Sim, condensei os três volumes numa resenha só. Desde já devo admitir que não teria a paciência e a dedicação do Dão para fazer uma resenha por disco, o que teria sido, talvez, mais justo com a obra (tampouco vou colocar uma tag para cada artista, sinto muito! Se alguém quiser, fique à vontade...). Aliás, louve-se a dedicação de nosso yogi metal, ele tem mantido o blogue respirando, e, não menos importante, respirando ares diversos com a ampliação da lista de artistas e estilos representados. Talvez tenha se assustado quando alguém fez aquela continha (não fui eu!) mostrando que, no ritmo que estávamos há uns três meses atrás, demoraríamos uns 25 anos para chegar nos 1001...
O projeto Songbook deve-se ao saudoso prof. Almir Chediak, que fez um esforço único e muito bem-vindo para publicar a obra de vários dos mais importantes compositores da MPB, no formato de partituras cifradas para violão. A lista é realmente extensa e não vou tirar da gaveta, que tá sem chave, qualquer um pode abrir. O legal é que o projeto derivou para a gravação do repertório desses (acho que nem todos...) artistas em outras vozes, também representativas da nossa música. Isso tira um pouco o ar de coletânea desta coletânea, que talvez devêssemos chamar de gravatânea, enquanto não aparecer um nome melhor.
Aparentemente a única divisão nos três volumes é que o volume dois concentra mais o pessoal (então) do rock: Kid Abelha, Paralamas, Barão, Cássia Eller, Erasmo... Ainda que Gal Costa e Leila Pinheiro compareçam neste volume, para quebrar o clima. Nossa rainha Rita Lee abre magistralmente este volume com uma versão stoniana do Punk da Periferia, canta como se fosse ela mesma da freguesia do ó, uó-ó-ó-ó! Aqui pra vocês! Mostra com a música do Gil é antenada e como ele é capaz de enxergar seu próprio universo no universo do outro.
Outro ponto alto é a versão de Alceu Valença para Extra II (o Rock do Segurança). De novo, a adequação do intérprete à canção é perfeita! Alceu tem um pouco daquela deliciosa e elegante malícia do Raul... Acho mesmo que é o que mais se aproxima dele no quesito, e se ele quisesse realmente entraria sem o segurança ver. Na época me parece que ele estava gravando o seu Sete Desejos, não vou conferir a data, mas o arranjo lembra muito a sensacional versão que ele (e Paulo Rafael, que toca um violão magistralmente essencial) fez para Respeita Januário, do Mestre Lua, Gonzagão. O Barão Vermelho executa a sensacional canção do exílio Back in Bahia, com a competência rock’n’roll da época pré-Êxtase. Enquanto as outras duas (principalmente a segunda) fogem um pouco das originais, Frejat e sua turma preferem uma versão de mais respeito com a original, mas cheia de toques pessoais.
Deste volume, são as três melhores. Apesar de pouco inspirada, também gosto dos Paralamas refazendo Refazenda (uma versão Os Grãos), meio falada, meio eletrônica... É que esses caras até quando são ruins são bons, haja classe! Apesar de pop e melosa demais pro meu gosto, Esotérico ficou bonitinha com Kid Abelha, enquanto que o Erasmo também manda bem em Pessoa Nefasta. Cássia Eller escolhe a difícil Oriente, canção bem intimista, executada com seu talento típico. Decepcionam: Jorge Ben com uma infeliz versão W/Brasil para Palco, Gal numa inadequadamente afetada Se Eu Quiser Falar com Deus, enquanto que a melhor música do Gil, Realce, recebe, surpreendentemente, um tratamento lamentável de Eduardo Dusek e Sandra de Sá.
Diferente do anterior, os volumes um e três espalham as possibilidades da obra de Gilberto Gil. Tim Maia lhe dá Aquele Abraço, e com ele, o Rio de Janeiro continua ainda mais lindo... Ângela Rô Rô é a voz certa para Deixar Você iiiiirrrrrrr... Elba Ramalho e Dominguinhos cantam De Onde Vem o Baião, e Beth Carvalho sintoniza a Mancada daquele que bebeu o dinheiro da escola que estava reservado para o tamborim. Chico Buarque, Ney Matogrosso e Gal Costa ficam um pouco abaixo do esperado, enquanto que Djavan simplesmente arrasa numa interpretação lindamente apaixonada de Drão.
