quinta-feira, 28 de abril de 2011

Genival Lacerda: Tributo a Jackson do Pandeiro



O amigo e colaborador Zeba, em quem agora eu acredito devido ao Itupervastock 2011 (festa psicodélica ocorrida em um reino distante num tempo fora do tempo), me desafiou a postar Agnaldo Timóteo, se não me engano (e eu me engano bastante).
Não chegarei a tanto, pelo desconhecimento e desinteresse na obra do nosso pitoresco ex(?)-deputado.

Mas vou de brega e Genival é sensacional. Melhor ainda, tributo ao genial Jackson do Pandeiro. Além desse cd (pois é, eu ainda compro cds), eu tenho outro tributo, com bandas e artistas variados, que oportunamente será postado aqui também. Aqui há motivos pessoais: Jackson acolheu Genival em sua casa quando este chegou ao Rio de Janeiro em 1964.

Genival é um senhor de idade, 80 anos completados ou a completar em 2011, se ele ainda é vivo, fato que desconheço. Mas é safado o tiozinho paraibano...
Começou a carreira em 1956, mas só obteve maior sucesso em 1975 com 'Severina xique-xique'. Depois ainda emplacou 'Radinho de pilha' (que foi gravada inclusive pelo Camisa de Vênus) e 'Mate o véio, mate'.

Enfim, vamos ao presente cd: inicia com 'O canto da Ema', uma das mais conhecidas de Jackson, apesar de, como outras por aqui, não ser de sua autoria. Genival não mexe muito no arranjo original, até porque forró, xote e baião não tem muito o que inventar.
'Cantiga do sapo', esta de co-autoria de Jackson com Buco do Pandeiro (pô, onde esses caras arranjam esses nomes?), também mantém muito do original.
O cd tem 4 pout-pourris, o que permite que se toquem mais músicas em menos tempo (recurso inclusive utilizado pela já lendária banda The Xavados na festa citada). O primeiro traz 'Sebastiana/Vou buscar Maria/Forró em Limoeiro', sendo a primeira aquela que anima qualquer arrasta pé Brasil afora e adentro, as outras só fazem figuração, bonita, mas ainda figuração.
Já se segue outro pout-pourri: 'Forró em caruarú/Rosa/Falso toureiro', que são divertidas mas não famosas. Sem perder o pique, balançando o quadril e a pança do nosso Shrek forrozeiro.
'Baião do Bambolê' me deixa na dúvida sobre a diferença entre os estilos forró e baião, as músicas se seguem sem maiores alterações.
'Secretária do Diabo' podia ter sido gravada pelo Bezerra da Silva (que inclusive gravou coco no começo da carreira), pela malícia e narrativa do cotidiano. Vocês conhecem a história: aquela gostosa que vira a cabeça dos homens, mas só traz confusão. "Quando o diabo não vem, manda o secretário, eu não vou nessa canoa que eu não sou otário".
Mais um pout-pourri, esse com mais animação e 2 clássicos: 'Forró do Zé Lagoa/Na base da chinela/Um a um', sendo a do meio co-autoria do Jackson com Rosil Cavalcante.
Antes que eu me esqueça (e eu me esqueço bastante), o cd traz Dominguinhos e Oswaldinho nas sanfonas. Por que tantos 'inhos' na música brasileira?
O último pout-pourri (ou petit poir, como diz me amigo Both): 'Mané Gardino/Quadro negro/Forró em Surubin', que prossegue com a festa.
'Lamento de cego', de co-autoria de Jackson com N. Lima, traz mais cadência, é uma música cantada por um Genival mais emocionado, com uma voz que lembra o Gonzagão e o som ligeiramente destoante do cd. Traz também umas vozes femininas fazendo um belo fundo. A festa tá acabando, desce mais um xiboquinha!
As 3 últimas completam e finalizam bem o cd, com destaque pra muito legal 'Como tem Zé na Paraíba', seguida de 'Valsa Nenen' e 'Forró na gafieira'.
(Dão)

quinta-feira, 14 de abril de 2011

20 anos de rock brasil cd 3



Continuo o cd quádruplo com o número 3, que tem o subtítulo de 'Mudança de comportamento', nome também de uma música aqui presente e, se não me engano, um disco do Ira!.

O cd começa muito bem, com 'Exagerado', co-autoria de Cazuza com Ezequiel Neves e Leoni, uma música muito boa e a cara do cantor. Do primeiro disco solo de Cazuza, que ainda (ou já) trazia músicas com o sempre parceiro Frejat, uma das quais inclusive fecha o presente cd.

E volta o Lulu, com um quase ska abrasileirado e uma guitarra MUITO legal. 'Sincero' é uma das muitas pérolas do nosso maior hitmaker, e você ainda leva um solinho safado e hard com wahwah, com um saxofone querendo aparecer, do Leo Gandelman.

