quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Não fazes favor nenhum em gostar de alguém...nem eu (Gal canta Caymmi - Gal Costa - 1975)



















Quando se conversa sobre qual o melhor disco da Gal Costa, quase sempre são citados o "Gal Tropical", "Gal a Todo Vapor" e, um pouco menos, o "Caras & Bocas".

Cada um possui uma Gal Costa diferente em seus malabarismos vocais. Mas todos se identificam pela exuberância e força nas interpretações. Sabe aquele grito que fica bonito?. Aquele exagero lindo?. Pois é.

Agora, nesse "Gal Canta Caymmi" a coisa muda de figura e figurino. Além do repertório ser inapelável, a cantora se mostra mais serena em sua cantoria. Aliás é difícil adjetivar essas coisas, talvez serena não caiba.

É como se os outros discos sempre citados sejam ideais para um belo final de festa, gente embriagada querendo elogiar o que foi Gal um dia. Esse, o "Gal Canta Caymmi", já é para o começo dessa mesma festa, antes do pessoal todo chegar, enquanto o anfitrião tá lá arrumando as cervejas no congelador. Essa comparação é o maximo que consigo chegar.

Seja como for, o disco é ótimo e se houver uma competição um dia entre ele e os outros citados, diria que ganharia nos penaltis e só depois da primeira série total de cobranças.

A nota triste é que Gal se tornou uma triste figura que certamente não mais acrescentará nenhum outro trabalho nesta competição.

(ZEBA)

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Eu economizei, mizei! (Premeditando o Breque - 1981)

O primeiro disco do premê (que ainda se chamava premeditando o breque)... Pô, esse disco é demais, muito antes ds mamonas assassinas o premê já tinha indo pra praia num domingão de sol, num fuscão com vô e vó e tudo mais, um prenúncio da invasão pop do Roger e sua turma (ver post do Ultraje abaixo). A marcha da kombi, conta história de sujeito que economizou pra comprar uma kombi meia-seis (de um japonês!), uma djóia que só tinha um único defeito: só sabia fazer um caminho. Conflito de gerações é um desabafo de um pai; Brigando na lua, bem, este é um samba hilário e indescritível... Feijoada total é completa, desde o preparo do suíno até o desfecho inevitável (ufa!) de toda feijoada... É pra se deliciar.
http://www.4shared.com/file/59022277/8eea8523/Premeditando_o_Breque.html

(MATEUS)

Pra Sempre Agora (Ataulfo Alves por Itamar Assumpção - 1996)

Este é o nome do projeto do Itamar Assumpção só com músicas de Ataulfo Alves. Ataulfo deixou as feministas em polvorosa com a eternização da figura da Amélia (que era mulher de verdade, não tinha a menor vaidade). O disco é fantástico, são 20 músicas do compositor mineiro na inconfundível voz de Itamar acompanhado da banda Isca de Polícia, melhor nome de banda nacional, disparado. Além de Itamar+Isca de Polícia, algumas faixas contam com convidados especiais, a banda feminia Orquídeas do Brasil por exemplo. Destaques são muitos: Na cadência do Samba, Meus Tempos de Criança, Bom Crioulo, Laranja Madura ... e a versão fantásticamente absurdamente linda de Leva Meu Samba. Que quiser conferir:
http://www.4shared.com/file/59021809/393114db/Ataulfo_Alves_por_Itamar_Assumpo__Pra.html

(MATEUS)

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Eu não nasci de óculos, mas eu era assim (O passo do Lui - Paralamas do Sucesso - 1984)


