Há alguns meses, a revista Playboy, deu provas concretas da
decadência que atinge todo o grupo Abril ao tentar, com críticos de própria editora, oriundos de publicações medíocres como a Veja ou Contigo, elaborar
uma lista do que seriam os 10 piores discos nacionais, e citou, juntamente com artistas
renomados, os Tribalistas. Certamente a intenção devia ser polemizar, mas
certamente nem isso conseguiu diante da baixa qualidade dos textos e da falta
de conhecimento dos seus “críticos”. Dentro de um cenário de axé music,
sertanejo universitário e outros estilos que tocam por ai que não apareceram, citar como pior
nomes como Milton Nascimento, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Rita Lee e o
próprio Tribalistas soa como algo completamente ridículo.
Mas deixando as polêmicas de lado, ou até mesmo para reforçá-las,
acho que esse disco merece sim aparecer em lista, mas certamente entre os
melhores. Está certo que a superexposição de algumas canções na época do
lançamento (incluídas em trilhas sonoras de novelas), acabou desgastando-as,
mas nada que desmerecesse esse trabalho que, do meu modo de ver é, antes de
tudo, resultado de uma sintonia natural entre três grandes artistas em um
momento único da carreira de cada um.
Produzido pela própria Marisa Monte (que novamente caprichou
no encarte, contemplando cifras) e contando ainda com participação Dadi
Carvalho, Cézar Mendes e Margareth Menezes entre outros, o disco inicia com um
sonoro Bom dia Comunidade na voz de
Arnaldo Antunes em “Carnavália”, uma verdadeira canção abre-alas, na qual se
sobressai o perfeito casamento vocal entre Marisa Monte e Arnaldo Antunes,
levados por uma percussão de Carlinhos Brown que parece feita sob medida para o
disco: Vamos pra avenida ...Desfilar a
vida...Carnavalizar.
As duas canções seguintes (“Um a Um” e “Velha Infância”) são
baladas que estouraram nas rádios na época do lançamento e de tanto tocarem,
acabaram cansando um pouco. Mas isso não tira o mérito de serem boas canções de
amor.
“Passe em casa” é uma das melhores em minha opinião: música
leve, solta, com uma percussão bem original criada por Carlinhos Brown. É
daquelas músicas que dá gosto em ouvir.
Em “O amor é Feio”, destaca-se o barítono Arnaldo Antunes em
primeiro plano, com arranjo que dá a cara de música infantil, daquelas de boa
qualidade que foram produzidas recentemente.
Depois das canções “É Você” e “Carnalismo”, que possuem a
cara (além da voz) da Marisa Monte e poderiam facilmente ter saído de um de
seus últimos discos (músicas que ultimamente não deixam muita saudade), “Mary Cristo” é praticamente uma doce canção de natal,
ideal para ser ouvida nessa época do ano (dezembro).
...quem está falando é
a fada madrinha. Iniciando com a fala de uma criança, neta de Chico
Buarque, “Anjo da Guarda” é outra que parece música para criança, acompanhada
por uma riqueza de sons e percussão bem criativa. ‘La de longe” vai no mesmo ritmo, transmitindo
aquela suavidade tão predominante na maior parte desse disco, assim como
“Pecado é lhe deixar de molho”, a canção seguinte.
Eu sou de ninguém...eu
sou de todo mundo... e todo mundo é meu também...: “Já sei namorar” é outra
que teve como maior pecado a superexposição na época, com o consequente
desgaste natural. Mas nada que uma quarentena não resolva. Depois de alguns
anos, agora consigo voltar a escutar e, melhor ainda, curtir como ela deve ser.
Sem pretensão e bastante original.
Pé em Deus...e Fé na Taba. O disco encerra com “Tribalistas”, praticamente
uma canção manifesto que consegue transmitir em alto astral a ideia (e a
naturalidade) de como o disco foi concebido. Um resultado de um encontro de
três músicos que estavam em perfeita sintonia no exato momento: dois homens e uma mulher...Arnaldo,
Carlinhos e Zé (apelido da Marisa, decorrente de Marisete).
Como os próprios autores definem,
esse disco foi resultado natural de um encontro sem pretensões na Bahia (para
depois ser gravado no Rio). As músicas foram nascendo com naturalidade, sem
pressões, decorrente de uma sintonia que já se fazia presente nos discos solos
de cada um deles. Trata-se de um momento em que a carreira de cada um deles
convergiu e o disco foi o filho de parto normal. Depois cada um continuou o seu
caminho. Talvez até mesmo o sucesso do disco na época tenha surpreendido-os
também (mais de 1,5 milhão de cópias vendidas em época já com internet).
Como a própria canção que encerra
o disco previu, “o tribalismo é um
antimovimento... que vai se desintegrar no próximo momento”. Percebe-se
que, de cara, o disco era mesmo para ser mesmo um filho único desse encontro de
parceiros musicais.
Quanto às críticas, também
souberam responder com alto estilo no próprio disco, afinal os tribalistas já não querem ter razão...não
querem ter certeza, não querem ter juízo nem religião.
[Paul]
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