'Os outros' é mais uma pérola do subestimado Leoni, aqui quando ainda era do Kid Abelha, que inclusive na época ainda era K.A. e os Abóboras Selvagens. Do álbum 'Educação sentimental', já comentado por aqui. Informação nova: o release do disco era assinado por Caetano Veloso, o que confirma minha teoria: quem sempre chuta uma hora acerta no gol.

'Mudança de comportamento' é uma das duas músicas do Ira! nesse cd. Como já falei aqui, adoro o Scandurra mas a voz do Nasi não me agrada (o Zeba me achou injusto com o Nasi, mas nem é essa a questão, eu respeito seu trabalho e principalmente sua atitude, mas a verdade é que não gosto da voz). E a música nem é das melhores deles.

'Bete Balanço' é crássica, como diriam uns amigos aqui do blog. Balançada, tema de filme nacional teen soft porn, solinhos bonitos, voz carioquíssima (esses bem puxados, erres bem arrastados), guitarra pesada dialogando com a voz. Enfim, desafia o argumento do Baiano de que as bandas cariocas são 'mais fraquinhas'. De onde ele tirou isso??? Aguardo a tréplica, com exemplos.

Camisa de Vênus era chamada de banda punk na época, mas quando ouvimos 'Eu não matei Joana D'Arc' fica muito difícil entender isso. A música é muito legal e divertida, com uma bateria claramente new wave e um som rockabilly (os quais na verdade são filhotes do punk).

'Pelado', apesar de ter sido música de abertura de novela, nunca ficou chata. Deve ser porque a música é muito inteligente e de um humor sensacional, mas mesmo assim é surpreendente. E o solinho de poucas notas do Roger é genial. 'Indecente é vc ter que ficar despido de cultura' e 'Sem roupa, sem saúde, sem casa, tudo é tão imoral, a barriga pelada é que é a vergonha nacional' ainda são versos eternos.

Engenheiros da Hawaii, banda controversa, alguns adoram, muitos odeiam. Mas 'Infinita highway' é clássica, todo mundo canta ou já cantou junto, com sua letra que alterna entre o criativo e lírico e o ridículo e absurdo. Um sonzaço de baixo, claramente inspirado no ídolo Geddy Lee.

'Flores em você' é uma música atípica do Ira! e do rock brasil. Uma orquestra e um violão fazem o instrumental para a voz do Nasi. E mais uma que foi abertura de novela (por que os rocks de hoje não são mais utilizados? rock virou música de tiozinho? mas tiozinhos não vêem novela??). Diz a lenda que Liminha, produtor do segundo disco 'Vivendo e não aprendendo', em franca hostilidade com a banda durante a gravação, disse ao fim da gravação da base: 'Vcs estão vendo como é uma música afinada?'. hahahaha

Inocentes vêm dar um toque punk no cd: 'Pânico em SP', cujo EP já foi comentado por aqui. A música foi lançada 20 anos antes do fato realmente ocorrer, mas a música já era legal mesmo se fosse só ficção e não profecia.

Até aqui as bandas são conhecidas e quase todas ainda sobreviventes. As próximas duas ficaram conhecidas somente pelas músicas aqui presentes: 'Carta aos missionários' dos Uns e Outros e 'Camila, Camila' do Nenhum de Nós. As duas músicas são realmente muito interessantes e radiofônicas, pena que não conheço mais nada de nenhuma delas. O Nenhum de Nós acho que ainda sobrevive no Rio Grande do Sul com acústicos e quetais. A música deles ainda foi regavada pelo Biquini Cavadão e por um dueto entre Cazuza e Sandra de Sá (!!!).
É engraçado pra mim as duas bandas virem em seqüência. Uma vez eu estava num teatro no Rio vendo um show daqueles comemorativos de rádios, e na minha frente estava o pessoal do Casseta & Planeta, exalando maresia, ainda cult, fazendo piadas a rodo. Daqui a pouco, depois de uma dessas tocar, o Bussunda mandou 'enquanto nenhum de nós ganha porra nenhuma, uns e outros ficam ricos'...kkkkkkkkk.

Esse cd realmente é um dos melhores, não tem música ruim.

RPM foi uma banda pop de uma maneira que hoje ninguém imagina que seja possível, principalmente pelo fato que, talvez devido ao fato de vir do underground paulistano e também o sr Paulo Ricardo ter sido jornalista, a crítica era bem positiva e compreensiva com a atitude magalomaníca. Mesmo que hoje a letra e o som soem datados, 'Revoluções por minuto' é uma música pop-rock muito legal. Acho que ninguém vai postar o primeiro disco deles por aqui...mas merecia.

'Ideologia' (de Cazuza/Frejat) fecha o cd, na versão ao vivo, poderosa e raivosa, antecipando em um ano a queda do muro. Versos sensacionais.

Só falta o cd 4.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Flor atômica, Stress



O título aqui poderia ser também 'o imprevisto improvável que não deu em nada', mas 'não deu em nada' poderia ser injusto com algumas definições da expressão.

