terça-feira, 31 de maio de 2011

Krig-Ha Bandolo!, Raul Seixas



Toca Raul, né?! Só tinha um por aqui, falha lamentável. Por falar nesse único post, ele foi comentado por dois colaboradores, tomara que isto se repita com este aqui, sintam-se à vontade para agregar suas impressões e experiências ao clássico do nosso Maior Herói Cult Underground Alternativo e Maluco!

Na verdade isso seria muito legal, um disco com todos nossos colaboradores (inclusive aqueles que ainda não colaboraram...), qual seria o mais próximo da unanimidade? Porque o blog é sobre música, mas também é sobre nós mesmos.


'Krig-Ha Bandolo' parece uma invocação mágica, mas é uma expressão usada nos quadrinhos do Tarzan, um grito de guerra que significa 'cuidado com o inimigo'.


Este aqui é o primeirão solo, também o que inaugura a produtiva e criativa parceria com o compositor e Mago Paulo Coelho.


O disco começa estranhíssimo, com uma gravação de Raul aos 9 anos cantando o clássico do rock'n'roll 'Good rockin' tonight'.


E já emenda com um dos muitos clássicos eternos de nosso querido roqueiro baiano, 'Mosca na sopa', que mistura capoeira com rock'n'roll! Gêêênio!!!! Tudo que incomoda cabe aqui, e MUITA coisa incomoda, não é mesmo?!


Mais um clássico absoluto, 'Metamorfose ambulante', muito cantada e pouquíssimo praticada.

"Prefiro ser essa metamorfose ambulante

do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo"

Perfeita, redondinha, intro com vocais femininos inspirados, versos afiados, guitarra bonita, refrão no início de surpresa, depois de novo mais empolgado e uma melodia dificílima de manter afinada naquela modulação no meio...pegadinha antecipada para a praga dos karaokês...


'Dentadura postiça' é muito legal, só pouco conhecida porque o repertório do disco é muito foda mesmo. Country acelerado, rimas inteligentes, letra afiada. Raul.


'As minas do Rei Salomão' é mais um country, um pouco mais conhecida, em algumas rodas de violão pelas últimas gerrilhas hippies pelo Brasil adentro às vezes alguns cantam junto depois do indefectível bordão nacional: "TOCA RAUL". Sempre, sim, senhor. A versão mais recente, da última versão 'remasterizada', tem um efeito de modulação na voz que eu nunca tinha percebido.


'A hora do trem passar' é uma daquelas belas baladas quase bregas dele, mais uma desconhecida pela comparação. Pianão e um teremim(?).


'Al Capone' é a anima festa/show/bailão. Mas ainda é uma letra atemporal, pelo que têm de eterno seus personagens e situações históricas. Nada bobo o nosso herói metafórico. Mas talvez inteligente e pioneiro demais pra ser perigoso no seu tempo.


'How could I know', em ingrês mesmo, dizem que foi em homenagem a Elvis, mas a letra cita palavras de Dylan. Ou eu viajo também, vai saber...


'Rockxixe' é das minhas preferidas, metais bonitos, arranjo vigoroso, letra muito confiante pra um primeiro disco. Toca Raul, porra! Mas toca essa aqui!!

"o que eu quero eu vou conseguir

pois quando eu quero todos querem

quando eu quero

todo mundo pede bis"


'Cachorro urubu', baladão de estrada, quase uma vinheta. Legal.


E o disco termina literalmente com chave de ouro, 'Ouro de tolo', uma letra provocadora pra sacudir (mas que traz um mito erradíssimo, o tal 'que só usa 10% de sua cabeça, animal', o cérebro não é assim; pois é, Raul também erra; nem vou comentar sobre discos voadores pra evitar ser pára-raio de maluco, mas tem gente que acredita que o homem não foi a lua, não tem?), um vocal aparentemente desleixado que me incomodava muito. Mas o cara foi produtor, caprichosíssimo e atencioso em tudo, do geral aos detalhes. Ele queria que fosse assim. E é uma música louca e linda.


Toca Raul sim, de novo, maluco.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Ninguém, Arnaldo Antunes


Esse é o primeiro cd do Arnaldo que eu posto, acho que foi o primeiro que eu comprei dele, ainda bem que com o Scandurra, o que me traz o melhor do Ira! sem a voz do Nasi...
Falando agora sem provocações com o amigo Zeba (defensor do Nasi, o qual inclusive não estou atacando, eu só não gosto da voz dele...), gosto muito do som resultante da guitarra criativa do Edgard misturado com as pirações criativas e deliciosas do Arnaldo. Em outros discos como 'Um som', 'O silêncio' ou principalmente o 'Nomes', a piração às vezes extrapola o meu limite com a cabecice, mas aqui pra mim está tudo precisa e concisamente equilibrado.
O disco é agraciado com participações especiais do Paulo Tatit (do grupo Palavra Cantada e do projeto Pequeno Cidadão, acho que já postado por aqui) no violão de nylon, baixo, guitarra, vocais e composições, da Zaba Moreau, esposa (acho que é, confere?) nos teclados e vozes, e do mago Liminha que, além de produzir o álbum, também programa ritmo, toca guitarra e baixo na última faixa, 'Ninguém no carnaval'.

Nossa jornada musical começa com a faixa-título, próxima da poesia concreta musicada, mas mais próxima do trabalho com os Titãs ou Tribalistas, com elementos simples que fazem uma coisa mais complexa e multifacetada (papo USP, hein!_). Além da guitarra hard do Edgard Scandurra, que também é co-autor dessa e de outras músicas mais.

'Consciência', pela sonoridade e pela letra com pitadas de escatologia, poderia estar em algum disco dos Titãs. A separação tem a vantagem de manter o trabalho da banda de origem e mais os trabalhos solos dos membros desgarrados, principalmente no caso do Arnaldo, que continuou compondo para a antiga banda, ao contrário do Nando Reis, que só compõe agora pro Skank e pro Jota Quest... Aqui somos premiados por um solo marcante do nosso herói guitarrista Scandurra e uma declamação, felizmente curta, de poesia pelo Jorge Mautner.

'O nome disso' é divertidíssima, infantil e acelerada, com uma dinâmica que não deixa a letra simples ficar banal, além do diálogo vocal do Arnaldo com o Edgard.

'Nem tudo' é uma parceria do Toni Belloto com o Arnaldo (que além da voz, faz também 'sapato no assoalho'!!). Mais um solinho bacana!
"Nem tudo que se tem se usa
Nem tudo que se usa se tem"

Aí vem 'Alegria', uma das minhas preferidas, redondinha, com uma guitarra muito legal que inicia e prossegue fazendo uns barulinhos legais na faixa meio circense, o que inclusive faz um contraponto melancólico com a própria alegria da faixa.

'Budismo moderno' é feita sobre um poema do Augusto dos Anjos, parceria que arrisca ficar chata, o que felizmente não acontece, mesmo com a 'programação de serrote' (!) do Arnaldo... Tem uma sacação legal de 'silêncios surpresa' sincronizados com a letra.

'Fora de si', com a letra gramaticalmente incorreta porém mais expressiva do que todos os guardiões ortodoxos da língua, é um bom hard rock com mais um solinho criativo.

'Minha meu' é o limite da cabecice, e ainda bem que é uma só. Mais um rock acelerado.

'O seu olhar' é uma quase balada romântica, com a voz grave e estranha da Zaba acompanhando o Arnaldo. Também um violão exótico com alguma modulação bizarra a cargo do Paulo Tatit.

'Lugar comum' (João Donato/Gilberto Gil) é uma das ótimas escolhas para versões deste disco, ficando bem diferente da original e suas muitas 'covers' bossanovísticas. E mais uma vez, Edgard comparece dando o tom, com suas guitarras com ecos marítimos, além do solo mezzo oriental.
"Beira do mar
lugar comum
começo do caminhar
pra beira de outro lugar

à beira do mar
todo mar é um
começo do caminhar
pra dentro do fundo azul"

A outra versão é a surpreendente 'Judiaria' (Lupicínio Rodrigues), que aqui ganha uma cara bem rock'n'roll! Sensacional! Essa aqui meu atual chefe na banda 'Roni Rude e os Deselegantes' - ou Dezelegantes (em breve com disco na praça!) quer tocar ao vivo. Espero fazer uma guitarra à altura do nosso herói...

A parceria com Paulo Miklos, 'Tempo', também tangencia a erudição poética concreta, mas é bem legal, percussiva e com belas linhas de guitarra, além de uma voz sintetizada fantasmagórica ao fundo.

'Inspirado', parceria com Edvaldo Santana, não é das minha preferidas, mas acrescenta estranheza ao disco.

'No fundo' traz uma voz mega-grave do Arnaldo, timbre mais utilizado em discos posteriores, mesmo porque com a idade a voz 'baixa' alguns tons no registro de notas, o que leva muitas bandas a abaixarem a afinação dos instrumentos com o passar do tempo. Aqui os violões dão um tom quase caipira na música, além de umas guitarras de fundo muito legais.

'Quero' é mais uma com letra de poesia concreta, aqui com voz distorcida, guitarras harmonizadas a la Iron Maiden (por essa você não esperava, hein, Mateus?!) e batida marcial, o que mais uma vez a faz escapar da chatice cabeçuda. Boa pra ouvir com fones.

