quinta-feira, 30 de junho de 2011

Cena Brasiliense: O Concreto Já rachou (Plebe Rude, 1985)




Brasília, capital da esperança. Brasília dos camelos, dos blocos e quadras, das zebrinhas e tesourinhas. Brasília, o eterno “autorama gigante”. Brasília das siglas. Brasília sem ruas, mas com esquinas. Brasília, fruto do traço do arquiteto. Brasília da seca e dos finais de tarde cinematográficos. Brasília dos centros comerciais, dos muitos porteiros e das pessoas normais.


A capital federal entrou para o mapa da música brasileira na década de oitenta, em meio à onda do rock brasileiro. Após o estouro das bandas do Rio de Janeiro e de São Paulo, foi a vez de Brasília apresentar-se ao mundo. Três bandas da cidade capitanearam o movimento: Legião Urbana (a mais cultuada), Capital Inicial (ainda em atividade) e Plebe Rube, a Suprema Trindade do rock candango. Todas as três formadas por uma garotada que sentia muito tédio na capital, mas era extremamente bem informado sobre música pop – em especial punk, pós-punk e new wave norteamericanos e britânicos.


A Plebe foi criada no início dos anos oitenta. Em sua formação original – eu chamaria de “clássica” – a banda tinha Phillippe Seabra (guitarra), Jander Bilaphra (guitarra), André X. (baixo) e Gutje (bateria). Foram esses quatro garotos que realizaram um dos discos seminais do rock nacional, O concreto já rachou.


Produzido por Herbert Vianna, O concreto... foi lançado em 1985, em pleno início da redemocratização do país. Trata-se, na verdade, de um mini-LP (sete canções em pouco mais de vinte minutos), algo pouco comum para o mercado brasileiro. A experiência deu certo, porém. Mais de duzentas mil cópias foram vendidas entre 1985 e 1986.


A primeira canção é “Até quando esperar”, hino de várias gerações. A música, um petardo, é um libelo contra as desigualdades econômicas e sociais e não perdeu a atualidade, mais de 25 anos depois de seu lançamento. “Até quando...” foi o carro-chefe do disco, tocou do Oiapoque a Jaú e colocou os meninos no miolo da cena musical brasileira, com direito aos Fantásticos e Faustões (que não existia àquela época) da vida. A seguir, “Proteção”, outra porrada de pouco mais de dois minutos. “Tropas de choque, PMs armados/mantém o povo no seu lugar”. Ecos de The Clash e Gang of four no cerrado.


A obra tem ainda as dispensáveis “Johnny vai à guerra” e “Seu jogo” e as fabulosas “Sexo e karatê” (acelerada em estilo ramoniano) e “Minha renda” (com a antológica frase “vou mudar meu nome para Herbert Vianna”). A última canção, porém, fecha o disco com chave de ouro.


“Brasília”, a música, sintetiza a vida na capital. “Brasília tem luz, Brasília tem carros/Asas e eixos do Brasil/Servidores públicos ali”. Duas guitarras toscas dialogam ao longo dos pouco mais de três minutos da canção. Para quem mora na cidade basta fechar os olhos e sentir-se em meio ao ambiente único do local.


Depois, veio a quase inevitável decadência. O álbum seguinte, Nunca fomos tão brasileiros, de 1987, pecou por certa grandiloqüência que não combinava com o punk dos rapazes. A Plebe ainda está em circulação, com nova formação (Clemente, ex-Inocentes, e Txotxa na bateria) mas com o velho pique.


Brasília, por sua vez, segue na velha rotina de muitos porteiros e pessoas normais.


Um rápido PS: a quem interessar possa, o livro O diário da turma 1976/1986 – a história do rock de Brasília, de Paulo Marchetti, conta em detalhes a história da Plebe & companhia.

[XAMPU]

terça-feira, 28 de junho de 2011

E se?... (tudoaomesmotempoagora - Titãs, 1991)




De certa forma, o passo dado no disco Titanomaquia era ensaiado aqui, Tudo ao Mesmo Tempo Agora. Os Titãs vinham de três discos de tirar o fôlego, que os deixaram enterrados a raízes profundas nos corações mentes dos homens e mulheres primatas, o pulso pulsando e a miséria musical para sempre extinta de uma geração que era chamada de coca-cola.


Tudo ao Mesmo Tempo Agora talvez seja o depoimento de uma banda que não queria mais ser “ícone” de uma geração, ei! Estamos abandonando de vez a cola, ficamos só na coca! Acho o último grande álbum deles, uma missa de réquiem, ainda que nos álbuns seguintes, aqui e ali, colham-se alguns frutos saborosos. É o disco onde o compositor olha para dentro de si mesmo e explode seus conflitos internos e externos de maneira irreprimível e irrevogável.


A capa do disco já mostra isso, uma capa desagradável de se olhar, recortes de Atlas do corpo humano, as cores de açougue e as palavras grafadas no alfabeto grego, como quem avisa: este disco é só nosso e não vai ser fácil ouvi-lo, mais ainda gostá-lo. Pra quem queria mais do mesmo, uma decepção. Pra quem se dispõe a acompanhá-los como quem confia nas viagens de um grande amigo: vale a pena.


A lista de músicas não aparece na capa nem contra-capa, onde só consta, em letras miúdas, mais um aviso: composto arranjado e produzido por Titãs. Isso que pode parecer um enigma, na verdade se revela a pista mais evidente aqui.


As músicas de rádio deste disco não eram fáceis. Clitóris faz Igreja soar como canção natalina, e Saia de Mim é a canção sem-vergonha de ser humano, do ser-humano. O último disco com Arnaldo e talvez aquele que sugeria a Nando Reis a porta da rua. Algumas das canções são bem fracas, como Isso Para Mim é Perfume, uma forçada de barra para parecer mais agressivo do que se é. Mas é um disco mais centrado no som da banda, que está muito afiada, o núcleo guitarra(s), baixo e bateria dá as cartas aqui, então, aquela que era conhecida pelas letras e diversos vocalistas se revezando, troca de foco, e o sinal são canções com letras curtas, de conteúdo mínimo, hai-cais a la Titãs, roc-kais, como Obrigado, Cabeça, Se Você está Aqui, e faixa que dá nome ao disco e o encerra de maneira acachapante.


Em tom de depoimento, confessionário vem Eu Não Sei Fazer Música e Não é Por Não Falar, enquanto que em Filantrópico, Eu Vezes Eu e O Fácil é o Certo são os ‘velhos’ Titãs, dando o ‘toque’. Mas as minhas favoritas deste disco mesmo, que mostram a banda viajando em outras direções são e Agora. Essas duas são as melhores músicas de toda a discografia dos Titãs... Pra mim pelo menos. Música muitas vezes agente ouve e gosta mais pelo conforto de se encontrar em mares conhecidos, do que pelo espanto causado pelo novo. E os Titãs sempre foram a banda do espanto, e o espanto aqui vem nestas duas canções, com um som de banda magnífico que eles não tinham ainda alcançado em nenhum dos discos anteriores...


Já colocou todas as roupas na mala? Agora que agora é nunca

A sua casa já desmoronou no meio da sala? Agora posso recuar

você já tentou varrer a areia da praia? Agora a última resposta

Já dormiu sozinho num canto de rodoviária? Agora a língua em minha boca

Já dormiu com alguém por migalha? Agora é só meu corpo nu...


Outra pista é o fato de que, diferente do que acontece nos discos anteriores, a autoria das composições não é explicitada faixa a faixa, sinal de que, ou o processo de composição foi diferente, ou ela é menos importante aqui do que a execução, que se torna mais autoral até do que a própria fabricação... E a última pista talvez seja o Flat-Cemitério-Apartamento, música onde a chave é... E se ?


Pois é, neste disco os Titãs estão dizendo isso:

E se ?


