terça-feira, 30 de agosto de 2011

Verde anil amarelo cor de rosa e carvão, Marisa Monte



Dos 'medalhões' da MPB, esta é a única que faltava por aqui. Como a Andréa ainda não postou o primeirão, ao vivo, nosso preferido, começo por este aqui.
Tido como um dos melhores e pra mim o mais bem acabado, este disco marca algumas mudanças da Marisa, tais como a primeira produção dela própria, na verdade uma co-produção com Arto Lindsay (que já produzira o anterior, 'Mais'), além de reafirmar seu trabalho autoral e ao mesmo tempo ampliar o universo de seus colaboradores.
Nos bons tempos do mercado musical físico (o virtual continua a toda!), o disco vendeu mais de um milhão de cópias.
Estranhamente não consta no 1001 original, apesar da projeção internacional da artista.

O disco inicia com 'Maria de verdade' (Carlinhos Brown, parceiro cada vez mais presente na sua vida e obra), sutil, com voz e violão a princípio, depois permitindo a entrada da banda inteira, tornando a música até dançante, com um baixo de dar gosto. Belo início.

'Na estrada' (MM/Brown/Nando Reis, este também participando mais intensamente, se tornando mesmo marido se não me engano), mais uma quase acústica e cheia de vozes extras da própria cantora.

'Ao meu redor' (Nando Reis) traz como diferencial um trompete sinuoso e a mesma atitude acústica. Saltitante.

'Segue o seco' (Brown) deu origem a um video lindíssimo, sem esquecer que é uma bela e forte canção. Berimbaus e vozes de Brown ao fundo, antecipando o que seriam os Tribalistas.

Uma música de Lou Reed, 'Pale blue eyes', traz um aceno à cena americana. Boa e surpreendente escolha.

Em seguida, a belíssima versão de 'Dança da solidão' (Paulinho da Viola), com o auxílio luxuoso de Gilberto Gil no violão e vocais de apoio, sensacional, um dos pontos altos do disco!

'De mais ninguém' dialoga com o grupo Época de Ouro, do choro clássico carioca, mesmo a música sendo de Arnaldo Antunes e Marisa. Quase anacrônica, mas cabe no projeto abrangente do disco.

'Alta noite' já havia sido gravada pelo autor, Arnaldo Antunes, mas aqui ganha uma versão linda, acredito que com o saudoso violonista Raphael Rabelo. Belíssimas cordas ao fundo.



'O céu' (Marisa Monte/Nando Reis) é mais alegre e quase balançada, vc fica querendo dançar, seu corpo começa a querer sacudir, bem legal.


'Bem leve' (MM e Arnaldo Antunes) é fiel ao seu nome, meio valsa, violãozinho discretíssimo e um pandeiro dando o ritmo.


'Balança pema' (Jorge Ben) traz o balanço de volta, com violão, guitarra com wah-wah e bateria, com várias vozes da Marisa.


'Enquanto isso' (MM/ Nando Reis) traz mais vozes e uma narrativa bem legal (incluindo trechos em inglês by Laurie Anderson), além de belos violões.


Pra terminar com extrema classe, Marisa traz as pastoras da Velha Guarda da Portela pra fazer uns vocais lindos nessa canção que poderia ser um samba-enredo, se o carnaval de desfile suportasse sutilezas e cadenciamentos mais lentos. 'Esta melodia' foi um balão de ensaio do disco no qual a Marisa produziria esta mesma Velha Guarda, 'Tudo azul', que aparecerá por aqui inevitavelmente (é um dos meus discos de samba preferidos, inclusive pelo recurso sempre oferecido nos discos de MM: as músicas vem com letra e cifras com acordes!).


Maria Rita... (2003)


Ok. Poderia começar a falar da Maria Rita por aquilo que ela não é: Elis Regina. O que deveria ser óbvio, muitas vezes tem que ser lembrado pela marolinha de desaprovação gerada com o lançamento deste seu primeiro disco, afinal as comparações (e apelidos, Maria Grita, Maria Irrita...) foram inevitáveis. Ok de novo. Suponha que fosse apenas mais uma cantora nova. Qual é o ponto de partida, quais são as influências para uma carreira que se inicia? Ora, sempre há um ponto de partida... Mas ela é filha da Elis, cantora gigante, mito da música brasileira... E também é filha, lembremos, de grande parceiro, maestro e arranjador da Elis, César Camargo Mariano. E porque ela deveria desprezar esta herança? Porque ele deveria se deixar influenciar pela Joanna ou pela Marina Lima ou outra miríade de mediocridades? Afinal a implicante adolescência e negação dos pais é uma fase que já passou de concorde e foi pra beeeeeem longe... (graças a deus!)


