quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A vida em seus métodos diz calma (Di Melo - 1975)

Tornando a estória longa, curta, em uma das nossas intermináveis discussões, Mateus me cobrou escrever sobre Di Melo. Ok, grande escolha, cá estou, defendendo esse herói não cantado. E logo daqueles difíceis de entender como é que não fez sucesso e como ficou tanto tempo no anonimato. Ele colaborou, sumindo. Pois é, o cara deu o wazari, ninguém sabia onde ele foi parar e após décadas acharam até que tinha morrido. Só que se esqueceram de avisa-lo que, quando soube, se declarou "imorrível".

Mestre do suingue fácil, de voz malandra, interpretação experta, forte, nordestina, daquele jeito pernambucano de tornar seu sotaque universal. É só ouvir esse seu único disco pra sacar o que eu tô falando. Tem suingue pra todo lado, bem na linha black brasileira, q se misturava com samba, funk, xaxado, MPB, soul, reggae, sem preconceitos.

Ele tem também aquela onda nordestina dos anos 1970 que veio com Fagner, Ednardo, Ze Ramalho, Alceu, aquelas misturas lisérgico-sertanejas, viajandonas, engajadas, surrealistas, Bob Dylan no sertão. Confesso que me empolguei tanto com o balanço que achava chata a parte lenta. Bobagem. Até porque, elas são metade do disco. É que o ritmo é tão gostoso que toma conta.

É questão de humor. Questão apenas de separar lado A e B, coisa q aliás ele num faz, mas deveria. Porque tem uma sequência dançante matadora que deveria estar definitivamente junta, pra galera poder tocar em festa sem preocupação de mudar a música. Ainda mais nos tempos dos LPs. E até faria mais justiça à parte MPB que acaba passando despercebida.

Mas ao que interessa...

O disco já chega chegando, com o baixo chamando a gente pra dançar Kilariô, convite aceito de cara pelos metais.

A poesia já é cheia de ritmo:

Kilariô! Raiou o dia eu vi chover em minha horta.
Ai, ai meu deus do céu quanto eu sofria ao ver a natureza morta.
Tinha mandioca pra farinha e o milho pra galinha e o capim para vaquinha e o feijão quem compra gosta
.”

Mas não é por causa letra que tô dançando enquanto escrevo essa resenha. A banda é um caso a parte, encontro de cobra criada: Heraldo do Monte, Violas e Violões; Cláudio Beltrame no contrabaixo (clap clap clap clap clap um monstro! Um dos baixos mais suingados e criativos que já dancei); Ubirajara, pai de Taiguara, no bandoneon; Dirceu, na bateria; Bolão, no sax; arranjos e violão, do maestro Miguel Briamonte; e o grande Hermeto Paschoal, nas flautas, teclados suingadissimos, arranjos e produção. Ou seja, num tem menino amarelo na parada.

A isso Di Melo junta sua divisão rítmica personalíssima, rara, contagiante, que deixaria Jackson do Pandeiro orgulhoso do pupilo. Lá pelas tantas, a(s) vocalista(s) (Eloá, você tava sozinha nessa ou tinha mais gente?) soltam um uuuuuuuuuuuu q se não te der tesão pode ter certeza que seu negócio não é mulher.

A segunda música é pura filosofia de vida, riponga, zen. Mas hedonista, como é que não, com esse ritmo? Os grngos sacaram e volta e meia ela aparece em alguma coletânea pelo mundo:

"A Vida em Seus Métodos Diz Calma
Vai com calma você vai chegar.
Se existe desespero é contra a calma
E sem ter calma nada você vai encontrar".

Anti-stress pra ouvir e dançar no trânsito:

“Calmas nas oficinas
nos postos de gasolina,

Principalmente nas maternidades,
hospitais e escolas”.

A terceira é Aceito Tudo, a bateria quebrando tudo.

Daí pula pra 7a música, pra manter a pista cheia. Pernalonga começa com um violãozinho jorgebeniano safado, preguicoso, pra logo atacar os metais e o baixo ir carregando a preguiça.

Depois, Minha Estrela:

Minha Estrela, vi tua imagem refletida em meu espelho.

Parei no ar com teu jeitão frio e matreiro

E fiz voltar o teu sorriso prateado”.

Pra completar esse quarto de hora de alegria e diversão, Se o Mundo Acabasse em Mel deixa um recado pra galera estressada, desaceleraê, galera, e vamos curtir:

“Deu pane no nervo do cérebro.

Taquicardia e revertério.

Momentos trágicos e instantes sórdidos.

(...)

A ele eu dizia que queria morrer doce quando o mundo acabasse em mel.”

Como ele diz, coberto de razão: “Meu som não deixa nada a desejar para o que houve, há, e, haverá no mercado musical. Digo, repito, atesto, e, assino embaixo, sem medo de errar e sem falsa modéstia. É muito swing, balanço, molho, charme e malemolência, pois nem Santo Antonio com gancho consegue segurar.”