[M]

domingo, 26 de junho de 2011

Kaya N'Gan Daya, Gilberto Gil


Neste dia 26 de junho aproveito pra postar um disco do aniversariante Gilberto Gil. Não por acaso, eu também faço aniversário hoje.
Porque provavelmente a coisa se deu assim: em 1970, Gil em Londres, acorda, breakfast, a galera acorda, parabéns!, rolêzinho sob o sol de verão, almoço, volta pra casa, acende um, papelzinho colorido na boca, o som começa a rolar, violões e percussão de leve pra não incomodar a vizinhança britânica.
Lá pelas tantas Gil, que estava curtindo e vendo shows do Pink Floyd e Led Zeppelin, pensa: "pô, queria um guitarrista aqui, mas um que achasse João Gilberto tão genial quanto Hendrix, que gostasse tanto de rock quanto de Tom, Chico e Caetano!". Neste exato momento, Apolo, Dionísio e as 9 Musas atenderam seu pedido: eu nasci.
Bem, talvez não tenha sido exatamente assim...
E, claro, ele não tinha como saber que eu gostaria muito de Gilberto Gil e também de Bob Marley, aliás Robert Nesta Marley.
Que são os co-autores do disco de hoje, onde nosso herói ítalo-baiano recria e interpreta sucessos e nem-tão-sucessos assim do nosso herói jamaicano.
Gil foi bastante fiel aos arranjos originais, mexendo um tiquinho aqui e ali, sempre com sua voz deixando as músicas com a sua cara. Ele inclusive faz no encarte um paralelo entre Bob e Luiz Gonzaga.
'Buffalo soldier' é fiel ao original com alguns metais fazendo a diferença. Também uns floreios de voz do Gilberto, uma modulação e um canto africano ao fim.
'One drop' traz as vozes das I-Three (Rita Marley, Marcia Griffiths & Judy Mowatt), trazendo uma cor tipicamente jamaicana à canção, que traz aqui como diferença um banjo a cargo de Setrgio Chiavazzoli.
"I know JAH'd never let us down"
'Waiting in vain' é mais uma bem fiel, com aquele tecladinho magrinho e tudo. Aqui o mesmo Sergio faz um cavaquinho discreto, principalmente no clima sambinha no final.
'Table tennis table', a única inédita original do disco, tem Liminha ao baixo, que na maioria das músicas traz Arthur Maia. Aqui também tem o Ramiro Mussoto na percussão, já resenhado aqui pela amiga Andréa.
'Three little birds' ficou bem íntima, com violãozinho de fogueira e triângulo surpreendendo na percussão. Aqui a sanfoninha deixa o clima mais forró.
'Não chore mais (no woman no cry)' já havia sido gravada por Gil, numa versão de sucesso e que, pelo menos pra mim, foi o rpimeiro contato com o Bob. Aqui a regravação é reverente, mas traz um arranjo de cordas na primeira parte acústica, ficando mais adocicada. No meio o arranjo muda e entra o reggae com tudo, tocado aqui pelos Paralamas do Sucesso com o Tom Capone. Maneiro. Com solo do Herbert Vianna.
'Positive vibrations' é sensacional, aqui com força e vigor, lembrando que positividade não tem nada de fraco. Tem até um guitarra cítara fazendo uns detalhes.
'Could you be loved' traz um arranjo bem fiel mas com músicos convidados de alto calibre: Sly Dunbar na batera, Robbie Shakespeare no baixo, Samuel Rosa e Henrique Portugal do Skank. No meio tem um trechinho bem curto e no final um pouco maior lembrando que estamos com Sly & Robbie, mestres do Dub drum'n'bass.
'Kaya N'Gan Daya (Kaya)' vem em versão em inglês/português com cara brazuca, já iniciada pelo berimbau chamando pra curtição. No meio se converte em português, com uma letra malandra sobre a erva conhecida:
"Eu posso ver
o sol aparecer
sobre a chuva que cai
tão bom rever
a tribo, o fumacê
do cachimbo da paz
(e muito mais)"
Pra quem não sabe o que é Kaya, sempre vale uma googlada.
Em outros tempos pré-lei proibindo o fumo em ambiente fechados, festas no Pampo em Itacoatiara/Niterói/RJ, sempre recomendavam "se for fumar kaya na praia"...
'Rebel Music' é mais uma das fiéis e reverentes ao mestre do reggae.
'Them belly full (but we hungry)' traz de novo a presença luxuosa dos Paralamas, agora com João Fera tb. Versão seca e precisa, como deve ser uma música sobre fome. Com abordagem positiva, sempre:
"We're gonna dance to JAH music, dance
Forget your troubles and dance
Forget your sorrow and dance
Forget your sickness and dance
Them belly full but we hungry
A hungry mob is an angry mob"
'Tempo só (time will tell)', uma das minhas preferidas, traz outra versão inglês/português, mais lírica, calminha, cheia de espaços e barulinhos. Engraçado o Gil ter uma música paralela ao tema, 'Tempo Rei'.
''Time alone, oh! time will tell
you think you're in heaven, but you're living in hell"
'Easy skankin'' tb é bem fiel, tranquila e easy. Tem uma guitarrinha com filtros, discreta, pelo meio da música.
'Turn your lights down low' traz aquele clima romântico bonito, excelente pra dançar juntinho, se é que isto ainda se pratica...Solinho de sanfona de Cícero Assis.
'Eleve-se alto ao céu (lively up yourself)' é cantada em português somente. Mais uma legal, disco acabando. Solinho de guitarra mais nervoso, talvez do Tom Capone.
'Lick samba' termina em alto astral transformando o que não era samba no próprio, característico do Recôncavo baiano, aqui com a voz especial de Rita Marley e percussões variadas.
Valeu Bob, valeu Gil.
Agora eu vou ali acender (ou apagar) minhas velinhas...

sábado, 25 de junho de 2011

Claridade, Clara Nunes (1975)



Esse blog está quase chegando ao nº 200 e me dei conta de que estávamos cometendo uma falha grave, com a ausência de uma das maiores cantoras brasileiras: a guerreira Clara Nunes. Nesse sentido, o presente post tem como missão primordial preencher essa lacuna. Dentre os 15 discos de estúdios, optei por Claridade, de 1975, porque, por um lado, conta com um repertório de primeira, aliado ainda ao sensacional bandolim de Joel Nascimento e excelentes arranjos; enquanto, por outro lado, me faz retornar à minha infância quando escutava essas canções na vitrola da minha mãe no Rio de Janeiro.


Demonstrando sua predileção por compositores da Portela, Claridade abre em grande estilo com “O Mar Serenou”, de Candeia. Trata-se de uma interpretação magnífica de uma canção que marcou um estilo, canção até hoje relembrada nas melhores rodas de samba. O mar serenou, quando ela pisou, na areia,...Quem samba na beira do mar, é sereia... Com seu vestido branco, Clara Nunes certamente é a melhor imagem dessa canção.


“O Sofrimento de quem Ama”, de Alberto Lonato, e “Tudo é ilusão”, de Éden Silva e Raul Moreno, (5ª canção do disco) demonstram que além de grande intérprete, Clara Nunes é rainha na arte de transmitir alegria e esperança com temas tristes.

Iansã cadê Ogum...foi pro mar... Sua influência de temas afro (esteve várias vezes na África) atinge o apogeu em “Deusa dos Orixás”, de Romildo e Toninho, uma maravilhosa canção em que se misturam elementos do samba e do candomblé. Para apreciar a verdadeira Deusa dos orixás, vale a pena ver essa apresentação: htAdicionar vídeotp://www.youtube.com/watch?v=82n6dZ74F3c (que ainda emenda na próxima música).


Pausa para respirar: com toda garra e afinação, Clara Nunes dá ao clássico da música brasileira "Juízo Final”, de Nelson Cavaquinho e Élcio Soares, a sua interpretação definitiva. É o juízo final, a história do bem e do mal...quero ter olhos pra ver a maldade desaparecer... Música para arrepiar...


Se o lado A do vinil fecha em ritmo mais lento e triste com “Valsa de Realejo” , o lado B compensa abrindo com um samba de primeira de João Nogueira e Paulo César Pinheiro (seu marido a partir dessa época). Para de beber, compadre...Meu compadre deixa disso...Larga essa mulher de lado...Lembra do teu compromisso.


Candeia volta a ser cantado em “O Último Bloco”: E hoje volto cantando...me abraço ao violão...e marco o compasso junto do coração. Outra jóia rara desse disco.


Depois de outro samba em alto astral com “Ninguém tem que achar ruim”, de Ismael Silva, Clara Nunes diminui o ritmo para lembrar que “Às Vezes Faz Bem Chorar”, de Ivor Lancelotti, e antecipa o clima de despedida com “Vai Amor” (Monarco/W.Rosa):

Não chore por favor...Porque um bom perdedor não chora Reconhece a derrota se dirige a porta...Abre, diz adeus e vai-se embora.