O fato é que a Maria Rita é uma delícia. Um tesão de mulher. Sua voz é extremamente erotizante e eretizante. Horas em que é pura malícia, que vai te levar pela mão e ensinar novos segredos, rebolados, ritmos, compassos, descompassos, taquicardias e respirações... Horas em que é menina, corpo nu a ser explorado, conquistado, apreciado e degustado à exaustão...


Isso que eu nem falei de música ainda! Ou falei? Afinal, música é o quê? Senão amor, sexo, e uns 10% de algumas outra coisas... Maria Rita não canta. Maria Rita te canta. É uma sereia, e eu não quero ser Ulisses, eu quero é cair no mar e não sair nunca mais, quero ser dela e ela minha, que eu me afogue e vire um personagem da saga de Jack Sparrow, pouco importa...


Tom Capone produziu esta jóia e, de maneira muito inteligente privilegiou o arranjo instrumental mínimo: bateria (Cuca Teixeira), baixo acústico (Sylvinho Mazzuca) e piano (o campineiro de Barão, Tiago Costa). Gratos somos, esta escolha realça a voz e o erotismo de Maria Rita. (Sou louco por ela, não vou conseguir terminar esta maldita resenha). Na escolha do repertório, a velha guarda vem com Milton Nascimento e Rita Lee (o que, mais uma vez vai lembrar demais a Elis, mas aqui uma nítida vantagem: nada de Ivan Lins!) misturada a novos talentos (outra coisa que a mãe adorava fazer), Marcelo Camelo e Lenine; e compositores menos conhecidos do grande público (Nonato Buzar, Paulinho Tapajós, Jean e Paulo Garfunkel, Renato Motha, Cláudio Lins...).


Se o disco abre com A Festa de Milton, O teu corpo moreno / Vai abrindo caminhos / Acelera meu peito / Nem acredito no sonho que vejo / E seguimos dançando / Um balanço malandro / E tudo rodando / Parece que o mundo foi feito prá nós / Nesse som que nos toca... logo vem Maria Rita Lee dizendo Agora Só Falta Você! (eu, Maria Rita? Diga logo, só falta eu?).


Esta aliás é uma aula de como reinventar uma música. Uma das minhas favoritas no imenso e fantástico repertório da rainha do rock, aqui foi genialmente desfeita e recosturada no formato flower trio (repare no pulso do baixo, a bateria sendo escovada e os precisos comentários do piano genial de Tiago), onde o fio que conduz à versão original é exatamente a melodia cantada levemente desacelerada, maliciosa, como quem quer e não vai entregar, Maria transforma em jogo de sedução o que era canção de desabafo da outra Rita...


Trilha de abertura de novela das oito (Encontros e Despedidas, Nascimento e Fernando Brant, de um disco bem mediano do mineiro na virada dos 80-90), Ritmos latinos (Dos Gardenias que ficou célebre no Buena Vista Social Club), Blues (Que é uma pena / Mas você não vale a pena / Não vale uma fisgada dessa dor...), Samba (Cara Valente, de Marcelo Camelo) e a mistura única rock-baião-frevo-funk acelerado na Lenínica Lavadeira do Rio, mostram que Maria Rita é pau prá toda obra e que Deus dá asas à sua cobra (como canta em Pagu, feminista e feminina parceria Lee-Duncan)...


Marcelo Camelo aliás, parecia estar fazendo a cabeça da intérprete por essa época já que foi contemplado com nada mesos que três composições neste seu disco de estreia. E neste Cara Valente a ala xiita do fã-clube da Elis se arrepia, pois os trejeitos, os timbres, a malícia, tudo faz parecer que Chico Xavier é quem estava no estúdio...


Além desta, Santa Chuva e Veja Bem Meu Bem completam o trio Los Hermanos no disco. E cá pra nós, as duas versões (não conheço Santa Chuva em outra voz...) são muito superiores às originais. Em especial esta última, uma linda canção sobre a solidão:


Veja bem, meu bem / Sinto te informar / Que arranjei alguém / Prá me confortar / Este alguém está / Quando você sai / Eu só posso crer / Pois sem ter você / Nestes braços tais...

Veja bem, amor / Onde está você? / Somos no papel / Mas não no viver / Viajar sem mim / Me deixar assim / Tive que arranjar / Alguém prá passar / Os dias ruins...