Esse disco deveria estar naquelas cápsulas cheias de coisas especiais que o ser humano faz e que de tempos em tempos são lançadas no espaço, de presente para alguma civilização “perdida” por aí, para eles saberem que apesar das merdas que a gente faz, de vez em quando manda bem. Se algum dia algum extraterrestre abrir a cápsula com esse disco, vai ter um monte de marciano chacoalhando as antenas, dançando, felizões, loucos pra pegar o primeiro bonde pro planeta Terra.

sábado, 22 de outubro de 2011

Adriana Calcanhoto, Enguiço, 1990


Esse blog está com aproximadamente 200 discos resenhados e percebi que está faltando, entre outros, pelo menos um trabalho da Adriana Calcanhoto. Visando reparar essa injustiça, resolvi postar um CD dela, optando justamente pelo primeiro: Enguiço, lançado em 1990.

Muito conhecida hoje por trabalhos autorais, já que nos últimos CDs a maioria das canções são de autoria própria, nesse primeiro disco ela optou por priorizar seu lado intérprete, ainda que também tenha músicas próprias, como “Enguiço” (que deu nome ao disco) e “Mortaes”.

Embora eu goste muito de suas composições que certamente contribuíram para consolidar sua carreira nesses mais de vinte anos, esse primeiro disco acabou ficando marcado por algumas interpretações de canções de outros músicos, mas que com a voz e arranjos dela, adquiriram vida própria.

Eu hoje ando atrás de algo impressionante... Que me mate de susto... Um impulso...Um rompante...

Depois de iniciar com a citada “Enguiço”, ao som de uma banda de metais (saxofones, trumpetes, trombones, etc), vem “Naquela Estação”, bela canção de João Donato, Caetano Veloso e Ronaldo Bastos que tocou muito nas rádios na época e serviu para apresentar Adriana Calcanhoto ao público:

e o meu coração embora...finja fazer mil viagens...fica batendo parado naquela estação..

Em seguida, ela transformou completamente a canção do Roberto e Erasmo “Caminhoneiro” (cuja original eu particularmente não gostava). Com novo arranjo e uma voz límpida, o resultado ficou muito bom. Em seguida, fez a mesma coisa com “Sonífera Ilha”, desacelerando completamente a conhecida música dos Titãs, incluindo cordas e empregando à canção um novo sentido.

Disseram que voltei americanizada... Com o burro do dinheiro, que estou muito rica...Que não suporto mais o breque de um pandeiro...Que fico arrepiada ouvindo uma cuíca...

Ao interpretar velha canção de Luiz Peixoto e Vicente Paiva feita para Carmen Miranda, quando retornou ao Brasil após sua primeira viagem aos Estados Unidos, Adriana Calcanhoto consegue outro belo resultado.

Meu bem o azar foi seu...eu ganhei o carnaval....porque você perdeu...e me perdeu...

Na sequência, Calcanhoto desfila seu “Orgulho de um Sambista”, de Gilson de Souza numa suave canção de amor de carnaval.

Nunca... em que o mundo caia sobre mim...Nem se Deus mandar nem mesmo assim...As pazes contigo eu farei....

Fiel às suas origens (ainda que hoje seja, antes de tudo, uma cantora brasileira), ela ainda inclui no repertório “Nunca”, de Lupicínio Rodrigues, o mais clássico compositor gaúcho, novamente acompanhada por instrumentos de cordas que valorizam sua voz.

Depois de “Pão Doce” de Carlos Sandroni, que conta com a participação do também gaúcho Renato Borghetti (Borghettinho) e de “Mortaes”, a segunda música autoria própria nesse seu primeiro disco, ela finaliza com a bem humorada “Injuriado” de Eduardo Dusek, acelerando o ritmo, dando boa demonstração de sua versatilidade.

Quando voltei foi então que pude constatar
Que não adianta fazer nada
Pra essa coisa melhorar
E então melhorei!...

Desde o lançamento desse disco, Calcanhoto (que também desenvolve excelentes trabalhos paralelos como Adriana Partimpim) vem consolidando cada vez mais sua carreira e hoje é, certamente uma das cantoras e compositoras brasileiras mais versáteis. E embora discos posteriores dela possam ser considerados até melhores, Enguiço serviu como cartão de visita de uma intérprete que concilia suavidade com personalidade. Felizmente para nós, ela seguiu atrás de algo impressionante.

[Paul]

PS: para escutar algumas músicas desse disco:

http://grooveshark.com/#/playlist/Adriana+Calcanhoto+Engui+o/62137616

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Tudo Azul....Tudo Azul meu Amor


Em 1999, paralelamente ao trabalho de cantora e compositora, Marisa Monte decidiu resgatar todo o trabalho da Velha Guarda da Portela, cuja comunidade em Madureira tinha forte relação (seu pai - Carlos Monte - tinha sido diretor da Escola de Samba). O resultado ficou belíssimo, a começar pelo encarte. Em uma época em que as gravadoras estavam reduzindo os custos e os CDs vinham com pouco material, Tudo Azul vai na contramão, incluindo letras cifradas e páginas azuis com trabalho artístico de primeira (fotos de Rodrigo Monte).


