...

Nosso mundo é tão pequeno... não matarás teus desejos...


Mas nada é tão bom neste disco como A Etiópia e Meus Problemas (thanx, Paul!). Aliás, ouso dizer, nada é tão bom na discografia inteira da banda!!! Menos pela letra (muito menos, diga-se, mas, cá pra nós, quem se importa com as letras do Ira!? Nunca foi seu ponto forte). Edgard toca a guitarra dos sonhos de qualquer guitarrista: limpa, estalada e estrelada. Um golpe de ousadia na discografia de uma banda que costuma(va) ser bastante “conservadora” em relação à sonoridade original de seu rock’n’roll. Acompanhada de um violão el justiciero, percussão da península ibérica árabe, e um coro simulado, ahn, ahn, ahn... que me lembra a música do sertão nordestino. Um primor, a obra-prima do Ira!...


O disco termina na marcha instrumental Meninos da Rua Paulo, assobiada como a ponte do rio Kwai, lembrando que os meninos vão à batalha (ou a batalha vem aos meninos?), mas (quase) sempre há o retorno pra casa. E, musicalmente, este retorno é glorioso.


[M]


ps: refiz o post de ontem, que me deixava meio insatisfeito, mas mudei pouca coisa. Hoje no rádio tava ouvindo Guitar Man:


Who draws the crowd and plays so loud,
Baby it's the guitar man
Who's gonna steal the show, you know
Baby it's the guitar man,

He can make you laugh, he can make you cry
He will bring you down, then he'll get you high...


pra mim não há dúvidas: eles estão falando do Scandura...


quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Revolusongs, Sepultura





Esse é um disco pós-Max Cavalera, acho que o primeiro assim postado aqui.


Preferências são pessoais, mas é saudosismo inútil e extrema má vontade dizer que 'o Sepultura era melhor antes'. Derick Green é um puta vocalista (tô escrevendo em paulistês...), com voz, atitude e garra, e ajudou a criar excelentes álbuns. Mas acontece muito, 'o Sting era melhor no Police', 'o Cazuza não deveria ter saído do Barão', 'os Beatles nunca deveriam ter acabado', bla bla bla.


E este aqui é um EP (extended play, disco de menor duração que o LP, long play) de covers!


Mas que serve justamente pra mostrar que eles não são covers de si mesmos, dando uma cara bem pessoal a um repertório com bastente tolerância elástica, como diriam alguns dos meus amigos detratores...

'Messiah' é uma música tosca de um grupo tosco suíço (!), o Hellhammer, pré-Celtic Frost, aqui com uma versão raivosa e pesada. Até parece que eles vão fazer um disco só com metal...

...claro que não! Na seqüência a improvável 'Angel' do Massive Attack, que ficou muito legal, com dinâmica extrema, do suave, sombrio e sussurrado ao metal gritado e caótico.

Mais estranha ainda, 'Black steel in the hour of chaos' (Public Enemy!) ficou muito legal, com groove e peso, além do mais traz o saudoso Sabotage fazendo um rap em português maneiríssimo e a guitarra de Andreas Kiser soando cheia de efeitos eletrônicos de filtro!!

'Mongoloid' (Devo, mais uma inesperada) ficou menos new wave e mais old wave punk com pitadas de cross-over e heavy. Boa pra balançar o esqueleto na roda de pogo!

'Mountain song' (Jane's Addiction) é mais uma que ficou excelente by Sepultura.

Mas o destaque é mesmo 'Bullet blue sky' (U2), talvez a mais difícil de tornar característica, devido ao fato de ser de um grupo de rock pop extremanente conhecido, com o acréscimo do fato da música já ser relativamente pesada no original. Mas o Sepultura mostra sua cara e versatilidade. Rendeu até um video na MTV.