Enquanto isso / Navegando eu vou sem paz / Sem ter um porto / Quase morto, sem um cais /
E eu nunca vou / Te esquecer, amor / Mas a solidão / Deixa o coração / Neste leva-e-trás...

Veja bem além / Destes fatos vis / Saiba: traições / São bem mais sutis / Se eu te troquei / Não foi por maldade /

Amor, veja bem: Arranjei alguém chamado saudade!..



Ah, Maria Ritah...



[M]

domingo, 14 de agosto de 2011

Carro Bomba, Carcaça


Mais uma resenha 'convidada' do excelente blog http://collectorsroom.blogspot.com , do Ricardo Seelig agora. Muito grato!

Por Ricardo Seelig
Nota: 9,5
Ricardo Batalha, o mais importante jornalista de hard rock e heavy metal do país, classificou o Carro Bomba como “a melhor banda de heavy metal cantado em língua portuguesa”. Esse comentário, naturalmente, faz com que qualquer pessoa que vá ouvir o novo álbum do quarteto paulista encare o disco com grande expectativa. E quer saber? Ela é plenamente alcançada!
Em seu quarto disco, o Carro Bomba alcançou um nível de qualidade que o coloca, com justiça, no topo do heavy metal brasileiro. Composições inspiradas e muito bem construídas, todas amparadas por riffs pesadíssimos, garantem a satisfação do mais exigente fã. O timbre extremamente pesado e grave dos instrumentos salta aos ouvidos, e é um dos principais diferenciais de Carcaça. Para alguém que cresceu ouvindo Black Sabbath – principalmente da fase Dio – como eu, o ato de não se empolgar com o que sai dos alto-falantes é impossível.
Entrosadíssima e extremamente fiel aos seus princípios, a banda gravou em Carcaça o seu melhor disco. Não há nada negativo no álbum – tudo bem, a voz de Rogério Fernandes pode dividir opiniões, mas casa perfeitamente com a proposta do grupo -, uma avalanche sucessiva de canções empolgantes que pegam o ouvinte de jeito e o fazem bater cabeça compulsivamente.
Faixas mais cadenciadas como “Combustível” e “Mondo Plástico” tornam evidente a influência de Tony Iommi e companhia, enquanto composições como “Bala Perdida” e “Queimando a Largada” são heavy metal puro da melhor estirpe. A veia blues dos caras surge forte em “Blueshit”, uma das melhores faixas do álbum e um convite explícito ao 'banging'. Vale uma menção especial às letras, inteligentes e sempre explorando temas urbanos e comuns nas grandes cidades, saindo totalmente do lugar comum.
Ao final da audição de Carcaça chega-se a uma conclusão pura e simples: se esse disco tivesse sido gravado por uma banda gringa a repercussão em nosso mercado seria muito maior do que está sendo. E mais: Carcaça tem qualidade de sobre para cair no gosto de qualquer fã de metal em qualquer parte do mundo, e receber críticas positivas em qualquer publicação do planeta.
Vou concordar com Ricardo Batalha, o Eddie Trunk brasileiro, e assinar embaixo, mas com um adendo: o Carro Bomba não é apenas a melhor banda de heavy metal cantado em português do Brasil. O quarteto formado por Rogério Fernandes (vocal), Marcello Schevano (guitarra), Fabrizio Micheloni (baixo) e Heitor Shewchenko (bateria) é responsável, hoje, pelo melhor metal produzido em nosso país, sem sombra de dúvida.
Nasceu um novo clássico, e seu nome é Carcaça!

Faixas:
Bala Perdida
Queimando a Largada
Carcaça
Combustível
O Medo Cala a Cidade
Mondo Plástico
Blueshit
Corpo Fechado
O Foda-se III
Tortura (Pau Mandado)

