sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Mutantes e seus Cometas no País do Baurets (1972)

Quando eu ouvi Dune Buggy pela primeira eu pirei! Tanto que nem sei mais quando nem onde foi que isso aconteceu. Era mais um motivo pra lamentar ter nascido na época errada. A música tem o vocal vigoroso do Arnaldo, gritando e cantando alucinadamente e com a banda que acompanha na mesma toada. A batera está particularmente enlouquecida aqui e a execução de órgão e guitarra estão no mesmo nível. O bugue das dunas, que passa e nem dá pra ver pode ser jingle de comercial de aditivo mas tem cara mesmo é de submarino amarelo: na hora H eu derramei na gasolina um barato que eu nem sei se é STP ou MSLD, meu Dune Buggy liga!


Outra que é de pirar é o Cantor de Mambo. Como o próprio título (mais do que) sugere, a música traz o ritmo latino perfeitamente adaptado ao som mutante (e vice-versa), sem maiores efeitos percussivos, o mambo tá na própria composição, interpretação impecável na voz de Arnaldo e nas guitarras de Sérgio.


Posso perder minha mãe, minha mulher, desde que o eu tenha o rock’n’roll é um hino anárquico, foda-se o AI-5 a anistia o general e o escambau. O meu cigarro apagou, o meu dinheiro acabou, mas eu tenho o rock’n’roll... Beijo Exagerado é uma elegia ao encontro casual, cru, rápido e certeiro. A Hora e a Vez do Cabelo Nascer e faixa que dá nome ao disco são passeios (quase) instrumentais que mostram a banda antenada com o prog-rock e o heavy metal inglês. Em Mutantes e seus... os versos só aparecem no final da música, numa gozação com a atitude do homem diante do bruxo do luxo baixado o capucho...


Essas cinco músicas mostram os Mutantes numa direção distinta dos sons mais orquestrais tropicalistas, dos tempos de colaboração com o maestro Rogério Duprat (algo que já vinha se desenhando sutilmente nos dois discos anteriores), mas ainda tinha espaço para o som que estava nas raízes dos mutantes. Rita Lee canta só em duas faixas, Vida de Cachorro, um divertido hino à liberdade que parece inspirada na história da Dama e o Vagabundo, com um arranjo acústico que lembra Blackbird; e retorna no lado B, quando eles refazem Rua Augusta, sucesso jovem-guarda de Hervé Cordovil, numa versão que não deixa dúvidas sobre como é que a Augusta foi realmente “subida”.


Balada do Louco é a faixa mais célebre e conhecida do disco, certamente dispensa maiores apresentações e comentários, é uma das poucas parcerias entre Arnaldo e Rita sem a presença de Sérgio e marca a presença de um moderno (em 1972) sintetizador que foi usado no refrão: eu juro que é melhor não ser o normal, seu eu posso pensar que deus sou eu...


E nós somos imensamente gratos por toda essa anormalidade... [MATEUS]


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