A seleção das músicas também foi digna de louvor,incluindo canções dos principais expoentes da Velha Guarda da Portela: Monarco, Alvaide, Chico Santana, Chatim, Manacéia, Áurea Maria, David do Pandeiro, Candeia, Alvarenga, Jair do Cavaquinho, Colombo, Casquinha, Ramon Russo, Casemiro da Cuíca, Alberto Lonato, Josias e Ventura, autores das 18 canções gravadas.


Com “Portela desde que eu nasci”, o disco inicia-se marcando terreno:

Eu sou portela ...Desde os tempos de criança...Ainda guardo na lembrança...Algo e vou revelar


Em seguida, a inspirada letra de “O Mundo é Assim” (Alvaiade) dá o tom ao mesmo tempo nostálgico e filosófico:

O dia se renova todo dia
Eu envelheço cada dia e cada mês
O mundo passa por mim todos os dias
Enquanto eu passo pelo mundo uma vez


Continuando com a clássica “Nascer e Florescer”, na Manacéa, na voz de Monarco e emenda com “Vai Saudade”, canção em que se destaca o cavaquinho de Jair do Cavaquinho (com o perdão da redundância).


A temática nostálgica prossegue nas músicas seguintes (“Vai Saudade” e Sabiá Cantador”), e acaba levando a memória do ouvinte a uma agradável tarde de sábado regado a cervejinha em uma mesa de bar, acompanhado de bons e velhos amigos.


Em “A Noite que tudo Esconde”, destaca-se a participação especial justíssima de Paulinho da Viola, que afinal de contas, é o responsável direto pela primeira constituição da Velha Guarda da Portela em 1970 (informação que consta do próprio encarte de Tudo Azul).


Depois de “Eu te quero”, “Volta meu amor” conta com a participação especial da própria Marisa Monte, e o resultado não poderia ter sido melhor: Uma canção belíssima:


Volta, volta, meu amor
Quero sentir novamente seu calor

O disco segue em melhor estilo com “Falsas Juras” (Eu já lhe disse.... Que não quero mais o seu amor porque... As falsa juras nos seus beijos... Me fizeram padecer) e emenda em “Tentação”, bela canção levada só com a cuíca e voz de Casemiro da Cuíca.


Você me abandonou...Ô ô eu não vou chorar...Mas hei de me vingar...Não vou te ferir...Eu não vou te envenenar...O castigo que eu vou te dar é o desprezo...Eu te mato devagar (...).A dor de cotovelo levada de forma alegre permanece dominante na canção “Você me abandonou”.


O rtimo cadencia em “Vem Amor” para acelerar novamente em “Benjamim” e emendar em “Tudo Azul”, canção que providencialmente batiza o disco, em referência não só ao bem estar, mas também à cor da tradicional escola de samba do Rio: “Tudo azul...Tudo azul...meu amor”.


A cadência mais lenta de “Minha Vontade” conta com a participação especial de Cristina Buarque para, em seguida, dar lugar ao ritmo do pandeiro e a cuíca em “Sempre o Teu Amor”.


Para finalizar, depois de mais uma participação do excelente cavaquinho de Mauro Diniz em “Corri pra ver” (ao todo participa de 4 canções), o disco encerra com a participação especial de Zeca Pagodinho, que divide o vocal com Monarco em “Lenço”: Pega esse lenço e não chora...enxuga o pranto, diga adeus e vá embora”.


E enxugando o pranto diante do término dessa preciosidade, o disco finaliza no melhor estilo. Com esse trabalho, Marisa Monte presta um grande favor a todos amantes da boa música, resgatando um trabalho que, antes de tudo, envolve emoção e sentimento, do tempo em que a música era, antes de tudo, uma manifestação cultural autêntica e não o ganha-pão de ninguém.


[Paul]

PS: para escutar o disco:

http://grooveshark.com/#/playlist/Dj+Paul+Velha+Guarda+Da+Portela+Tudo+Azul/62013188

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Nem que seja pela última vez...



“Invisível DJ” , de 2007, foi o último disco do Ira! com a sua formação clássica. Trata-se de um disco que passou batido, sem ter músicas tocadas nas rádios (fora poucas exceções) e até mesmo sem merecer maior destaque por parte dos fãs da banda, cuja maior preocupação, logo em seguida, recaia sobre o futuro da banda, que enfrentou sua maior crise com a briga grave do Nasi com o irmão empresário e o restante da banda.

Mais além de ter sido o último disco, também marcou um período em que o próprio formato de venda já apresentava fortes sinais de crise, já que passou a ser mais fácil baixar na internet qualquer disco do que compra-lo em lojas especializadas.

Nesse cenário, eu como um fã, comprei o disco assim que foi lançado antes mesmo de ouvir qualquer música (e quando a banda ainda estava aparentemente unida), sem esperar muita coisa, mas me surpreendi com a qualidade do som.