sábado, 6 de agosto de 2011

A invasão do sagaz Homem Fumaça, Planet Hemp

,
Mais um dos hemp ativistas cariocas malandros. Mas o assunto é sério, cada vez mais.
Esse disco, como todos da Hemp Family (que além de Planet Hemp, inclui o Rappa, Pedro Luís, Funk Fuckers e todos os filhotes dos ex-membros do Planet: D2, BNegão e Black Alien), merece estar aqui sim, mas hoje pra mim é pretexto pra comentar um recente engasgo.
O STF (Supremo Tribunal Federal) não tem que liberar a Passeata pela legalização da maconha (ou qualquer outra passeata ou manifestação de expressão), eles simplesmente RECONHECEM QUE NÓS TEMOS ESSE DIREITO.
Essa não foi a primeira vez que autoridades municipais e estaduais se comportaram assim pessimamente, tentando limitar a manifestação da passeata pela legalização da maconha, seja lá como se chame a cada ano.
E sempre depois tem que se recorrer ao STF para que o direito seja reconhecido. Talvez a melhor solução fosse uma manifestação prévia de que O DIREITO DE LIVRE EXPRESSÃO PODE SER REGULAMENTADO MAS NÃO PODE SER SUPRIMIDO, sendo assim fica sujeito à conveniência das autoridades municipais e/ou policiais para a melhor oportunidade e conveniência da segurança e trânsito.
Não há apologia em discutir a mudança de qualquer lei.
Se você se incomoda, está no seu direito, pode inclusive manifestar esse incômodo também, fique à vontade.
Mas, apesar dos Bolsonaros (é, se liga porque já são três!), o que NÃO EXISTE NUMA DEMOCRACIA É O DIREITO DE NÃO SE INCOMODAR.
E, na minha opinião não humilde, dizer que eu gosto de fazer qualquer atividade, inclusive se drogar (e isso é, claro, uma hipótese retórica, estúpido) ou dar a bunda (outra hipótese, claro, aqui só pra incomodar mesmo) não é fazer apologia, porque o que é bom pra mim (ou o que eu acho que é) pode não ser bom pra você. Mas isto ainda está sujeito a interpretações jurídicas, e não estamos nos EUA, apesar da recente e benvinda emenda do Cristóvão Buarque de incluir a busca da felicidade como princípio constitucional.
Porque, 'como já dizia o Samuca da Patrulha da Cidade', citado aqui no disco pelo Seu Jorge na última música: "Quem não reage rasteja".





Isto dito, vamos ao disco, né...

1. 12 com dezoito: música boa pra começar, rápida, agressiva (inclusive com distorção nas vozes e num teclado eletrônico ao fundo), metralhadora verbal solta! '12 com dezoito é o caralho, o bicho vai pegar!'

2. Ex-quadrilha da fumaça: 'adivinha, doutor, quem tá de volta na praça? Planet Hemp, esquadrilha da fumaça'! 'sujou sujou, disfarça'. Bom riff de guitarra, base suingada pro rap, aqui pelos 3 MCs: Marcelo D2, BNegão e Black Alien, solo de guitarra com fuzz sujo.
'Intoxicados pela ignorância reinante
Os homens fumaça mais uma vez se apresentam pra missão'

3. Test drive de freio de camburão: provocativa à polícia corrupta, lida com a conhecida 'dura', lembrando que a banda podre não responde por toda a instituição.

4. Procedência C.D. : hardcore pesado e acelerado, mas não captei qual é a mensagem...acho que é sobre a mítica e poderosa organização Comando Delta.

5. Stab: aqui dá pra prever o que D2 faria na sua carreira solo, um bom mix de funk e rap, ainda sem o samba, letra inteligante e criativa, refrão maneiro!
'Sempre representando o hip hop,
não tem Faustão nem Gugu,
eu sou primeiro no ibope
Revolução eu vou fazer de maneira diferente,
tiro o ódio do coração e tento usar mais a mente
Botam barreiras no caminho mas sou persistente,
posso cair mas me levanto e sigo em frente
Seguro a bronca, dou um 2 e mantenho a calma'

'Vários irmãos se recolhem e vão em frente, vários também escravizam sua mente
Eu sei bem, quebro a corrente onde passo implanto a minha semente
Gafanhotos nunca tomam de quem tem
Predadores, senhores que mentem, esperem sentados a rendição
Nossa vitória não será por acidente'
(mas afinal o que é stab??)

6. Four track: uma boa surpresa, um rap/hip hop com violão slide! muito legal, prova da criatividade em misturas by Mr D2!

7. Gorilla grip: instrumental tradicional nos discos do Planet, bem surf music pesada.

8. Contexto: já traz o mix samba e hip hop, letra fluida e citações espertas de Zeca Pagodinho e dos irmãos Valle...
'Quem é que joga fumaça pro alto?
Planet Hemp
Chega na cena e toma de assalto
Planet Hemp
Conexão entre o morro e o asfalto
Planet Hemp
(...)
A coisa certa rapa é que tem que ser feita
Cabeça feita, pago o que eu consumo
Se eu quiser beber eu bebo, se eu quiser fumar eu fumo
(...)
Fazendo aquela média clássica
Entre a Lei de Murphy
E a teoria do caos
(...)
Ai Gustavo ai Gustavo a parada é o seguinte
Tem gente que ta dizendo que o Planet Hemp faz apologia as drogas
É mentira tchu tchu é mentira' (citação da música 'Mentira')

