quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Legalize it!


Já que o Mateus veio até o presente, vamos voltar um pouquinho no tempo, mas continuar na vibe maconheira...a Céu, em entrevista à Rolling Stone de setembro, admite isso quanto ao disco Vagarosa!
Esse disco foi muito importante por muitas razões: 1. pra mim, porque eram pessoas da minha idade fazendo (bom) rock em português, numa época que era hype cantar em inglês; 2. trouxe pela primeira vez a discussão sobre legalização de drogas e comportamento anti-democrático ‘dos políça’ (sic); 3. era parte de um movimento não articulado, mas que tinha em comum fazer a mistura de rock com músicas brasileiras (forró no caso dos Raimundos, maracatu no caso de Chico Science etc).
Mas além disso tudo, o disco é bom, poderoso, pesado e dançante, bom pra festas (mas ainda não chegava à perfeição pra essa finalidade, que foi alcançada em Rappa Mundi, post em breve).
Começa lento, com ‘Não compre, plante’, uma idéia ainda válida, mas ainda ilegal...
‘Porcos fardados’ resvala no panfleto, mas tem seu sentido no público eterno adolescente.
‘Legalize já’!!! Musicaça, com guitarras suingadas e um refrão forte, ótimo pra ser cantado pela galera. E finaliza com um samplerzinho do Peter Tosh que dá nome ao post, 'Legalize it'.
‘Deisdazseis’ começa com alguém dizendo baixinho ‘tô doidão de bagulho’, parada de maconheiro pra maconheiro... Segue uma mistura de hiphop com discurso, ou como eles dizem ‘rap rock’n’roll psicodelia hardcore ragga, baixo lendário mesmo, bebendo cana, o grito vem da rua movido a marihuana’!
Na seqüência ‘Phunky buddha’, mania de títulos estranhos, hein? Alterna guitarras pesadas com partes suingadas, e o grito ‘chapado de maconha’. Seguindo com peso vem ‘Mary jane’, um hardcore rápido e cantado em inglês, só pra contrariar.
Depois da quase instrumental e rapidinha ‘Planet hemp’, vem mais uma das mais legais ‘Fazendo a cabeça’, no estilo ‘falo mal do Rio mas gosto’, além do discurso maconheiro habitual, que começa a dar sinais de desgaste. Mas eu tinha esquecido como o disco é legal...afinal maconha causa amnésia e outras coisas que eu não lembro mais...hahahaha.
‘Futuro do país’ aponta pro que viria a ser base da carreira (ops) do Marcelo D2, a mistura de hip hop com samba. Mas aqui fica bem pesado, até parecido com Ministry.
‘Mantenha o respeito’, A música do maconheiro moderno, ‘Dê dois mas mantenha o respeito’. Só pra esclarecer, não sei se tem o mesmo significado no Brasil inteiro, mas ‘dar dois’ significa fumar THC. Sinta o groove do ragga e o peso do refrão, tem até solinho de órgão.
‘Puta disfarçada’ é misógina, sem nada de novidade na seara do hip hop. E o Gabriel fez melhor com ‘Loira burra’... Dispensável.
Depois da vinheta instrumental ‘Speed funk’, vem mais uma pesada e cantada em inglês macarrônico ‘Muthafuckin racists’. Também não lembrava que o disco era tão longo...
‘Dig dig dig (Hempa)’ tem aquela bateria marcial e a cara do hip hop brazuca (e carioca, que o paulista tem a cara dos Racionais MCs). Um dia eles vão ver que a lei estava errada...em breve, se Jah ajudar.
‘Skunk’, ao contrário do que parece, é uma instrumental em homenagem a um integrante falecido do grupo. Tenho um amigo que tinha uma banda, Os Namorados, que sempre tocava essa nas jams que eu tive o prazer de participar.
‘A culpa é de quem’ tem uma bateria eletrônica e auto-samples. E a pergunta segue sem resposta.
‘Bala perdida’ é mais um hardcore na velocidade da luz, pra galera do skate, com aquele break manjado no meio e voz distorcida. Aí vem uns 6 minutos de silêncio dentro da faixa até entrar um instrumental metal tenebroso. Imagina a cena: o ouvinte chapado, com preguiça de trocar o cd deixa rolar e, na hora que cochila entra a sonzeira...hehehe.
Discaço, meio longo, mas inesquecível. Por falar nisso, que cheiro é esse no meu cd?

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Vagarosamente... Céu (2009)

Diferente daquele disco azul, o paradisíaco Céu de 2004, ela agora vem em tons de vermelho, Vagarosa. As cores da capa parecem contradizer este título e a audição do disco comprova (bem) mais o segundo que as primeiras.


Diferente do que costumo fazer para este blogue, este texto se baseia em apenas duas audições do disco, e preferi assim, pra não ser tentado a esmiuçá-lo demais, deixando ainda um gostinho pra quem está lendo e perdendo seu tempo que ainda não foi correndo comprar ou baixar oVagarosa. Na primeira, ajudando na cozinha do sábado, com a atenção dividida entre três crianças, um playstation, pia, fogão e outras coisas do dia-a-dia, eu não entendi, nem gostei do disco.


Só na segunda entendi: a Céu quer a sua intimidade. Intimidade e comprometimento do ouvinte. Vagarosa não é disco de acompanhamento de outras atividades, e ontem à noite ele foi a minha atividade. E é assim que ela é melhor sorvida, vagarosa, Céu toma conta de você, na intimidade, essa é a grande novidade neste seu trabalho de 2009.


Alguma coisa do trabalho anterior ainda está aqui, a mistura da tradição, do cavaquinho, do samba, com os loops, scratches e muita coisa ligada na tomada. Mas ainda assim, o disco vai mais longe e mais fundo onde o anterior tinha apenas roçado. As letras são curtas, rápidas e diretas, com preguiça de se alongar no(s) assuntos(s), ela dá o recado com poucas palavras. De propósito o disco abre com som de agulha percorrendo os sulcos do vinil, que funciona quase como uma vinheta, separando as músicas. O que poderia sugerir uma referência ao antigo, muito antigo, logo é demolido da segunda faixa em diante: Fiz minha casa no teu cangote, ela judia de quem ousa procura-la ao redor do pescoço.


Beto Villares é, de novo, parceiro de algumas composições, instrumentos e divide a produção com a própria, e mais dois cúmplices. E essa produção a oito mãos funciona bem demais! A instrumentação também está bem interessante, reúne uma pá de teclados vintage: mellotron, fender rhodes, moog... E ainda assim, o disco aponta para o futuro e não para o passado. Ás vezes parece que estamos diante de uma mistura da vanguarda paulistana (que foi vanguarda na década de 80) com massive attack e um sambinha de sombra de quintal... E muitas vezes, a impressão é que estamos diante dela, Céu, todinha ela, do jeito que quer e gosta.


O disco é todo maravilhoso, e tem participações pra lá de especiais, Luiz Melodia, Gigante Brasil (que tocou com Itamar Assumpção) e Los Sebozos Postizos (codinome de uma mistura entre pedaços da Nação Zumbi e do Mundo Livre S/A), que ajudam na levada (surpreendente) de Rosa Menina Rosa, de Jorge Ben, única composição revisitada aqui. Como num bom vinho tinto (essa deve ser a cor da capa!), Céu vem vagarosa e fica muito à vontade. A gente se espreguiça. E agradece.


[M]