sexta-feira, 29 de julho de 2011

Âmbar, Maria Bethânia







Continuando na Bahia, vamos à musa Maria Bethânia.

Este é um dos que também são citados no livro original, 1001 discos para ouvir antes de morrer.

É um disco belíssimo, às vezes com aquela performance e interpretação intensos da cantora, mas é assim mesmo, entrega e emoção.

Repertório primoroso, como é de costume em intérpretes não autoras que têm bom gosto, sensibilidade e curiosidade de garimpar novos autores.

Som extremamente límpido, tendo sida a gravação feita em vários locais: SP, RJ, LA, Bruxelas e Londres (Abbey Road!!), com a mixagem tb no Abbey e a masterização em LA zzzzzzz.....

Ainda mais o disco tem um trabalho gráfico muito caprichado e bonito, pena q eu não achei mais imagens para anexar aqui. Um bom motivo pra comprar.

Consta também que é um disco comemorativo: 35 anos de carreira, 35 álbuns e 50 anos de idade.

E começa com a bonita faixa-título, da Adriana Calcanhoto, um violão em estéreo discreto e bonito, um fundo orquestrado leve, assim como a percussão do multiplatinado Paulinho da Costa. Depois entra o trompete brilhante e sinuoso do Steve Tavaglione.

'Tá tudo aceso em mim

tá tudo assim tão claro

tá tudo brilhando em mim'



'Chão de estrelas' (Sílvio Caldas/Orestes Barbosa) é uma bela e depressiva canção, mas a versão definitiva é a dos Mutantes, eu sempre fico esperando a zoação deles...Mas nada com a Bethânia fica feio, né?

'E tu, pisava nos astros distraída

sem saber que a aventura dessa vida

é a cabrocha, o luar e o violão'



'Iluminada' é uma surpresa muito legal, um arranjo nada careta com muitas vozes 'saltitantes', fazendo fundo, percussão e harmonia. Quem será que são Marie Doulne (Zap Mama), Sabine Kabongo e Angelique Wilkie??



'Onde estará o meu amor' (Chico Cesar, parente do Xampu) começa só voz, grave e imponente, aos poucos entrando a harmonia através da harmônica (gaita, pros leigos) e depois a banda, com um clima meio sertanejo e rural, com o vialão de aço do Victor Biglione.



'Lua vermelha' (Carlinhos Brown/Arnaldo Antunes) é a mais bonita pra mim, etérea, calma, letra linda, auxílio luxuoso do pandeiro.



'O circo' (Orlando Moraes/Antônio Cícero) é daquela de crooner, bailão chique num grande salão com acantora vestida de gala. Arranjo meio jazzy, inclusive com uma slide guitar pelo Victor Biglione, que ao fim sola sem slide. Bonito isso.

'Leão, camelo, acrobata

e não há luar

E os deuses gostam de se disfarçar'



'Invocação', mais uma do primo do Xampu, é solene, quase uma oração pagã, com vozes graves ao fundo, bem percussiva e com cordas muito criativas.

'Deus dos sem deuses

Deus do céu sem Deus

Deus dos ateus

Rogo a ti cem vezes

Responde quem és?

Serás Deus ou Deusa?

Que sexo terá?

Mostra teu dedo, tua língua, tua face

Deus dos sem deuses'



Mais uma da Adriana Calcanhoto: 'Uns versos', belas cordas, belos violões, cordas lindas, letra bonita...Bethânia escolhe e interpreta com extremo bom gosto.



'Allez y', do Carlinhos Brown - e perguntem pra ele o que significa, é simples, voz, cordas e violão. Quando digo cordas, são os instrumentos orquestrais que usam cordas: contrabaixos, violoncelos, violinos e violas, sacou?



'Todos os lugares' é mais uma de crooner, piano, voz e cordas doces.



'Quando eu penso na Bahia' (Ary Barroso/ Luiz Peixoto) traz o convidado Chico Buarque cheio de 'iáiá' e 'iôiô' pra cá e pra lá...sambinha animado e legal.