Alguns discos que comentamos por aqui não são admirados puramente pela estética, mas fizeram (fazem?) parte de nossa vida, em particular daquela fase confusa e marcante que é a adolescência.
'O passo do Lui' é assim.
Trilha sonora de muitas festinhas, lembro muito bem de dançar lentinho com as meninas 'Romance ideal' (trilha perfeita da desilusão adolescente, além de um solo lindo do Herbert, que o Lulu se chateou porque substitui um que ele tinha feito), 'Mensagem de amor', 'Me liga' (mais uma adequada à ansiedade do dia seguinte).
Mas as que embalaram mesmo aquelas danças new wave estranhas com os braços girando feito helicópteros esquizofrênicos foram as mais agitadas: 'Óculos', 'Meu erro', 'Ska' (com o saxofone de Leo Gandelman) e 'O passo do Lui' (que poderia estar num disco do The Police, influência óbvia da banda).
O disco tem uma qualidade de som limpa, com espaço entre os instrumentos, poucos efeitos e poucos teclados, fugindo do som pasteurizado à época, com muitos reverbs, sintetizadores e vocais sobrepostos (som esse abraçado com gosto pelo Kid Abelha, mas isso fica pra outro post).
Completam o repertório 'Fui eu', 'Assaltaram a gramática' (de Waly Salomão e Lulu Santos, com participação vocal deste e de sua mulher, Scarlet Moon) e 'Menino e menina'.
Não é o mais original dos Paralamas, nem o que tem as melhores composições (apesar de estar longe de ser fraco nesse quesito), mas o que me vem à cabeça (e aos ouvidos na seqüência) quando quero visitar minha adolescência.

domingo, 10 de agosto de 2008

Ô menino, eu quero é rock... (Raimundos - 1994)


...nánáná é o diabo!

Assim começa um disco essencial e ao mesmo tempo tosquíssimo do meio da década de 90: RAIMUNDOS!

Numa época em que se alastrava a péssima idéia de cantar em inglês 'pra explorar o mercado internacional' (nem todo mundo tem o talento do Sepultura) e que 'o menos era mais' no rock deprimido grunge (nem todo mundo tem o talento de Kurt Cobain), gravar um disco misturando música nordestina e Ramones, metal e putaria, era no mínimo arriscado ou claramente coisa de doidão. Talvez um pouco dos dois.

Mas havia ousadia no mercado, além de um selo chamado Banguela, além de um alucinado chamado Carlos Eduardo Miranda. Ah, a bênção dos Titãs, padrinhos do selo.

Bom, funcionou, e bem pra caralho.

'Puteiro em João Pessoa', improvável hit, inimaginável pra quem tem mais de 35 anos, tocava nas rádios, 'Palhas do coqueiro' girava na MTV (com a pérola 'não é assim que se fode não').
'Rapante' demonstra, sobre uma base pesadíssima e com letra 'engraçadinha', que o rap e o repente podem ser próximos não só no dicionário. 'Carro forte' segue a idéia da gracinha, depois explorada em álbuns seguintes e bandas como Mamonas, misturando a escatologia adolescente e a idéia equivocada que uma piada funciona sempre. Mas ainda era original, ou parecia pra mim.

'Nega Jurema' fala da erva, tema que se tornou comum na época, além do refrão genial que os Titãs cantavam ao vivo na época: 'cumê cagá vivê fumá são as leis da natureza e ninguém vai poder mudar'. Seguem-se várias boas músicas, inclusive mais um hit radiofônico mais uma vez inesperado, 'Selim', onde 'ser o banquinho da bicicleta' passava a ser um desejo, por motivos óbvios.
Os Titãs participam de várias músicas, cantando e/ou tocando, além do João Gordo, que faz backing vocal em 'MM's'.

Se bem me lembro (e às vezes não lembro bem), 'Be a bá' também foi vídeo na MTV.

Testosterona ('o passarinho tão bonitinho é viadinho' em 'Bicharada'), palavrões e muita energia. Pensando bem, tinha tudo pra funcionar.

Tive a oportunidade de vê-los naquele excelente momento antes do estouro, quando estavam muito bem ensaiados e ainda com muito tesão de tocar ao vivo, antes do lançamento do disco, no festival Monster of Rock de 94. Showzaço, rodas de pogo, moshs perigosos, ficar na frente do palco (péssima idéia de alguns amigos que queriam ver o Kiss - que era o último show, depois de Black sabbath capenga e Slayer fodaço - de perto) equivalia a duas horas de Jiu Jitsu intenso. Sobrevivi e soube que os caras iriam estourar, senão em vendas, os nossos ouvidos.

Depois, talvez influenciados pelo público metal, aprenderam a tocar melhor, lançaram discos melhor gravados e mais pesados (apesar de menos rápidos), mas a graça já não era mais a mesma, e a espontaneidade já tinha endereço certo.