'Ninguém no carnaval' é a parceria com o Liminha, uma boa escolha pra fechar o disco, com muitas vozes sobrepostas, um quase caos de guitarras do Edgard com o Liminha, além da programação esperta dos ritmos, que se não fosse assim creditada eu nunca adivinharia que era a máquina tocando.
"Ninguém no carnaval
ninguém é de ninguém
no meio do mundo
todo mundo é todo mundo".
Acho inclusive que essa letra depois foi reciclada pelos Tribalistas...

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Yanomami's Blues, Wahari (1999)


Acho difícil escrever sobre um disco desconhecido da maioria, e tentar descrevê-lo... Os discos são afinal para ser ouvidos, muito mais que comentados, e às vezes a descrição acaba ficando um tanto enfadonha. Eu gosto muito deste disco apesar de escutar pouco (por preferir ouvir canções à música instrumental), ele é bonito e tem um variação de humores muito interessante.


Wahari é o som do vento entrando pelas frestas das ocas e significa (se é que é possível uma tradução) vento brando da noite na língua Yanomami. É também o nome de uma banda curitibana (não, eu não sou amigo, sequer conheço qualquer um destes músicos...) formada pelos irmãos Augusto e Gustavo Weber (que na verdade são de Capanema, Oeste do estado) responsáveis pelo núcleo melódico da banda, o primeiro concentrando-se na guitarra e cítara e o segundo nas violas. Completam a banda Frederico Ferraz e Nilton Rodrigues, responsáveis por percussões as mais diversas, incluindo pandeiro, bongô, berimbau, triângulo, o que dá um ar bem brasileiro ao som do vento aqui.


Vento noturno portanto é a música nome da banda e inicia no oriente, com cítara e tabla e vem vindo pro ocidente com elementos percussivos, violão, violoncelo e viola entrando aos poucos, sem deixar que estes são confundam e mantendo uma harmonia impressionante. Já em Yanomami’s Blues o caminho é outro: nasce bem blues com violão e slide e aos poucos vem navegando rumo ao sul na percussão cheio de elementos típicos da música brasileira-africana, berimbau e bongôs entre outros.


O disco segue girando e em Terra Aberta a locomotiva é a viola. Aqui são duas, a tradicional de 10 cordas (5 oitavadas) e o que aqui é chamado de viola de sete bocas (e que eu já vi por aí com o nome de viola dinâmica. É o similar ao dobro ou resonator guitar, só que nacional...). E logo os vagões são coloridamente preenchidos por flautas e percussão variada. Estas três músicas trazem a síntese do trabalho do grupo, a mistura de blues, moda de viola e música indiana, formando uma espécie de “introdução” ao conteúdo musical do grupo. Pode parecer meio pizza de feijoada com costela de carneiro, mas estes elementos tão distintos aqui aparecem em convivência pacífica e natural, sem forçação de barra.


Viajando ao Espaço, voltam com a instrumentação repleta de tons da índia e uma linda guitarra tocada limpa, limpinha. Junto com London Bossa, que é outra embalada pela guitarra de Augusto, estas duas dão um ar mais urbano e contemporâneo ao disco, assim como duas músicas que aparecem mais pro final, A Bela Chinesa e Rio Soul, com toques de jazz-blues fusion temperados por elementos tipicamente Wahari.


Capanema’s Way é centrada nas cordas dos convidados Maska (violino) e Alesandro Laroca (violoncelo) que levam a canção como uma viagem de trem pelo interior. No final entram suavemente vozes femininas em coro. Além das três primeiras, destaca-se o Raga Nordestino que faz belo o improvável, começa ooooohmmmmm no harmonium (de Plínio Silva) e cítara e depois deriva pra olê Mulé Rendeira na viola, violão e triângulo. Lindíssima. E gosto também da Catira, ritmo e dança rural típico de SP, MG, bem caipira, com um toque pessoal de muita classe sem deixar de respeitar a tradição original.


Fecha o álbum uma inusitada versão do supremo clássico de Ari Baroso, Aquarela do Brasil, bem à moda da banda: começa com a cítara embalada pela tabla de Kiko Pereira, entoando esta velha conhecida nossa. Aos poucos, a índia vai sendo sambada pela percussão bem brasileira. Nada mais apropriado.


[M]


ps: para conhcecer melhor : www.wahari.com.br/



O Cinema Transcendental de Caetano Zenloso (1979)


O que eu gosto neste disco é o equilíbrio suave e natural apresentado na lista de canções que se não inclui aqueles super-clássicos-quarentena do baiano, traz algumas das suas mais bonitas composições. Nunca me preocupei em elencar, nem mesmo em pensamento, as minhas músicas preferidas deste mestre absoluto, mas certamente, se o fizesse, não poderia deixar de incluir Trilhos Urbanos e Oração ao Tempo.


Neste disco, temos o Caetano Zen (desde a capa!), deixando sua música fluir como uma inevitável corredeira rio abaixo. Nada de musas híbridas e suas carapinhas cúpricas. O cinema transcendental inicia a sessão saudando a Lua de São Jorge, Lua soberana, nobre porcelana sobre a seda azul. Mais zen impossível, esta música parece uma colagem de hai-cais sobre a lua. E adiante aparece Beleza Pura, não me amarra dinheiro não (bem, isso foi bem antes da Paula Lavigne). Balanço irresistível, parece um reggae, mas te pega no engano quando ele entra a contar daquela preta que começa a tratar do cabelo com as conchas do mar, com toda delícia e toda minúcia, o reggaezinho deriva pra quase um soul à (e á!) baiana, ato de pura devoção.


O Menino do Rio ganha uma versão mais lenta e arrastada e menos urgente do que aquela que ficou célebre na voz de Baby (então Consuelo. Aliás, versão definitiva, diga-se de passagem...). Seguida de uma interpretação malandra do Vampiro de Jorge Mautner, mostra um Caetano antenado em interesses menos ortodoxos...


Elegia é um poema do poeta inglês do século XVII, John Donne, traduzido por Augusto de Campos e musicado por Péricles Cavalcanti. Ainda assim, a canção passa a milhas da academia e transborda erotismo, liberto-me ficando teu escravo, nada pode ser mais preciso...


Cajuína ficou célebre, um xotezinho de improviso, simples na forma, e que mostra um Caetano já mais experimental nas palavras enquanto que Louco Por Você é o justo desfile da sensacional A Outra Banda da Terra que o acompanha neste disco maravilhoso... Aracaju, Badauê e Os Meninos Dançam não destoam, mas fecham o disco quase sem ser notadas, e não era pra menos, pois as outras canções são muito acima da média.


Voltando aos Trilhos Urbanos, o melhor o tempo esconde, e aqui Caetano mostra, leve e solto, o mestre que é, cantando e assobiando em ritmo de passeio de bonde, ora acentuando a penúltima sílaba, ora caprichando no iiiiii...


Mas aquela canção de dar inveja mesmo, de querer cobrir o cara de porrada por ser tão filhadaputamente bom, é Oração ao Tempo. O toque de Midas aqui é a percussão em ritmo de tica-tac levemente descompassado, o suficiente pra transformar o relógio e o passar contínuo e monótono do tempo em música.


Obra de um gênio. Ave caetano


[M]


ps: o post é dedicado ao Zeba e ao Xampu...

O cair da tarde, Ney Matogrosso




Como tenho pegado pesado por aqui (e assim continuarei, amigos não metálicos), hoje vou dar uma breve aliviada, afinal, ninguém é de ferro, com exceção do Tony Stark, Lemmy & Ozzy & Keith...


Gosto muito de 'Olhos de farol', também do Ney, que postarei aqui se ninguém o fizer primeiro, mas esse disco aqui é belíssimo, desde a escolha do repertório (imbatível na música brasileira!), a interpretação sempre excelente, os arranjos, o grupo de músicos 'acompanhantes' e finalmente, o projeto gráfico de extremo bom gosto. Por isso, inclusive, incluí mais uma imagem além da capa. Também porque o Ney, além de importantíssimo pra música brasileira, é um homem lindo em muitos sentidos.


Essa semana peguei o disco para ouvir no carro e entendi porque demorei pra postá-lo aqui, pois desde que o tenho, sempre o achei sensacional.

Mas a verdade é que é um disco melancólico, bem triste (o que, em se tratando do melhor repertório possível, talvez informe algo sobre a música e a alma, dentre as muitas possíveis, brasileiras). E aqui em Curitiba, principalmente nos meses frios (que são quase todos) e cinzentos (que são a maioria), ouvir música triste, mesmo que linda, não é aconselhável se você não planeja cortar os pulsos. Mas para aquela específica tarde pós tatuagem na barriga (não aconselho, dói MUITO), o bálsamo veio a calhar.

Vamos à obra então, que começa em alto nível com a faixa que dá nome ao disco, uma das 6 músicas do Maestro Heitor Villa-Lobos gravadas, aqui em parceria com Dora Vasconcellos. Piano lindo a cargo do também arranjador Leandro Braga, guitarra do craque Ricardo Silveira e colaboração do grupo 'experimental' Uakti, que comparece com tambor d´água e pios (!!!). Vocês, amigos colaboradores, deviam ver se aquele amigo bizarro tocador de vagem não foi recrutado pelo Uakti...


