domingo, 19 de outubro de 2008

modnoC kcalB (Condom Black - Otto - 2001)





O branco que se pinta de preto, o branco que se emaranha nos sons negros. Esse é o Otto no CONDOM BLACK (2001).

Não dá pra começar a falar do cd sem falar do encarte: é um visual meio vermelho-preto-esfumaçado, meio sex shop, meio demoníaco, meio candomblé, meio cidade do Recife. E com muita inspiração e batuque de primeira, ele transforma essas imagens em música.

As músicas falam também de amor, mas no Condom Black não tem espaço para o amor puro, no Condom Black só cabe o amor carnal, aquele que dilata, aquele que procria.

O cd abre com “Dilata”, música com batida e vocabulário eletrônicos que com o vocal de Luciana Mello e um trompete discreto e delicado dão ao som um suingue e um charme todo especial.

Aí os Orixás começam a entrar em cena em “Anjos do Asfalto”, com o aviso de Exu dizendo que é melhor você se salvar! Música gostosa de ouvir, com um batuque manso e constante. Girando para a próxima, caímos na “Armadura”. O que eu adoro nessa música são as rimas, as palavras não convencionais para contar a busca da felicidade e do amor - “Armadura buracos de fechadura/ não tape mais, mulher/ a tua alma nua”. E sempre com um fundo eletrônico, melodioso, circular.

Aterrissamos em Cuba. Os sopros nessa música dão um sotaque caribenho incrível! Aqui mistura tudo: América do Sul, Caribe, Brasil, Cuba, rap, Xangô, Iemanjá, Papa. Um caldeirão tão familiar pra gente. E Cuba foi o nosso grande amor… A Babilônia e que se tudo aquilo é uma farsa, então disfarça…

Em “Dias de Janeiro”, “Londres”, “Por que” e “Retratista” (minha favorita...) o Otto acalma e volta a falar do amor de uma forma dilacerada, com uma poética maliciosa, quente, musical, ritmada, aérea e com perfume de rosa. Sempre com vozes femininas abafadas, porém muito vivas. É de uma sensibilidade muito masculina essa insistência do Otto em usar vozes femininas na música dele. E isso é uma característica também do “Sem Gravidade”, seu último disco (2003). Ele parece não conseguir falar de amor sem ter a contrapartida da mulher, como num jogo erótico.

O Otto vai pra rua com “Street Cannabis Street” e quando escuto essa música imediatamente me vem à cabeça a versão de um Bob Marley do século XXI, algo ligado ao futuro e que a gente deve perder o medo. É uma celebração de coisas que podem trazer prazer - cannabis, sêmem e as crianças. Tudo isso de uma maneira bem da rua, de sarjeta. Lindo!

E termino aqui falando de “Condom Black”, - resultado de todo o amor que o Otto foi cantando, batucando e nos eletrizando ao longo do cd. De tudo que é gostoso - do pau, do cu e da boceta, alguns dos personagens que habitam nossas vidas e nossas fantasias. E ele dá o último respiro e canta o maior presente: “o filhim” dele com a preta, fruto do amor das misturas: do preto com branco, do eletrônico com batuque, da natureza com a cidade e do homem com a mulher. Isso é o condom black!
[ANDRÉA]

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