quinta-feira, 24 de junho de 2010

Pérolas ao poucos - Zé Miguel Wisnik (2003)


“Pérolas aos poucos” rouba a gente pelo feixe de Hiss: aquele delicado sistema elétrico do coração que nosso corpo utiliza de tomada, entre outras coisas, para nos plugar às coisas bonitas da vida. A conexão aqui é pelo coração e não pelo cérebro. É amor e não razão.


“Pérolas aos poucos” entra pela tua esquina, em frases cristalinas – efeito circular que te envolve na roda. São enlaces sonoros, a voz, o piano, as rimas, as não rimas, a dor, o tempo e a cura. E tudo termina numa concha de cor escura, onde o sol se despede.


Tudo é macio, suave, música que pede calma, que te toma pela mão. A cadência das frases, as palavras cantofaladas, as vírgulas, o canto é alegre, de alma viva. Se a gente pudesse ver o som, “Pérolas aos poucos” teria os olhos brilhantes e curiosos.


É também um cd em que cabe o mundo – que se estica entre o campo e a cidade. Há a magia da escuridão em “Anoitecer”, a hora de se a ver com a verdade, que parece estar lá fora, mas não, ela está lá dentro, dentro da gente. Dessa hora tenho medo.


Adoro a “Tempo sem Tempo”! Gosto porque celebra o encontro. O verdadeiro – com todos os ingredientes. Comemora o desejo, o pedido e o risco. O risco das feridas e das despedidas. Mas ora! Só há despedidas depois dos encontros…

Arco-íris que espalha cristais sexuais! Delícia total.


“Sem Receita” – Música de amor temperável e comestível, como mesmo deve ser o melhor amor. E a lembrança é aquela hora em que a gente lambe os lábios com saudades de tudo o que rolou. Porque amor não tem receita, é inédito a cada vez!


O “Pérolas aos poucos” é todo gracioso! Com uma malandragem aqui e outra ali, o disco é cheio de pequenos prazeres escondidos no tom da voz de Zé Miguel, nas parcerias, nas percussões e nas palmas. “Presente” é aquela que só é realmente sentida depois que teus pés entram no compasso e levam teu corpo inteiro ao movimento. Gozo sem fundo.


“Perólas aos poucos” é a certeza de que no amor não há nem nunca haverá culpado. Sem palavras.

[ANDRÉA]

sábado, 12 de junho de 2010

A Voz e o melhor Piano


Pô, isso aqui é um site de comentários, mas esse aqui é o disco mais 'sem comentário' da história.

Tom Jobim, Frank Sinatra, Claus Ogerman nos arranjos e condução, um repertório impecável - incluindo algumas das melhores de Tom (difícil isso também: o que seria o pior do Tom???) mais 3 standards do chamado American Great Songbook, e o que mais? Não precisa de mais nada.

Seria perfeito se alguém tivesse dito ao Tom que NINGUÉM deveria cantar depois de Sinatra, sob risco do contraste avassalador.

Tom na verdade tocou violão ('imagem mais latina') e ficou dias esperando num hotel Frank voltar de Barbados devido a uma crise conjugal com Mia Farrow (momento Caras). Mas depois...como diz o lugar comum, o resto é história.

Gravado em 3 dias! Dizem que o cantor declarou só ter cantado tão baixo quando teve faringite...

'O disco do ano' (qualquer ano, acrescento) pela crítica americana, só perdeu em vendas no ano para o 'Sgt Peppers'.

Se é um disco brasileiro? É um disco de bossa nova, com o Maestro Soberano Tom Jobim. And The Voice. Contém todos os 'conceitos' do gênero, ouvindo você consegue imaginar perfeitamente um dia de sol em Copacabana, um chopp à beira mar ou uma água de côco com aquela maresia (do mar mesmo), moças e mulheres se bronzeando, o barulho das ondas. Ou eu viajei demais?

Mas não é cantado em português, exceto nos momentos infelizes em que Tom canta. E foi gravado nos EUA.

Além de tudo é um disco sobre amor, mesmo quando a ótica é a da insensatez, com culpa, perdão, orgulho e tudo o mais envolvido. As versões em inglês são excelentes, em alguns casos mudando sutilmente o sentido original, como em 'Insensatez' que, em sua english version, ao invés de culpar o coração do poeta pelo término do romance, lamenta sua frieza.

Olha aqui:
1- The girl from Ipanema (Garota de Ipanema)
Antonio Carlos Jobim / Vinicius de Moraes / Norman Gimbel
2- Dindi
Antonio Carlos Jobim / Aloysio de Oliveira / Ray Gilbert
3- Change Partners
Irving Berlin
4- Quiet nights of quiet stars (Corcovado)
Antonio Carlos Jobim / Gene Lees
5- Meditation (Meditação)
Antonio Carlos Jobim / Newton Mendonça / Norman Gimbel
6- If you never come to me
Antonio Carlos Jobim / Aloysio de Oliveira / Ray Gilbert
7- How insensitive
Antonio Carlos Jobim / Vinicius de Moraes / Norman Gimbel
8- I concentrate on you
Cole Porter
9- Baubles, bangles and beads
Wright / Forrest
10- Once I loved (O amor em paz)
Antonio Carlos Jobim / Vinicius de Moraes / Ray Gilbert


Ou melhor, não olha não.

Ouça.

Compre, baixe, pegue emprestado, copie, roube.

Mas ouça.
(Dão)