'Modinha' (Tom Jobim/Vinícius de Moraes) dá seqüência ao disco, com sua melancolia e beleza infinitas. Mais um arranjo delicadamente lindo.


'Veleiros', mais uma do Villa-Lobos, traz um pouco mais de cadência, um balanço de mar ao piano, uns sopros angelicais dividindo espaço com a voz do nosso intérprete garimpador. "Quanta tristeza/ ondas do mar/ nesse vai e vem/ sem me levar/ pois sempre eu fiz muita atenção/ em não pisar teu coração".


'Tema de amor de Gabriela' (que eu achava que era do Caymmi, mas é do Tom) continua trazendo doses de tristeza e requinte ao caldeirão. "A tua boca é meu doce, é meu sal/ mas quem sou nesta vida tão louca?/ mais um palhaço no teu carnaval/ Casa de sombra, vida de monge/ quanta cachaça na minha dor/ volta pra casa, fica comigo/ vem, que eu te espero tremendo de amor". Segura as pontas, ouvinte amigo, toma o lítio e não se mate!


Outra música chamada 'Modinha (serestas)', esta do Villa-Lobos com Manuel Bandeira, continua maltratando nossos corações e acariciando nossos ouvidos. "Na solidão da minha vida/ morrerei, querida/ do teu desamor/ muito embora me desprezes/ te amarei constante/ sem que a ti distante/ chegue a longe e triste voz do trovador".


'Sem você' (Tom Jobim/Vinícius de Moraes) me faz pensar sobre o mito lingüístico de que a palavra saudade só existe em português. Porque é esse o sentimento predominante em grande parte do cancioneiro popular (e erudito/clássico, como esse disco demonstra), talvez a saudade lusitana tenha se somado ao banzo africano e à desilusão indígena.

"Meu amor/ meu amor/ nunca te ausentes de mim/ pra que eu viva em paz/ para que eu não sofra mais/ tanta mágoa assim/ no mundo sem você"


'Melodia sentimental', mais uma do Villa-Lobos/Dora Vasconcellos, é mais uma belezura, falando da lua, da noite, da sombra, da espera. Um pouco menos triste. Arranjo minimalista, quase inteiro só voz e piano, com uma discreta percussão.


'Canção em modo menor' (da dupla Tom/Vinícius) já me faz questionar sobre a influência dos tais modos menores (a saber: eólio, dórico, frígio e lócrio) em músicas mais tristes. Mas me falta conhecimento ou ouvido absoluto para emitir uma opinião técnica sobre as composições desse disco. Aqui só piano e voz. Triste, triste, triste. Bela, bela, bela. "Porque cada manhã me traz o mesmo sol sem resplendor/ e o dia é só um dia a mais/ e a noite é sempre a mesma dor/ porque o céu perdeu a cor/ e agora em cinza se desfaz"


'Prelúdio Nº 3 (Prelúdio da solidão)", de Villa-Lobos e Hermínio Bello de Carvalho dispensa explicação, mais do mesmo excelente vinho amargo. Meio etérea, quase flutuante.


Daqui pra frente o disco dá uma animada, primeiro adentrando no terreno do folclore, depois finalizando com o creme de la creme.


'Caicó (cantigas)' ainda é um pouco triste, mas o apelo popular e a familiaridade quase nos fazem sorrir.

O pout pourri 'Cirandas' traz músicas que todos cantamos ou ouvimos nas nossas infâncias: 'Se essa rua fosse minha', 'Terezinha de Jesus', 'Condessa', 'O cravo brigou com a rosa (instrumental)', 'A maré encheu' e 'Passa, passa, gavião (instrumental)'. O arranjo privilegia o som do Uakti, com percussões melódicas com sons exóticos, além dos belos sopros fazendo elementos de passagem.


E aí, se sobrevivemos a tanta beleza triste, somos premiados com três das melhores músicas já escritas nesse belo planeta azul, bem mais felizes (talvez as tonalidades sejam maiores por aqui, impressão minha), principalmente em relação ao repertório anterior: 'Trenzinho do caipira' (Heitor Villa-Lobos com poema de Ferreira Gullar!) , 'Águas de março' e 'Pato preto' (essa com um instrumento meio oriental e um solinho de viola!) , você sabe de quem, ou deveria saber!


Enfim, ouça, curta, se emocione, mas escolha um dia feliz, ensolarado e em boa companhia, sacou? Ou tome rivotril, prozac ou outro psicoativo eufórico.


E pra terminar uma sacada do grande frasista Tom Jobim, nosso maestro soberano, transcrita aqui no disco: "O Villa-Lobos é asim meu pai, é meu tudo. Estou com vontade de botar uma música do Villa-Lobos no meu disco. É mais do que uma homenagem, é pro disco ficar mais bonito. Pra eu sentir que tinha alguém que gostava mais de música do que eu".

Fullgás, Marina



Seguimos com mulheres cantoras, músicas, compositoras. Apesar dessa aqui não ser das preferidas do Mateus. Mas mesmo assim ele tem disco dela; gosta muito de música também o camarada e maior contribuidor do nosso blog!


Marina apareceu pro mundo da música através da Gal Costa, que gravou uma música sua, 'Meu doce amor', em 1977, que nem sei se foi regravada por ela mesma.

Tem como grande parceiro o irmão, poeta e filósofo (elogiado pelo Caê no livro 'Verdade tropical', mas isso também não garante nada), Antônio Cícero, neste disco com 4 músicas, uma versão e um poema declamado junto com a irmã.


Esse disco é o primeiro do qual eu me lembro, também algumas músicas tocaram bastante na rádio, que era pra mim um grande fonte de acesso, sem as facilidades (e suas conseqüências nem sempre positivas, como o pouco valor a um arquivo e a perda de sentido de um álbum como obra fechada) da nossa internet, paraíso do download 'de grátis'(sic).


Belo disco. Marina nos anos 90 começou a se chamar Marina Lima, mas esse aqui ainda é da Marina.


Começa com a faixa-título, pop delicioso, com a voz aveludada e aquele arranjo de época, muitos e muitos teclados, bateria eletrônica (mesmo tendo à disposição o excelente baterista - e compositor - Lobão, que toca em várias outras faixas do disco), baixo e produção do visionário Arnolpho Lima Filho, o Liminha, que inclusive comparece com um solaço de baixo virtuosístico e empolgante no fim da música, mas que infelizmente quase sempre era o momento 'vai abaixando o som' nas rádios e nos programas de auditório.

Meu único senão é a frase 'você me abre seus braços/ e a gente faz um país' que eu sempre preferia cantar, mesmo sem rimar, 'você me abre suas pernas/ e a gente faz um país', com muito mais sentido, antropo e biologicamente falando.


A segunda música é uma versão para 'Ordinary pain' do genial Stevie Wonder, aqui chamada 'Pé na tábua' (?), mais um pop gostoso que desce redondo.


'Pra sempre e mais um dia', além de título legal, é uma música legal também, sendo os destaques discretos as levadas nos pratos e contratempos do baterista Lobão, mesmo acompanhando a bateria eletrônica.


'Ensaios de amor', co-autoria com Ana Terra, traz mais uma dançante com uns efeitos percussivos de voz muito interessantes. Muitos teclados, alguns bem interessantes, cortesia do mestre Nico Rezende.


Aí vem uma versão pra uma música do Rei e do Tremendão, inusitada porque cantada por uma mulher, afinal a música fala sobre um homem pra chamar de seu, 'Mesmo que seja eu'. Mas gêneros são fluidos, a cada dia mais. Aqui finalmente não tem bateria eletrônica e traz a sempre ilustre presença do senhor Paulinho Guitarra que toca...ah, fala sério! Boa versão. Acho que quem cantava essa era o Erasmo, confere, fãs?


'Me chama' é uma música linda, já clássica, que 'sofreu' muitas versões, até mesmo do Mestre João Gilberto (que inclusive alterou a letra, pra desgosto do autor; se fosse comigo eu até parava de compor...), mas acho que essa aqui foi a primeira gravação, toda bonita, com um arranjo crescendo, guitarra bonita e uma levada de bateria muito esperta do compositor Lobão.

"Nem sempre se vê lágrimas no escuro,

nem sempre se vê mágica no absurdo,

nem sempre se vê,

cadê você?"


'Mesmo se o vento levou' é uma pérola desconhecida, com mais um arranjo caprichado e bela letra.


'Cícero e Marina' é um poema declamado pelos irmãos, cada um sobre si mesmo, recíprocos cobras nos paraísos alheios.


'Veneno' é uma versão de um música italiana que desconheço completamente. Nelson Motta comete essa aqui, depois ele repetiria a dose no álbum de estréia da Marisa Monte, com a hiper-saturada 'Bem que se quis'.


'Mais uma vez' é uma música da certeira parceria Nelson Motta/Lulu Santos, que aqui comparece com guitarra (com um ebow bem diferente, segura uma nota, um solo limpo e uma slide guitar discreta), bateria digital (com um efeito estéreo criativo, melhor ouvido em fones) e teclado korg lambada (?!).


'Nosso estilo' fecha bem o disco, uma parceria dos irmãos com Lobão, com um baixão slap por Pedro Baldanza, guitarra pelo Toquato Mariano (produtor de sucesso hoje em dia) e aqueles 'ô ô ô' de fundo pelo Lobão (também melhor ouvidos com fone). Aqui os teclados tem um efeito mais criativo, alterando o pitch e criando um efeito tenso de trilha sonora.


