quarta-feira, 15 de junho de 2011

Big bang, Paralamas do Sucesso



Aproveitando que comprei (e estou devorando) o 'Vamo batê lata', biografia do Paralamas pelo Jamari França - do excelente blog Jam Sessions do ogloboonline, da qual tirei muitas informações aqui expostas, vamos a mais um dos caras.

Durante a gravação, a banda inventou e divulgou que o disco se chamaria 'Rumo ao planeta ovo' e a imprensa caiu e divulgou.

Agora um septeto, com tecladista e naipe de metais, é um disco que aproveita essas possibilidades sonoras.



Inicia com o sacolejante xaxado 'Perplexo', levada pelo baterista João Barone quebrando tudo, além dos sopros mostrando a cara com vigor, incluindo um solo de trompete a cargo de Demétrio Bezerra no finzinho. Fala da perplexidade da população diante dos planos furados do governo (Cruzado 1 e 2), apesar da nova Constituição ("fim da censura, do dinheiro/ muda nome, corta zero/ entra na fila de outra fila pra pagar"). E a incredulidade e a disposição de luta, claro: "Não penso mais no futuro/ é tudo imprevisível/ posso morrer de vergonha/ mas eu ainda estou vivo/ eu vou lutar/ eu sou Maguila, não sou Tyson". No fim, Maguila foi à lona e elegemos Collor...



'Dos restos', co-autoria com Liminha, já traz uma guitarrona poderosa num riff maneiríssimo e ainda a resistência e a perplexidade: "Pra essa nova moral oportunista/ eu me viro e digo não", "Será que eu existo?/ será que não?/ surgem novas criaturas/ novos pontos de interrogação". Tem um solinho rápido no meio, harmonizado e criativo.

Coladinha (muito legal quando as músicas ficam mixadas assim!) já entra 'Pólvora', reggae rápido quase ska bombando com todo mundo sincronizadíssimo, além de uma das melhores letras de Mr Vianna, que aqui cita o título do disco ("as teorias que explicam o universo"). Dá aquela subida de tom no meio e acaba sensacional!



Diminuindo o ritmo vem a new bossa (obrigado, Jamari!) 'Nebulosa do amor', linda e intimista, depois coerentemente regravada no 'Acústico'. Cuíca de Armando Marçal dialogando com o naipe de metais.



'Vulcão dub' é uma instrumental arrasa quarteirão, com metais solando e alternando as luzes entre si. HUUUU!



'Se você me quer' começa diferente e quase acústica, pandeiro e violões, quase um samba, com pitadas de música sertaneja, vai crescendo a massa sonora no meio.

"Se você me quer eu te quero

se não eu não me desespero

afinal eu respiro por meus próprios meios

afinal eu vivo enquanto espero"



'Rabicho do cachorro rabugento' é no estilo 'Melô do marinheiro', reggae repente com bateria usando timbres eletrônicos, engraçadinho, cantado por Bi Ribeiro (canal esquerdo) e João Barone (canal direito). A música volta ao fim, com o nome 'Cachorro na feira'.



'Esqueça o que te disseram' é mais uma influenciada pela ju ju music africana, que já tinha gerado 'Alagados', com a qual inclusive é parecida. Vocais quase de lambada...

"É preciso sangue frio pra ver

que o sangue é quente

e que vai ser diferente"



'Lanterna dos afogados' é uma das mais belas canções do Herbert, belos arpejos, imagens ambíguas, podendo ser um local físico ou emocional. Foi uma das primeiras que eu notei (deve haver outras) que era afinada meio tom abaixo, o que facilita o trabalho sincronizado com os metais, em geral nos tons transpostos de Eb ou Bb. Alterna um belo solo de flugelhorn com um matador de guitarra por Mestre Vianna. Talvez uma das últimas geradas das infelicidades amorosas com Paula Toller (momento Caras...).



'Bang bang', reggae típico com bons riffs de metais, tenso, quando um bala perdida que matasse um jovem ainda era notícia. Hoje deixou de ser, pela freqüência e banalidade.

'Mas naquele dia até Deus se escondeu

não quis ouvir pedidos de socorro

a voz da razão sumiu

quando a polícia civil subiu o morro"



'Lá em algum lugar' é mais uma romântica, lentinha meio motel, bela e discreta guitarra, com o saxofone safado de George Israel (Kid Abelha).

"Eu sei que em algum lugar ficou uma luz acesa

no escuro desse amor que se apagou

a luz que um dia brilhou só existe num canto do coração"



'Jubiabá', versão do folclórico baiano Jerônimo para 'Give me the things', completa o excelente repertório do discaço. Animada e acelerada, quase um axé music.



Do release poético de lançamento, pelo então titã Arnaldo Antunes, trechos:

"O pé que dança decodifica melhor o recado.

As misturas rítmicas (África Londres Caribe Bahia Mangueira Kingston) se dão com uma naturalidade orgânica. Os contrastes já não são a meta, mas a matéria prima.

Entre a bossa a roça.

Entre a fossa e a troça.

Banalidade para pensar: 'Pode ser exatamente o que eu digo/e também pode não".

Profundidade para dançar: 'O que é tudo isso diante da pólvora?/(Dessa paixão que se renova)'.

Novos pontos de interrogação."



Na seqüência vêm mais discos dos Paralamas, além de pitacos complementares e secundários nos já postados da banda.

2 comentários:

  1. Esse é o disco do Léo! Disco maravilhoso por sinal, da melhor banda dos anos 80, acho que o meu favorito da turma do Vital, sei não... Me lembra muito certo endereço próximo da antiga rodoviária na Princesa d'Oeste, o juniors 303... [M]

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  2. É um bom disco. Mas, considerando a obra completa dos caras, ele ficaria em 5º. ZEBA

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