O disco abre com a canção que batizou o trabalho, com a guitarra do canhoto Edgard Scandurra a toda velocidade descrevendo a dura rotina de uma funcionária que pega 4 ônibus por dia embalada pelo som do dj das rádios.

Em “Sem Saber pra Onde Ir”, na única composição do Nasi nesse disco, o vocalista já dava os sinais dos seus próximos passos:

Eu não vou continuar aqui sozinho
esperando você vir
tenho que continuar, a minha estrada prosseguir
sem saber aonde ir

O ritmo muda em “Eu vou Tentar”, uma levada mais sossegada de Rodrigo Koala em que os sinais do fim e da saudade continuam em evidência:

Hoje eu saio cedo
Sem saber se vou voltar
Caminho entre os carros
Deixo a rua me levar
Vou ser feliz
Longe daqui

(...)

Eu vou tentar fazer você feliz...nem que seja pela última vez.

Em seguida, “Mariana foi pro Mar” narra a vida de uma garota que ao enfrentar uma crise conjugal, deu a volta por cima ao melhor estilo. Trata-se de uma das canções mais divertidas desse disco e com som de fácil audição. Agrada a gregos e troianos.

O rock volta a toda em “Não basta o Perdão”, novamente com a temática da separação e da crise conjugal:

é o desafio, meu bem
eis a questão
é preciso o amor não basta o perdão

Depois de uma espécie de blues em “Culto de Amor”, o Ira! resgata uma canção da década de 1970 de Walter Franco, uma espécie de músico da vanguarda paulistana, com “Feito Gente”. Pra mim, esse é o ponto alto do disco, uma letra que parece escrita sob medida para a voz do Nasi:

Feito gente, feito fase.
Eu te amei, como pude.
Fui inteiro, fui metade.
Eu te amei, como pude
.

O disco segue com “Tudo de Mim” e “Universo dos seus Olhos”, para emendar com mais uma feliz parceria do Scandurra com Arnaldo Antunes em “A Saga”, ao melhor estilo do Ira! Sonzeira...

caindo, cai
descalço, vai
na beira da calçada

olhando, vê
assiste a quê
anda atrás de nada

catando lixo,
correndo o risco,
fazendo arruaça

chutando lata,
xingando placa,
fazendo ameaça
passa, passa

No final, a temática muda, abrindo espaço primeiramente para a crítica política em “O Candidato”, ainda que não muito inspirada (acho o ponto fraco desse disco) para fechar com a excelente “La Luna Llena”, cuja letra em espanhol casa bem com o tom revolucionário:

Déjenos un gran legado
De amor y resistencia
Tenemos siempre una nueva manera
De olvidar los sentimientos
Y el ódio y la ganancia
Se apoderan de nosotros
La guerra no escucha la canción
La guerra no tiene educación
No te da las buenas tardes
Buenas noches
Buenos dias
Fuego en su corazón
Y la luna está triste
Porque mira lo que hacemos
Aqui

Enfim ,trata-se do último suspiro do Ira! Meses após o lançamento desse disco ocorreu uma série briga que, a princípio, separou para sempre Nasi dos demais, deixando órfãos todos os fãs de longa data dessa banda. Felizmente deixaram como herança uma vasta obra com som marcante que continuará sendo escutada. E Invisível DJ certamente serviu para fechar com chave de ouro essa fase. Quem sabe com as voltas que o mundo dá eles não resolvem voltar a nos brindar com trabalhos desse calibre...Nem que seja pela última vez.

Para escutar o disco: http://grooveshark.com/#/album/Invisivel+Dj/3480309

[Paul]

PS: confesso que só depois de escrever (mas antes de postar) vi que o Mateus postou outro disco do Ira! recentemente...legal, serve com um diálogo.

domingo, 9 de outubro de 2011

Cabeça dinossauro, Titãs




Que 1991 o caralho, o ano do rock nacional é 1986, porrrraaaa!!
(Aliás o mesmo dos sensacionais discos de metal Master of puppets e Reign in blood!).
Selvagem?, O futuro é vortex, Pânico em SP, O rock errou, Antes do fim, Dois, etc...

E este aqui, que é sensacional, forte, bruto e essencial!

Temas simples, críticas contundentes a coisas e instituições, porrada!
Às vezes resvala pro excessivamente simplificador e/ou simplório, mas em tempos politicamente corretos dá uma saudade dessa vitalidade adolescente 'foda-se'...

Vindos de um frustrado disco, 'Televisão', com produção do Lulu, onde não conseguiram dar o peso supostamente desejado, seguidos de problemas com a polícia (lembrando o gênio Keith "nunca tive problemas com drogas, só com a polícia"), onde Arnaldo e Bellotto foram presos por tráfico e uso, os Titãs acharam em Liminha, que antes tinha sido criticado pelo Branco Mello, um produtor parceiro, que soube transformar as boas ideias em boas execuções e num disco magistral, iniciando uma longa colaboração.

As ilustrações, tanto da capa contra da contracapa, são de Leonardo da Vinci, respectivamente, 'A expressão de um homem urrando' e 'Cabeça grotesca'.