E para fechar no maior estilo e sem espaço para rancor, Clara emenda “Que Seja Bem Feliz” de Cartola: Que seja bem feliz...E leve-me na mente... Que cresçam suas glórias...E as minhas lágrimas contentes.


Nem sempre a qualidade combina com vendagem, mas até nisso esse disco surpreendeu, ultrapassando a marca de 600 mil cópias vendidas, numa “Clara” demonstração de que tem muita gente de bom gosto. Foi o primeiro de uma cantora – mulher – que ultrapassou essa marca.


Em 1983, após conplicações decorrentes da anastesia em uma aparentemente inofensiva cirurgia de varizes, Clara Nunes deixou esse mundo que conhecemos. Como diria a própria Clara Nunes em “Tudo é Ilusão”, nada dura eternamente...


Felizmente deixou obras como esse disco para que a voz dela continue ecoando nos nossos corações.


[Paul]

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Efêmera - Tulipa Ruiz (2010)


Voz quente e marcante, afinada e afiada, sonoridade lúdica: Tulipa Ruiz, a novidade que veio dar à praia.

Sua música traz elementos inusitados, temas cotidianos tratados de maneira diferente, arranjos improváveis. “Efêmera” está cheio de referências – umas reais e outras imaginadas por mim.

Um cd pra lá de inventivo, super gracioso, dando aquela impressão de que tá todo mundo curtindo estar lá, fazendo aquele som.


Sem dúvida o cd traz na mochila muita Tropicália, mas junto tem muito da Vangarda Paulistana também – tá no sangue, já que seu pai, Luis Chagas, foi guitarrista do Isca de Polícia…

Mas também tem psicodelia, tem a alma da Rita Lee e muito de Tulipa, que compõe quase todas as canções.


“Efêmera” abre com som rasgado e regado a sopros e delicadeza. Dicção precisa, sotaque paulistano e amigas ao redor: Tulipa Ruiz está muito bem acompanhada com as vozes de Céu e Thalma de Freitas.

“Do Amor” é sem pressa, como uma estória bem contada deve ser. E de repente uma surpresa! A música fica imensa, cheia de vida. Uma explosão. Uma tradução única do amor. E depois a música se recolhe e você volta à terra…

“Pedrinho” é safada. Começa como quem não quer nada e vira um sonzão cheio de malícia. Roquenroll com uma bateria e guitarra que me lembra muito “The Truth Is In The Dirty” de Karen Elson com Jack White.

Muito boas mesmo, as duas!


Em “A Ordem das Árvores”, Tulipa Ruiz swinguinifica Gil! Deita e rola em tudo que a Tropicália nos deixou de melhor. Descontraída, do avesso, a ordem das árvores não altera o passarinho!

Música deliciosa.

“Sushi” é linda. Músicafalada, estridente, certeira. Uma espiral de palavras e de sons que te embala numa viagem oriente.
“ Então, vem, chega mais perto

Devolve já meu coração

Que tal sair desse aperto

E decretarmos solidão a dois”


Um caso à parte – “Brocal Dourado” – psicoldelia e dancing days total. Artesanato musical. Astral e ritmo adequado para cabeças alteradas. História de amor bordado à mão e mix de sambinha, pedal valvulado.

“Da Menina” é Rita Lee nas suas viagens femininas. É toda uma estória: música-ritual que só a quase- mulher é capaz de decifar e reconhecer-se nela. Trilha sonora para as Marinas…

“Só Sei Dançar Com Você” é circular e envolvente. O som te teletransporta e te conta da parceria perfeita: a loucura conduzida suavemente e transformada num balé singular e a dois. “Só sei dançar com você, isso é o que o amor faz”. Maravilhosa, um jogo de esconde-esconde.


“Efêmera” medita sobre as palavras e permanece para sempre: Anti-Efêmera.

[ANDRÉA]

New Wave à brasileira (Magazine, 1984)



Em qualquer compêndio ou boa enciclopédia de rock/pop, ao pesquisar o verbete “Magazine” você encontrará: “banda formada por Howard Devoto logo após sua saída dos Buzzcocks, em 1976. O primeiro trabalho do conjunto é o LP Real life”. Sobre o Magazine brazuca, nada. No máximo, alguma nota de rodapé.


O relativo esquecimento do “nosso” Magazine é uma injustiça que poderia (deveria) ser reparada. A banda, capitaneada pelo DJ/VJ/agitador cultural multiuso Kid Vinil, é importante representante da chamada “new wave” brasileira. Em comum com o xará britânico, nosso Magazine também é oriundo de uma conceituada banda punk, o Verminose. O quarteto (além de Vinil, Ted Gaz na guitarra, Lu Stopa no baixo e Trinkão na bateria) fez sua estréia oficial em 1983, na cena paulistana.


Magazine, o álbum de estréia do grupo (1984), é um primor. Tosco, rude, bruto, de uma simplicidade franciscana. A partir da capa (uma homenagem bem-humorada ao movimento new wave, no auge da moda no Brasil naquele momento), o recado é claro: rock simples, sem grandes concessões ou pretensões. Poucos acordes e muita alegria. Simples assim.


O disco abre com “Adivinhão”, um rockabilly à brasileira de pouco mais de três minutos de duração. “Você anda namorando a minha filha com segunda intenção/você anda namorando a minha filha pra poder botar a mão/o teu negócio é andar de lambreta, quando fala em casamento você faz careta”. Hilário.


O disco segue com “Pau na marginal” (rachas num fim-de-semana qualquer em Sampa), “Não” (popzinho inspirado em Paul Anka), “Meu bem Lollipop” (mais um som cinquentista), “Tô sabendo” (“eu sei que você sabe que eu não sei que você sabe que eu sei”, alucinante) e por aí vai.


O grande momento, claro, é o hit da banda. “Sou boy” foi das faixas mais tocadas na época e rendeu bons “fruto$” para o grupo – chegou a ser usada em comercial da GM. A canção, hino dos boys de todas as gerações, narra as aventuras/desventuras durante um dia na vida de um office-boy:


Acordo 7 Horas tomo o ônibus Lotado
Entro 8 e meia, eu chego sempre atrasado
sou boy, eu sou boy, sou boy
boy, sou boy

Atento 8 e Meia eu tenho que bater cartão
Mal piso na firma tem serviço de montão
eu sou boy, eu sou boy, eu sou boy
boy, eu sou boy

Ando pela rua pago conta pego fila
Vou tirar xerox e batalho algumas pila
sou boy, eu sou boy, eu sou boy
boy, eu sou boy

Na hora do almoço a minha fome é de Leão
Abro a marmita e o que vejo? Feijão!
Chega o fim do mês com toda aquela euforia
Todos ganham bem e eu aquela micharia
Sou boy, eu sou boy, eu sou boy
eu sou boy

E logo chega a tarde estou com pressa de ir embora
Meus pés estão doendo e meus calos estão pra fora
Sou boy, eu sou boy, eu sou boy
boy, eu sou boy

Bate 5 e meia a Sé tem filas infinitas
ônibus lotado e cai da mala minha marmita
Sou boy,eu sou boy, eu sou boy...
boy, eu sou boy

Na hora do almoço a minha fome é de Leão
Abro a marmita, e o que vejo? Feijão!
Chega o fim do mês com toda aquela euforia
Todos ganham bem e eu aquela micharia
Sou boy, eu sou boy, eu sou boy
eu sou boy”


O sucesso foi imediato e fugaz. O Magazine apareceu em todos os grandes programas de auditório, tocou no Fantástico, deu shows de Norte a Sul, fez abertura de novela global (“Comeu”, versão de uma canção menor de Caetano Veloso) e, depois, sumiu. A fórmula estava esgotada (ou ultrapassada, talvez). A marca do Magazine, porém, estava assegurada.


Kid Vinil continuou na cena cultural brasileira, teve programa na MTV e volta e meia aparece em algum evento rock´n´roll. Em meados dos anos noventa, trombei com ele na entrada de um show dos Ramones em São Paulo (“Kid, você pode arranjar para a gente uns ingressos do show?”). Mas essa é outra história...


