terça-feira, 7 de junho de 2011

Falange canibal, Lenine



Ele voltou!

Continuamos com peso aqui. Outro dia estava ouvindo Living Colour e lembrei desse disco aqui, no qual o grupo de rock estranhamente negro (como se o rock não tivesse começado negro!) faz uma participação especial.

Falange Canibal originalmente era um pequeno palco aberto num bar na Lapa, "uma zona franca da arte, um território de livre trânsito para todas as tendências, uma terra de ninguém ocupada por todos. Encruzilhada de caminhos. Ponto de aglutinação."

Mantendo seu caminho de agregador, Lenine transforma um projeto coletivo numa obra bela e forte.

Além do grupo citado, há muitos outros convidados: Vulgue Tolstoi (grupo que forneceu o parceiro constante guitarrista Júnior Tolstoi), Monoaural (Kasin e Berna Ceppas), Tom Capone (produtor infeliamente falecido prematuramente, que aqui também contribui com programações, guitarra, baixos e otras cositas más), Xandão (guitarrista do Rappa e Caroçu).

Além dos amigos compositores, que dividem com o anfitrião quase todas as músicas, com exceção da última. A saber: Carlos Rennó, Ivan Santos, Bráulio Tavares, Sérgio Natureza (esse deve ter vindo direto de Mauá ou São Tomé das Letras...), Dudu Falcão, Paulo César Pinheiro e Lula Queiroga.

A produção também é dividida por muita gente, incluindo Lenine, Tom Capone, Mauro Manzoli.


Gosto muito da sonoridade moderna e caprichada do Lenine. 'Ecos do ão' fala sobre o fonema característico da nossa língua (e sempre difícil para estrangeiros) como linha condutora para também refletir sobre nós brasileiros.

"nós temos violência e perversão/ mas temos o talento e a invenção/ desejos de beleza em profusão/ e ideias na cabeça coração/ a singeleza e a sofisticação/ o choro, a bossa, o samba e o violão/ mas se nós temos planos, e eles são/ o fim da fome e da difamação/ por que não pô-los logo em ação?/ tal seja agora a inauguração/ da nossa nova civilização/ tão singular igual ao nosso ão/ e sejam belos, livres, luminosos/ os nossos sonhos de nação"


Em seguida uma mais lenta, 'Sonhei', bela como de costume e com aquele violão percussivo e extremamente bem tocado. Mais uma com boa mistura de sons eletrônicos e acústicos, inclusive um bonito oboé.


'Umbigo' começa com um violão magrinho e bateria do cara do Living Colour, Will Calhoun. Também a voz em inglês de Ani Difranco (alguém sabe quem é ela?), Eumir Deodato (o cara existe de verdade!! se vc não sabe quem é vai procurar no google) no hammond e piano elétrico com mão pesada. "gosto muito de conversar comigo/ umbigo meu nome é espelho/ não dou ouvidos nem peço conselhos/ umbigo meu nome é certeza/ só é real o que convém à realeza"


'Lavadeira do rio' começa meio balançada, eletrônica até, com uma guitarra invertida discreta. Depois vira um bom rockão! Tem até aquele clichê de bateria só com vocais empolgantes. Será que o cara ouve hard rock?? Esta aqui tem participações especiais da galera do Skank (sem o Samuel) e da Velha Guarda da Mangueira no coro.


'Encantamento' é uma montagem/colagem de várias músicas, emenda e surge a original do Lenine como se tudo levasse a isso.


'Nem sol, nem a lua, nem eu' é daquelas belíssimas que Lenine compõe, lenta, quase sussurrada, com uns uivos caninos ou lupinos no fundo. Entre as participações especiais, Will Calhoun na wave drum (diz que os caras vieram pra gravar uma música e foram fazendo várias) e Xandão na guitarra.


'Caribantu' é só voz e muitas percussões, a cargo do Cambaio (a pós-coisa), seja lá o que for isso, talvez um coletivo de percussão. A Velha Guarda da Mangueira também faz aquele coro bonito.


'Quadro-negro' é mais uma das bonitas, aqui com efeitos eletrônicos (até na voz) e a participação do Marcelo Lobato (Rappa) na bateria, teclados, theremin e vibrafone. "quem vai pagar a conta?/ quem vai lavar a cruz?/ o último a sair do breu/ acende a luz".


Chega a mais bela do disco, 'O silêncio das estrelas', com um arranjo lindo e criativo de cordas, incluindo um recurso arriscado, o glissando (os instrumentos vão subindo/descendo sem escalas nas notas temperadas, dando a impressão de desafinação). "Solidão/ o silêncio das estrelas/ a ilusão/ eu pensei que tinha o mundo em minhas mãos/ como um deus, e amanheço mortal". Termina com uma sanfona bonita, a cargo de Regis Gizavo.


'No pano da jangada' é muito legal, com uma percussão que na verdade são os pés do Lenine na areia e vozes, com vocais dobrados e processados. Viva a tecnologia e a criatividade!


'Rosebud (o verbo e a verba)' é um conto divertido, uma música latina suingada e quebrada. Participação do grupo (acho que é isso) Yerba Buena nas vozes, percussões/bateria e trompete cucaracho.


E o fim é pra cima, a música com participação integral do Living Colour, 'O homem dos olhos de raio X' que, se não me engano, foi música de novela da rede globo, como muitas outras do nosso herói pernambucano quase-carioca. Rock balançado e percussivo.


Ainda faltam alguns do Lenine, não se esqueçam...

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