quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Atrás do Porto tem uma Cidade – Rita Lee & Tutti-Frutti(1974)

Ainda que, oficialmente, este não seja o primeiro disco “solo” da Rita Lee, é o primeiro sem os Mutantes. Se dúvidas pairavam sobre o futuro da cantora/compositora sem os irmãos Dias Baptista, começaram a ser totalmente desfeitas aqui. Os Mutantes faziam parte do passado e Rita reuniu uma nova banda, o Tutti-Frutti. A Sérgio Luiz Carlini na guitarra, Lee Marcucci no baixo e batera Mamão, Rita, que se ocupou dos teclados neste disco (algo impensável nos seus tempos de Mutantes...), juntou a cilibrina do Éden, a guitarrista Lúcia Turnbull.

A sonoridade da banda é bastante diferente dos Mutantes, mostrando sim que a loira trilhava um novo rumo e bastante independente, inclusive assinando como única compositora várias das faixas. A tecladeira marca o disco, e a instrumentação usada (moderníssima na época) incluía moog, melotron e piano. As duas guitarras convivem muito bem e dão uma sonoridade um pouco mais stoniana do que se ouvia, por exemplo, nos Mutantes. E o baterista Mamão tem um estilo um pouco mais agressivo que Dinho, o que deixa o som do TF um pouco mais pesado.

Adicione-se a tudo isso, o fato de que, em 1974, o rock progressivo e outras substâncias faziam a cabeça roqueira nas terras tupiniquins... Basta uma olhadela rápida na capa que parece uma caricatura de Roger Dean (que fazia as capas do Yes).

Ah! Sim! As músicas... Rita ainda não tinha uma impecável coleção de composições como o que viria aparecer no disco seguinte, o perfeito Fruto Proibido, mas algumas pérolas estão aqui. Mamãe Natureza é talvez a maior e mais preciosa delas. O trabalho de banda é impecável, mas independente disso a música é excelente... Rockn’roll pegajoso e simples com mudanças de andamento e um solinho de guitarra irresistível, melhor impossível. Como se não bastasse, o refrão estou no colo da mamãe natureza, ela toma conta da minha cabeça... é o estado de espírito de Rita e banda. Ando Jururu vai na mesma direção e é ainda mais explícita: quero encontrar pelo caminho um cogumelo de zebu, e descansar os meus olhos no pasto, descarregar esse mundo das costas... A música inicia com um riff de baixo num andamento rápido e frenético e desacelera depois de achar o tal cogumelo, enquanto descansamos os ouvidos no pasto...

Yo no creo em brujas, pero que las ay, las ay
... é outro ponto alto, com várias mudanças de andamento e um refrão irresistível, composição dividida entre Rita, Carlini e Marcucci, assim como Tratos à Bola. Menino Bonito é outra canção que ficou célebre, uma suave balada levada no piano, baixo e bateria acompanhados por orquestra que mostra o lado mais romântico de Rita Lee, que viria a ser muito peculiar nas suas composições, um romantismo mais malicioso e debochado, aqui parece um território recém-descoberto e que será melhor explorado adiante.

No restante do disco o destaque maior é a performance da banda do que as canções em si. Por exemplo, em Eclipse do Cometa, Carlini executa um slide havaiano impecável e em Círculo Vicioso a banda entra de cabeça no progressivo (de curta duração, graças a deus tiveram bom senso...) num andamento que passa do rock pesado ao jazz com muita naturalidade. Completam o disco De Pés no Chão, Pé de Meia, e ...Tem uma Cidade, faixa instrumental com uma sonoridade levemente sombria a la Sabbath Bloddy Sabbath.

Lamentavelmente os Mutantes pararam. Mas ainda bem que Rita Lee continuou. [MATEUS]

Um comentário:

  1. Rita lee era loira ou ruiva?Eis a questão.Na minha televisão preto e branco ela era morena.

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