Neste disco encontramos o céu e o inferno do sujeito.
Como está mais próximo e a entrada é franca, começo pelo fogo da danação. E, realmente, o “Rock das Aranhas” é de doer. É tão ruim que virou um clássico de nossa adolescência e que sempre nos brindou com momentos constrangedores, agora que olho da altura dos quase 40 anos. Um exemplo: Quem não passou o constrangimento de fazer aquela performance embriagada da musica nos Karaokês da vida nos anos 90 é um verdadeiro herói. “Rock das Aranhas” é a mais legitima musica “espalha rodinha”. É certeza de terminar a noite se contentando com um solitário sanduíche num auto-lanche qualquer. De Qualquer forma, sendo Raul, terminávamos sozinhos e orgulhosos de nossa pouca dignidade. Viva “Rock das Aranhas”.
Vamos ao limbo (já que fecharam o purgatório): “aluga-se” é outra que só vergonha, em perspectiva, me trouxe. Música sensacional! Mas sempre evocada como nada convincente ameaça juvenil de calote em bares. A música não merecia este carma.
O Céu: “Minha Viola”. Posso, tranquilamente, indicar esta como a mais simples e bela música de Raul. Viola, sertão, pai, terra, tristeza, consolo e céu. Tá tudo lá. Entendo bem pouco de poesia, mas se alguém me indagar sobre uma sua definição, não pensaria duas vezes: “Minha Viola”.
“Só pra Variar” sofreu, coitada, com uma regravação infeliz do Barão Vermelho. Louvável a lembrança do grupo, mas é certo que só Raul tem a segurança dos que não se levam a sério o suficiente para “ficar banguelo numa boa”. O verdadeiro paraíso em vida está destinado apenas aos que não se levam á sério.
Tem outras boas no disco, mas termino lembrando “Baby”. Só lembrando. Provoco alguém a comentá-la.
Eu estava em um baile na cidade de Arthur Nogueira/SP quando, do palco, o líder do grupo que animava a festa anunciou a morte de Raul Seixas. Nunca vou me esquecer do silêncio que dominou o local por uns 7, 8 segundos. Também nunca vou esquecer que não foi preciso gritar “toca Raul” naquela noite. Após o anúncio a banda sacou um apropriado “Cowboy Fora da Lei” e não parou mais. Só deu Raulzito.
Como de hábito, não “peguei” ninguém naquela noite, mas o sanduíche que faturei num auto-lanche qualquer ficou na memória.
(ZEBA)
Pois é, eu acabei "repostando" o disco do raul que foi brilhantemente comentado pelo Zeba. Com o agravante de que, sim, eu havia lido a resenha - e comentado!, por sinal - eu escrevi achando que se tratava do primeiro post de Raul deste blogue, no maior efeito fosfosol às avessas... Enfim, segue minha impressões sobre o disco, ainda que minha experiência viva sobre ele não tenha sido tão glorificanto quanto esta que você acabou de ler:
Em Abre-te Sésamo de 1980, parece que o profeta Maluco Beleza que nasceu a 10.000 anos atrás abre uma nova porta. Menos existencial e profético do que nos discos que marcaram sua carreira e o lotaram o famoso Baú do Raul, neste disco, ele parece se voltar seu olhar para preocupações mais “mundanas”. Talvez seja reflexo da troca de parceiro, nenhuma coautoria com o Mago Paulo Coelho, o parceiro predominante aqui é Cláudio Roberto, que já o acompanhava desde 1977 em O Dia em que a Terra Parou.
Quem sai ganhando é a sonoridade de banda da turma que gravou este disco, em especial as guitarras de Celso Blues Boy e do parceirão Rick Ferreira que também tocou slide e violão de 12. O resultado é um disco de sonoridade bem gostosa, que alterna o rock’n’raul (taí, uma das poucas contribuições daquele menino que costumava ser tão bom...) com batidas de candomblé, temperos de forró e moda de viola. Raul volta seu estilingue para os destinos do Brasil em Aluga-se, “a solução é alugar o Brasil!” (estamos em 1980 afinal) e matreiramente sugere a falta de sua cobra no rock das aranha, clássico absoluto que foi vítima de censura na época, e mostrando que ele sabia muito bem de que substância o roquenrrou é feito afinal. A belíssima balada Ângela, onde se sobressai o trabalho de slide de Rick Ferreira, e o rockasso Só pra Variar (que foi revisitado pelo Barão Vermelho) completam os maiores destaques de um disco muito gostoso de ouvir. Nesta última, seu vocal malandro e descolado são inigualáveis (foi mal aí Frejat, mas a verdade tem que ser dita).
E o disco que fecha com chave de ouro, cevada e tabaco em A beira do Pantanal, uma valsinha caipira que tem inspiração Neil Youngiana (down by the river... i shot my baby!...), traz na capa um Raul malandro, de blazer branco fazendo pose num entardecer de cartão postal na cidade maravilhosa. Pronto para encarar os anos 80, charrete que perdeu o condutor...
[M]
Também curto esse disco, Zeba! Parabéns pela resenha, tá engracadíssima.. E viva também, Artur Nogueira! [MATEUS]
ResponderExcluirPois é, sem você e Andrea esse blog ia ficar chatíssimo, cheio daqueles argumentos técnicos, metidos a besta. Uaua pra mim é a Capital Nacional do Bode.
ResponderExcluirLM
Puta que o pariu, não só eu já havia lido a resenha, como tinha, ainda por cima, comentado.
ResponderExcluirCadê meu Fosfosol? [M]
Muito legal a colocação do autor, só faltou economizar algumas palavras, para gasta-lás em outros momentos, já que o pioneiro do Rock Brasileiro merece muito mais que poucos elogios...
ResponderExcluirA musica minha viola,Fantastica por sinal,relembra minha Infância no Sertão Sergipano..
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