'Ave Maria' tem aquele clima de igreja, violinos celestiais, beata beata beata. Mas é bela também, como uma oração sincera. E ainda tem guitarra e baixo!



'Eterno em mim', do mano Caetano, é grandiosa, com um arranjo que acentua isso, cordas em cascata, seguidas de um piano e voz que ficam bem bonitos.

'Duas coisas que dentro de mim

não podem ter fim

dois azuis no mesmo azul

meu horizonte sem nuvem nem monte

em mim o eterno é música e amor'



E pra terminar pra cima, 'Brisa', um poema musicado de Manuel Bandeira. VViola bonita, bem brejeiro (sempre quis usar esse adjetivo!), além de violão e guitarra discretos.

'Aqui faz muito calor

no nordeste faz calor também

mas lá tem brisa'

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Tropicália 2 - Caetano e Gil (1993)


A Tropicália foi um movimento artístico ímpar na cultura brasileira - não só por ter expressado uma nova atitude perante à política, a moral e ao corpo, mas porque soube fazer tudo isso de um jeito diferente. Os tropicalistas inventaram uma nova estética: misturaram plástico à miçanga, guitarra ao berimbau, Coca-Cola à Brigitte Bardot. A cena musical brasileira em 1968 foi se tornando cada vez mais polivox: conversavam o velho e o novo, e o Brasil com o mundo.


Em 1993, a Tropicália completou 25 anos e os dois pop-tropicalistas Caetano e Gil comemoram fazendo o que fazem muito bem: música! Se uniram ao Liminha, tropicalista histórico da primeira hora na produção e, juntos, foram costurando um novo projeto que tinha a ver com o passado, mas que também tinha muito a ver com o que a Tropicália tinha feito de todos eles. Como se a criatura estivesse sendo engolida pela boca do criador.


O cd abre com “Haiti” – rap em baixa velocidade, violoncelo de Moreno e percussão de Ramiro Mussoto se misturam à história lado B do Haiti. E na música, estórias vão se cruzando com questões raciais que não se apagam com o tempo, a outras estórias, e a sensação que nos resta é a de que não precisamos ir até ao Caribe, que o Haiti, é aqui. O Haiti não é aqui.


“Cinema Novo” é uma obra de arte. O cinema como fonte de inspiração para a Tropicália. A tela era um lugar, onde sem dúvida, se estabelecia “outras conversas sobre os jeitos do Brasil”. E num balanço delicioso, alegre, a música vai contando a estória do impacto do cinema na música. É a pororoca entre as duas artes: “as imagens do país desse cinema entraram nas palavras das canções”. Cinema Novo, o novo Cinema Transcendental.


“Nossa Gente” e “Cada macaco no seu galho”, bahianíssimas total. É o carnaval que corre nas veias e escorre desses dois baianos. A primeira do Olodum, dona da melhor frase do ano : avisa lá que eu vou chegar mais tarde! E segunda do Riachão, com a participação do Carlinhos Brown, engrossando a presença soteropolitana no cd.


O som negro roquenrrol de Jimi Hendrix era ouvido adoidado pela trupe tropicalista no apartamento paulistano, entre móveis de acrílico coloridos, onde morou Caetano entre 1967 e 68. Influência fundamental na Tropicália, Jimmi Hendrix não poderia faltar em “Tropicália 2”. “Wait until tomorrow”: leitura suingada, abrasileirada, com a presença mais uma vez da turma de Carlinhos Brown e de Nara Gil.


“Tradição” é uma das minhas músicas favoritas do Gil. É uma música que traz coisas da Bahia, um sentimento do lugar, mesmo pra quem nunca tenha vivido lá… Traz também o desabrochar de uma personalidade. É um menino que olha para uma menina, mas acaba observando que o rapaz que estava com ela era diferente de tudo que ele tinha visto até então. Uma coisa meio rock’n’roll, com calça americana. “Tradição” conta a estória de um projeto de ser um homem diferente, que acaba sendo mais importante do que ter aquela menina. O lindo na música é o interesse e a identificação pelo diferente.