"E esses caretas ficam mais e mais banais"

terça-feira, 24 de maio de 2011

Abreugrafia (1997)

Liberadas as coletâneas, eis mais uma. Bem, na verdade esta não é exatamente uma coletânea, porque a cantora resolveu regravar novas versões de seus maiores sucessos e adicionou ainda, aqui e ali, canções (na sua voz) inéditas. Se os discos da Fernandinha eram um problema, pois muito irregulares, misturando poucas ótimas canções com alguns momentos simplesmente desprezíveis (bem, Veneno da Lata é acima da média. Da média dela), a solução veio melhor que a encomenda.

Abre com a faixa que dá nome ao disco, Raio X, uma introdução ao projeto musical, como abstract de um artigo científico. Gosto muito também de Aquarela Brasileira que vem em seguida, música que aparece disfarçada de colarzinho na capa do álbum. Em seguida Fernanda apresenta Jacksoul Lenine Brasileiro, convidado que rapidinho se tornaria maior que a anfitriã, grande canção do pernambucano, muito bem acompanhado da carioquíssima sangue bom.

E de olho em Pernambuco, a garota suingue traz Chico Science para o Rio 40 graus, onde ele se sente muitíssimo à vontade, e termina a melhor canção da Fernandinha entoando um único "sô carioca, pô!". Jorge da Capadócia é outra das minhas interpretações favoritas, mas a versão deste disco é muito inferior àquela lançada originalmente junto com Rio 40 Graus, em SLA 2 - Be Sample, disco de... 92? por aí...

Speed Racer não é uma grande canção. Passaria totalmente desapercebida se não fosse o arranjo primoroso e a guitarra limpa e precisa de Fernando Vidal. É o tipo do jantar em que o acompanhamento é melhor que o prato principal. Ponto alto também para Um Amor Um Lugar (do paralama colaborador e amigo Herbert), Veneno da Lata e Kátia Flávia a Godiva do Irajá, hit sem par do amigão e parceiro Fausto Fawcett que recebe aqui uma versão avassaladora.

Fechando o disco,
É Hoje o di-i-aaaa da alegri-i-a-aaaa e a tristeza, nem pode pensar em chegar!


Justo, para um disco tão festivo e inspirado, que representa o melhor de uma cantora que, se não tem aqueeeela voz, tem bom-gosto e sensibilidade suficiente para conceber esta obra-prima, uma das melhores dos anos 90.

Garota sangue quente, suingue, sangue bom!

[M]

domingo, 22 de maio de 2011

Vingança, Azul Limão


Voltamos à programação metal e, conseqüentemente, às capas toscas e bizarras...
Entre outras idiossincrasias, o heavy metal é criticado por uma temática de fantasia, castelos, dragões, satanismo etc.
Mas esse disco também traz letras mais contemporâneas e críticas, APESAR da capa acima.

Como cantava a torcida mais gay do Rio 'recordar é viver'.
Representante do metal carioca dos anos 80, esse disco foi gravado em condições 'precárias', mas mesmo assim traz um som razoável (para a época, claro), principalmente o instrumental típico, já que a voz tem uma sonoridade sofrível, principalmente nos momentos 'gritos a Rob Halford', justamente pela provável inexperiência do estúdio em gravar esse tipo de som, aliado ao fatos de que o vocalista (Rodrigo Esteves) não é o Rob Halford nem o Bruce Dickinson e ainda os vocais não terem sido 'dobrados', recurso freqüente que encorpa vozes, principalmente agudos sem punch.

Lembro de vê-los tocar no arcaico Caverna II, 'templo do metal carioca' (depois honradamente substituído pelo Garage), que ficava ao lado do shopping Rio Sul próximo ao Canecão, no Rio de Janeiro, junto com outras bandas daquela época, tais como Calibre 38, Metalmorphose e Dorsal Atlântica (que em breve terá um disco postado aqui). Naquele solão de 40ºC e a galera toda de preto e coturnos...é, o metal não foi feito pro Rio, como desmonstram a ausência freqüente de shows que não mais passam por lá. Também tocavam no Circo Voador às vezes, dividindo inclusive o palco com Robertinho do Recife na sua fase metal e o lendário guitarrista, hoje habitante de Joinville, Celso Blues Boy (que também merece um disco por aqui). Tempos mais tolerantes.

Também lembro de demo-tapes que tocavam na rádio Fluminense FM, nos programas Guitarras e Rock Alive, quando eu e meu irmão Adolpho ficávamos com as fitas K7 a postos para gravar algo inédito e/ou interessante, não necessariamente ao mesmo tempo... O Azul emplacava às vezes 'Johnny voltou' e 'Não vou mais falar', depois regravada para este álbum aqui resenhado.

Antes, chegaram a gravar um compacto para o selo B.B. Records do Billy Bond, no estúdio da Polygram, mas não foi lançado por ser 'muito pesado' para as rádios rock da época, rendendo só uma versão bem gravada de 'Satã clama metal', tocada na programação da Maldita.

Trata-se de um disco curto (acreditem, já existiram discos com menos de 70 minutos, nos tempos do vinil!) e com letras ingênuas. Mas é original, com estilo e garra. E é METAL, porra!

Começa com uma 'Introdução' rápida e emenda em 'As portas da imaginação', que 'não são mais que ilusão'. Música que começa rápida e dá aquela quebrada no meio. Volta a acelerar e tem um belo solo com ótimo som (milagroso!) quase no fim.
'Satã clama metal' é legal, rápida e na adrenalina, mas é quase caricato com a letra típica.
'Sangue frio' é minha preferida, um blues heavy com aquela levada pesada e as convenções típicas. Além disso, a voz é menos gritada, e aí vemos que é bonita. E a letra também é bem melhor:
"Dias e noites passam
E eu sempre a procurar
Alguém que possa ver
Ou entender o que eu vou tocar
Às vezes me sinto só
Ao lado da hipocrisia
Virei um homem de metal
Perdia a noção de gostar
Somos o corte profundo
Luz do sol"
(Tá tudo bem, não é Caetano, mas nem é pra ser, né?)
Tem um solo bem bonito também, sem malabarismo e emocionante, com vocais coletivos fechando bem com os 'ô ô ôs'.
'Fora da lei' é mais um boa música, com intro metal e acelerada depois, e um baixão na cara. Mas a voz parece outra língua, totalmente incompreensível...exceto no refrão. Aqui um solo rápido e legal, mas mixado baixo. Urros e bateção de cabeça!
'Não vou mais falar' é uma das que tocava em rádios, boa música bem canata e tocada, com apelo quase pop e uma letra interessante:
"Não vou mais falar em amor
Pois o ódio se apossou
Não vou mais falar em estrelas
Pois o universo todo se apagou
Só este sonho permanece
Só essa vida me enlouquece
Estou perdido, perdido no espaço
Quero acabar com o meu cansaço
Tudo que eu tenho é rock’n’roll
Pois só ele me dominou
Não vou mais falar em paixão
Estou derrotado, caído no chão"
Ainda se cantava em português o metal nacional. Em inglês, tirando o Sepultura, eu nem ouço.
'O grito' é mais uma no clima blues metal, com um bom riff e mais uma vez a bela voz cantada. No meio tem uma guitarra limpa bonita que caiu muito bem na mixagem. E um solo magistral, dobrado com perfeição, depois espalhado e dialogando pelos canais direito e esquerdo (apesar dos elogios da Andréa, esses aspectos técnicos às vezes são entediantes pra quem não é músico, eu sei).
"Se num mar de estrelas
Nós vamos deitar
Com o mais lindo sonho
Nós vamos sonhar
Ver a liberdade fatigando a mente
Entrando num mundo que tudo é diferente"(sic)

'Você não faz nada' é a menos legal pra mim, mais uma rápida mas com uma letra ainda atual:
"Pra tanta violência basta indiferença de quem pode mudar, de quem pode gritar
E você não faz nada
E você não faz nada "

O disco termina bem, com a acelerada faixa título, onde se ouve melhor a voz e seus gritos em falsete, além do instrumental nítido e o solo de bateria no fim.

A banda, além do vocal citado, tinha os seguintes músicos: Ricardo Martins (bateria), Vinícius Mathias (baixo) e Marcos Dantas (guitarra). Depois Rodrigo foi cantar ópera na Espanha(!!), o baixista também deixa a banda e rola um show de despedida em 1989, sendo que por duas vezes, em visitas do Rodrigo ao Brasil, a banda tocou no Garage. Marcos e André Chamon (baterista do Stress que chegou a tocar com o Azul numa reencarnação mista) formaram o X-Rated, banda de metal que chegou a ter alguma projeção local.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Tempos modernos, Lulu Santos



Bom, depois da longa e elaborada manufatura da postagem do Camelo (e sofrida, porque fui vendo que nunca ficaria Andréa style), vamos pra uma mais fluida e fácil, atendendo ao pedido do (quase fictício) amigo Baiano.


Primeiro assinado só pelo Lulu (antes, em 1981, tinha lançado em parceria com Nelson Mota 'Tesouros da juventude'), tem clássicos eternos, regravados e sempre re-arranjados, parecendo uma coletânea (ops).


