Neste dia 26 de junho aproveito pra postar um disco do aniversariante Gilberto Gil. Não por acaso, eu também faço aniversário hoje.
Porque provavelmente a coisa se deu assim: em 1970, Gil em Londres, acorda, breakfast, a galera acorda, parabéns!, rolêzinho sob o sol de verão, almoço, volta pra casa, acende um, papelzinho colorido na boca, o som começa a rolar, violões e percussão de leve pra não incomodar a vizinhança britânica.
Lá pelas tantas Gil, que estava curtindo e vendo shows do Pink Floyd e Led Zeppelin, pensa: "pô, queria um guitarrista aqui, mas um que achasse João Gilberto tão genial quanto Hendrix, que gostasse tanto de rock quanto de Tom, Chico e Caetano!". Neste exato momento, Apolo, Dionísio e as 9 Musas atenderam seu pedido: eu nasci.
Bem, talvez não tenha sido exatamente assim...
E, claro, ele não tinha como saber que eu gostaria muito de Gilberto Gil e também de Bob Marley, aliás Robert Nesta Marley.
Que são os co-autores do disco de hoje, onde nosso herói ítalo-baiano recria e interpreta sucessos e nem-tão-sucessos assim do nosso herói jamaicano.
Gil foi bastante fiel aos arranjos originais, mexendo um tiquinho aqui e ali, sempre com sua voz deixando as músicas com a sua cara. Ele inclusive faz no encarte um paralelo entre Bob e Luiz Gonzaga.
'Buffalo soldier' é fiel ao original com alguns metais fazendo a diferença. Também uns floreios de voz do Gilberto, uma modulação e um canto africano ao fim.
'One drop' traz as vozes das I-Three (Rita Marley, Marcia Griffiths & Judy Mowatt), trazendo uma cor tipicamente jamaicana à canção, que traz aqui como diferença um banjo a cargo de Setrgio Chiavazzoli.
"I know JAH'd never let us down"
'Waiting in vain' é mais uma bem fiel, com aquele tecladinho magrinho e tudo. Aqui o mesmo Sergio faz um cavaquinho discreto, principalmente no clima sambinha no final.
'Table tennis table', a única inédita original do disco, tem Liminha ao baixo, que na maioria das músicas traz Arthur Maia. Aqui também tem o Ramiro Mussoto na percussão, já resenhado aqui pela amiga Andréa.
'Three little birds' ficou bem íntima, com violãozinho de fogueira e triângulo surpreendendo na percussão. Aqui a sanfoninha deixa o clima mais forró.
'Não chore mais (no woman no cry)' já havia sido gravada por Gil, numa versão de sucesso e que, pelo menos pra mim, foi o rpimeiro contato com o Bob. Aqui a regravação é reverente, mas traz um arranjo de cordas na primeira parte acústica, ficando mais adocicada. No meio o arranjo muda e entra o reggae com tudo, tocado aqui pelos Paralamas do Sucesso com o Tom Capone. Maneiro. Com solo do Herbert Vianna.
'Positive vibrations' é sensacional, aqui com força e vigor, lembrando que positividade não tem nada de fraco. Tem até um guitarra cítara fazendo uns detalhes.
'Could you be loved' traz um arranjo bem fiel mas com músicos convidados de alto calibre: Sly Dunbar na batera, Robbie Shakespeare no baixo, Samuel Rosa e Henrique Portugal do Skank. No meio tem um trechinho bem curto e no final um pouco maior lembrando que estamos com Sly & Robbie, mestres do Dub drum'n'bass.
'Kaya N'Gan Daya (Kaya)' vem em versão em inglês/português com cara brazuca, já iniciada pelo berimbau chamando pra curtição. No meio se converte em português, com uma letra malandra sobre a erva conhecida:
"Eu posso ver
o sol aparecer
sobre a chuva que cai
tão bom rever
a tribo, o fumacê
do cachimbo da paz
(e muito mais)"
Pra quem não sabe o que é Kaya, sempre vale uma googlada.
Em outros tempos pré-lei proibindo o fumo em ambiente fechados, festas no Pampo em Itacoatiara/Niterói/RJ, sempre recomendavam "se for fumar kaya na praia"...
'Rebel Music' é mais uma das fiéis e reverentes ao mestre do reggae.
'Them belly full (but we hungry)' traz de novo a presença luxuosa dos Paralamas, agora com João Fera tb. Versão seca e precisa, como deve ser uma música sobre fome. Com abordagem positiva, sempre:
"We're gonna dance to JAH music, dance
Forget your troubles and dance
Forget your sorrow and dance
Forget your sickness and dance
Them belly full but we hungry
A hungry mob is an angry mob"
'Tempo só (time will tell)', uma das minhas preferidas, traz outra versão inglês/português, mais lírica, calminha, cheia de espaços e barulinhos. Engraçado o Gil ter uma música paralela ao tema, 'Tempo Rei'.
''Time alone, oh! time will tell
you think you're in heaven, but you're living in hell"
'Easy skankin'' tb é bem fiel, tranquila e easy. Tem uma guitarrinha com filtros, discreta, pelo meio da música.
'Turn your lights down low' traz aquele clima romântico bonito, excelente pra dançar juntinho, se é que isto ainda se pratica...Solinho de sanfona de Cícero Assis.
'Eleve-se alto ao céu (lively up yourself)' é cantada em português somente. Mais uma legal, disco acabando. Solinho de guitarra mais nervoso, talvez do Tom Capone.
'Lick samba' termina em alto astral transformando o que não era samba no próprio, característico do Recôncavo baiano, aqui com a voz especial de Rita Marley e percussões variadas.
Valeu Bob, valeu Gil.
Agora eu vou ali acender (ou apagar) minhas velinhas...
Dão! Parabéns!
ResponderExcluirEsse cd é uma delícia e o post tá a sua cara!
See you soon.
[ANDRÉA]
Eu lembro da gente falando sobre isso na festa do Paul/Carol! bjs (Dão)
ResponderExcluirParabéns Dão! O aniversariante foi você, mas quem ganhou um resenha ótima foram todos nós...vou escutar esse CD hoje a noite!
ResponderExcluirPaul