[XAMPU]

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Todos os olhos para Tom Zé


Nos antigos discos de vinil, uma das vantagens era que as capas assumiam um papel muito mais importante do que nos práticos CDs, a ponto de algumas terem se tornado verdadeiras obras de arte. O problema era quando a capa acabava adquirindo uma importância maior do que a obra musical em si, como ocorreu em Todos os Seus Olhos, disco do Tom Zé de 1973. Nesse caso a polêmica levantada pela capa que seria uma foto de uma bolinha de gude em um ânus em pleno regime militar acabou relegando às canções um papel secundário, mesmo quando tinham todos os elementos para serem protagonistas. Desse modo, o presente post tem como objetivo recolocar as coisas no seu devido lugar.

Confesso que só vim a conhecer efetivamente esse disco há cerca de 10 anos, quando Charles Gavin, baterista do Titãs e também grande estudioso da música brasileira, passou a relançar clássicos de vinil em formato CD, inclusive juntando duas obras de cada músico (esse disco foi relançado juntamente com o também memorável Se o Caso é Chorar, em 2000).

Contando com um texto de apresentação do poeta concretista Augusto de Campos (dando pistas da trilha a ser seguida por Tom Zé), o disco abre (e termina) com “Complexo de Épico”, uma nítida resposta provocativa à canção “Épico”, do ex-companheiro do movimento tropicalista Caetano Veloso, que naquela época seguia rumo completamente distinto.

Todo compositor brasileiro é um complexado...

Porque então essa mania danada,

Essa preocupação de falar tão sério,

De parecer tão sério...

O recado estava muito explícito nessa canção em que Tom Zé exagera na tintura “cabeça” (digamos que não é daquelas de fácil audição).

Em seguida, uma releitura de “A Noite do Meu Bem”, de Dolores Duran (única canção que não é de sua autoria no disco), introduzindo alterações no ritmo da clássica canção. Dois anos depois, em Estudando o Samba, ele repetiu a mesma experiência na canção “Felicidade” de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. O resultado surpreende em ambos os casos.

Depois de “Cademar” (parceira com Augusto de Campos), em “Todos os Olhos” Tom Zé aproveita para negar o papel de “herói” que muitos esperavam dele: (...) Mas eu sou inocente, eu sou inocente, eu sou inocente. O disco segue com um criativo diálogo musical com Odair Cabeça de Poeta em “Dodó e Zezé” e um animado forrozinho “Quando eu era sem ninguém”, para adotar um Tom completamente melancólico em “Brigitte Bardot”, que nos dias de hoje poderia facilmente ser adaptada a tantas outras musas de outrora.

A Brigitte Bardot está ficando velha

Envelheceu antes dos nossos sonhos(...)

E os nossos sonhos querem pedir divórcio(...)

A seguir, as ruas de São Paulo adquirem vida própria na “Augusta, Angélica e Consolação”, uma linda homenagem desse baiano à cidade que ele havia adotado. Além de original, a letra finaliza com uma bela passagem:

Eu fui morar na Estação da Luz

Porque estava tudo escuro

Dentro do meu coração.

No seu disco anterior (Se o Caso é Chorar) já havia utilizado do mesmo subterfúgio na excelente “A Briga do Edifício Itália com o Hilton Hotel”, quando as personagens eram prédios invejosos da capital paulista, que continua com vida própria na canção seguinte, “Botaram Tanta Fumaça”, uma espécie de xote que fala das doenças que a cidade estava enfrentando com tanto lixo e fumaça. Lembre-se que estamos falando do início dos anos 1970, quando qualquer preocupação ambiental mal existia e a tônica vigente era de que as indústrias traziam “progresso”.

A fase concretista de Tom Zé volta com força total em “O riso e a faca” . Antes de finalizar novamente com “Complexo de Épico”, o cantor brinca com sons, tempos e contratempos na música “Um oh! E um ah!”.

Enfim, nessa obra Tom Zé desfilou criatividade e originalidade, alterando os estilos, com canções que conseguiam ser ao mesmo tempo poéticas e provocativas.

Quanto à capa, recentemente o fotógrafo Reinaldo de Moraes, autor da foto, revelou que a idéia de Décio Pignatari era, de fato, retratar um ânus, mas que depois de muitas tentativas infrutíferas com uma namorada de ocasião anônima, acabaram mesmo tirando foto da bolinha de gude na boca dela. Nessa, até o Tom Zé foi enganado, e se divertiu com isso, como revelou posteriormente.

[Paul]

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Gilberto Gil Songbook (Almir Chediak, 1992)


Sim, condensei os três volumes numa resenha só. Desde já devo admitir que não teria a paciência e a dedicação do Dão para fazer uma resenha por disco, o que teria sido, talvez, mais justo com a obra (tampouco vou colocar uma tag para cada artista, sinto muito! Se alguém quiser, fique à vontade...). Aliás, louve-se a dedicação de nosso yogi metal, ele tem mantido o blogue respirando, e, não menos importante, respirando ares diversos com a ampliação da lista de artistas e estilos representados. Talvez tenha se assustado quando alguém fez aquela continha (não fui eu!) mostrando que, no ritmo que estávamos há uns três meses atrás, demoraríamos uns 25 anos para chegar nos 1001...


O projeto Songbook deve-se ao saudoso prof. Almir Chediak, que fez um esforço único e muito bem-vindo para publicar a obra de vários dos mais importantes compositores da MPB, no formato de partituras cifradas para violão. A lista é realmente extensa e não vou tirar da gaveta, que tá sem chave, qualquer um pode abrir. O legal é que o projeto derivou para a gravação do repertório desses (acho que nem todos...) artistas em outras vozes, também representativas da nossa música. Isso tira um pouco o ar de coletânea desta coletânea, que talvez devêssemos chamar de gravatânea, enquanto não aparecer um nome melhor.


Aparentemente a única divisão nos três volumes é que o volume dois concentra mais o pessoal (então) do rock: Kid Abelha, Paralamas, Barão, Cássia Eller, Erasmo... Ainda que Gal Costa e Leila Pinheiro compareçam neste volume, para quebrar o clima. Nossa rainha Rita Lee abre magistralmente este volume com uma versão stoniana do Punk da Periferia, canta como se fosse ela mesma da freguesia do ó, uó-ó-ó-ó! Aqui pra vocês! Mostra com a música do Gil é antenada e como ele é capaz de enxergar seu próprio universo no universo do outro.


Outro ponto alto é a versão de Alceu Valença para Extra II (o Rock do Segurança). De novo, a adequação do intérprete à canção é perfeita! Alceu tem um pouco daquela deliciosa e elegante malícia do Raul... Acho mesmo que é o que mais se aproxima dele no quesito, e se ele quisesse realmente entraria sem o segurança ver. Na época me parece que ele estava gravando o seu Sete Desejos, não vou conferir a data, mas o arranjo lembra muito a sensacional versão que ele (e Paulo Rafael, que toca um violão magistralmente essencial) fez para Respeita Januário, do Mestre Lua, Gonzagão. O Barão Vermelho executa a sensacional canção do exílio Back in Bahia, com a competência rock’n’roll da época pré-Êxtase. Enquanto as outras duas (principalmente a segunda) fogem um pouco das originais, Frejat e sua turma preferem uma versão de mais respeito com a original, mas cheia de toques pessoais.


Deste volume, são as três melhores. Apesar de pouco inspirada, também gosto dos Paralamas refazendo Refazenda (uma versão Os Grãos), meio falada, meio eletrônica... É que esses caras até quando são ruins são bons, haja classe! Apesar de pop e melosa demais pro meu gosto, Esotérico ficou bonitinha com Kid Abelha, enquanto que o Erasmo também manda bem em Pessoa Nefasta. Cássia Eller escolhe a difícil Oriente, canção bem intimista, executada com seu talento típico. Decepcionam: Jorge Ben com uma infeliz versão W/Brasil para Palco, Gal numa inadequadamente afetada Se Eu Quiser Falar com Deus, enquanto que a melhor música do Gil, Realce, recebe, surpreendentemente, um tratamento lamentável de Eduardo Dusek e Sandra de Sá.