“As coisas” a lindíssima de Arnaldo Antunes, além de mais suave na voz de Gil e Caetano, ganha também uma batida mais rock com as brincadeiras de Pedro Sá na guitarra e Liminha no baixo. Gosto especialmente da inclusão da aguda “As coisas”. Essa escolha é mais uma prova da intenção polivox tropicalista.


“Baião Atemporal”, gravada em Los Angeles, é quase uma oração para Tom Zé. De Irará para o mundo.


“Tropicália 2” é uma metamorfose feita em tom de festa. É o encontro com a necessidade de Caetano Veloso em esticar a palavra e seu sentido até a explosão, com a natureza aventureira e livre de Gilberto Gil …

[ANDRÉA]

Lisbela e o prisioneiro - trilha sonora



Um filme leve, divertido, a cara da antiga sessão da tarde, se é que você me entende.

A trilha também diverte, é original e bem variada, com boas canções e versões.


Caê inicia bem o disco, com uma versão da música extremamente brega e bela 'Você não me ensinou a te esquecer', do repertório de alguém que eu não sei (socorro, Zeba!). A versão aqui traz um som mais muderno com uns lopps eletrônicos discretos mas interessantes, a cargo do excelente produtor André Moraes (que inclusive tem ou tinha uma banda de metal, Infierno, que será resenhada por aqui) e Pedro Mamede. Belíssimas cordas (violoncelo e violinos).


Em seguida uma surpresa maneiríssima: Zé Ramalho com Sepultura!! 'A dança dos borboletas' ficou sensacional, com as vozes se combinando muito bem sobre a base pesada do Sepultura ainda com o Igor, além da guitarra extra e Citar guitar do André.


'A Dama de Ouro' com Zéu Britto é uma daquelas engraçadinhas e divertidas, meio forró meio metal (parede de guitarras pesadíssimas no refrão) meio reggae...é, a matemática não tá muito coerente, né?


'Para o diabo os conselhos de vocês' é do antigo e malandro Carlos Imperial (com Nenéo), aqui interpretada pelos Condenados, com a voz hard rock de Clarice Falcão, bem legal.


'Espumas ao vento' acho que é do repertório do Fagner, aqui cantada pela Elza Soares, muito emocionada, voz fluindo entra o choro e a raiva, mais uma muito legal nessa excelente trilha.

O André Moraes toca aqui violão flamenco (o cara toca em todas as faixas até aqui!).


Aqui entra um gênio ainda não resenhado por aqui: Yamandú Costa, debulhando o violão de 7 cordas, fazendo uma base de luxo pra voz do Geraldo Maia na canção 'Deusa da minha rua'. Linda.


Aparece o vampiro Jorge Mautner acompanhado do Caetano cantando a antiga 'Oh Carol' (John Sedaka/Howard Greenfield), rock'n'roll doce e suave.


Lirinha, acho que do Cordel do Fogo Encantado, canta aqui 'O amor é filme', bela canção, aqui com todas aquelas percussões típicas pós-Nação Zumbi e mais umas guitarras pesadas a cargo do André...Tem até uma passagem meio jazz no meio.


A faixa-título, de Caetano e José Almiro, vem cantada pelos Los Hermanos, com os dois vocais cantando!! E o Rodrigo ainda toca uma viola caipira de dar gosto, muito muito legal.


'O matador' é da trilha incidental, uma instrumental do Sepultura com uns instrumentos orquestrais e mais a guitarra do André Moraes.


A próxima, 'O boi', também é instrumental e mais curtinha, só que aqui só com o André e mais uma outra banda.


No fim duas versões pra músicas já tocadas: uma orquestral de 'O amor é filme' e uma versão forró de 'Lisbela' pelo Trio Forrozão, que inclusive traz a informação de que a canção foi composta para a peça de mesmo nome.