Começa com tudo, a faixa título tem aquele riff fluido seguido de um comentário da slide guitar meio havaiana do nosso herói pop. A letra é muito boa, otimista sem ser piegas. Já foi gravada pela Marisa Monte numa versão muito legal no disco 'Barulinho bom'. "E não há tempo que volte, amor, vamos viver tudo que há pra viver, vamos nos permitir". E termina com aquelas cordas fake tão anos 80 a cargo do mago execrado Lincoln Olivetti.


Na seqüência mais uma clássica eterna, 'Tudo com você', com todo o pacote Lulu: letra romântica, guitarra bonita e marcante, refrão emocionante e ganchudo. Enfim, vocês conhecem. "Foi mais profundo com você, me fez chorar mas fez viver, não vá para Nova York, não, não vá".


'De repente California' também é sempre presente em shows e nas muitas coletâneas do Lulu. Surf music sem ser surf music. É uma parceria com Nelson Motta, um quase tango com guitarra slide quase havaiana de novo, aqui num solinho marcante e redondinho. Mais tarde, quando todos estavam fascinados pelo Buena Vista Social Clube, Lulu pôde dizer convicto "eu já tinha feito isso".


Aqui vem uma das menos conhecidas, autoria de Rita Lee pra Scarlet Moon (é esse o nome da música), mulher do guitarrista eclético e inventivo. Pop, cheio de 'uh uh uuuuuhs'. Solinho com drive, como não mais se vê.


'Sirigaita', balançada e simples, é uma das esquecidas no tempo. Fala sobre aquelas pessoas a quem você faz muito e recebe muito pouco. Mas como ele diz, "fui teu cão e gostei". Solinho tipo guitarra pica-pau, atípico.


'Palestina' não tem na minha 'versão' do disco...mais um que eu baixei e não tenho o disco. Na minha versão tem 'Bole-bole', com uma bateria eletrônica, uma música estranha.


'Areias escaldantes' é uma pérola do disco, às vezes ele toca ao vivo ou em acústicos. Guitarrona grande e limpíssima, letra sobre o deserto (ou sobre praia?), épica sem ser grandiloqüente.


Aí vem o calcanhar de Aquiles do disco (na verdade nem sei se tinha no disco original, sei que foi single antes do disco, em 1981): uma versão de 'Get back' do Beatles, aqui 'De leve', com uma letra sobre Chuchu, que saiu de Pelotas. Vale a chacota, né? Mas é divertida e tem um baixão bem legal, além de ser bem diferente do country original.


Quando saiu em cd, trazia também 'Tesouros da Juventude' e 'Fricção científica'.

(Dão)

Sou (ou nós), Marcelo Camelo



Atrevo-me agora a postar uma resenha em complemento à da nossa querida amiga e infelizmente única mulher a postar por aqui - resenha logo aí embaixo, do disco da Mallu. Não cairei em generalizações ou simplificações, tais como 'mulher é mais sensível', mas é fácil notar que as resenhas da Andréa são lindas e bem diferentes das nossas (homens; se bem que não ponho a mão no fogo por ninguém...). Melhores? Eu acho.


Esse disco do Marcelo Camelo (pra quem acabou de chegar ao Brasil, vocalista e guitarrista da banda 'em suspensão temporária' Los Hermanos) é o primeiro solo dele. Como informação 'Caras', ele faz casal com a Mallu, com participações (e provavelmente influências) recíprocas nos discos uns dos outros.


A primeira curiosidade é o título, que oficialmente é 'Sou', mas olhando-se de ponta cabeça vira 'nós', como fica óbvio na capa. Surgiu de um poema visual do amigo Rodrigo Linhares.



Há um 'cantar baixo, quase sussurrado', como observou o irmão do Marcelo numa resenha aí pela net. Foi ajudado pelo grupo Hurtmold, com gravações ao vivo. Há também participações outras, como Dominguinhos, Clara Sverner, Mallu Magalhães e Domenico Lancelotti.

Há barulhos de mar e crianças entre as músicas e muito espaço nos arranjos, o que me sugere uma respiração mais tranquila, num ambiente praiano.

O disco se aproxima mais da MPB tradicional quase clássica, mas sem sê-lo na totalidade, não é a geração do Camelo, que, assim como eu, foi (ou é?) fã de Bon Jovi...

Foi lançado pelo selo do compositor, Zé Pereira, e distribuído pela Sony/BMG.


O disco começa com 'Teo e a gaivota', que originalmente tinha sido composta para um filme de um amigo. Introdução instrumental longa, Camelo só começa a cantar depois de mais de um minuto. Belo início. Não é um disco que você ache demais de primeira, demora pra perceber, digerir, ouvir detalhes e dinâmicas. No meio a música fica um pouco mais rock, mas depois retorna pra dinâmica mais tranquila. Como de costume, traz versos bonitos e melancólicos: "Todo amor encontra sempre a solidão".


'Tudo passa' quase cita uma música de bossa nova cujo nome esqueci ("eu, você ..."), mas é original e com muitas mudanças e boas ideias. "E até esse pra sempre / Tudo passa". Coincidência esa semana eu ter visto e compartilhado um video onde o fotógrafo fotografou as irmãs por 36 anos, o tempo passa, o que levou a piadinhas infames características, tais como tudo passa, até uva passa...hohoho.


'Passeando' traz um violão de nylon, instrumento não usado na banda antida do Marcelo, mais ligado a uma MPB clássica ou a música instrumental brasileira. Música curta com letra mínima "E lá vai deus sem sequer saber de nós/ saibamos pois / estamos sós".


'Doce solidão' conta com um assovio antes da voz cantando "posso estar só mas sou de todo mundo" (eco tribalista?), mais uma música tranquila e sossegada. E com um piano bonito.


'Janta' é a música que aproximou o casal, depois de Camelo ter 'assediado' (como ele disse) a cantora por emails. Fez a música e convenceu-a a cantar uma parte em inglês. Esta é bem a cara da Mallu, um quase folk com violões de aço e nylon dialogando, assim como os cantores, que alternam as partes no meio. "Pode ser cruel a eternidade".


'Mais tarde' já é um pouco diferente, começa com um tecladinho e o ritmo dá uma pequena levantada, quase rock, com uma guitarra invertida discretíssima no final.


'Menina bordada' continua o fictício lado B mais animado, numa levada com a bateria mais presente e suingada, sendo que no meio se mantém só com belos vocais. Parece feita pra Mallu: "menina bonita bordada de flor / eu vi primeiro / todo o encanto dessa moça / moça por favor / cuida bem de mim".


Dominguinhos aparece tocando a introdução da bela 'Liberdade', que respira e deixa entrar o violão e depois a voz, seguindo assim até o final. "De que vale ser aqui / onde a vida é de sonhar liberdade?". É uma música das mais antigas, que quase entrou no disco '4' dos Los Hermanos. Assim como 'Santa chuva', que já havia sido gravada pela Maria Rita.


'Saudade', 'Santa chuva' e as duas últimas, versões de 'Saudade' e 'Passeando' eu não posso comentar, pois não existe na minha 'versão' do disco (pois é, esse eu baixei e ainda não comprei...).


'Copacabana' é uma marcha-frevo, uma singela homenagem ao bairro, uma música alegre, ou pelo menos tanto quanto um 'quase samba' pode ser, com seus metais típicos.


'Vida doce' é mais uma que começa com violão, mais alegre e com a bateria e vocais bonitos. "Onde você for ó vida me leva / todo sentimento me carrega".


Um belo disco, tranquilo e original. Mas tenho a impressão que quem deveria ter postado esse disco se chama Andréa.

(Dão)

terça-feira, 17 de maio de 2011

Mallu Magalhães (2009)


Mallu Magalhães sempre me chamou atenção. Daqui de longe ouvia falar de seu nome, de toda a estória do MySpace, das suas composições, da sua adolescência que se misturava com sua habilidade em consertar seus próprios instrumentos musicais.


Ao fim tive contato com sua voz infantil, meio amanteigada – que ao invés de entrar pelos nossos ouvidos, escorrega, devagarinho. E confesso que achei o máximo!


Quando pinta um único olho de azul nos seus shows, Mallu me faz lembrar Rita Lee – garotamutantes com seus coraçõezinhos no rosto na sua fase Tropicália. Mas Mallu me lembra também Bethânia, que aos 16 anos subiu no palco do Teatro Opinião.

Essas intervenções feitas por criaturas tão jovens são de uma ternura incrível, porque o limite entre a brincadeira e a coisa séria, entre o medo e coragem, são muito tênues.


Seu disco é muito delicado, gostoso mesmo de ouvir. Muitas das músicas parecem ter sido compostas com alto teor de amor no sangue. “My home is my man” é roquenrrol retrô, forte, guitarra presente em volume alto. Tudo rapidinho e aos poucos o som vai desbotando. “Shine Yellow” é outra de que gosto muito! Meio reggae, com sopros e percussões.


Esse segundo disco parece um tanto autobiográfico e “Make it easy” deixa claro isso. A música bastante blues começa com um assovio, como um calmante para a alma na hora de enfrentar a mãe. Aqui já estamos falando da “era” Marcelo Camelo...

