segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Papel de Bala Colorido (Por onde andará Stephen Fry? - Zeca Baleiro - 1997)




Há tempos queria escrever algo sobre a música do Zeca Baleiro… O difícil era escolher por onde começar… Resolvi então começar pelo começo, pelo filho mais velho “POR ONDE ANDARÁ STEPHEN FRY? ” (1997). Na verdade acho que tem um outro motivo – eu adoro especialmente algumas músicas desse cd.
E o Zeca tem uma voz deliciosa de ouvir, uma imagem única e criativa de ver e uma poesia pra lá de boa de sonhar…
Ele é um alquimista musical! No seu caldeirão estão os melhores ritmos nordestinos com pitadas de outras influências não só musicais como poéticas.

“O melhor futuro este hoje escuro/o maior desejo da boca é o beijo/ eu não quero ter o tejo me escorrendo das mãos". “Bandeira” chega arrasando com o desencontro de palavras que mais encontradas não poderiam ser! E o violão que de tão manso, te conquista. “Bandeira” te faz parar, te capta por vários canais, entra por todos os poros.
Em seguida vem “Mamãe Oxum”com uma alegria e ingenuidade contagiante! Zeca Baleiro canta junto com Chico César, numa combinação perfeita, sem dizer na percussão de Ramiro Mussoto.

E aí a gente chega numa das minhas favoritas: “Salão de Beleza”. Acho um barato um salão de beleza virar tema de música! Só mesmo a cabeça colorida e aguda do Zeca para escolher o salão de beleza como metáfora para a a nossa busca tão incansável e cotidiana pela beleza (no seu sentido mais amplo). Perfeito!
Ele vai cantando e vem chegando os coros, os bongôs, e o nosso corpo estranhamente começa a entrar em sintonia com aquela linda melodia . "Salão de Beleza” tem uma onda contagiante, faz a cabeça pensar e o corpo dançar! É tão bom…

“Vapor Barato”. Para essa eu fecho os olhos e brindo a existência de Wally Salomão! Tudo é lindo: a letra, a melodia, todas as vozes que já cantaram, todas as viagens viajadas pelas nossas cabeças. Se só existisse o título, já seria uma obra de arte: Vapor barato.
No words.

Outra coisa que me encanta no Zeca Baleiro é a sua curiosidade pelo ser humano (acho que é porque eu também sou bem interessada nesse bicho raro!). Digo isso porque Stephen Fry foi um ator londrino desconhecido que sumiu depois de sua estréia, por ter se achado um fracasso no palco.
Zeca Baleiro leu essa pequena nota no jornal e escreveu “Stephen Fry”. Essa música é tão humana, tão simples e completamente profunda. O que também me toca na poesia e na música do Zeca Baleiro é essa antena que capta essas pequenas estórias e através delas nos permitimos nos emocionar. E o Zeca é um mago para encontrar a beleza nas coisas simples.
E arranjos são delicadamente feitos sob medida para alguém que resolveu trilhar outros paradeiros.

Outra favorita… Tenho várias favoritas! Ainda bem! "Skap”- adoro música onde a presença do violão é marcante.
Depois de um soneto de Shakespeare recitado por Wanderléa, Zeca Baleiro entra discreto, suave, como quem não quer atrapalhar. Essa música é um balé de tão leve, é um caleidoscópio das letras, que em cada fim de frase você tem um desenho diferente - uma surpresa. Os verbos ganham novas vozes e o piano arremata tudo isso com uma magia que arrebata.

“Dodói”! Favorita total também… Com um balanço que não deixa ninguém no sossêgo, Zeca canta um xeque-mate! “Se você não me quer mas eu quero”. Bicho, você não tem saída, porque senão eu piro e aí vou pro Juqueri ou pra Bangú!
Essa é a voz louca de amor, aquela que de tão louca, já tá mansa.
E quem não tem essa voz dentro de si?
[ANDRÉA]

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