Veja o filme e compre o disco.


(Dão)

sábado, 9 de julho de 2011

Mula Manca & a Fabulosa Figura, Amor & Pastel (2007)



Há uns meses, fuçando na internet tive a grata surpresa ao me deparar com um grupo que até então não conhecia: Mula Manca & a Fabulosa Figura. Não sei se foi a capa surrealista ou o nome quixotesco, mas o fato é que algo me chamou atenção e resolvi escutar uma música. Gostei e passei a escutar outras até decidir baixar o disco inteiro e fiquei animado com a descoberta pessoal.


No mesmo dia, apresentei a novidade para a Carol, minha namorada, com um leve receio de que ela, com maior rigor, se decepcionasse. Entretanto, não só isso não ocorreu, como ela se tornou rapidamente fã do disco, mais até do que eu.


Depois, pesquisando, descobri que se tratava de um quarteto Pernambuco (mais uma grata surpresa musical de lá) formado por Tibério Azul (voz, violão e canções) e Castor Luiz (voz, piano e canções), Dom Angelo (guitarra) e Bruno Cupim (percussão) e que Amor & Pastel, o disco em questão, era o 2º e foi lançado em 2007. No primeiro trabalho em 2004, a banda atendia pelo nome de Mula Manca & a Triste Figura.



Reparando bem, o Amor & Pastel apresenta, em sequencia, uma espécie de trilha sonora de um casal em crise. Começa com uma quase MPB “Se Lavo, Lavu”, com a voz masculina de Tibério Azul interpretando a esposa abandonada, tal como Chico Buarque em diversas canções. Em seguida, a bilíngue “Blond Girl”, que conta inclusive com um piano ao melhor estilo bossa nova para retratar a fossa do momento de crise:

No meu carro uma bossa
Um poça que tu gosta
Uma frase meio torta
Uma barriga em meu violão
Uma, duas luas
Uma cachaça, dois coração

Outro par me convidou...para dançar do lado de lá...eu vou. Em “Outro Par” surgem os primeiros sinais do desgaste da relação ao ritmo de um excelente samba de raiz, emendando em “Dinheiro” (uma das minhas preferidas), cuja letra criativa mexe com o imaginário da vida boa de um cara após ganhar dinheiro e esnobar a antiga paixão:

Paris! Europa! Chile! Argentina!
Girafas! Caribe! Charutos!
Hula - Hula! Baralho! Loiras!
Piscina na cobertura!
Massagem, passagem, uma bela paisagem!
Ah, você só vai olhar!


Com uma levada dos tempos do Iê-Iê-Iê, a introdução de “Dinheiro” remete muito à recente “Invejoso” de Arnaldo Antunes. Antes que surjam especulações maldosas, importante dizer que essa música do Mula Manca & a Fabulosa Figura é mais antiga.


“Loteria” vem em ritmo de samba com bossa e o piano volta ter uma participação na curta “Escravo”, onde a crise do casal apresenta-se em sua plenitude: Preciso me humilhar ... E ser só coração...Ou levá-lo numa bandeja...Pra ver se você se comove.


Refletindo a sopa de sentimentos pós-separação, vem “Fórmula 1”: Leio as notícias no jornal...são iguais...Faço um chá pra nós dois..você se foi.. Mas hoje me deu uma sensação... um sentimento de grandeza... uma vontade de dizer...voe voe voe querida..voe voe voe meu bem.... Trata-se de um som que remete ao tempo da jovem guarda. Se fechar os olhos, até a voz lembra o bom e velho Tremendão em mais uma letra divertida e até surrealista.