Essa é a minha favorita! Música de uma paz incrível e a ideia de transformar em canção essa angústia feminina na hora de encarar o tamanho do amor, é maravilhosa.

E o vocal masculino é do namorado…

Make it easy!


“Bee on the grass” me lembra um tanto o som dos Beatles, slow, cheio de sopros, vozes abafadas e borbulhentas, como se drogas psicodélicas estivessem navegando pelas superfícies líquidas dos nossos canais.

Outra muito boa, country total é “ You ain’t gonna loose me”.


O disco acaba com “O herói, o marginal”. Sua canção mais forte, linda, com um arranjo definitivo. E aí Mallu Magalhães quase deixa seu tom de menina e entra fortalecida, viajando na sua própria voz, cresce e termina. E outra vez, Tropicália!


“She was a day tripper

One way ticket, yeah

It took me so long to find out

And I find out”


[ANDRÉA]

ps: essa resenha é para um certo Eduardo, de uma certa Ruberlei. Quando ouvi esse som pela primeira vez estávamos juntos e o Eduardo ficou altamente incomodado quando descobriu que a cantora era brasileira, apesar de cantar quase todo o cd em inglês…

sábado, 14 de maio de 2011

e depois do Sepultura...

Soulfly, Prophecy

...veio o Soulfly, banda do dissidente Max Cavalera, vocal e guitarra base da antiga banda.

Na verdade, esse nem é o primeiro álbum, é o quarto, mas como é o meu preferido, será o primeiro por aqui.

O trabalho de Max pós-Sepultura foi muito mais experimental, utilizando mais percussão e se misturando com muitos outros tipos de música, tais como rap, música eletrônica, mpb, metal industrial, world music (eufemismo para músicas de países 'estranhos'), música instrumental e, no caso específico desse álbum, reggae e música sérvia. Essa referência já aparece na capa, com referência ao Leão de Judá e também nos agradecimentos, onde Bob Marley aparece.
Aqui também há um misticismo que junta Rastafáris, deuses gregos, umbanda, Antigo Testamento e cristianismo.

A mistureba quase esquizofrênica aparece em quase todas as músicas e entre elas também, que diferem muito entre si mas, inesperadamente, o disco tem uma unidade na figura de Max, que também toca cítara, berimbau e é o produtor.

A faixa título começa com um barulho que remete à música eletrônica em loop, mas deve ter sido feita com um whammy ou outro oitavador em cima de uma nota da guitarra. Quando entra a banda é como se os portões do inferno se abrissem. Não é heavy metal típico, pois tem o tempo todo uma percussão tribal, por conta de Joe Nunez e Meia Noite, que dá uma cara mais original a todo o álbum. No meio ocorrem muitas mudanças, inclusive um break com cítara sobre uma base de guitarras pesadas e uma parte bem mais acelerada. O final tem uns vocais fantasmagóricos que já emendam com a segunda música, 'Living sacrifice', mais metal e reta, mantendo o peso e os vocais rasgados, mas trazendo um refrão mais quebrado. Mas o break do meio da música é um dos mais legais da história da música pesada, com várias guitarras se cruzando de um jeito muito interessante. Ainda tem uma outra passagem, mais percussiva (num ritmo de baião) e com 'atmosfera' e vocais falados, emendando num final pesado. Diferente, mas sem ser chato. Quer dizer, meus amigos aqui não são muito fãs de metal, fazer o quê? E os que gostam de metal, acharão o disco estranhíssimo.

Respira um pouco e segue com a porradaria 'Execution style', alternando momentos mais rápidos com passagens mais tipicamente metal, além de um solo cheio de tappings e outros malabarismos guitarrísticos.

'Defeat u' é thrash metal típico do estilo Max, curta e grossa.

'Mars' é uma das melhores, pela letra sobre o deus da guerra, pelo refrão sensacional, pela percussão mais uma vez além do metal.
"I am Mars, the God of war,
you bow to me like you did before"
Então o clima muda totalmente, entram violões de nylon e barulhinhos atmosféricos, a música se transforma num som quase acústico e mais pro fim num reggae inesperado e herege (pros bitolados do metal, que até hoje esperam a volta do Max pra antiga banda). Como diria o colaborador sumido Xampu 'Gêêênio'...

'I believe' inicia com uma guitarra limpa e cheia de efeitos, pra depois emendar na típica porradaria esperada. No meio aquelas mudanças extremas, com sons mais calmos, vozes corais de fundo e a voz falada de Max. Muita dinâmica, às vezes demais. Não é som para fracos de coração nem portadores de ouvidos frágeis.

'Moses' muda a dinâmica, começando bem lenta com metais latinos típicos de ska e vocais de dub-reggae, alternando com passagens mais pesadas e gritadas, desembocando num refrão quase reggae-pop com bateria quase new wave (!!) e retornando ao clima reggae com sopros. Parece estranho, mas funciona, o trabalho de arranjo e mixagem deve ter sido insano. Aqui há a participação dos Eyesburn, que acho que deve ser uma banda de reggae/dub.

Falando em participações especiais, o disco traz Danny Marianino em 'Defeat U', Asha Rabouin em 'I believe' e 'Wings', além de 5 faixas com o excelente ex-baixista do Megadeth David Ellefson.

'Born again anarchist' podia ser um típico punk hardcore, mas como tem aquela percussão atípica foge ao esperado, além de mais uma mudança radical com sons percussivos e teclados ambientes.

'Porrada' não é cover dos Titãs (o Sepultura gravou 'Polícia'), começando com uma vinheta com violões de nylon e depois começando - agora sim - um hardcore na velocidade de luz e uma letra em português totalmente dispensável. Tem uma passagem no meio estranha, quebrada com uma voz falando umas coisas incompreensíveis, e termina com uma batucada de samba.

Um cover do Helmet, banda de metal industrial, 'In the meantime' é uma grata surpresa, principalmente pelo fato de ter ficado bem legal, apesar de toda quebradeira da música.

Como se tornou tradição nos discos do Soulfly, o disco traz uma instrumental calminha, 'Soulfly IV', muito bonita, que é seguida por uma também bela música inteirinha calma(!), 'Wings', com vocais femininos da já citada Asha Rabouin.
E termina com uma vinheta sem nome que parece música de circo!

Um disco variadíssimo, muito legal, que, claro, foi muito malhado pela imprensa metal... Tolerância elástica minha, dirão os detratores.
(Dão)

Lulu, Lulu Santos



Trago hoje aqui o maior hitmaker pop do Brasil, sua ausência no blog era injustificável.


Escolha pessoal e emocional, lembro como se fosse hoje o primeiro show que vi dele, no ginásio do colégio Salesianos em Santa Rosa (hoje Jardim Icaraí) em Niterói, RJ. Aliás, todos nós temos momentos em que lembramos pro resto da vida onde estávamos (onde vc estava no dia da queda das torres ou do anúncio da morte do Tancredo, por exemplo). É engraçado que os mais marcantes pra mim sejam ligados à música: lembro do dia do assassinato do Lennon (e eu tinha 9 ou 10 anos!) e lembro perfeitamente onde e com quem eu estava, pra onde eu estava olhando e mesmo como o céu estava no momento em que ouvi 'Smells like teen spirit'...

É uma frase batida, mas verdadeira: minha vida mudou ali. PQP, som perfeito, guitarra maravilhosa, luzes, adolescentes lindas (Niterói é pródiga), fumaças, arrepios! Quero ser músico! Quero ser o Lulu! Bom, isso mudou, mas ainda sou muito grato por essa epifania, que inclusive me levou a muitas outras, shows são pra mim o mais próximo de uma religião. E acabei comprando uma Sitar Guitar igual à dele.


Luís Maurício Pragana dos Santos lançou muitos discos e incontáveis sucessos ao longo de sua prolífica carreira, mas esse aqui contem hits dos quais eu gosto muito e alguns são cantados/reinterpretados até hoje, ir a um show dele é cantar quase tudo mais antigo com quase toda a platéia.


Ao disco: o início com 'Casa (o eterno retorno)' já mostra muito do que são as músicas do Lulu: guitarras limpas e lindas com um arpejo criativo, letras narrativas e aqueles refrões ganchudos que normalmente já são cantados em seguida por quem ouve. Linha de baixo pulsante, guitarrinha slide discreta, solo mágico e emocionante com Ebow (afinal mágica é aquilo que feito/executado de um modo pelo qual vc nem sabe como, e eu nem imaginava o que era um Ebow; aliás se vc tb não sabe procura no google, ou melhor, no youtube, pra ver como funciona). Excelente canção com excelente embalagem.


O disco segue bem com uma música atípica para a época: 'Condição' traz uma guitarra mais pesada e é um quase-rap, sendo cantado uma vez por Lulu e na vez seguinte pelo genial baixista niteroense Arthur Maia, que acho que tocava no disco inteiro (não tenho esse disco fisicamente nem achei a ficha técnica na internet). Ainda tem aquela voz com vocoder que seria tão banalizada na música dance dos anos 00. E aquele feedback de guitarra que deve ter ensurdecido alguém no estúdio.


'Minha vida' é uma das músicas da qual eu mais me lembro no show citado, momento auto-biográfico do Lulu, mais um arpejo lindaço e um baixo fretless contribuem pro sonzão da canção. Piegas, mas compensa.


