sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Fim de ano é época de Noel...



Para fechar o ano, resolvi fazer justiça com um dos grandes artistas da música brasileira que até o momento não foi citado, muito provavelmente porque na sua época não se produzia “discos” tal como conhecemos conceitualmente nos dias de hoje, tornando-se mais conhecido pelas suas composições tão gravadas que por algum disco específico. Trata-se de Noel Rosa.

Como nos anos 20 e 30 as gravações de canções eram esparsas, o disco citado aqui foi lançado primeiramente apenas em 1965 através do Selo MIS, do Museu da Imagem e do Som, que foi criado com o objetivo de resgatar registros de nomes notáveis da música brasileira. Mas foi inteiramente constituído por gravações realizadas entre os anos de 1930 e 1936. Mais recentemente, em 1997, esse mesmo disco foi remasterizado em processo digital, mas suas canções não perderam aquela sonoridade antiga, cuja audição faz lembrar os velhos vinis rodando com seus ruídos característicos. Foi essa versão quefelizmente caiu em minhas mãos, presenteado pela minha mãe, que possui um acervo de discos nacionais espetacular (e a ela que dedico essa resenha).

Seu garçon faça o favor..de me trazer depressa...um boa média que não seja requentada....Quem não conhece “Conversa de Botequim”, que abre o disco? Gravada em 1935 com o Conjunto Nacional, essa canção marcou não só a sua curta carreira, mas sim a história da música nacional a ponto de ser gravada diversas vezes por grandes nomes da MPB, como Chico Buarque, Maria Rita e João Nogueira (provavelmente a versão mais conhecida).

Depois de “João Ninguém” e “Arranjei um Fraseado” (arranjei um fraseado que já trago decorado para quando lhe encontrar...”), vem “Onde está a honestidade”, mais um clássico samba, regravado recentemente pela Paula Toller e pela Orquestra Imperial.

Adepto da boemia, Noel encontra nessa vida a maior inspiração para suas canções, como as seguintes “Provei, (Quem fala mal do amor...não sabe a vida gozar...quem maldiz a própria dor.. tem amo, mas não sabe amar) e “Você vai se quiser” (você vai ser quiser...você vai se quiser...pois a mulher não se deve obrigar a trabalhar...mas não vai dizer depois que você não tem vestido , que o jantar não dá pra dois), ambas gravadas  com Marilia Batista e Benedito Lacerda e seu conjunto.

Antes de completar 20 anos, no final de 1930, gravou “Com que Roupa”, que se tornou um seus maiores clássicos e fez grande muito sucesso no carnaval de 1931. Essa canção foi inspirada na ocasião em que sua mãe escondeu suas roupas na tentativa de impedir mais uma noitada.

Vivendo de trocados que conseguia com as suas composições, mas torrando tudo com bebidas e mulheres, Noel Rosa também transforma sua má relação com dinheiro em temas para músicas bem humoradas em “Quem dá mais?” e “Cordiais Saudações”. Até o lançamento desse disco, a versão de “Cordiais Saudações” aqui gravada estava inédita, já que o próprio Noel tinha classificado-a como “horrível” e rejeitado, para gravar outra com o Bando dos Tangarás. Terminou que essa versão ficou guardada por Almirante, um dos seus principais parceiros, e só foi revelada muito depois de sua morte.

Depois de desfilar seu bom humor com “Mulata Fuzarqueira” e “Coração” (na qual satiriza o tal sangue azul), o disco fecha com “Minha Viola”, canção em que faz uma ponte entre o samba e a legítima música caipira (estilo denominado como “embolada” no disco): Minha viola...tá chorando com razão....por causa duma marvada...que roubou meu coração.

A seleção das músicas nesse disco, por fim, ficou excelente. Mas é claro que com o repertório tão vasto, certamente muitas canções clássicas acabaram ficando de fora, como “Gago Apaixonado”, “Palpite Infeliz” ou ainda “Pra que mentir”. Mas de qualquer forma esse trabalho do MIS merece ser louvado. A se lamentar apenas o fato de que a falta de maiores cuidados com a saúde aliada à boemia acabou levando Noel Rosa muito cedo (com apenas 26 anos em 1937). Certamente ele teria deixado um legado muito maior. Mas o jeito é homenageá-lo da melhor forma: abrindo uma cervejinha e entrando no clima que esse disco consegue trazer.

Para escutar: http://grooveshark.com/#!/album/Noel+Rosa+E+Sua+Turma+Da+Vila/6399202

[Paul]

2 comentários:

  1. Sensacional, Paul!!! Só faltou a piadinha " torrando tudo com bebidas e mulheres", e o resto ele desperdiçou...:) Grande abraço e feliz 2013!!!!

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