sexta-feira, 10 de junho de 2011

Corpo de Energia Racional. Puro, Limpo e Perfeito (Tim Maia,Racional v. 1 - 1975)



De certa forma esta é uma experiência gospel de Tim Maia. Dito com mais precisão: uma experiência gospel a la Tim Maia. Não que o rei brasileiro da alma precisasse de motivação extra para soltar a voz (bem, não no início dos anos 70 pelo menos...).


A história é mais ou menos conhecida. Tim leu o livro e entrou na onda da imunização racional. Gravou o(s) disco(s, há um volume dois), se desentendeu com o movimento, ficou puto, recolheu o material, sumiu com as fitas mestre e deu origem ao LP mais cult da história da música brasileira. Até o relançamento do disco em cd (restauração feita partir do vinil!), só uma meia dúzia de gato pingado tinha o disco. Destes, dois não tinham agulha, três tinham agulha, mas não tocavam com medo de riscar o disco. O outro gato emprestou pruma antiga namorada e o disco ficou escondido numa coleção heterogênea que incluía Trini López, Quiet Riot e Luiz Caldas.


O disco todo é muito bom. Abstraia o tom de pastor pregando na praça. O som é o que interessa. Iniciando com o (quase-)mantra Imunização Racional, uh uh uh, que beleza!, passando pelo confessionário em Bom-Senso, uma sensacional canção de expurgos dos pecados e pelas mais “evangélicas” Leia o Livro Universo em Desencanto, Contacto com o Mundo Racional, até a apoteótica Rational Culture.


Impressiona no disco, a unidade sonora em torno do tema central e maneira em que se equilibram nos arranjos as baladas e as levadas mais balançantes. Ouso dizer que em nenhum dos três (maravilhosos) discos anteriores ele havia conseguido esta estranha harmonia. Este é que me parece ser o ar gospel do disco. Tim Maia celebra.


Até a banda está extremamente envolvida no projeto. Será que ele converteu alguém? Prefiro imaginar, que esta conversão tenha sido apenas no sentido musical... Afinal, fechando o disco, um balanço hipnoticamente irresistível com levadas de guitarras fuzz e wah-wah (para converter o Dão), teclados, palmas e a costumeira ginga na cozinha, quando Tim canta:


We are gonna rule the world, don’t you know, don’t know...


A única coisa que me vem à cabeça, aos pés, aos quadris e ao coração é:


Yes sir! And will follow you faithfully!


[M]

Um comentário:

  1. Depois do último Lenine as coisas deram uma melhorada por aqui: Djavan, Gil e Tim.

    Minha mãe, por uma época, comprou os livros sobre um tal "universo em desencanto", mais ou menos por essa época. Lí a biografia do Tim e não pude concluir se era a mesma coisa que os Racionais. ZEBA.

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