terça-feira, 18 de novembro de 2008

O Futuro é Vórtex - Os Replicantes (1986)


Entramos na segunda metade da década de oitenta e o rock nacional (BRock, segundo alguns) já é um fenômeno de massas. Gravadoras e bandas ganham muito dinheiro. Blitz, Barão Vermelho, Kid Abelha, Ultraje a Rigor, RPM, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, todos têm grande espaço na mídia e dominam corações e mentes. Mas o que fazer se você e sua banda estão fora do eixo Rio-São Paulo, onde "tudo acontece"?

Simples. Mude-se para o eixo. Foi exatamente isso que fizeram quatro jovens gaúchos na virada de 1985 para 1986. Com um contrato recém-assinado com a RCA, Os Replicantes (Wander Wildner, Cláudio Heinz, Heron Heinz e Carlos Gerbase) instalam-se em São Paulo e gravam o seminal "O Futuro é Vórtex". Um disco fundamental, cru, uma aula de punk rock brasileiro.

Rápida explicação - o nome da banda é uma referência aos andróides do filme "Blade Runner" (1982), de Ridley Scott, no qual os replicantes do filme eram uma cópia fiel dos seres humanos, porém mais fortes e ágeis. O filme, por sua vez, baseou-se na obra "Do androids dream of eletric sheep?" (1968), de Phillip K. Dick.

"O Futuro é Vórtex" contém quatorze faixas. É nítida a influência de Sex Pistols, dos Ramones e da cena hardcore californiana. Rock cru, sem frescuras. Dentre as faixas, uma se destaca - um clássico na mais perfeita acepção da palavra. Uma música definitiva. O punk rock total - a canção que eu queria ter composto e gravado. Duvida? Então ouça. Sem preconceitos ou esnobismos, por favor.

Com cerca de três minutos e meio de duração, "Surfista Calhorda" tornou-se uma espécie de "hino punk nacional". Ela representa para o rock nacional o mesmo que "Anarchy in the UK", dos Pistols, para o rock mundial. No caso brazuca, foi a gênese de uma revolução que jamais aconteceu.

"Rack na caranga muito louca pra dar banda,
Cheque na carteira recheada de paranga,
Prancha importada assombrando a meninada,
Corpo de atleta e rosto de Baby Johnson.

É, mas quando entra na água.
É, na primeira braçada.
É, ele não vale uma naba.
Ele não surfa nada, ele não surfa nada!

Tem duas Surf Shops que só abrem meio dia,
Vive da herança milionária de uma tia,
Vai pra Nova Iorque estudar... advocacia!
Ah, Surfista Calhorda,
Vai surfar noutra borda"

Adolescente, muito adolescente, dizem os críticos (e até mesmo os não tão críticos assim). De fato, não há como discordar dessa constatação. Mas o rock´n´roll não passa disso, não? Energia adolescente feita para adolescentes de todas as idades. Dos 8 aos 80.

É isso. Long live rock´n´roll.

André Xampu, fã d´Os Replicantes

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