Eu r e c o m e n d o... (Nós vamos invadir sua praia - Ultraje a Rigor - 1985)





















Hoje em dia, organizar som de uma festa é fácil: basta pré-selecionar as músicas em um ipod ou computador para na hora H escolher conforme o gosto do público, sem precisar carregar muitos discos. Mas na década de 1980, durante minha adolescência, o processo era mais complexo. Era preciso escolher os LPs com antecedência, carregá-los (esses bolachões pesavam), se posicionar ao lado da vitrola e alternar os discos durante a festa, deixando intermináveis minutos de silêncio entre uma música ou outra.

Até que em 1985, Ultraje a Rigor facilitou esse processo ao conseguir juntar, no seu disco de estréia produzido por Liminha e Peninha, músicas que se transformaram, quase todas, em hits naquela época de efervecência de grupos de rock nacional. Lembro até hoje de frequentar festas em que apenas esse disco era suficiente para manter toda a galera dançando e cantando animadamente. Parecia um "the best of" ao invés de um disco de lançamento.

Com músicas divertidas, refrões simples e riffs marcantes, Ultraje a Rigor cumpriu a promessa e realmente invadiu praias alheias, tomando de assalto rádios e festas não só com um ou outro hit, mas emplacando praticamente todas as músicas. Um feito.

As músicas podiam não ter uma riqueza instrumental e acordes muito elaborados, mas marcaram uma geração com letras bem humoradas do vocalista Roger Moreira. Pelo que me lembro, "Inútil" foi a primeira que estourou, ainda em 1983, refletindo bem um sentimento dominante naquela década em que perdíamos Copas do Mundo jogando bem e amargávamos altíssimas taxas de inflação durante um lento processo de redemocratização.

Pouco a pouco, outras músicas passaram a tocar nas rádios, tais como "Ciúme", 'Rebelde sem Causa", "Eu me amo". Vale destacar ainda a participação especial de outros cantores da mesma geração como Lobão, Ritchie e Léo Jaime no refrão de "Nós Vamos Invadir sua Praia". Outra marca eram as frases soltas no meio das músicas, como a que marca o início do Inútil: "vou cantar tudo de novo?"

Simples... mas inesquecível (Paul).

1) Nós vamos invadir sua praia

2) Rebelde sem causa

3) Mim quer tocar

4) Zoraide

5) Ciúme

6) Inútil

7) Marylou

8) Jesse Go

9) Eu me amo

10) Se você sabia

11) Independente Futebol Clube



quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Iniciando bem: Wave - Tom Jobim - 1966


Clichês não são bem vindos em nenhuma resenha por aqui, mas às vezes são inevitáveis.
Tom Jobim é phoda (do latim 'phoddum').
E esse disco, com arranjos do Claus Ogerman, é muito foda.
Praticamente sem vocais, com conduções suaves e discretas e criativas de cordas emoldurando as harmonias e melodias perfeitas do Antônio Brasileiro, esse disco não é conhecido como deveria, apesar do repertório impecável.
A própria faixa título não é a versão mais conhecida e tocada nas rádios easy listening. Até porque provavelmente os seus ouvintes queiram ouvir vozes. Mas inicia com dois pés direitos o discaço.
Destaco 'Batidinha', por conter a consagrada síncope da bossa-nova, copiada a rodo depois em estilos soníferos muzak e trilhas de elevador. Pena não tocarem esse discos nos elevadores da vida...
'Triste', mais uma sensacional canção do Mestre, nem precisa de letra pra 'dizer' o que tem que dizer.
'Lamento' é a mais uma conhecida, aqui é cantada pela voz fraca do Tom, que também toca violão impecável (privilegiado pela mixagem, bem 'na cara') em todo o disco, além do conhecido piano e 'harpsicord', seja lá o que for isso.
Outros músicos de destaque no disco são Ron Carter no baixo (cara onipresente na bossa nova, apesar de americano) e o batera Dom Um Romão (grafado como Domum no disco!).
Completam o repertório: The red blouse, Look to the sky, Mojave, Dialogo (linda), Antigua e Captain Bacardi.
Gravado em 1967, lançado pela A&M Records.
Mal sabia ele o quanto seria diluída sua música mundo afora.