Houve uma época em que as bandas pop nacionais da década de 80 resolveram, quase todas, lançar discos de homenagens às suas influências. Assim foi com Barão Vermelho, Titãs, Kid Abelha... Se foi um movimento coordenado ou se foi apenas sinal de cansaço na virada nunca saberemos. De qualquer forma, alguns desses momentos foram deliciosos.
O disco do Ira! De ’99 vai nessa linha mas com uma pequena diferença: a seleção privilegia os temas de amor, talvez assumindo que, nessa praia, era melhor a banda dar voz a outros compositores do que se fiar na poesia excessivamente crua de Edgar Scandurra. O som típico do Ira! Inicia o disco com Bebendo Vinho de Wander Wildner (ex-Replicantes, ver um dos posts anteriores) e Teorema, da Legião Urbana.
Mas os melhores momentos do disco ficam exatamente por conta dos momentos menos típicos. E o primeiro destes momentos vem com Telefone, música da década de 80 na voz de Gang 90 e as Absurdetes. Aqui a versão é executada com um wah-wah suave do Scandurra e a voz aveludadamente deliciosa da Fernanda Takai (ó! Meu amô-or, isso é amor...) que divide o refrão com Nasi e que acabou sugerindo o nome do disco. O Ira! Volta irado em Chorando no Campo, do Lobão, passando em seguida para uma balada acústica do Dalto (é, aquele sujeito mesmo, o ‘muito estranho’...), Flash-Back cuja melodia do refrão é muito bonita.
Samuel Rosa é o convidado certo para acompanhar a banda em Um Girassol da Cor de Seu Cabelo, clássico do super disco Clube de Esquina (essa resenha é minha, ok?). Essa música de Lô e Marcio Borges é mais um dos pontos altos do disco. A versão ficou mais balada, na levada da bateria mais pop e com um guitarra limpa do Scandurra que é sen-sa-ci-o-nal... A mudança de andamento que marca a música no final aqui é mais suave que no original também é executada aqui, mas a ênfase é o som de banda do Ira (ainda que com a sutil presença de teclado).
Mudança de Comportamento e Abraços e Brigas são as duas músicas de autoria do Scandurra que fazem parte da seleção. O que me Importa não é das minhas favoritas, mas ficou muito melhor que a versão com Erasmo e Marisa Monte que andou tocando adoidado nas rádios uns tempos atrás, graças, mais uma vez ao wah-wah majestoso do Edgar. Essa música tem um solo de guitarra ao contrário a la Beatles-Hendrix, que ficou sensacional, outra cortesia do guitarrista.
Jorge Maravilha divide com as duas outras já citadas as atenções neste disco. O rockão suingado quase jorgebenniano ficou mais sensual e mais atemporal que o original. Enquanto que com o Chico cantando o recado ao general fica mais evidente, aqui, quando Nasi chega em
Ela gota do tango, do dengo, do mengo, domingo e de cócegas!...
Ela pega e me pisca, belisca, petisca, me arrisca e me enrosca
Fica muito mais claro que no original o quanto que sua filha gosta de mim, apesar de você não gostar...
Não poderia faltar uma do rei, que virou quase um cult no final da década e o Ira! Escolhe Sentado a Beira do Caminho que é executado de maneira tradicional. A Vida tem Dessas Coisas de Ritchie é a próxima e Bingo! ficou mais ácida, mais roquenrou... menos brega-pop anos 80, mais uma vez eles acertaram a mão nesta versão. E o disco poderia terminar, seria perfeito. Mas ainda sobram Alegria de Viver versão em português que o próprio Edgar canta, e Minha Gente Amiga de Ronnie Von, que ganhou uma versão ‘Santana’ na guitarra, ainda que entremeada sutilmente por ritmos eletrônicos. É uma canção despedida para um grande disco, de uma grande banda. [MATEUS]
Já este aqui, devo ao Paulinho. Ele que me recomendou o disco. [MATEUS]
ResponderExcluirA vida tem dessas coisas eh filosofia pur. Se aplica a diversos momentos da vida. Jah usei muito.
ResponderExcluirAbs, LM
Este disco eu pensei em indicar tb. Ele é ótimo. Sempre achei este Nasi um tipinho que deve ser bem bacana, especialmente depois que o proprio pai e irmão tentaram interdita-lo judicialmente. Pusta baixaria!!!!(ZEBA)
ResponderExcluir"Sentado a Beira do Caminho", embora seja escrita por Roberto/Erasmo, não faz parte do cancioneiro do Rei. ela é, oficialmente, uma música de Erasmo Carlos.
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