9. DZ Cuts: apresentação do DJ Cuts com samples malandríssimos.

10. Raprockandrollpsicodeliahardcoreragga: começa com um sample do João Nogueira da música 'Baile no Elite': "Nelson Motta deu a nota que hoje o som é rock'n'roll" e aí entra uma música pesada e suingada apresentando a carta de referêncvias do grupo. Bata a cabeça, rapá!
'Raprockandrollpsicodeliahardcoregga, mc no microfone em atitude e HC
Representa o Hip Hop, pesadelo do pop, não ta ligado na missão, foda-se'

11. Quem tem seda? : pergunta clássica dos adeptos da ganja, aquele momento de definição e ansiedade. Participação especial de Sen Dog e Micky, que eu não sei de que grupo são. O que interessa é a música, que é muito legal, começando lentinha e ganhando balanço. Apologia?

12. É isso que eu tenho no sangue... : mais uma suingada, samba funk, com citações a vários músicos que influenciaram o Planet.
'Hip hop é o ar que eu respiro
a sabedoria de quem não precisa resolver mais no tiro'

13. Quarta de cinzas: vinheta instrumental suave, com flauta e tecladinhos vintage.

14. HC3: mais um hardcore pesado e acelerado, acho que cantado pelo guitarrista Rafael Crespo.

Ao final, como uma introdução pra próxima música, um cara explicando o que é o jongo.

15. O sagaz Homem Fumaça: um reggae com introdução e vocais auxiliares de Seu Jorge, termina bem e calmo um disco raivoso e contundente. Depois da música tem uma surpresinha, um recado deixado numa secretária eletrônica, hilário...

Produção do grupo e Mario Caldato (Beastie Boys, Marisa Monte, Tone Loc, Seu Jorge & Almaz, Bebel Gilberto, Chico Science & Nação Zumbi).

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Alfagamabetizado, Carlinhos Brown


Mais um da Bahia, meu rei...
Apesar dos protestos dos amigos sem tolerância musical, principalmente daqueles que nunca ouviram este excelente disco que, mesmo não sendo tão sofisticado quanto a próxima postagem do mestre X, tem seu borogodó.
O álbum também consta do livro '1001 discos para ouvir antes de morrer', na mesma página da Bethânia resenhada aí embaixo. Na resenha, diz-se do artista, 'o Prince brasileiro' (!), um ser capaz de representar a essência e a voz do seu povo (!!). Um exagero, talvez, mas tem seu fundo de razão. O livro ainda ressalta o fato do artista fundir a tradição musical tradicional com música moderna, com um 'resultado colossal' (!!!). Também toca no fato disso ser feito com 'maturidade e até sofisticação', com 'integração tão coesa que a linha de fusão se torna quase imperceptível', e aqui eu assinaria embaixo com tranqüilidade!
Buscando imagens da capa, descobri que o disco tem uma outra capa, mais vermelha, diferente da que eu tenho. Independente disso, é mais um disco com produção gráfica caprichada, fotos criativas e bonitas. Mas é meio difícil acompanhar as letras e saber dos músicos envolvidos...
O Carlinhos Brown, que também foi líder da Timabalada, apareceu para o grande público tocando percussão com o Caetano (ele é autor de 'Meia lua inteira'), num show do disco Estrangeiro que começava com luz no Carlinhos e ele, espertamente, direcionava a luz através do pandeiro pro Caê. Daí pro mundo e para os Tribalistas...mas isso já é outro disco, que, por precaução, pra evitar apedrejamento, vou sugerir que a minha filha de 13 anos faça...ou quem sabe a herdeira do Mateus, que eu nem sei se gosta também. Sei que ela gosta de Ramones, o que já é um baita desgosto...pro pai, claro, pra nós é divertido.

Mas vamos ao disco e suas (muitas) faixas:

1. Angel's Robot List: quase uma vinheta, com uma voz citando a alfabeto grego (isso é redundância?) e uns ruídos por trás;

2. Pandeiro-deiro: aqui começa com percussão africana seguida de belas vozes baianas e umas guitarras muito legais, além de um arranjo de sopros muito legal; a voz só aparece bem depois. Participação ilustre de Marcos Suzano no pandeiro solo. A letra, apesar de muito sonora, é total nonsense.

