sexta-feira, 24 de junho de 2011

New Wave à brasileira (Magazine, 1984)



Em qualquer compêndio ou boa enciclopédia de rock/pop, ao pesquisar o verbete “Magazine” você encontrará: “banda formada por Howard Devoto logo após sua saída dos Buzzcocks, em 1976. O primeiro trabalho do conjunto é o LP Real life”. Sobre o Magazine brazuca, nada. No máximo, alguma nota de rodapé.


O relativo esquecimento do “nosso” Magazine é uma injustiça que poderia (deveria) ser reparada. A banda, capitaneada pelo DJ/VJ/agitador cultural multiuso Kid Vinil, é importante representante da chamada “new wave” brasileira. Em comum com o xará britânico, nosso Magazine também é oriundo de uma conceituada banda punk, o Verminose. O quarteto (além de Vinil, Ted Gaz na guitarra, Lu Stopa no baixo e Trinkão na bateria) fez sua estréia oficial em 1983, na cena paulistana.


Magazine, o álbum de estréia do grupo (1984), é um primor. Tosco, rude, bruto, de uma simplicidade franciscana. A partir da capa (uma homenagem bem-humorada ao movimento new wave, no auge da moda no Brasil naquele momento), o recado é claro: rock simples, sem grandes concessões ou pretensões. Poucos acordes e muita alegria. Simples assim.


O disco abre com “Adivinhão”, um rockabilly à brasileira de pouco mais de três minutos de duração. “Você anda namorando a minha filha com segunda intenção/você anda namorando a minha filha pra poder botar a mão/o teu negócio é andar de lambreta, quando fala em casamento você faz careta”. Hilário.


O disco segue com “Pau na marginal” (rachas num fim-de-semana qualquer em Sampa), “Não” (popzinho inspirado em Paul Anka), “Meu bem Lollipop” (mais um som cinquentista), “Tô sabendo” (“eu sei que você sabe que eu não sei que você sabe que eu sei”, alucinante) e por aí vai.


O grande momento, claro, é o hit da banda. “Sou boy” foi das faixas mais tocadas na época e rendeu bons “fruto$” para o grupo – chegou a ser usada em comercial da GM. A canção, hino dos boys de todas as gerações, narra as aventuras/desventuras durante um dia na vida de um office-boy:


Acordo 7 Horas tomo o ônibus Lotado
Entro 8 e meia, eu chego sempre atrasado
sou boy, eu sou boy, sou boy
boy, sou boy

Atento 8 e Meia eu tenho que bater cartão
Mal piso na firma tem serviço de montão
eu sou boy, eu sou boy, eu sou boy
boy, eu sou boy

Ando pela rua pago conta pego fila
Vou tirar xerox e batalho algumas pila
sou boy, eu sou boy, eu sou boy
boy, eu sou boy

Na hora do almoço a minha fome é de Leão
Abro a marmita e o que vejo? Feijão!
Chega o fim do mês com toda aquela euforia
Todos ganham bem e eu aquela micharia
Sou boy, eu sou boy, eu sou boy
eu sou boy

E logo chega a tarde estou com pressa de ir embora
Meus pés estão doendo e meus calos estão pra fora
Sou boy, eu sou boy, eu sou boy
boy, eu sou boy

Bate 5 e meia a Sé tem filas infinitas
ônibus lotado e cai da mala minha marmita
Sou boy,eu sou boy, eu sou boy...
boy, eu sou boy

Na hora do almoço a minha fome é de Leão
Abro a marmita, e o que vejo? Feijão!
Chega o fim do mês com toda aquela euforia
Todos ganham bem e eu aquela micharia
Sou boy, eu sou boy, eu sou boy
eu sou boy”


O sucesso foi imediato e fugaz. O Magazine apareceu em todos os grandes programas de auditório, tocou no Fantástico, deu shows de Norte a Sul, fez abertura de novela global (“Comeu”, versão de uma canção menor de Caetano Veloso) e, depois, sumiu. A fórmula estava esgotada (ou ultrapassada, talvez). A marca do Magazine, porém, estava assegurada.


Kid Vinil continuou na cena cultural brasileira, teve programa na MTV e volta e meia aparece em algum evento rock´n´roll. Em meados dos anos noventa, trombei com ele na entrada de um show dos Ramones em São Paulo (“Kid, você pode arranjar para a gente uns ingressos do show?”). Mas essa é outra história...


[XAMPU]

5 comentários:

  1. A vantagem deste processo é que eu garanto o direito a postar o primeiro comentário... ;)

    Muito boa a lembrança, xampa! mas confesso que, além de Eus Sou Boy, não lembro de mais nada aqui.. [M]

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  2. Excelente lembrança, Xampu!
    Nesse ano vi um show particular do Kid Vinil na festa de 40 anos do meu primo em Sampa. Continua hiper-carismático...figuraça!
    [Paul]

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  3. tem as colunas dele no yahoo: http://colunistas.yahoo.net/colunistas/2/index.html
    a música podia ser regravada como 'sou motoboy'. (Dão)

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  4. E depois ainda veio: Isso me da um tic tic nervoso, tic tic nervoso.
    LM

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  5. O cara disse tudo um grupo sem frecura chegava e cantavam!!!!e pronto sem fazer ofensas mandaram ver no cenario do Rock Nacional 80 e 90/

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