O céu testemunhou... Cecilia aquela flor...Não murcha, parece que se apetece...Esta cada vez maior cá em mim . “Cecília” começa com letra e sons tristes, mas traz também boas recordações em ritmo alegre dentro da mesma canção:

Aí me recorda,
aquela história da gente dançar como um par
O mesmo baile, eu no mesmo traje e teu vestido insiste em rodar
Juras e beijos, abraços, um regaco escondido pra noite durar
O teu sorriso, cabelo comprido, um adorno com a flor no lugar


Deita aqui...Eu arrumei a cama pra nós dois...Esquece tua mala aí, aqui.... Em “Deita aqui”, uma voz feminina numa canção suave reflete a busca pela reconciliação. O diálogo entre o casal continua depois em ritmo de forró pé-de-serra com “Animal”, afinal sou o mesmo rapaz de cabeleiras longas. Música sensacional.


A trilha da história segue com dois sambinhas “Terra, Água e Sal” e “Paletó”, que retrata brilhantemente a nostalgia que surge após a separação consolidada:

Pouco me tem interessado ultimamente
É que a saudade manda mensagem súbita
Você não está pra me fazer um cafuné
E a leveza já precisa ser


Aos sons de passarinho e com uma bela levada, em "Varanda" a esperança renasce...ainda que sob a incerteza:

Não fique triste, me promete
Que se derrete quando eu voltar
Se eu voltar (...)


O ritmo acelera em “Pé no Chão” com uma letra quase surrealista para encerrar em clima de suspense com “Arrepio”.


Enfim, não sei se foram as múltiplas influências, a alternância entre tropicália, mpb, jovem guarda e mangue beat, ou ainda as letras bem humoradas, mas o fato é que Mula Manca & a Fabulosa Figura me conquistou definitivamente e esse disco transformou-se numa deliciosa trilha sonora do último verão, quando ao lado da Carol, passávamos tardes ensolaradas tomando cervejinha na piscina de brinquedo. A diferença é que, ao contrário do enredo do disco, o clima dominante era de plena harmonia. Valeu Mula Manca! Esperamos ter a oportunidade de ouvi-los em algum show futuramente.


Paul


Obs: para conhecer o trabalho deles, www.myspace.com/mulamanca


Dente de ouro, Blues Etílicos




E pra um dia frio, blues.


Blues brazuca, com letras típicas - algumas em português, versões, muitas instrumentais e um suíngue apimentado.


Maior banda brasileira de blues, com 26 anos de estrada, merece estrear a seção blueseira do nosso blog.




Play the blues!




Que inclusive começa rock'n'roll: 'It's my soul' tem essa vibe, aquele shuffle típico com aquela gaita bem tocada pelo sensacional Flávio Guimarães, além do slide do Otávio Rocha! Soul blues.




'O sol também se levanta' é um exemplo de blues bem transportado pro Brasil, uma letra sobre ressaca (podia ter tocado no dia seguinte do Itupervastock), instrumental acústico.


"O sol me acorda e ainda é cedo!


Eu fico logo de mal humor


A minha cabeça ta rodando, de onde é que vem esse tambor


É de manha e eu tô numa ressaca, eu me arrasto até o banheiro


me sentindo enjoado enfio a cara no chuveiro


É nessas horas, eu digo pra mim mesmo nunca mais vou beber


Mas vem caindo a tardinha...


Preparo outra caipirinha"




'Cachorrada' é instrumental, com uns metais (gaita, trompete by Greg Wilson e sax barítono by Henrique Band) muito legais, além do solo matador!




Aí vem a maneiríssima faixa-título, uma música de capoeira com berimbau e atabaque do Mestre Garrincha, arranjada pro formato blues com slide dobro e tudo! Muito muito legal! Solo de gaita sensacional.


"Ela tem dente de ouro


Aih meu deus foi eu quem mandei 'botar'


Vou rogar é, uma praga prá esse dente se quebrar


Ela de mim não se lembra, aih meu deus nem dela vou me lembrar


Casa de palha é palhoça, se eu fosse fogo queimava


Toda mulher ciumenta, se eu fosse a morte eu matava"




Mais uma instrumental 'Dromedário', cheia de wah-wahs, solo de baixo e gaita altíssima.