Aliás, Djavan retorna também no volume três, com outra interpretação magnífica. Se antes, ele se apoiou no formato banda, aqui ele lamenta sozinho com seu violão as agruras do caipira em Lamento Sertanejo. Gosto também da maneira com João Bosco reinventou o Expresso 2222, música que já é perfeita, numa versão ousadamente distinta da original. Gosto do Copo Vazio, por Zizi Possi (que está longe de ser das minhas cantoras favoritas) muito bem acompanhada pelo violão bossa’n’roll de Hélio Delmiro. Também ficou bonita a versão de Roda com Verônica Sabino e Carlos Lyra, enquanto que Jorge Mautner e Nelson Jacobina executam uma gostosa Andar com Fé, assim como fazem Moraes Moreira e seu (então) menino, Davi Moraes, com a Procissão. Caetano decepciona com uma versão voz e violão para Super-Homem a Canção, como se estivesse envergonhado e com pressa de terminar a confissão, enquanto que Paulinho da Viola faz o que se poderia esperar dele, numa canção que eu desconheço a original: Felicidade Vem Depois.
Mas o ponto alto mesmo deste volume, quiçá da coleção toda, é o Domingo no Parque na voz de Margareth Menezes, acompanhada pelo albino Hermeto Pascoal na sanfona, que também assina o arranjo. Margareth, que é uma incógnita quando penso no seu repertório próprio, transitando num limbo situado entre a axé music e outros gêneros, mostra aqui (e também na versão de O Que é Que a Baiana Tem?, do Songbook do Caymmi) que com outro repertório sua história poderia ser bem diferente, porque voz ela tem de sobra.
Completam os volumes A Cor do Som, Victor Biglione (acompanhando Leila Pinheiro, num interessante versão de Divino Maravilhoso), Emílio Santiago, Geraldo Azevedo, Leny Andrade, Fafá de Belém, Nana Caymmi, Francis Hime e Flávio Venturini. Alguns destes não me chamam a atenção o suficiente para fazer comentários. Assim, preferi me ater ao que mais gosto (ou ao que mais me incomoda, em alguns casos).
É claro que, num projeto destes, a menos que você seja muito bem treinado no exercício da tolerância elástica, nem tudo vai lhe agradar. Não sei se intencionalmente, mas o espectro de intérpretes escolhidos é amplo e com este, alargam-se também as idéias sobre o repertório, arranjos, execução... É difícil gostar de tudo, e eu não gosto, algumas canções acho que ficaram péssimas (por exemplo, o assassinato que Lobão comete em Tempo Rei, uma versão de banheiro, mas não de chuveiro), outras duvidosas e algumas são muito fora da minha praia (Leny e Nana, por exemplo), não me sinto à vontade para comentar. De qualquer forma, o projeto é excepcionalmente bem sucedido ao mostrar o quanto a música de Gil é ampla e universal. Um brinde ao Almir Chediak!
[M]
Ótima idéia de fazer uma só indicação. Imagina no caso do Caymmi e Tom Jobim? cada qual com mais de meia dúzia de volumes. De longe, Djavan em Lamento Sertanejo e Zizi Possi em Copo Vazio, são as melhores de todos. Zizi Possi fez escolhas cafonas na carreira, mas essa interpetação, somada à de Terezinha no Ópera do Malandro é revisita sempre essencial. (ZEBA)
ResponderExcluirexcelente, Mateus! como diria uma facção criminosa, 'tá tudo dominado, o blog é nosso!'. pena q não dá pra contar como 3 resenhas, assim o pessoal da patrulha anti-Lenine parava de reclamar...como faço aniversário junto com o ex-ministro Gil, domingo vem mais um dele! (Dão)
ResponderExcluirps: vc tem o songbook do Caymmi? achei q vc não gostava do Velho Baiano.
ps2: a Zizi Posi tb tem uma versão muito legal de 'a paz', procure e ouça q vc vai gostar.
Inclusive já indiquei aqui um "Gal, canta Caymmi". Disco essencial, vou aqui em casa colocar neste momento. (ZEBA)
ResponderExcluirIsso. E viva as coletaneas! Daqui a pouco vai rolar ateh um Maus Momentos, A Arte De...
ResponderExcluirEu gostaria de bater no Gênio que colocou o nome do album de songbook. Procuro esse album (SONGBOOK VOLUME 2)em todo lugar mas só encontro SONGBOOKS.
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