sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Futura - Nação Zumbi (2005)
Uma das piores coisas que podem acontecer a uma banda é perder seu líder, seja cantor, guitarrista, compositor. Poucas conseguiram sobreviver ou se reinventar. Rapidamente cito Barão Vermelho e Rolling Stones (sim, o líder era Brian Jones, que era a principal cabeça da banda no seu início e que fez uma viagem sem volta), mas para quem tinha Jagger/Richards, era até covardia. Com o lançamento de Futura, a Nação Zumbi também pode ser incluída nesta lista.
Era difícil ver vida após a morte de Chico Science. Um dos idealizadores do movimento Mangue Beat, grupo de artistas recifenses, músicos, cineastas, agitadores culturais, que aplicavam o que havia de melhor da autofagia. De fato, a banda passou uns anos curtindo a dor, labendo a ferida, e tocando e gravando sempre, vivos acima de tudo.
Mas também, convenhamos, a tarefa também não foi assim tão complicada para uma banda que tem Lucio Maia, um dos guitarristas mais injustiçados do rock brasileiro. A crítica, que não se furta em endeusar “gênios” a todo momento, panelinha fácil, comprada ou na brodagem, devia reconhecer mais explicitamente o valor desse cara. Lucio Maia é o homem do riff certeiro, memorável, sempre criativo, surpreendente, ainda mais agora que está com mais liberdade para arriscar, com mais espaço para criar.
A percussão também ainda está lá, mas na falta do líder, foi obrigada a repensar seu papel. Antes base das músicas, porradão, passou a compor, incorporou novos instrumentos, dialoga melhor com a bateria e explora a música eletrônica sem medo de ser feliz. O vocal de Jorge Du Peixe lembra muito o de Chico Science e se houve perda de carisma no palco, fica um ar de familiaridade.
Sua herança indubitavelmente está lá, assim como as tradições nordestinas e a urbanidade recifense, mas de maneira mais sutil que antes. Como toda revolução, no início tudo era mais explícito, panfletário, escancarado. Agora eles sabem que isso não precisa mais ser dito, se reconstruíram e se tornaram uma banda que não nega nem um centímetro do que já foi, mas deixa claro que está olhando pra frente.
Há dois anos fui a um show da turnê do Futura, que no nome já denunciava o que pensava a banda, e fiquei hipnotizado desde o primeiro riff, meio stoniano, meio surf music, de Hoje, Amanhã e Depois. São os mesmos que abrem o disco e depois é uma viagem só: “Correndo atrás do amanhã e depois”; “Outro endereço desse mesmo lugar”; “Sempre daqui pro depois, já tenho o que quero pra chegar onde vou”; termina com Futura, e no meio tem Na Hora de Ir, Respirando, e Vai Buscar, todas indicando movimento, apontando pra frente. Mas tem também “Zumbi era Lampião, Lampião era Zumbi”, de Memorando, pra mostrar que eles não esquecem quem são, de onde vieram. Futura é o testemunho de uma banda que sabe quem é, o que quer e onde quer chegar.
Faixas:
1. "Hoje, Amanhã e Depois"
2. "Na Hora de Ir"
3. "Memorando"
4. "A Ilha"
5. "Respirando"
6. "Voyager"
7. "O Expresso da Elétrica Avenida"
8. "Nebulosa"
9. "Sem Preço"
10. "Vai Buscar"
11. "Pode Acreditar"
12. "Futura"
Luiz Marcelo, Baiano, Luma, LM
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Em leituras posteriores, vi que Brian Jones, como fundador dos Stones, naturalmente queria ser o lider da banda, se comportava assim. Mas os outros membros, principalmente Jagger/Richards, jamais passaram recibo.
ResponderExcluirAcuma?
ResponderExcluirAh sim, agora entendi... Mas quando Brian morreu ele estava 2.000 light years from home, isto é, o cara não era mais líder de nada, nem da própria seringa...
ResponderExcluir[M]