'Pé atrás' não é das conhecidas do Lulu, o que não quer dizer que seja ruim, é uma música bem balançada e balançante com apelo pop, antecipando uma linha um pouco mais brazuca e samba-rock que seria adotada no disco 'Popsambalanço e outras levadas'.


'Um pro outro' também é das clássicas e românticas do nosso ídolo pop, trazendo a característica slide guitar discreta e marcante. Refrão pra galera cantar fechando os zolhinhos..."Nós somos feitos um pro outro, pode crer, por isso é que eu estou aqui".


A música seguinte, 'Twist', é também muito legal, com uma letra estranha e uns harmônicos subliminares. Tem um solinho dialogando com o sax.


'Duplo sentido' é uma das desconhecidas, rápida e quase dispensável.


'Telegrama' diminui o ritmo, parecendo até com algo dos Paralamas mais antigos. Cantada com uma voz mais calma, é uma bela música. Aqui, Luís Maurício, guitarrista subestimado que mostrava todo a veia rock no trio Jacaré, nos brinda com um dos poucos solos com mais notas e bem mais drive.


'Demon' começa com um riff rock e desemboca num reggae cheio de ecos e dubs, e uma letra nonsense em inglês, finalizando com mais um solo dialogando com o saxofone. Interessante e bizarra, um pouco longa demais.


'Ro-que-se-da-ne' fecha o disco com um rock'n'roll rápido e mais uma letra estranha: "o cara fuma bebe e cheira e quer pegar no meu pau"...estranhíssima, aliás. Solo rock'n'roll pegando fogo. "as minas fuma bebe e cheira até passar mal, cheira a noite inteira, fala sem parar". Acho que estive nessa festa...


(Dão)

Sobre as coletâneas

Esclarecendo: realmente ficou implícito (ou explícito, sei lá) que evitaríamos as coletâneas por aqui.
Mas como esse é um espaço auto-gerido (bonito, hein!), meio anarquista e, principalmente, não existe punição para eventuais transgressões, essa regra não pegou totalmente...
Então, trilhas sonoras (que quase invariavelmente são coletâneas com vários artistas, com exceção de algumas novelas do começo da década de 70, quando eram entregues para artistas escolhidos, como Paulo Coelho/Raul Seixas ou Erasmo/Roberto), coletâneas tributo (como 'Rei') ou coletâneas específicas (como a dos 20 anos de rock brasil ou uma de chorinho que acho que o Mateus postou) vêm sendo agraciadas com sua presença no nosso blog.
Penso que as que devam ser evitadas são as citadas pelo Paulinho, tais como 'o melhor de', 'milennium' etc.
Mas, mesmo assim, já vejo exceções.
Por exemplo, depois de postar o tributo ao Jackson do Pandeiro pelo Genival Lacerda, pensei em postar algo do original. Contudo, não tenho nenhum disco dele, só uma coletânea, muito boa por sinal, chamada 'Como tem Zé na Paraíba' (aliás aqui tb tem bastante Zés...hohoho).
Outra que, apesar de citada logo ali em cima, eu tenho vontade de postar é a milennium da Cassia Eller, pelo fato de ter músicas que não constam de outros discos dela (como 'Não deixe o samba morrer' com a Alcione, 'Smells like teen spirit' ao vivo, 'A flauta mágica/Satisfaction' com o Edson cordeiro etc).
E também tem os excelentes discos 'Casa de samba', com várias edições e artistas variados cantando clássicos do samba.
Enfim, acho que fica por conta de cada um, claro que de preferência com boas justificativas.
Obrigado pela atenção,
voltamos a nossa programação normal.
(Dão)

terça-feira, 10 de maio de 2011

Terminando a saga 20 anos de rock brasil



20 anos de Rock Brasil cd 4


Rá! Você achou que eu não fosse terminar, né? Mas é sempre bom finalizar um projeto, mesmo que inútil como esse blog, música, cultura ou arte em geral...

Eu sempre olhava pra esse último cd meio com estranhamento, pois na verdade eu achava que a coletânea era sobre o rock dos anos 80, quando na verdade o título é claro e auto-explicativo: 20 anos de rock, e não rock de 20 anos atrás, bundão! E esse cd traz o rock dos anos 90.


Então vamos lá: começamos com os decanos Titãs, com a música do cd de renascimento 'Acústico' (que inclusive teve um filhote volume 2!) 'Os cegos do castelo', uma das poucas inéditas do disco, ainda cantada pelo agora solo Nando Reis. Música legalzinha, os Titãs têm muitas outras melhores.


Depois vem o Rappa, com certeza a melhor banda dos anos 90 e (mais ou menos) na ativa até hoje. 'Pescador de ilusões' não é a minha preferida, mas é hit pop reggae e cantada até hoje nos (cada vez mais raros) shows da banda.


'Por você' é uma música atípica de um disco atípico (Puro êxtase, com abordagem dance eletrônica) do Barão Vermelho, mas é uma belíssima balada entre as muitas já compostas pelo grupo.


Cidade Negra é uma banda antiga (com o nome de Lumiar), ainda dos anos 80, mas na época não fazia sucesso. 'Falar a verdade' ainda é cantada pelo Ras Bernardo, o antigo e desconhecido vocalista, depois substituído (ou saído) pelo Toni Garrido (vindo da banda Bel, não a baiana), quando a banda virou pop e merecidamente estourou a boca do balão.


O Skank traz um reggae tipo dancehall (vai no google, Zeba!), estilo no qual começaram, depois enveredando por um caminho mais rock anos 60 com pitadas de Clube da Esquina. 'Garota nacional' é um mega hit do disco 'Samba poconé'.


Tem gente que adora, tem gente que odeia. Eu gosto de Charlie Brown Jr, acho animado, bom pra festa e sessions de skate, principalmente os primeiros discos, ainda com a banda original azeitada e mais pesada, mais ligada no hardcore ou grindcore. 'Proibida pra mim (grazon)' podia ser uma balada, e assim foi gravada pelo Zeca Baleiro.


Raimundos sempre foi uma banda engraçada e com talento pra escrever quase-baladas grudentas. Aqui eles atingem o auge, numa música eterna, 'Mulher de fases', com um finalzinho com cordas e tudo! É do único disco deles que eu não tenho, 'Só no forevis'.


'Mantenha o respeito' é o hino definitivo do maconheiro bem educado, aquele que pede se pode acender no carro ou se deve ir fumar lá fora pra não incomodar. 'Usuário', já comentado por aqui, é um crássico desde sempre! É uma pena o grupo estar inativo, mas a carreira do D2, do BNegão e do Black Alien mantêm a tocha (entre outras coisas) acesa.


'Minha alma (a paz que eu não quero)' é uma bela composição do Rappa, daquele que é o seu melhor álbum, o 'Lado B lado A', o último com o compositor e baterista Marcelo Yuka. Deu origem a um belíssimo video.


'Anna Júlia' é um dos raros pop perfeitos criados no Brasil, o que levou o grupo Los Hermanos de um mundinho alternativo carioca para uma super-mega-ultra exposição nacional, o que levou a um previsível desgaste e antipatia por parte dos ouvintes. Mas a pérola resiste, mesmo que ninguém consiga ouvir mais...como os amigos daqui dizem, está de quarentena por alguns anos. E depois a banda se redimiu e fez um dos melhores discos ever, já comentado aqui pelo amigo e baixista Paulinho.


'Fácil' também é um pop muito tocado em festas, baladas e exposições agropecuárias Brasil afora e adentro. O Jota Quest é isso, sem vergonha e com muita vontade de ser isso, e são bons músicos e eficazes. Tem quem goste, eu até ouço se estiver tocando, mas pagar por isso...


Quase acabando o cd, vem o ex-Titãs Nando Reis, com uma música que a princípio foi gravada pela Cassia Eller e depois gravada pelo autor no disco solo 'Infernal', e em seguida regravada pela Cássia no seu estourado 'Acústico'. Essa música já foi interpretada por amigos aqui do blog sob uma ótica pornô-cosmológica, mas como eu não estava presente, vou me abster. Se alguém quiser anexar um adendo, fique à vontade.


Pra terminar o sempre pop Kid Abelha, agora sem 'os abóboras selvagens', trazendo aqui uma versão de uma música do síndico Tim Maia, 'Não vou ficar', animada e pra cima, com um sonzaço, presente no disco 'Tudo é permitido'. Mas podiam ter colocado aqui uma música própria, né?


Então é isso, terminou. Até que lancem '30 anos de rock brasil' incluindo os anos 00...

Continuando a saga Sepultura



Beneath the remains


Aqui começa uma seqüência de grandes discos do Sepultura. Depois do excelente 'Schizofrenia' a banda ganhou respeito e pode gravar um disco com mais condições, depois de uma semana de negociação do Max Cavalera com a gravadora Roadrunner em Nova Iorque, com orçamento inicial de US$8.000, que depois dobrou...

Foi contratado como produtor Scott Burns, que já havia trabalhado com bandas de metal extremo na Flórida (Obituary, Death, Morbid Angel), uma escolha certeira para a originalidade e sonoridade brilhante do disco.

O disco conta mais uma vez com os sintetizadores eventuais do amigo de BH Henrique Portugal (Skank).


