sexta-feira, 10 de junho de 2011

Enquanto a Bomba Atômica não cai (Gil, Luar - 1981)



Bem, este disco tem 30 anos... Uau! Eu conheci este disco com uns 14 ou 15 anos, minha mãe tinha um namorado que comprava simplesmente tudo de “mpb”, e a coleção dele morava lá em casa...


Imagino que as gerações mais novas possam encontrar um som datado, típico de uma época específica, preso num lócus temporal qualquer. De certa forma isso é correto. Eu não sabia, mas o encarte da edição lançada recentemente em cd revela que Gil preparava uma retirada da cena musical em busca de uma “vida monástica”. Para esta despedida, Gil queria um som mais contemporâneo (em 1981, lembre-se) e chamou Lincoln Olivetti e uma 'tecladeira infernal', o que dá às músicas um ar mais ‘disco’.


Começando do fim, Se Eu Quiser Falar com Deus era uma música destinada ao Rei Roberto, que não gravou, e a gente entende, a letra é agnóstica e panteísta e não menciona JC. Minha professora de português nos passou essa música para analisar na sexta série, isso na escola salesiana, de padre até a medula. Dona Leda, uma silenciosa revolucionária era excelente professora, pena que lecionava a mais chata das disciplinas. Dona Leda nos mostrou a canção com Elis Regina, sua versão definitiva.


Em Sonho Molhado, Gil chama a sanfona do parceiro Dominguinhos, e já aparece aqui uma das características da sua música: síntese. Baião-reggae-disco com a sanfona do Domingos e os teclados de Lincoln. Outros bons momentos são a semi-balada Lente do Amor, que foi trilha sonora de seriado na globo nos anos 80, a caetânica Cara a Cara, que com arranjo exibido aqui poderia muito bem ter sido gravado pelas Frenéticas.


Tomar pé / Na maré desse verão / Esperar pelo entardecer / Mergulhar / Na profunda sensação / De gozar / Desse bom viver...


Assim começa Cores Vivas, pérola perdida do repertório de Gil, mais uma música-síntese, plena de melodias, poesia simples, zen como o cinema transcendental do mano Caetano, cores da pena de pavão...


Mas este é o disco que consagrou Palco, que seria assim como uma música de despedida. Em grande estilo, convenhamos, um cesto de alegrias de quintal. Sutilmente iniciada com um assovio sintetizado, logo entra a seção arrebatadora de sopros, guitarras dedilhadas a la Andy Summers, e


papapa papaia! pa pa pa páia, pa pa pa papá!

Fogo eterno pra afugentar / o inferno pra outro lugar

Fogo eterno pra consumir / o inferno fora daqui!


Caetano cantou a Lua de São Jorge, lua deslumbrante, azul verdejante cauda de pavão. Afinal: a lua é dos poetas. E então, para Gil,


Do Luar... / do luar não há mais nada a dizer / a não ser / que a gente precisa ver o luar...


Gil canta menos com as palavras que com as lindas melodias que cria. Tanto que a palavra gênio aqui soaria até inadequada, dada a fluência natural de suas canções. Aliás, o Luar de Gil me fez entender porque eu gosto tanto do Cinema transcendental postado outro dia: é um dos discos do Caetano que mais se parece com o som do Gil...


[M]

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. tem link pra download? procurei em loja mas tá esgotado na gravadora...

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  3. Gil e Caetano são sagrados. Eles não conseguem lançar um disco que não seja bom. Refazenda, Refavela, Luar, etc. Bicho, Muito, Jóia, Transa, Cinema Transcendental, Cores Nomes, Outras Palavras, etc. Cada um melhor do que o outro.
    Muito obrigado pelo seu blog e licença que vou ouvir A Gente Precisa Ver o Luar.

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