A faixa-título, de P. Miklos/Branco M/A Antunes, que inicia o disco, traz elementos de um cerimonial de índios do Xingu. O show na época começava com esta! Poderoso som.


'AA UU' (S Britto/M Frommer) já vem na seqüência, com sua mistura original de funk e rock, numa crítica ou constatação da ansiedade, do sempre ter algo a fazer, uma preocupação constante e desgastante. Solinho de guitarra bacana, bateria quebrando tudo, sonzeira.

'Igreja' (N Reis) é mais uma crítica à instituição, o que dividiu a banda; Arnaldo, que acredita em Deus, saía do palco nas apresentações ao vivo.


'Polícia' (T Bellotto) é basicamente uma resposta raivosa ao episódio da prisão dos Titãs, uma pancada, que inclusive já foi coverizada pelo Sepultura.


'Estado violência' (C. Gavin) é um libelo anarquista pós-punk, com tecladinhos com pitch bends e tudo! Guitarras em estereo, muito legais!

Por falar em punk, 'A face do destruidor' (P Miklos/A Antunes) é um hardcore raivoso com efeitos bizarros, com certeza a música mais pesada dos caras, mesmo levando em consideração o 'Titanomaquia'. Em 38 segundos.

'Porrada' (A Antunes/S Britto) também é quase punk, principalmente pelo tema. Como canta feliz o amigo e colaborador Zeba 'a música que não tem em karaokê':
''Porrada nesses caras que não fazem nada"!!

'Tô cansado' (B Mello/A Antunes) pra mim é uma das dispensáveis do disco.

Ainda mais porque na seqüência vem 'Bichos escrotos', música antiga do repertório que só foi gravada pra este disco. Na época 'vão se fuder' (fuder ou foder??) era ofensivo e foi proibido pela censura. Mas mesmo assim as rádios tocavam a versão editada ou pagavam multa. A música é muito legal, guitarras suingadas e pesadas, um solo sensacional de baixo com wahwah!!

Os Titãs eram sete cabeças pensantes e opinantes, e isto se reflete tanto na dificuldade de decidir quanto na variedade de gostos e sons. Assim aqui temos um reggae, bem legal e um pouco ácido, 'Família'. Vocais de fundo bem legais, guitarrinhas pica-pau, baixo gordo, tecladinho no contra-tempo, taí a fórmula. Vc acha fácil? Vai fazer...

Mais crítica, agora ao capitalismo selvagem: 'Homem primata' (S Britto/M Frommer/ N Reis/C Pessoa), rock brasileiro pesado e divertido.

'Dívidas' (B Mello/ A Antunes) também é fraquinha e dispensável.

'O quê' (A Antunes) é uma surpresa no disco, letra experimental concretista, antecipando experimentos com funk, samples e música eletrônica que seriam mais presentes nos discos seguintes, 'Jesus não tem dente no país dos banguelas' e 'Õ blesq blom'.

Mas como diria o Charles Gavin no programa 'O som do vinil': "isso já é outra história''...

V, Legião Urbana (ainda em 1991...)





Outro dia, no vício inerte da tv a cabo, vi (mais) um programa sobre os discos de 1991 - que, inclusive, coerentemente, colocava o 'Screamadelica' como número 1 à frente do 'Nevermind', prefigurando ou antecipando ou criando o futuro, ou seja, a música eletrônica como vanguarda da música/rock - que citava este disco aqui como um lançamento de rock progressivo em 1991. Fiquei pensando e quase concordando, resolvi postar esse que, atipicamente, foi o disco que mais escutei dos caras.

Há, realmente, um agradecimento no disco 'Aos anos 70' (no meu disco, que é a versão barateada sem encarte e outros 'luxos', isto não aparece). Há mesmo muitas referências/citações eruditas e um clima pra lá de sombrio.

Pelo próprio Renato: "Ih, tem umas coisas medievais, uns instrumentais. O primeiro lado é uma viagem. Vão dizer assim: 'Legião repete fórmula e lança disco progressivo (risos)..."

Só pra lembrar, já que estamos falando de Brasília, ontem, no programa Zoombido do Moska no Canal Brasil, foi entrevistado o Philippe Seabra do Plebe Rude (bom programa, recomeindo!). Quase postei hoje 'O concreto já rachou', pra mim um dos melhores dos anos 80, mas por um acordo de cavalheiros o Xampu o fará (em breve, espero), depois eu posto 'Nunca fomos tão brasileiros'.

Contexto do disco: crise econômica do governo Collor, dependência química de Renato Russo, aids de Renato (nunca assumida publicamente) e Cazuza (homenageado com a música do disco anterior 'Feedback song for a dying friend').

O argumento do disco progressivo começa forte já na primeira música, 'Love song (Cantiga de amor)', um poema do trovador português medieval do sec XIII Nuno Fernandes Torneol musicado pela banda, bela e delicadamente.

'Metal contra as nuvens' tem uma introdução também quase progressiva (afinal o que é rock progressivo? Encaminharei esse post ao amigo e especialista Leonardo Naohum, autor de um guia essencial e produtor de shows no RJ e aguardarei boas discussões...), sendo dividida em 4 partes e com mais de 11 minutos...se isto não é progressivo, porraaaaa...