Diferente do anterior, os volumes um e três espalham as possibilidades da obra de Gilberto Gil. Tim Maia lhe dá Aquele Abraço, e com ele, o Rio de Janeiro continua ainda mais lindo... Ângela Rô Rô é a voz certa para Deixar Você iiiiirrrrrrr... Elba Ramalho e Dominguinhos cantam De Onde Vem o Baião, e Beth Carvalho sintoniza a Mancada daquele que bebeu o dinheiro da escola que estava reservado para o tamborim. Chico Buarque, Ney Matogrosso e Gal Costa ficam um pouco abaixo do esperado, enquanto que Djavan simplesmente arrasa numa interpretação lindamente apaixonada de Drão.


Aliás, Djavan retorna também no volume três, com outra interpretação magnífica. Se antes, ele se apoiou no formato banda, aqui ele lamenta sozinho com seu violão as agruras do caipira em Lamento Sertanejo. Gosto também da maneira com João Bosco reinventou o Expresso 2222, música que já é perfeita, numa versão ousadamente distinta da original. Gosto do Copo Vazio, por Zizi Possi (que está longe de ser das minhas cantoras favoritas) muito bem acompanhada pelo violão bossa’n’roll de Hélio Delmiro. Também ficou bonita a versão de Roda com Verônica Sabino e Carlos Lyra, enquanto que Jorge Mautner e Nelson Jacobina executam uma gostosa Andar com Fé, assim como fazem Moraes Moreira e seu (então) menino, Davi Moraes, com a Procissão. Caetano decepciona com uma versão voz e violão para Super-Homem a Canção, como se estivesse envergonhado e com pressa de terminar a confissão, enquanto que Paulinho da Viola faz o que se poderia esperar dele, numa canção que eu desconheço a original: Felicidade Vem Depois.


Mas o ponto alto mesmo deste volume, quiçá da coleção toda, é o Domingo no Parque na voz de Margareth Menezes, acompanhada pelo albino Hermeto Pascoal na sanfona, que também assina o arranjo. Margareth, que é uma incógnita quando penso no seu repertório próprio, transitando num limbo situado entre a axé music e outros gêneros, mostra aqui (e também na versão de O Que é Que a Baiana Tem?, do Songbook do Caymmi) que com outro repertório sua história poderia ser bem diferente, porque voz ela tem de sobra.


Completam os volumes A Cor do Som, Victor Biglione (acompanhando Leila Pinheiro, num interessante versão de Divino Maravilhoso), Emílio Santiago, Geraldo Azevedo, Leny Andrade, Fafá de Belém, Nana Caymmi, Francis Hime e Flávio Venturini. Alguns destes não me chamam a atenção o suficiente para fazer comentários. Assim, preferi me ater ao que mais gosto (ou ao que mais me incomoda, em alguns casos).


É claro que, num projeto destes, a menos que você seja muito bem treinado no exercício da tolerância elástica, nem tudo vai lhe agradar. Não sei se intencionalmente, mas o espectro de intérpretes escolhidos é amplo e com este, alargam-se também as idéias sobre o repertório, arranjos, execução... É difícil gostar de tudo, e eu não gosto, algumas canções acho que ficaram péssimas (por exemplo, o assassinato que Lobão comete em Tempo Rei, uma versão de banheiro, mas não de chuveiro), outras duvidosas e algumas são muito fora da minha praia (Leny e Nana, por exemplo), não me sinto à vontade para comentar. De qualquer forma, o projeto é excepcionalmente bem sucedido ao mostrar o quanto a música de Gil é ampla e universal. Um brinde ao Almir Chediak!


[M]

Titanomaquia, Titãs





Hahaaaaa, o metal continua...vcs não contavam com a minha astúcia!


Sem brincadeira, esse disco dos Titãs (que já foram do Iêiê) é bem pesado, inclusive produzido pelo Jack Endino (que seguiu trabalhando com eles em vários outros discos), conhecido pelas suas produções na cena grunge: Mudhoney (que abriu o show do Pearl Jam no Brasil), Soundgarden e, claro, Nirvana (o primeiro deles, Bleach), além do estranhíssimo disco solo do Bruce Dickinson, o Skunkworks (deve ter sido um work with a lot of skunk, hehe). Outro dia inclusive eu estava no aeroporto, comprando uma Billboard com os 20 anos do grunge na capa e de repente, do meu lado, o Paulo Miklos olhando a mesma revista (aliás, de repente não, que eu encontro ele tantas vezes em aeroportos que eu acho que ele mora nos aeroportos; bom, ele pode achar o mesmo de mim...). Quase que eu fiz a pergunta 'e quantos anos tem o Titanomaquia?'. Mas não perguntei, achei pentelho demais.


E na verdade, apesar da óbvia influência do grunge na sonoridade, principalmente das guitarras, o disco não se parece em nenhum momento com nada da cena citada. A banda na época estava envolvida com o selo Banguela, em parceria com Carlos Eduardo Miranda, que lançou Raimundos, mundo livre s.a., Graforréia Xilarmônica, Maskavo Roots e Kleiderman (banda pesada paralela de Branco Mello e Sergio Britto). Então acho que ele queriam fazer algo mais pesado e chamaram o cara, e não o contrário.


Esse aqui é o primeiro no qual o Arnaldo Antunes não participa como membro (ops). Mas ele é co-autor de 3 músicas muito legais.

A banda vinha de um disco massacrado pela crítica, mas que eu acho muito legal, o 'Tudo ao mesmo tempo agora'. Que infelizmente também foi fracasso comercial.


Nando Reis não compôs nenhuma pro disco (ou nenhuma se encaixou na proposta), o que, aliado ao fato que o baixo num disco pesado se limita a acompanhar as linhas das guitarras, pode ter gerado insatisfação/frustração. Na seqüência vários trabalhos paralelos pipocaram.


O disco vinha embalado num saco de lixo.




O álbum começa já com uma pancada, 'Será que é isso o que eu necessito?' (sic), mas ele canta certo: será que é disso que eu necessito. Bateria na cara quebrando tudo, guitarras pesadas, melodia meio dobrada com a guitarra. Sonzeira boa pra começar shows, lembro de um Hollywood Rock onde eles começaram assim.



Em seguida continua animado, rápido e pesado, 'Nem sempre se pode ser Deus', do excelente refrão "não é que eu vou fazer igual / eu vou fazer pior", muito cantado pela minha amiga Juliana ('que mala eres, Juliana'!).

'Disneylândia' é sensacional, uma das colaborações do Arnaldo, letra longa falando pontualmente sobre a loucura que é a globalização, pessoas e coisas circulando velozmente pelo mundo, mas no final 'crianças iraquianas, fugidas da guerra, não obtem o visto no consulado americano do Egito para entrarem na Disneylândia'...



'Hereditário' é mais uma do Arnaldo, a única cantada pelo Nando, bem legal.

'Estados alterados da mente' é das minhas preferidas, por motivos óbvios:

"Atitudes mecânicas

Movimentos involuntários

Estímulos elétricos, tempestades mentais

Choques térmicos, crises de melancolia

Choro compulsivo, riso histérico

Euforia, vertigens

Estados alterados da mente

Devaneios, delírios, desvarios

Estados alterados da mente"



E o que é 'Agonizando'? PQP, um riffão de guitarra meio oriental (provavelmente modo frígio), um hardcore sensacional, aceleradíssimo, gritado, uma letra animal, vozes alteradas, solo bizarro, perfeita!



'De olhos fechados' é delirante, histérica, pesada. No final tem uma voz meio acelerada discreta, estranhíssima.

"eu não quero saber o que se passa na sua cabeça quando você está dançando de olhos fechados"

'Fazer o quê' é a mais atípica, parecendo metal mesmo, começa com umas guitarras sozinhas, só depois entra a música, com aquelas letras meio primitivas titânicas. E manda um 'foda-se' enorme...

'A verdadeira Mary Poppins' também é sensacional, bem punk (que aliás, os Titãs já tinham feito em 'A face do destruidor' no Cabeça Dinossauro), clima decadência e loucura totais.

"Mesmo que ninguém escute

Mesmo que ninguém ouça

Mesmo que ninguém acredite

No que sai da minha boca

Eu sou o verdadeiro Bruce Lee

Eu sou o verdadeiro Bob Marley

Eu sou o verdadeiro Peter Sellers

Eu sou a verdadeira Mary Poppins

E eu sei que estou fedendo

Eu sei que estou apodrecendo

Eu sei que estou fedendo

Eu sei que estou apodrecendo"



'Felizes são os peixes' é mais uma punk acelerada com mais uma letra louca. Mas as músicas não são parecidas entre si e o disco não é nem cansativo nem repetitivo, mesmo que a sonoridade mais bem pesada possa desagradar a alguns.