'Misty mountain' é mais contemplativa, começando com um violão e voz bonitos, solinho de gaita e entra a banda, dinâmica é tudo...vale a audição, eu sempre gosto de ouvir essa lá de cima das montanhas.




Mais uma instrumental, 'Texas frogs', animada e alto astral, tá até esquentando esse frio gélido curitibano.




'It ain't easy' é um suinguezinho maneiro, não tipicamente blues, mas se mistura bem no geral.




'William's influence' é uma instrumental com um som de gaita diferente, é a cromática. Só não sei quem é o William...




Toca Raul!! 'Canceriano sem lar (Clínica Tobias blues)' ficou muito legal, num blues acústico com aquelas paradinhas típicas e um slide dobro malandro.




Na seqüência mais uma instrumental, 'Albert's mix', agora com um pouco mais de drive! A música termina de repente, estranhíssimo, deve ser o Albert King cortando a mix...




'Águas barrentas', provavelmente em homenagem ao Muddy Waters, sacode a casa.




'Mambo chutney' é bem latina, com uma guitarra balançante, congas e trompete, legal.




'Liberdade' é uma boa surpresa, de Fernando Pessoa (acho que é o poeta português) e Márcia de Carvalho, bluesão quase acústico com uma voz com distorção ao fundo.




Que já emenda numa instrumental mais lenta e bem curtinha, 'Elefante'. Acho que tem instrumentais demais, por mais que sejam legais, né?




'Cerveja' lembra por que eles são etílicos! Co-autoria dos caras com o Fausto Fawcett, que inclusive canta aqui com aquela voz carioca típica.


"Vou virar vou virar esse copo


Cheio de espuma cheio de ouro


Vem cerveja vem beijar meu sangue


Alquimia de espuma libertaria


O mundo é veia aberta a minha volta


Hoje eu to bebendo cerveja


Toda bebida é binóculo da alma


É raio x da perdição dos sentimentos


Cerveja me libera, me leva ao paraíso


Ah loura liquida me leva pro seu liquid sky


O mundo é veia aberta a minha volta


Hoje eu to bebendo cerveja


É paraíso dos desejos, encruzilhada violenta de tesão


Que me importa como o tempo passa


Cerveja me libera


Pra tempestade da carne


Pra tempestade da rua pra tempestade do sexo


Pra tempestade de tudo


O mundo é veia aberta a minha volta


Hoje eu to bebendo cerveja"




E depois de 16 músicas, 'Little Martha' (D. Allman) termina bonito o disco, acústica e leve.




Long live the blues.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

The ultra sounds of Shivaratri



Continuando a linha de ligação com a Índia, iniciada pelo Mateus, trago hoje aqui um projeto interessantíssimo da Egrégora dos praticantes do Método DeRose, da qual tenho orgulho de fazer parte.

Farei alguns breves esclarecimentos aqui, que depois extenderei num post futuro sobre um cd de Mantras propriamente dito, mas qualquer curiosidade extra, pesquisem em www.uni-yoga.org.

Por hoje, ficaremos com uma das definições de Mantra encontradas no livro 'O poder do Mantra' (Ricardo Melo e Caio Melo): "Para começar a compreender melhor o termo, você pode partir de um conceito mais popular e flexível, mas que gera uma boa reflexão: mantra é qualquer palavra ou som que se posa emitir. Existe um ditado no Yôga que diz: palavra é mantra. Ou seja, em qualquer idioma, quando se fala qualquer coisa, emite-se um mantra, um arquétipo vibratório e sonoro de uma intenção".

Então partindo desse conceito, esse aqui também é um álbum de mantras, mas arranjados com uma roupagem mais elétrica (guitarras, baixos e teclados) e eletrônica, mas com percussões sempre presentes e vibrantes.