O Stress, grupo de heavy metal paraense (!!) de 1974 (!!!), gravou este disco no boom do rock brasileiro pós-rock in rio, quando a mídia descobriu os 'metaleiros', expressão horrível que infelizmente pegou.
Mais surpreendente foi ter sido lançado pela multinacional PolyGram, que provavelmente acreditava na viabilidade comercial do gênero depois do sucesso no citado festival.

Gravado no Rio, contou com o guitarrista Alex Magnum e o baixista J.Bosco, da banda Metal Pesado, de Niterói, RJ, já que os membros originais não puderam se deslocar de Belém para a gravação. O primeiro disco de 1982 (provavelmente o primeiro disco de heavy metal brasileiro) também foi gravado no Rio e na época a banda chegou a encher o Circo Voador, devido principalmente ao fato da música 'O oráculo de judas' tocar direto na saudosa rádio Fluminense.

O disco é muito bem gravado, com guitarras pesadas mas nítidas, vocais excelentes e uma bateria tipicamente barulhenta.
Claro que temos todos os clichês do Metal: gritinhos em falsete, refrões em coro, solos velozes etc etc etc.
As letras surpreendem com temas sociais e críticas ao sistema, levando inclusive a muitas censuras (maus tempos).

'Heavy metal' tem um letra quase caricatural, mas empolgante pros adeptos. Além de um riff muito legal que começa o disco empolgando.
'Não desista' mantém o pique, com velocidade e vocais agudos.
'Mate o réu' é mais hard rock, com uma guitarra menos distorcida e um ritmo mais cadenciado.
A faixa título começa com uma guitarra limpa e cresce com peso e um belo riff. Clássica.
'Esperando o messias' é das mais chatinhas, a voz começa a soar repetitiva.
'Forças do mal' começa com o típico grito agudo metal, mas depois se mostra uma instrumental de primeira, com muitas mudanaças de tempo e dinâmicas. Excelente pra bater a cabeça.
'Inferno nuclear' mantém o tema do disco, nada de mais.
'Sodoma e Gomorra' é meio estranha, começa com uns solos de bateria, tem uns vocais atípicos, quebrados. Legal e original.
'Tributo ao prazer' é mais rock'n'roll, mais festiva, destoa um pouco mas contribui.
E como reza (ops) a tradição, finalizamos a conhecida balada metal, 'Jennie', começando lenta com teclados e voz sutil, cresce com peso e tem um belo solo.

Enfim, vale pela história, pela originalidade e pioneirismo. Difícil é achar, acho que nem saiu em cd...
E a banda, depois de interromper as atividades em 1987, retornou em 1996, lançando cd e dvd!
Eu ouvi que eles abririam pro Iron Maiden em Belém, mas não sei se realmente rolou.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Chamando o Síndico (Tim Maia, 1973)


ok, nosso primeiro tim, vamos e venhamos: demorô pacas! Mas veja bem caro leitor, o Dão esqueceu, o Zeba postaria um disco do Tim pra falar sobre o Cassiano e o Baiano, bem, este, depois que o ônibus atropelou-lhe o celular, vamos ter que esperar aquelas 8 resenhas que já estavam prontas pra depois da copa do mundo. Da Rússia, claro.


Tim Maia não tava nem aí para a ditadura ou movimento hippie ou tropicália. Só queria cantar suas verdades (e mentiras), e isso ele fez como ninguém. É o cara que durante anos só absorveu, e depois começou a absolver. Graças a deus (ou não, depois do último post por aqui, eu ando até com medo...)!


O disco de 73 é menos um desfile de canções clássicas que faz os dois anteriores parecerem volumes de uma (excelente) coletânea, mas além de fechar uma trilogia (bem, essa mania é típica, eleger trilogias, ainda que, duvido que tenha sido eu a eleger esta), porque depois deste, o síndico embarcaria na viagem racional.


Mesmo assim, em relação aos anteriores, algo aqui me parece que vai mais além, os arranjos me parecem mas cuidadosos e mais focados no soul (bem este último não chega a ser ir mais além, aliás em certo sentido, é exatamente o contrário), e se ele não tinha uma excelente coleção de canções, soube com maestria cuidar para que a parte instrumental desse conta do recado. Algumas canções beiram o esquecimento imediato, como Música no Ar, A paz do Meu Mundo é Você e Preciso ser Amado (que conta com o raro episódio de se ouvir tim, voz e violão), muita coisa em inglês (3 de 12 músicas), mas de quebra, Encontramos aqui duas lindas canções de amor, Gostava Tanto de Você e a minha favorita de todas, Réu Confesso. Oxalá todo final de romance rendesse uma música como esta, seria o melhor de dois mundos...


Das músicas em inglês, destaque para Over Again, onde apesar da letra, a música é Brasil a toda, muito balanço, é o síndico single malt! O disco fecha com a belíssima instrumental Amores, que me faz lembrar Baby Huey, e além do que, justíssimo, pois o ponto forte deste terceiro disco é realmente o instrumental.


[M]


ps: Acho que me enganei... Primeiro Tim?