'Tempo pra gastar' é mais no estilo titânico, as guitarras um pouquinho mais pesadas do que o usual, um solinho de wah-wah malandro, mas poderia estar em qualquer outro disco deles.


'Dissertação do Papa sobre o Crime seguida de Orgia' acho que é uma letra do Marquês de Sade musicada estranhamente pela banda, no estilo de 'Violência'. Meio chata. Como Sade.

'Taxidermia' traz a pancadaria de volta, começando com um baixo distorcido sozinho, depois Paulo Miklos entra cantando com sangue na boca:
"Se eu estivesse embrulhado em papel alumínio
Se eu tivesse o seu grupo sanguíneo
Se eu estivesse embrulhado em papel alumínio
Se eu tivesse o seu grupo sanguíneo
Se eu tivesse seus olhos eu seria famoso" (coro poderoso!)
"Não quero ser útil
quero ser utilizado
fossilizado"
Fim caótico e barulhento. Metal puro!

domingo, 19 de junho de 2011





Após tantas caveiras, crucifixos inversos e bizarrices satânicas do glorioso Dão, me julgo na obrigação de tomar uma atitude controversa no sentido contrário.




ROUPA NOVA! Sim senhores! tratando-se de 1001 possibilidades, apenas antecipo a tragédia!




O que falar do grupo (banda seria forçar a amizade)? Quais informações seriam realmente relevantes? Que o baterista Serginho foi detentor de um dos mullets mais representativos do cenário musical? mullet que, imagino, deve ter causado despeito até no Paulo Ricardo. Que o líder, o Paulinho, se destacou mais por ter sido marido da Gretchen, num casamento mais conturbado que o de Erasmo e Narinha?




Não necessariamente.




O fato é que quem aqui já passou dos 40 deve se lembrar do repertório meigo, fofinho dos caras. Tanto é verdade, que o nome dos seus principais integrante está no diminutivo, mais apropriado para monitores de crianças em pousadas do circuito das águas aqui de São Paulo.




E, realmente, a criançada da época - eu incluso - se identificava com suas músicas pouco indicadas para diabéticos.




Esse disco é o que há de mais representativo dos caras.




É de 1985, época em que eu só podia contar com uns gatos pingados nerds leais para um jogo de botão, war ou bets. Garotas, nem pensar, naturalmente.




Mas podia contar também com:




"Show de rock'n roll" clássico inapelável deles. O equivalente a Detalhes do Robertão.




"Tão Rica" com um indisfarçável xilofone tipo hering e uma bateria absolutamente trivial. Uma beleza!




"Dona". É até desnecessário apontar que foi o tema musical de viúva Porcina no Roque Santeiro. E isso bem antes de Regina Duarte se tornar a medrozinha do Brasil. Aqui preciso me expor e confessar que a achava uma delícia, a viúva, quero dizer.




"Feito pra sonhar" é totalmente constrangedora. Começa reproduzindo uma conversinha languida, realmente cafona. O ambiente é de uma festa, com copos, som ambiente e coisas que taís. Ainda hoje não me conformo de ter gostado disso.




Com "Linda demais" creio que eles pretendiam uma coisa grandiosa, apoteótica. Só isso explica o arranjo naquele crescente. Naturalmente, fracassaram miseravelmente. Mas virou história entre nós despossuídos de garotas.




"Corações Psicodélicos" é uma regravação de uma música consagrada do Lobão, se não me engano. Começa com uma coisa coral, úuuuuuuhhhh, uma bossa nova réba que só ficou na intenção.



E, por último, "Seguindo no trem azul". É o caso de parar por aqui essa indicação. Essa música demanda comentários coletivo. É um absoluto despropósito! Nunca deixei de associar esse música com a "fã nº 1" do Guilherme Arantes. Tem um momento em que o cara fala que não faz mal não ser compositor. FAZ MAL SIM! a prova é a própria música.




Enfim, ouso dizer que esse disco inaugura o espaço "de tão ruim, são bons"




ZEBA




ET. E aí Mateus, dessa vez falei do disco?
















Chaos A.D., Sepultura



Finalizando o domingo metal e prosseguindo com a saga Sepultura, vem este excepcional disco.

Anterior ao clássico dos clássicos 'Roots', não fica nem um pouco atrás no quesito repertório, tendo até mais músicas excelentes do que o outro. Só que como não inclui a percussão tribal como elemento essencial, fica pra trás no quesito originalidade.

Letras excelentes, num inglês quase razoável, mostram que metal não era só alienação.

Também deu origem a videos muito bons, a gravadora estava abrindo a mão, porque estava entrando dinheiro também, claro. E as gravadoras ainda eram relevantes.

Além de tudo o disco tem um trabalho de arte caprichado, o que inclui a capa e várias ilustrações internas.


Começa com um som de coração acelerado, no útero ainda, do filho do Max cavalera, Zyon, seguido pela bateria meio Olodum mixada à parede de guitarras. Muitos riffs bons e uma letra que fala sobre questonamento das autoridades, o que resultou num video muito legal. Uma das melhores! 'Refuse/Resist' é o nome do petardo.


'Territory' também começa com uma bateria mega ultra múltipla do 'polvo' Igor Cavalera, seguida de mais riffs brutais, além de mais uma letra sobre guerra por territórios. O vídeo, gravado em Israel, foi premiado na MTV americana. Mais uma sensacional.


'Slave new world' começa lentona com um riff de arrepiar, depois dá aquela acelerada. Com passagens mais cadenciadas no meio, é de um arranjo maneiríssimo, incluindo um break matador. Mais um vídeo bom. Letra crítica ao autoritarismo, fazendo referência a 'Admirável mundo novo' do Aldous Huxley.


'Amen' é mais lenta mesmo, com voz falada, espaço entre as guitarras, um arranjo mais amplo, coisa rara no metal. Crítica à religião, claro.


'Kaiowas' é uma instrumental com violões, melodias de viola e percussões tribais, em homenagem a uma tribo amazônica que preferiu o suicídio coletivo a perder suas terras e crenças. Bela e forte.


'Propaganda' começa com umas guitarras caóticas, seguidas por uma bateria com bumbo duplo, muitas variações, som trampado no dialeto metal.

"Don't believe what you see

don't believe what you read

no!!"


'Biotech is Godzila' é uma letra primorosa do Jello Biafra (Dead Kennedys), que inclusive fala algumas coisas lá pelo meio da música. Mesmo sem a letra já seria um musicão. Rapidíssima, hardcore pesado, com um refrão empolgante pra ser gritado pela massa.

"Biotech is A.I.D.S.?"


'Nomad', mais um que começa com guitarras flutuantes, arrastada e quebrada. Refrão com uma bateria genial. Massa de guitarras ao final.


'We who are not as others' é uma música estranha, o instrumental é um pouco diferente com guitarras harmonizadas, mas a letra só repete isso, com vocais variados e risadas ao final. O que evita que o disco fique cansativo, coisa comum em discos pesados, mas que aqui passa longe, mesmo sendo um álbum longo.


'Manifest' é sobre o massacre em Carandiru, narrada com a voz de um suposto jornalista através de uma voz de rádio, com a voz gritada de Max entrando só no meio da música. Tem uma passagem com baixo e bateria muito legal. E o final, pesadão e espaçado é sensacional!


Aí vem uma versão pra uma música do New Model Army, 'The hunt', que ficou bem com a cara da banda, com uma levada punk e vozes dobradas.


'Clenched fist' é mais uma cadenciada, com uma guitarra dialogando com os gritos de Max, no final dá aquela acelerada e retorna pra levada quebrada típica e original ao mesmo tempo.


Na versão brasileira do disco vinha a versão pra 'Polícia' dos Titãs. Fiel à original, mas mais rápida e pesada, claro, além de um coro sampleado de algum jogo ou manifestação: 'filha da puta' meio embaralhado pra não ficar muito óbvio...


No relançamento em 1997 também foram acrescentadas 4 músicas: 'Chaos B.C.' (uma mixagem de baterias/batucadas com várias partes de Refuse/resist, que dá pra ser usada na noite dançante heavy), 'Kaiowas (tribal jam)', 'Territory (live)' e 'Amen/Inner self (live)'.