3. Covered Saints: uma das minhas preferidas, calminha, bonita, bilíngüe, solinho bacana de guitarra, merece a ouvida mesmo dos mais radicais. Além de belos vocais, aqui a letra acerta (ou pelo menos faz algum sentido). O porém fica por um violino que sola no limite da (des)afinação, o que, tendo em vista o capricho e o nível dos atuais programas de auto-afinação, deve ser proposital. Mas me irrita profundamente.
'Triste quer saber
se ainda mora em mim
não sei dizer
chega de você
te sinto mais livre no querer
o amor que diga
que fim dar
se de forma ímpar
in a beautiful way
you're devoring me'
Tocava muito na excelente e saudosa (pra mim) Rádio Globo carioca (ainda existe?).

4. Cumplicidade de armário: começa com aquele surdo virado típico do axé, mas não segue assim, acrescentando mais uma guitarra muderna e uma levada pop-reggae. Brown neste disco se cercou de músicos gringos, tendo um som bem internacional e pop, mas com a cara dele. Lembra um pouco a sonoridade do 'Lilás' do Djavan, só que mais animado.

5. Argila: mais uma muito bonita, com bons violões/guitarras, voz cantando sutilmente e harmonia surpreendente pra quem acha que o cara é monotemático.

6. Tour: bem pop, pra tocar na rádio, suingada e leve, com aquela percussão baianíssima e aquele refrão pra cantar no carnaval.
'all right
I'm allright
sinto felicidade
não invente de fazer maaala (sic)'

7. Bog la bag: esta aqui lembra o Prince mesmo! Se ele fosse à Bahia...vc já foi? Então vá. Percussão frenética, junto com a cantoria em carlinhosbrownês. Letra com ajuda do Celso Fonseca. E mais uma vez uma guitarrona, quase metal, a cargo do Roseval Evangelista (!).

8. O bode: mais uma com muita percussão que, apesar de repetitivo, é bem mixado sem embolar com as vozes e outros instrumentos. Mais uma que deve ter feito seu sucesso no carnaval.
'Levanta sacode
que lá vem o bode
corre Chico' (será um aviso ao ex-sogro?)

9. Comunidade-Lobos: um boa surpresa, uma composição quase instrumental e quase erudita com violoncelo e um monte de instrumentos tocados pelo Brown, calmaria com batucada.

10. Frases Ventias: calminha e bonita, a voz aparece limpa, com violões e violoncelo, seguidos de mais vozes e percussões (surdo baixo, enxada, vaso, cúpula de surdo, lé, djembê solo, o que será isso tudo??!).

11. Quixabeira (com música incidental 'Samba Santamarense' e 'Amor de longe'): música de domínio público, aqui com as luxuosas vozes da 'máfia do dendê', os Doces Bárbaros: Caetano, Gal, Bethânia e Gil, muito legal.
'Tu não faz como um passarinho
que fez um ninho e avoou
mas eu fiquei sozinho
sem teu carinho
sem teu amor'

12. Seo Zé: esta aqui tem uma curiosidade, traz o título de um outro disco ('Cor de rosa e carvão'), sendo a música de autoria de Bronw, Marisa Monte (em breve por aqui) e Nando Reis. É uma rumba/bolero destoando um pouco do disco, mas traz variedade. Tem também uns vocais discretos da Marisa.

13. Mares de ti: um pouco mais lenta, etérea e bonita, pop, podia até ter tocado nas rádios, o cara tem o faro pra facilidade, que parece mas não é fácil. Mais um solo de guitarra hard, curtinho!

14. Zanza: tem a diferença de ter a voz filtrada (isto é, com alterações de equalização, com o corte de algumas, sacou?) do Carlinhos, cadenciada e tranquila.

15. A namorada: o hit do disco! Pra levantar a galera, alterna umas guitarras pesadas com wah-wah, sopros (isto é, saxofones, trompete, trombones, sacou?) bem arranjados e claros, guitarra suingada, baixo sensacional do Arthur Maia, refrão grudento, iêiêiês, levada disco, rufos de bateria em fusas (1/16 de compasso, sacou?) e por aí vai...
'A namorada tem namorada'!!!
Apareceu até no filme 'Speed 2 - Cruise control'!

16. Vanju Concessa: pra terminar e acalmar a festa, clima capoeira com berimbau, percussão baiana e Suzanesca, guitarrinha pica-pau e aquela letra nonsense típica.

Produzido por Wally Badarou (Level 42, Fela Kuti, Salif Keifa etc) e Arto Lindsay.