Começando e terminando com metal, no caso a última música oficial é da banda californiana de thrash metal, o Exodus, cujo guitarrista Gary Holt esteve recentemente no Brasil com o Slayer, onde ele substituía o guitarrista original, vítima de bactérias comedoras de carne humana...é, vc achou que isso era tema de músicas de heavy metal mas é real. 'Piranha' coincidentemente obviamente fala sobre aquele peixinho faminto, é uma música rápida e foda, simples assim.


Como faixa escondida temos uma sacanagem com o Metallica, a música começa como se fosse 'Enter sandman', bem tosca, dá uma atravessada e entra 'Fight fire with fire' quebrando tudo!!


Sepultura rules!

domingo, 11 de setembro de 2011

Txai, Milton Nascimento




Atípicos! O cd e o fato de eu gostar dele. O mítico disco do Clube da Esquina provavelmente será um dos últimos a ser postados por aqui, apesar do seu mérito.

Mas fugirei do óbvio, até porque eu gosto deste aqui.

Por incrível que pareça, há uma conexão deste disco com o Roots do Sepultura, claro que não na sonoridade (apesar do Milton ter gravado com a banda de heavy metal Angra!), mas na ligação com os índios, ou melhor, os povos da floresta. Os dois discos trazem cantos gravados pelos índios e músicas inspiradas e/ou compostas com os citados povos. O que me lembra um outro disco que tenho que postar aqui, um de nome esquisito da Marlui Miranda - que inclusive participa deste disco.

O disco inicia já diferente, com Milton cantando ao fundo um tema composto para o Ballet David Parsons e um índio, Davi Kopenawa Yanomami, declamando um texto sobre as maldades do homem branco...

Em seguida a faixa título, bonita, simples, com a belísssima voz e uma levada bem jazzy-mpb-clubedaesquina, se é que vc me entende.
Esclarecendo, 'Txai': palavra dos índios Kaxinawu adotada no Acre como tratamento de respeito e carinho a todos os aliados dos povos da floresta.

'Baü mêtóro' lembra mais uma vez o Roots, sendo aqui um canto do povo Kayapó do A-Ukre.

Voltamos então ao universo mais típico, 'Coisas da vida', com o parceiro Fernando Brant, uma linda canção, límpida e clara.
'nunca é igual
se for bem natural
se for de coração
além do bem, do mal,
coisas da vida
o amor enfim
ficou senhor de mim
e eu fiquei assim
calado, sem latim
coisas da vida'

Mais uma canção indígena, 'Hoeiepereiga', do povo Paiter.

'Estórias da floresta' (Milton/ Fernando Brant) é muito legal, vozes do Milton e uma percussão discreta.

'Yanomami e nós (pacto de vida)' mais uma com Brant, é uma música bem triste e bela, com cordas melodramáticas, mas interpretação contida. Participação especial de Heitor TP no violão!

'Awasi', outra indígena, agora do povo Waiãpi.

'A terceira margem do rio' (Milton e Caetano) é destoante, intensa e com aquelas letras vagas e caetânicas...

'Benke' é cantada por Milton juntamente com Leonardo Bretas, um menino com voz bonita e, claro, infantil. Depois entra um coro infantil, que vejo aqui, inclui um Diogo Nogueira, será o futuro sambista?? As crianças aparecem por ser uma canção com o nome de um curumim e é dedicada a todos os curumins de todas as raças do mundo.

'Sertão das águas' traz o parceiro de composição Ronaldo Bastos numa bela e típica canção.

'Que virá dessa escuridão?' é mais uma triste composição desse disco sombrio, tocante e florestal.

Uma surpresinha, 'Curi curi' traz a voz do saudoso ator River Phoenix em livre interpretação sobre um texto do índio Tsaqu Waiãpi.

Agora uma canção indígena, composta por H. Villa-Lobos e Roquette Pinto, na voz e violão de Marlui Miranda, com a voz de Milton e uma percussão bem leve:'Nozani Na'.

E pra terminar, mais uma nas vozes dos índios, aqui com o povo Kayapó do A-Ukre.

Um disco diferente, só pra variar.