DISCAÇO!!!

Antes do fim, Dorsal Atlântica



Quase no fim do domingo metal, vamos aos antigos e desconhecidos crássicos do metal nacional.

A Dorsal Atlântica é uma banda carioca formada nos anos 80 pelo lendário Carlos 'Vândalo' Lopes.

O disco aqui resenhado foi pioneiro na mistura de gêneros que na época eram como água e óleo, o punk hardcore e o metal thrash. Mal gravado devido a restrições orçamentárias e provável inexperiência de estúdios em gravar metal na época, foi regravado e relançado em 2005 com o nome de 'Antes do fim, depois do fim'.

Esse eu tenho e ainda ouço em vinil. O original nunca foi lançado em cd.

Ao contrário da maioria de letras de metal, este disco, adotando uma postura mais punk, falava de problemas cotidianos e sentimentos.


'Caçador da noite' inicia com aquele som zumbido e rápido de guitarra, além da voz assustadora do Carlos, cantando sobre um serial killer. Solo criativo e em estéreo, extraía-se sangue de pedra no estúdio.


'HTLV-3' é mais uma rápida, falando sobre o vírus da aids, criticando a ignorância e o preconceito numa letra panfletária:

"As pessoas se incomodam com a “liberdade”que o mundo tem

Se aproveitam de uma doença

Discriminar mais as minorias

Quatro letras condenam à morte

Foram escolhidos

Teu sêmen vai gerar mortos

Teu sangue, veneno maldito

HTLV-3 destroí

Verdadeira caça às bruxas promovida pela imprensa

Achem os culpados para salvar as famílias dos burgueses"

O legal de muitas músicas desse disco é que de repente a música muda pra um ritmo mais lento, o que dava origem às rodas nos animadíssimos shows, inclusive um no Maracanazinho abrindo pro Exciter e Venom, onde não se entendia nada, um som horrendo...


'Álcool' é das melhores do disco, uma guitarra zumbindo e a velocidade da luz fazem vc entrar em espasmos...Por incrível que pareça é crítica mas com numa abordagem oblíqua com o ponto de vista do cara que se embebeda. Esta aqui tem um dos melhores breaks do disco, sensacional, dá pra ver a roda se formando e as botas passando perto da sua cabeça.


'Depressão suicida' tem aqueles gritos agudos à Rob Halford, quase cômicos, mas divertidos. Mais uma rápida e com um solo cheio de alavancadas.


'Vorkuta' é uma crítica a Stalin, no mínimo inusitado, principalmente pra adolescentes que nem sabiam do que se tratava.


'Joseph Mengele' você deve imaginar sobre quem se fala (antecipando 'Angel of death' do Slayer). Mais uma rápida (cansa um pouco os ouvidos, admito), mas com mais um break maneiríssimo. E esta música tem uma surpresa muito legal que deve ter estragado muitos toca-discos: ao final da música uma voz que parece alemão, mas que girando o disco ao contrário, mostrava ser na verdade um monte de palavrões...divertidíssimo.


'Guerrilha' é mais cadenciada, quase lenta em comparação às outras. Parece panfletária, mas na verdade há uma crítica sutil ao messianismo comum no meio:

"Rifle responde força com fogo

Você tem um ideal

Meio caminho entre vida e morte, entre herói e assassino

Precisa lutar

Guerrilha por liberdade

Guerrilha em busca da verdade

Todos cegos

Só você vê a luz

Ao vencedor resta a história

De que vale a vida de alguns para salvar milhões?

Luta sozinho, luta por todos"


'Inveja' também é mais arrastada, com um riff heavy maneiro, depois dá a acelerada com guitarras em estéreo e muitas quebradas da bateria.

"Por que o ser humano não consegue se ver livre?

Não aprende com os erros do passado

Lições de cobiça e rancor

Se a vida é tào efêmera

Por que tantos sentimentos fúteis?

No íntimo você não quer errar, mas nào consegue domar

Só o futuro vai julgar

O impulso imbecil

Inveja

Os olhos e a alma cegos continuam a se corroer"


'Morte aos falsos' era um discurso metal da época, dirigindo-se aos apreciadores de última hora, diluidores do movimento. Bullshit, nem sei como um cara inteligente caiu nessa balela. Mais tarde ele mesmo montou uma banda mais hard rock, a Mustang.


Enfim, baixe este sem dó, imperdoavelmente está fora de catálogo.

Guerra civil canibal, Ratos de Porão





Continuamos no peso, agora um punk um pouco mais tradicional, hardcore, com pitadas de metal, dos nossos já conhecidos RxDxPx.


'Obesidade mórbida constitucional' começa com aquele baixo e bateria típicos do punk, meio parecido até com 'California ubber alles' dos Dead Kennedys (inclusive nos EUA o disco foi lançado pelo Alternative Tentacles do Jello Biafra), fala sobre a condição gorda do João, que quase morreu e emagreceu depois. Como não dá pra entender quase nada do que o João Gordo canta (?), segue um pouco da letra:


"Atentado contra a vida,suícidio,punição


Sofrimento na UTI,tortura,medo,falta de ar


Pro inferno não quero ir e no céu eu não quero chegar


Eu vi a morte!Morte!


Mas nunca me arrependi,vida louca sem igual


De primeira quase morri, show de horror no hospital"


'Toma trouxa' é rapidona, fala sobre um balão em drogas que o João pelo jeito tomou de uma gostosinha...


'Guerra civil canibal' é a panfletária típica anti-guerra:


"Por quê?


Inocentes sempra vão


Pagar,sofrimento e o que vai restar?


Nova guerra por religião,carne humana mata a fome ou não?


Guerra civil canibal


Em nome de Deus


Sempre igual,sempre igual,


Realidade podre ficção.


Refugiados agora vão chorar,


Pelo sangue da populaçào


Quem dá mais,quem dá mais?


Morre o fraco,carne boa ou não?


O mais forte vai se alimentar,


No banquete da religião"


'Estaca zero esquerda' é mais do mesmo, com um refrão mais balançado, legal, com solinho de guitarra e tudo. Dá uma enganada no meio, entra uma guitarra mais leve, mas é só pra pegar vc. Bem metal crossover (vai anotando, Zeba!).


'Fire to burn' é um cover da banda/dupla Half Japonese ou 1/2 Japonese, de proto-punk (como diria o Xampu; por falar nele, vc conhece eles, Xampu?) ou de rock alternativo. Dizem até que o Kurt estava usando uma blusa deles quando se matou. Legal, acelerada e até dá pra entender o que o João canta aqui. Incrível, é mais fácil entender ele cantando em inglês...se bem que acho que outra pessoa cantando.


Mais um cover, 'Biotech is Godzilla' (Sepultura/Jello Biafra), sensacional!


'A cola' é uma piada, parece que alguém chega com a cola, usam a cola e ficam escutando um som ao fundo (que eu não consegui identificar) e rindo... :)


'Kill the Varukers' fecha o EP, disco curto, com alguém que não é o João cantando, que depois entra urrando no refrão. Metal!!!

Lapadas do povo, Raimundos



Permanecemos nos sub gêneros metálicos, o forrocore, invenção dos Raimundos.

Este disco puxa um pouco mais pro metal, com guitarras poderosas e extremamente bem gravadas. Inclusive foi gravado em Los Angeles (Sound City, onde Nirvana, Rage Against the Machine e Red Hot Chili Peppers tb gravaram), com letras mais sérias, o que pode ter sido o motivo de ter vendido bem menos do que seus antecessores.


E o disco começa bem com as guitrras se sobrepondo em 'Andar na pedra'. Um efeito flanger no final maneiríssimo.


Na seqüência a rapidíssima (1:03) 'Véio, manco e gordo', hardcore paulada na moleira!


'O toco' é mais no estilo antigo da banda, guitarras pesadas mas sem muita velocidade, vocais bem sacados no refrão mais pop.

"Fiz um toco grande e frouxo

Pra ficar com o olho roxo

Queimar meu dedo no fim

Ela veio trazendo o peso

E eu com medo de ser preso

Pintar meu dedo no fim "


'Poquito más' é um rockão com letra estranha e guitarras pesadas com riffs pegajosos, legal. Tem até uns metais fazendo fundo num clima quase mexicano tipo Fishbone!