Começando com a faixa título, que inicia com um dedilhado limpo e vozes fantasmagóricas, seguindo em frente depois com riffs acelerados e a voz bruta de Max, além de várias mudanças de ritmo, característica marcante da banda.

A segunda faixa, 'Inner self', teve até video na MTV, com cenas de skate e a banda numa produção tosca. A música se tornou um hit da banda, sempre cantada pela massa metaleira. Tem até uma passagem estranha no meio, com uma parte dedilhada e a voz falada.

'Stronger than hate' vem em seguida com força e rapidez, com um tapping de baixo no final.

'Mass hypnosis', mais uma letra excelente da banda que melhorava muito os temas, fugindo do satanismo/anarquismo primitivo anterior. Também sempre cantada pela galera, teve um video ao vivo que rolava às vezes, tirado de um show gratuito que a banda deu em sampa, novo lar dos mineiros. Um solo muito legal e uma bateria matadora no break pós-solo, com mais um dedilhado muito legal.

Foi após esse disco que os vi pela primeira vez no Circo Voador-RJ, me impressionou o som nítido e as variações de dinâmicas. A banda começava a ficar grande e extremamente profissional.

'Sarcastic existence' começa com a bateria com bumbo duplo e a massa sonora aparece na seqüência.

'Slaves of pain' mantem o pique e a bateção de cabeça continua, até a hérnia cervical chegar...idade é foda.

'Lobotomy' é mais do mesmo, o que não chega a ser ruim, mas o estilo faz com que as músicas não sejam muito diferentes entre si, mesmo com muitas mudanças durante a música.

'Hungry' também é bem legal e mais uma do estilo 'muitas mudanças, que música é essa mesmo?'.

'Primitive future' encerra muito bem o álbum, com um dos melhores vocais (pra quem gosta do estilo) do Max.


A reedição de 1997 traz mais 3 músicas, sendo 2 versões 'drum tracks' (Inner self & Mass hipnosys) e o cover dos Mutantes 'A hora e a vez do cabelo crescer', cantada aqui em inglês. Esse cover saiu originalmente no disco Sanguinho novo, um tributo ao Arnaldo Baptista, e, se não me engano, nesse disco era cantada em português. Se alguém tiver isso, aliás, é um bom disco pra ser postado aqui!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Rock'n'roll vai rolar e vai direto...


Quem começou a escutar o Barão Vermelho a partir daqui pode até se perguntar: "Quer dizer que eles tiveram outro vocalista antes do Frejat?".

Sim, há uma diferença clara entre o Barão da era Cazuza e o novo Barão. Perdas e Ganhos. Pessoalmente prefiro me ligar nos ganhos. É claro que Cazuza levou a poesia... ela foi embora e as letras desta nova fase algumas vezes beiram o ridículo. Mas Frejat tem voz mais bonita, mais empostada e soube encaixá-la magistralmente no novo som da banda. Sem o beija-flor e o tecladista Maurício Barros, o Barão adquire novo formato com a entrada de um novo guitarrista, Fernando Magalhães, e do percussionista Peninha. O resultado é uma banda mais vermelha, mais sanguinária do que jamais havia sido antes!

Outro ponto alto aqui é que o som ao vivo ficou muito bem captado e resolvido. É um disco muito bom de escutar, no talo então!... Vez em quando o pessoal tá enrolando pra levantar da cama lá em casa e junto com Tie Your Mother Down esta trilha é excelente na função de "levanta veiaco"!

O repertório ainda está cheio de canções da era Cazuza (é claro!), mas as versões aqui são definitivas. Ponto Fraco, Carne de Pescoço e Pro Dia Nascer Feliz tem suas versões definitivas aqui, muito melhores que as originais. Bete Balanço, Não Amo Ninguém, Porque a Gente é Assim também não deixam a peteca cair e são, no mínimo, tão boas quanto (as de estúdio). O Dão que gosta de gravações e estas coisas há de admitir que o sonzinho dos dois primeiros discos do Barão é muito magrinho... Não sei se era falta de capacidade técnica do estúdio ou da produção ou se foi intencional, o fato é que a sonoridade do Barão ficou no meio do caminho entre o rock e a new wave.
Ao Vivo não tem pra ninguém... New Wave? que é isso? marca de tênis? Roquenrrou tupiniquim da melhor qualidade este disco ainda trouxe duas músicas da era pós-Cazuza, a sensacional Pense e Dance (minha favorita da banda) e Quem Você Pensa que é? (composição inspiradíssima do Frejat), além da inédita Rock do Cachorro Morto e a homenagem à inspiração primeva (I Can't Get No) Satisfaction (o wikipadia informa ainda que uma edição relançada em 1998 incluía ainda 3 músicas. Não vou comentar porque não conheço a edição referida).
O título do disco originalmente é Barão Vivo. Talvez para lembrar que uns se foram, mas o Barão continuava (então) vivo, reinventado e mandando ver. Peça fundamental da discografia de rock brasileiro.
[M]

terça-feira, 3 de maio de 2011

eu tb vou dar uma reclamadinha

Já q os amigos estão preguiçosos, q tal cutucar as(o) cônjuge(s) a escrever aqui? Tayne, Carol, Cilene, Carlas? E o PQ, tem q prestigiar academicamente o blog dos amigos, PÔ!!!!
obrigado pela atenção,
Dão

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Cinema mudo, Paralamas do Sucesso



Fazendo uma retrospectiva do nosso blog (o Zeba também o fez e chegou à conclusão de que até chegarmos aos 1001 discos pretendidos demoraremos mais de 25 anos...), vi que os Paralamas ainda têm poucos discos, sendo 'emocionalmente sub-representados' por aqui, afinal todos nós ouvimos e curtimos muitas músicas nas nossas adolescências e juventude, além de festas e fossas. E não ficamos relegados ao passado, ontem mesmo, no ensaio dos The Xavados, 'Selvagem' (do disco de mesmo nome a ser postado por aqui - ou já foi?) entrou no repertório numa jam de 20 minutos psicodélicos e reggísticos...
Então, ao invés de reclamar dos fãs do Lenine (entre os quais me incluo), mãos à obra e vamos ao primeiro registro fonográfico de nossos ídolos.

A bem da verdade, o disco se iniciou numa demo em fita K7 de 1982, que tocou bastante na saudosa e niteroense Rádio Fluminense FM, a conhecida Maldita, o que proporcionou à banda tocar bastante no Rio de Janeiro nessa época, no Circo Voador e em danceterias, como se dizia no século passado.

Essa demo tinha 4 músicas: "Vital e sua Moto", "Patrulha Noturna", "Encruzilhada Agrícola-Industrial" e "Solidariedade Não!". Tirando a que falava sobre o sindicato polonês, todas as outras entraram nesse primeiro disco.

Eu ainda me lembro da versão da demo de 'Vital', que infelizmente nunca foi lançada em cd. Eu talvez até tenha num K7 mofado...Ficamos no aguardo dos basement tapes of Maldita, alô Antonio Carlos Miguel!

O Herbert reclama que o disco foi muito manipulado para se encaixar nos parâmetros de FM da época, com muitas dobras (dizem que os Golden Boys fazem os backing de Vital, entre outras músicas), com acréscimos de ecos, reverbs, solos, teclados, dobras de vozes e instrumentos - fato que eles compensaram na produção enxuta do já postado 'O passo do Lui'. Primeiro álbum, estouro recente do Brock, desprestígio novato da banda, incompetência de executivos de gravadoras etc etc etc blah blah blah. Mas o fato é que o disco é legal, têm excelentes composições e, hoje em dia, quando eles tocam músicas desse disco, mantêm os arranjos próximos dos originais.

O lado A começava matador: 'Vital e sua moto' (riff antológico), 'Foi o mordomo' (faixa lazy reggae, fossa de meio de tarde), 'Cinema mudo' ("rolê rolê ô ô ô ô ô ô ô", dá-lhe The Police, aliás uma clara influência da banda) e 'Patrulha noturna' ("qualé, seu guarda, que papo careta, só tô tirando chinfra com a minha lambreta" - que ao vivo podia ser modificado para, por exemplo, "que papo furado só tô tirando chinfra com o meu bas...." - pra bom entendedor, me pala bast), já com uma guitarra sensacional e um solinho bonito do mestre Herbert Vianna; também foi lado B do compacto 'Vital e sua moto'. Terminava o lado A (se vc não entendeu vá ao google!) a instrumental 'Shopstake', primeira co-autoria, aqui com Bi Ribeiro, no disco; também era lado B do compacto 'Cinema mudo'.

Ao lado B: 'Vovó Ondina é gente fina' (uma homenagem e agradecimento rock'n'roll à vó do Bi, que hospedava os ensaios da banda), 'O que eu não disse' (co-autoria de HV, João Barone e Renato Russo, pop delicioso com violões, uma discreta slide guitar by Lulu Santos e um belo solo no final em fade-out), 'Química' (do Renato Russo, guru da geração de Brasília, aqui numa versão pesada e que, se não me engano, foi gravada antes do autor lançar a sua), 'Encruzilhada' (mais um lazy reggae, com letra descartável pseudo-crítica, "não sei se falo mal da safra do feijão ou da imperfeição da indústria do Brasil") e, pra finalizar, a atípica 'Volúpia' (com letra sexy e arranjo de metais 'a la Vitória Régia' por conta de Léo Gandelman).