O 'ultra sounds' do título remete aos sons que ocorrem "em uma freqüência superior àquela que o ouvido humano pode perceber, cujo limite é de aproximadamente 20.00 Hz", esclarecimento também do livro citado. Então as vibrações existem e de alguma maneira elas são percebidas.

Os mantras dos quais se parte para as músicas deste disco são Kirtans, em Sânscrito cântico. "Como seu significado denota, é o mantra que possui várias notas musicais, várias palavras e geralmente tem tradução. É importante frisar, porém, que não se trata de música, e nenhum mantra, incluindo o kirtan, é cantado. No jargão de quem conhece o assunto, diz-se vocalizar e não cantar mantras. Kirtan é um mantra de efeito extroversor(...)", ainda do livro citado.


Então vamos ao som, no caso, sonzaço!

Pra quem acha que se trata de músicas relaxantes e contemplativas, esse disco pode impressionar. As guitarras são muito legais, pesadas em muitos momentos, com bons efeitos de estéreo e modulações psicodélicas. Os vocais são muito bem colocados, fugindo totalmente de qualquer estereótipo 'natureba indiano', podendo rolar o som numa festa com roqueiros ou na balada dance.

Shivaratri é um grupo formado por Leo Spínola (vocal e guitarra), Walter Cândido (vocal e mridanga), a bela Evelyn (vocal e meia-lua), Johnnie (DJ) e Charles Maciel (djembê), que além de músico é um excelente mestre de cerimônias e frontman, com quem tive o prazer de tocar Sitar Guitar no último DeRose Festival, em Florianópolis. Obrigado pela boa recepção! Um ensaio e dois shows!!

Mais informações em www.shivaratri.net


O disco começa com um riff de baixo distorcido e uma bela guitarra, trazendo depois a bateria eletrônica e as percussões coloridas. Antes das vocalizações entra uma bela guitarra limpa e suingada. 'Guriji (Jaya gurují ÔM Dê)' é um belo início e se você não conhece o mantra demora pra perceber que é disso que se trata. Solinho bacaninha de guitarra! Acho que a cargo do convidado especial Gegê Spínola.


'Hari Gauri (Hari ÔM namah Shiva)' é mais uma surpresa, começando também com uma linha de baixo, só que agora um acústico, seguido de uma bateria leve e uma guitarra com um pan estéreo muito bem sacado! Aqui o convidado especial é Durval Lelys na guitarra. Mais solos de guitarra.


'Jaya Shiva (Jaya Shiva Shankara Bhôm)' já traz um arranjo mais eletrônico, começando já com uma bateria bem seca e uns teclados pesados. Muito vigor e energia, boa pra começar o dia, principalmente se você canta, ou melhor, vocaliza junto. Belíssimo solo de guitarra.


Mais calma no começo, 'ÔM Shiva (ÔM Shiva ÔM Shakti)' alterna vocais masculinos e femininos, crescendo em dinâmica com guitarras mais pesadas e uma bateria muito legal.


'Shivaya ÔM' é mais calma, com teclados/sons fx mais 'viajantes' e um som de cítara bonito, além

de um dedilhado de guitarra bonito finalizando.


Volta a animação, guitarra nervosa e suingada: 'Umapatê (Jaya Shiva Shankara Umápatê)'. Mais uma boa pra começar ou animar o dia.


'Natarája' começa com um efeito de eco ping-pong (bom de ouvir com fones) e mais um riff de baixo distorcido, dá uma acalmada pra entrar uma bateria suingada e os vocais disputando com o peso do som, nada relaxante, ouvinte desprevenido! Essa aqui tem aquele break de música eletrônica no meio, bom pra mixar.


Pra terminar em alto astral, 'Shambhô (Jaya jaya Shiva Shambhô'), com uma guitarra bonita, uns sons estranhos, aparentemente ondas sonoras invertidas, seguidos daquele beat eletrônico maneiríssimo! O vocal aqui soa diferente, talvez filtrado. Mais guitarras com overdrive!


SwáSthya!