'Wipe out' é daquelas pesadas e suingadas, a galera devia estar ouvindo Pantera. Wipe out significa a temida e conhecida vaca numa onda grande, quando vc se dá mal mas a galera da areia se diverte...Mais boas e pesadas guitarras, com solo de wah-wah magrinho.


'CC de com força' é mais uma aceleradíssima e curta. E é escatologicamente sobre cecê mesmo.


Mais uma acelerada, 'Crúmis odámis', pancadaria sem parar.

"(Eu sei que tem) eu sei que tem gosto pra tudo

A moda vai, a moda vem, o tempo passa e eu não mudo

E até pensando bem filho da puta de um sortudo

Durmo mal, comendo bem, fazendo grana pelo mundo"


'Bonita' é daquelas quase baladas que os Raimundos faziam muito bem, apelo pop com roupa punk, que deu origem a muito do emo de hoje em dia. Mas a culpa não é deles, né? Quem cria não pode se responsabilizar pela diluição.


'Ui ui ui' é mais rapidinha (0:47) e escatológica do disco.


A surpresa vem com a versão da música 'Oliver's army' do Elvis Costello! Bem legal, até com mais vigor que o original, o que também não é difícil.


'Nariz de doze' é uma letra meio enigmática sobre uma nave de marcianos que cai perto do maluco que escreveu a letra, se é que eu entendi isso direito. Bom riff e bom solo.


'Pequena Raimunda' é também uma versão, desta vez de 'Ramona' dos Ramones, que mesmo fiel ao original, ficou legalzinha. Só não sei como autorizaram essa letra lamentável...vale pela diversão.

"Olhe só Rodrigo, Rodolfo,Fred e Canisso

Feia de cara mas é boa de bunda

Olhe só é a Pequena Raimunda.

Se ela tá indo até que dá pra enganar,

Se ela tá vindo não é bom nem olhar,

Ela de 4 fica maravilhosa,

Na 3x4 é horrorosa"


'Baile funky' é a minha preferida, bem pesadona, guitarronas, riff thrash em fusas tipo Metallica/Slayer, letra (um pouco) melhor. Boa pra malhar!

"A porta tá sempre aberta pro povo

Casca do cerrado chegaram os mortos de fome

Sujeira de outra parte que vem pra sujar seu nome

Eu te falei que o ladrão que rouba mesmo

É bem vestido e eu vi de monte

Essa zoada no telhado é o vento que a vida leva

É o pensamento antiquado, te apaga queimando a erva

Enraizado fica o dono do pé que finca na terra

E faz a ponte Povo de Zé ofensa

É na igreja que o povo esvazia as bolsa

Tem quatro santos, três queimando o kunk

Decidindo o destino dos outros como se fosse Deus

Atrás da mesa o açougueiro comanda

E a intolerância me manda de novo pro banco dos réus

Armando com propaganda"


'Bass hell (Bônus crap)' é a experimental, programações eletrônicas com baixo em loop, scracth by DJ Romes, guitarra funk e aí no meio entra o peso dos infernos, depois volta pro balancinho soft.


Bom disco, mas mal sucedido comercialmente.

Música para beber & brigar, Matanza

Para o Zeba, que é curioso acerca das subdivisões metal, chega a surpresa do domingo metal: o countrycore!! ;)
Uma mistura louca de uns mutcho loucos cariocas (Jimmy London, autor da lapidar "Estou cagando para os meus fãs, sou músico, não sou modelo de vida", e seus comparsas Donida nas guitarras, China no baixo e Fausto na bateria) que gostam de punk quanto de Johnny Cash e até de música irlandesa.
Pesado e divertido, ao mesmo tempo violento e mal-humorado, não é uma banda para ouvidos fracos e frescos.
Este aqui é o segundo álbum da banda, que depois disso, até hoje 2011, gravou mais 2 de inéditas e um tributo matador ao citado Johnny Cash (To hell with Johnny Cash).
Este é um dos discos que me anima muito a postar aqui, pois é uma banda muito legal e pouquíssimo conhecida.

'Pé na porta, soco na cara' já dá o tom! "e toda paciência um dia chega ao fim...essa noite vai dormir feliz"...Refrãozão, deve ser boa de começar shows.

'O último bar' já apresenta elementos country, pesadão, além do clima velho oeste.
"O último bar quando fecha de manhã
Só me lembra que não tenho aonde ir.
Bourbon tenho demais,
Mas que diferença faz se você não está aqui pra dividir?
Toda noite tem sempre alguém pra me dizer,
Que mulher que vai querer te ver assim.
Pleno festival, mulherada, carnaval e eu aqui
Com uma garrafa já no fim"

'Todo ódio da vingança de Jack Buffalo Head' começa meio instrumental, de repente dá uma acelerada e atropela.
"Meio dia pego o trem
que dessa cidade eu ja cansei
Todas puta ja comi
o que tinha de roubar eu ja roubei
Quem vai me dizer se eu to errado
se eu to vivo muito bem e não tem pra ninguem
Quem tentou me segurar pro inferno mandei
Procurado vivo ou morto
no retrato até que eu fiquei bem"

'Maldito hippie sujo' é mais pesadona e cadenciada com um riff bacana de guitarra pesada. E polêmica, ou engraçada se vc ouve como piada.

'Bota com buraco de bala' é um quase romântica, meio rock'n'roll acelerado, com um slide muito legal.
"Eu sei que ela me ama, e eu vivo só por isso, mas não é exatamente um paraiso.
Com ela eu não discuto é sempre sim senhora, e quando fica puta pega as coisas e vai embora.
E não há nada que eu diga, não há nada que eu peça, com essa vagabunda eu não consigo ter um pingo de conversa.
E só o que sobrou foi um buraco de bala"

'Taberneira, traga o gim' dá uma desacelerada, mas mantem o nível alcoólico...aquele efeito conhecidíssimo "que fica a cada drink mais bonita".

'Interceptor v-6' fala sobre carro, tema comum no rock'n'rol, no caso um Diplomata, "nem o demônio eu vi bebendo tanta gasolina". Punk acelerado. Tem um fim falso surpresa.

'Busted' é uma versão de uma música do Cash, bem de leve, aquele ritmo de valsa country. Porra, eu não queria gostar de algo como Johnny Cash, mas eu adoro. Mais ainda no vozeirão original.

E aí vem de volta a porradaria na sensacional 'Bom é quando faz mal'!
"20 caixas de cerveja
um barril de puro whisky
Quilos de carne vermelha
Fique longe não se arrisque
Não importa onde esteja
E sempre onde tem mais barulho, maior cheiro de bagulho
Disso eu me orgulho
Vai saber o que é normal?
E só que eu posso lhe dizer:bom e quando faz mal!
Conseqüência qualquer coisa traz
Quando é bom nunca e demais
E se faz bem ou mal tanto faz, tanto faz, tanto faz..."

'Pandemonium' começa com um trovão e depois vem a guitarra com um riff punk aceleradíssimo, contando uma história de bebida, assassinato e ressaca...No meio dá aquela quebrada cadenciada meio heavy pro solo simples e eficiente.

'Quando bebe desse jeito', countrycore acelerado com slide country sinuoso e banjo discreto, é auto-explicativa, né? Mas de qualquer jeito segue um pouco mais da letra:
"Segunda-feira, dia do bebum profissional
Mal a noite cai, já vai cair no mal
Nunca vai faltar um bom motivo pra quem quer se divertir
Não precisa de momento nem de ocasião
Todo dia é dia, é só chamar que vai
Tudo que não presta, certamente, deixa a vida mais feliz"

'Matarei', mais do mesmo estilo divertido, um pouco mais metal pé-na-porta, boa pra roda de pogo ao vivo!

Pra terminar a grossa balada country acelerada 'Bebe, arrota e peida'. Minha filha adorava essa música quando era menorzinha, mas em geral não faz muito sucesso com o público feminino, claro, ainda mais com essa letra:
"Chega já pedindo a saideira
Mais é saideira uma atrás da outra
e assim lá pela décima terceira
Já tá trocando o nome da garota
Não vá não, fique por aqui
Você não tem nenhuma condição de dirigir
Não consegue se manter de pé
Bebe, arrota e peida bem na frente da mulher"
IIIIHAAAAAAAA!!!!

Quem sabe uma hora o Tarantino não descobre os caras.