Tem inclusive uma parte quase metal! Guitarras (mal) distorcidas, embolando um pouco.

"Sou metal, raio, relâmpago e trovão

Sou metal, eu sou o ouro em seu brasão

Sou metal, me sabe o sopro do dragão"

Depois volta o suave e acústico. Boa canção, mesmo enorme tem um senso de unidade, soa redondinha e completa.

'A Ordem dos Templários', que não é inspirada em nenhum livro do Dan Brown, é instrumental e bonita, mais um ponto a favor do argumento do disco de progressivo. Inclui a peça 'Douce Dame Joulie' de Guillaume da Machaut do sec XIV. Sons de vento ao final...

'A montanha mágica', provável referência ao livro de Thomas Mann, parece fazer referências a dependência química, mas seria erradamente simplificador reduzir a interpretação a só isto. No meio há uns efeitos de reverb e ecos muito legal, melhor percebidos com fones. A introdução foi adaptada da peça 'Canon' de Johann Pachelbel.

"Minha papoula da Índia

Minha flor da Tailândia

És o que tenho de suave

E me fazes tão mal

Existe um descontrole, que corrompe e cresce

Pode até ser, mais estou pronto prá mais uma

O que é que desvirtua e ensina?

O que fizemos de nossas próprias vidas

(...)

Mas, é claro que não vamos lhe fazer mal

Nem é por isso que estamos aqui

Cada criança com seu próprio canivete

Cada líder com seu próprio 38


Chega, vou mudar a minha vida

Deixa o copo encher até a borda

Que eu quero um dia de sol

E um copo d'água"

Aqui entramos na parte mais ouvida, por mim e pelas rádios do Brazilzão de meu Deus, começando com a linda 'O teatro dos vampiros', que faz lembrar da crise econômica da época, entre outros temas tratados...tá parecendo tese acadêmica essa porra?

"Sempre precisei de um pouco de atenção

Acho que não sei quem sou

Só sei do que não gosto

(...)

Os assassinos estão livres, nós não estamos

Vamos sair - mas não temos mais dinheiro

Os meus amigos todos estão procurando emprego

Voltamos a viver como há dez anos atrás

E a cada hora que passa

Envelhecemos dez semanas

Vamos lá, tudo bem - eu só quero me divertir

Esquecer, dessa noite ter um lugar legal pra ir

Já entregamos o alvo e a artilharia

Comparamos nossas vidas

E esperamos que um dia

Nossas vidas possam se encontrar (...)"

Lindo, né?

'Sereníssima' começa com um ruído de público e a Legião sempre contou com fãs devotados, pro bem ou pro mal. Aqui tem até um solo de guitarra do dado Villa-Lobos!

A frase sobre o sorriso é do já citado Thomas Mann, do livro 'Tonio Kroeger'.

"Sou um animal sentimental

Me apego facilmente a quem desperta meu desejo

Tente me obrigar a fazer o que eu não quero

E cê vai logo ver o que acontece

(...)

Tenho um sorriso bobo, parecido com soluço

Enquanto o caos segue em frente

Com toda calma do mundo"

'Vento no litoral' é um música muito romântica e muito bonita, onde a canção me leva pra esse contexto de referência, o que é muito legal. Às vezes Renato parece óbvio (e às vezes ele é), mas muitas vezes isto funciona perfeitamente na canção, e é expressivo e se conecta com quem ouve. Extremamente pessoal, claro.

Já foi regravada pela saudosa Cássia Eller.

Olha que letra linda e óbvia:

"(...)

Agora está tão longe

Vê, a linha do horizonte me distrai:

Dos nossos planos é que tenho mais saudade,

Quando olhávamos juntos na mesma direção.

Aonde está você agora

Além de aqui dentro de mim?

Agimos certo sem querer

Foi só o tempo que errou

Vai ser difícil sem você

Porque você está comigo o tempo todo

Quando vejo o mar

Existe algo que diz:

- A vida continua e se entregar é uma bobagem.

Já que você não está aqui,

O que posso fazer é cuidar de mim.

Quero ser feliz ao menos.

Lembra que o plano era ficarmos bem?

- Ei, olha só o que achei: cavalos-marinhos.

Sei que faço isso para esquecer

Eu deixo a onda me acertar

E o vento vai levando tudo embora"

Há variadas interpretações sobre os citados cavalos marinhos: fidelidade da espécie, o fato de só se encontrarem no fundo do mar (o que sugeriria suicídio pelo amor perdido!!), símbolo homossexual pelo fato do macho engravidar...enfim, viagens.



'O mundo anda tão complicado' (e quando não foi?) é sobre coisas cotidianas, quase banais e íntimas, mais uma boa canção.

"Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver

O mundo anda tão complicado

Que hoje eu quero fazer tudo por você

Quero ouvir uma canção de amor

Que fale da minha situação

De quem deixou a segurança de seu mundo

Por amor"

'L'age d'or' é pesada, trazendo guitarras e slides distorcidos, mas com um vocal suave e melódico, diferente. É também o nome de um filme surrealista de 1930 de autoria dos loucos Luis Buñuel e Salvador Dali.

"Contra minha própria vontade

Sou teimoso, sincero

Insisto em ter

Vontade própria...

(...)

Já tentei muitas coisas

De heroína a Jesus

Tudo que já fiz

Foi por vaidade

Jesus foi traído

Com um beijo

Davi teve um grande amigo

Não sei mais

Se é só questão de sorte..."

'Come share my life' termina o disco com sutileza e melancolia, só com piano e cordas. Apesar de creditada (no meu disco pelo menos) como da banda, tenho impressão que é uma canção tradicional do folclore dos EUA.

Produção da banda e de Mayrton Bahia.

Vendeu 700 mil cópias, menos da metade do que o anterior, 'As quatro estações', mesmo assim não é pouco.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Geração 80s - singles volumes 1 e 2






Apesar de estar sentindo falta das caveiras e do heavy metal por aqui, postarei essas coletâneas da Warner em 2 volumes, mais uma vez pra resgatar bandas quase desconhecidas (ou quase conhecidas) que sem isso nunca apareceriam por aqui. Tem de tudo, das pérolas ao lixo, do luxo à irrelevância.




Outro dia ouvi sem parar no carro e fiquei pensando que cabia aqui, mesmo com as condenações a coletâneas e blablablah, pra citar bandas de poucos (ou únicos) sucessos.




Então mais atenção a estas, as mais conhecidas eu vou só citar.




Volume 1



Começando pelo pop Lulu, com 'Tesouros da Juventude' e 'Areias escaldantes', sempre relevante apesar dos protestos de amigos por aqui.

Depois vem a banda Brylho, do Claudio Zoli e do mestre baixista Arthur Maia, com duas canções, a sempre tocada e eternamente reinterpretada 'Noite do prazer' e a desconhecida 'Cheque sem fundo'. A primeira é realmente muito legal, com timbres e improvisos legais, se beneficiando do fato de não usar overdrives/distorções numa época em que isto era muito mal gravado. Como cantavam uns amigos bêbados, "tocando de bikini sem parar"... A segunda é obscura mas tem um naipe de metais muito legal.

O sempre pop Kid Abelha comparece com as manjadas 'Pintura íntima' ("fazer amor de madrugada") e 'Por que não eu'. Paula Toller ainda não cantava tão bem quanto hoje, alguns maldosos até diriam que ela também não era tão gostosa quanto hoje...

'Sou boy' é uma das clássicas do Magazine, que também traz a música 'Kid Vinil', fraquinha e com derrapadas na afinição por conta do Kid Vinil, "o herói do Brasil'...

Aí vem o desconhecido (merecidamente, digo) Agentess, com 2 músicas nulas: 'Professor digital' e 'Cidade industrial'. Em frente...

Mais uma quase nulidade, o grupo/banda Azul 29, com 'Video game' e 'O teu nome em neon'. Já estou quase arrependido de postar essas merdas...essa última até que tem uma guitarrinha legal ali pelo meio, mas é só.

O genial Ultraje a Rigor comparece com 2 músicas ('Inútil' e 'Mim quer tocar') nas versões que saíram em singles, bem inferiores às do disco 'Nós vamos invadir sua praia' (que inclusive virou nome da biografia da banda, vc já leu?). Nada como uma boa produção e bons timbres pra melhorar uma banda.

O Ira! traz 2 boas músicas ('Pobre paulista' e 'Gritos na multidão'), acho que nas versões de singles também, o Nasi desafina direto, porra...vale pelo Scandurra!

E tem até Titãs: 'Sonífera ilha', ainda muito legal mesmo com aquele sonzinho de radinho de pilha AM, e 'Toda cor', menos conhecida mas também legal.

Volume 2

Eu acho Gang 90 & as Absurdetes supervalorizado, boas ideias mas sem conseguir uma concretização à altura. De qualquer modo, aqui eles trazem a boa composição e seu grande sucesso (e com som até que bom) 'Perdidos na selva'.

O Magazine retorna com mais 2 sucessos legais: 'Tic tic nervoso' e 'Comeu' (vcs sabem, da trilha da novela 'O gato comeu').

E dá-lhe mais Ultraje, agora com mais 2 nas versões do disco, bem melhor acabadas: 'Eu me amo' e 'Rebelde sem causa' (geniais, diga-se aqui!).

Surpresa: a banda Gueto, que acho que foi produzida pelo Nasi (que acho que até canta aqui, um rap com sotaque paulistano!), meio funk meio rap, diferente e original. 'Borboleta psicodélica' é bem legal, quase Red Hot Chilli Peppers dos primeiros discos, pra citar uma referência mais próxima. 'Você sabe bem' é um pouco mais pop, sem deixar de ser funky.

