sábado, 25 de junho de 2011

Claridade, Clara Nunes (1975)



Esse blog está quase chegando ao nº 200 e me dei conta de que estávamos cometendo uma falha grave, com a ausência de uma das maiores cantoras brasileiras: a guerreira Clara Nunes. Nesse sentido, o presente post tem como missão primordial preencher essa lacuna. Dentre os 15 discos de estúdios, optei por Claridade, de 1975, porque, por um lado, conta com um repertório de primeira, aliado ainda ao sensacional bandolim de Joel Nascimento e excelentes arranjos; enquanto, por outro lado, me faz retornar à minha infância quando escutava essas canções na vitrola da minha mãe no Rio de Janeiro.


Demonstrando sua predileção por compositores da Portela, Claridade abre em grande estilo com “O Mar Serenou”, de Candeia. Trata-se de uma interpretação magnífica de uma canção que marcou um estilo, canção até hoje relembrada nas melhores rodas de samba. O mar serenou, quando ela pisou, na areia,...Quem samba na beira do mar, é sereia... Com seu vestido branco, Clara Nunes certamente é a melhor imagem dessa canção.


“O Sofrimento de quem Ama”, de Alberto Lonato, e “Tudo é ilusão”, de Éden Silva e Raul Moreno, (5ª canção do disco) demonstram que além de grande intérprete, Clara Nunes é rainha na arte de transmitir alegria e esperança com temas tristes.

Iansã cadê Ogum...foi pro mar... Sua influência de temas afro (esteve várias vezes na África) atinge o apogeu em “Deusa dos Orixás”, de Romildo e Toninho, uma maravilhosa canção em que se misturam elementos do samba e do candomblé. Para apreciar a verdadeira Deusa dos orixás, vale a pena ver essa apresentação: htAdicionar vídeotp://www.youtube.com/watch?v=82n6dZ74F3c (que ainda emenda na próxima música).


Pausa para respirar: com toda garra e afinação, Clara Nunes dá ao clássico da música brasileira "Juízo Final”, de Nelson Cavaquinho e Élcio Soares, a sua interpretação definitiva. É o juízo final, a história do bem e do mal...quero ter olhos pra ver a maldade desaparecer... Música para arrepiar...


Se o lado A do vinil fecha em ritmo mais lento e triste com “Valsa de Realejo” , o lado B compensa abrindo com um samba de primeira de João Nogueira e Paulo César Pinheiro (seu marido a partir dessa época). Para de beber, compadre...Meu compadre deixa disso...Larga essa mulher de lado...Lembra do teu compromisso.


Candeia volta a ser cantado em “O Último Bloco”: E hoje volto cantando...me abraço ao violão...e marco o compasso junto do coração. Outra jóia rara desse disco.


Depois de outro samba em alto astral com “Ninguém tem que achar ruim”, de Ismael Silva, Clara Nunes diminui o ritmo para lembrar que “Às Vezes Faz Bem Chorar”, de Ivor Lancelotti, e antecipa o clima de despedida com “Vai Amor” (Monarco/W.Rosa):

Não chore por favor...Porque um bom perdedor não chora Reconhece a derrota se dirige a porta...Abre, diz adeus e vai-se embora.


E para fechar no maior estilo e sem espaço para rancor, Clara emenda “Que Seja Bem Feliz” de Cartola: Que seja bem feliz...E leve-me na mente... Que cresçam suas glórias...E as minhas lágrimas contentes.


Nem sempre a qualidade combina com vendagem, mas até nisso esse disco surpreendeu, ultrapassando a marca de 600 mil cópias vendidas, numa “Clara” demonstração de que tem muita gente de bom gosto. Foi o primeiro de uma cantora – mulher – que ultrapassou essa marca.


Em 1983, após conplicações decorrentes da anastesia em uma aparentemente inofensiva cirurgia de varizes, Clara Nunes deixou esse mundo que conhecemos. Como diria a própria Clara Nunes em “Tudo é Ilusão”, nada dura eternamente...


Felizmente deixou obras como esse disco para que a voz dela continue ecoando nos nossos corações.


[Paul]

3 comentários:

  1. AGORA SIM! FINALMENTE, ESSE BLOG ATINGIU A MAIORIDADE E FEZ JUSTIÇA. Poderia mesmo, apagar tudo o que foi feito e começar com essa. UMA DEUSA, em ambos os sentidos.

    Me permita uma daptação pessoal, Paulinho: "me faz retornar à minha infância quando escutava essas canções na vitrola da minha mãe" em Salvador.

    É preciso apenas acrescentar que nada mais, nada menos que Paulo Cesar Pinheiro foi seu marido.

    Depois dessa, vou fazer um esforço hercúleo e indicar algo do maridão seriamente. Sem zoação.

    ZEBA.

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  2. Bem vinda. Só achei sacanagem Clara Nunes aparecer e nao ter sido vc, Zeba, a ter feito. Há outros. Benito de Paula, Wando. Nao vacile, nao, pq a galera esta com sede de resenhas.

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  3. Zeba...essa informação (sobre o marido)já está no post sim, no 6º parágrafo (que começa com "Se o Lado A..."). Confira

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