Leoni, ex-Kid Abelha, é um cara pouco badalado hoje, mas é um excelente compositor; além de suas contribuições pro Kid, fez boas canções pra banda meio solo dele, os Heróis da Resistência, e o faz até hoje, fora do circuito mais visível. Aqui vem com uma boa música em versão remix: 'Nosferatu' (MUITO legal, com um solinho esperto de trompete, riffs de metais bem sacados e uma guitarra com sonzaço).
"Morro de tédio e tristeza
quando você vai pro trabalho
e fico em casa deitado
solidão de Nosferatu"

'Kátia Flávia' é sensacional, um rap pioneiro nos ares praianos cariocas, criativo e com aquele dom do Fausto Fawcett de descrever uma história interessante numa canção, bem dentro do contexto da cidade babilônia, além da guitarrinha suingadíssima (arrisco apostar no Fernandinho Vidal). Tem mais um música dele, 'Santa Clara Poltergeist', mas não se compara a esta.

Aqui aparece uma banda bem parecida com o Gueto, a Clínica, que eu nem lembrava...a primeira música, 'Trauma' chegou a tocar nas rádios, se não me engano, legalzinha. Já 'Observatório' é dispensável, mas com um solo de sax improvável.

Eu não lembrava da banda Luni, legalzinha mas completamente esquecível, na mesma onda Gueto/Clínica, devia ser o hype da época (e como avisa o Public Enemy, "don't believe the hype"). Chatinha e datada, apesar das boas intenções nas duas canções, 'The best' e 'Rap do rei' (acho que agora lembrei, esta era da novela 'Que rei sou eu').

Ahá!!! Os Mulheres Negras! Boas composições, boas ideias, bons arranjos, parafraseando o amigo boleiro Chico: 'música é simples'...mentira, fazer o simples, bem feito e redondinho, com criatividade e apelo popular (por que quem quer tocar pra si mesmo?) é difícil pra caralho. Duas músicas aqui : 'Música serve pra isso' e 'Só telelê' (o que será isso???). Guitarrinha maneira, meu!

Pra terminar, uma banda da qual eu nunca ouvi falar, Rabo de Saia com a música 'Um amor destrambelhado'. Meio bizarro e curioso.

Vale pela lembrança, os anos 80 tiveram muita coisa boa mas muita coisa ruim também. Como em qualquer época, aliás.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Rumo à multidão... (Calango - Skank, 1994)


Ao contrário do que muita gente pensa Skank é um jeito de dançar o Ska (vide Easy Skanking, do mestre Bob) e não aquele baseado aditivado, esse é o Skunk. Dez anos depois da (re)explosão do rock nacional em 84, a banda mineira liderava a nova geração (ao lado do Cidade Negra, que lançou no mesmo ano Sobre Todas as Forças) do pop-rock nacional.


O que mais me impressiona no Skank (depois da música) é a total falta de vergonha de ser POP. Acompanhando de leve o rock in rio deste ano (pela TV, meus caros) ninguém levantou aquela galera como o Skank. Simplesmente todos conheciam seus refrões e mesmo no momento mais Luciano Huck, Samuel Rosa consegue ser quase elegante... Que outra banda nacional (na origem e na música, ok?) seria capaz de lotar um estádio do tamanho do Mineirão para gravação de um show ao vivo?


Se este é o marco principal, e que me sugere a resenha, é bom ressaltar que, musicalmente, o disco também vale a pena, ainda que algumas das músicas ainda possam te deixar um pouco enjoado, de tanto que tocaram na época do lançamento. Alavancada pela versão surfdélica de É Proibido Fumar, preparada para o disco em homenagem ao Rei (resenhado aqui), Calango trouxe ainda o reggae de irresistível refrão e obrigatório em qualquer show da banda, Jackie Tequila. Também tem coisas (então) esquisitas como Amolação, onde Lelo Zanetti toca uma linha hipnótica no baixo, A Cerca, e crônicas do dia-a-dia em tempos de caras-pintadas, como Pacato Cidadão e Esmola, mistura de regional mineiro (o Calango) com Jamaica (Ska, Reggae) e tempero de século XXI (batidas eletrônicas).


Me dá um beijo

porque um beijo é uma reza

pro marujo que se preza ...


Te ver e não ter querer

é improvável é impossível

Te ter e ter que esquecer

é insuportável é dor incrível! ...


Mas o melhor mesmo são as baladas, que se tornariam marcantes em todos os futuros trabalhos da banda. Do casamento entre fluência melódica que tem o Samuel com as letras semi-ingênuas de Chico Amaral, nascem O Beijo e a Reza (de onde retirado o primeiro versinho acima) e Te Ver (do segundo). Samuel Rosa ainda experimentaria outros parceiros, e de maneira muito bem-sucedida (Nando Reis principalmente), mas aqui é a estréia.


O nascimento de uma lenda. Nem é o melhor disco do Skank, tampouco o campeão de vendas, mas este aqui é o disco BOOOOOOOMMMM!!!! que fez a banda explodir, é o big bang do Skank e vendeu mais de um milhão de cópias. É o primeiro (disco) da última (banda da era do disco).


[M]