sábado, 14 de maio de 2011

Lulu, Lulu Santos



Trago hoje aqui o maior hitmaker pop do Brasil, sua ausência no blog era injustificável.


Escolha pessoal e emocional, lembro como se fosse hoje o primeiro show que vi dele, no ginásio do colégio Salesianos em Santa Rosa (hoje Jardim Icaraí) em Niterói, RJ. Aliás, todos nós temos momentos em que lembramos pro resto da vida onde estávamos (onde vc estava no dia da queda das torres ou do anúncio da morte do Tancredo, por exemplo). É engraçado que os mais marcantes pra mim sejam ligados à música: lembro do dia do assassinato do Lennon (e eu tinha 9 ou 10 anos!) e lembro perfeitamente onde e com quem eu estava, pra onde eu estava olhando e mesmo como o céu estava no momento em que ouvi 'Smells like teen spirit'...

É uma frase batida, mas verdadeira: minha vida mudou ali. PQP, som perfeito, guitarra maravilhosa, luzes, adolescentes lindas (Niterói é pródiga), fumaças, arrepios! Quero ser músico! Quero ser o Lulu! Bom, isso mudou, mas ainda sou muito grato por essa epifania, que inclusive me levou a muitas outras, shows são pra mim o mais próximo de uma religião. E acabei comprando uma Sitar Guitar igual à dele.


Luís Maurício Pragana dos Santos lançou muitos discos e incontáveis sucessos ao longo de sua prolífica carreira, mas esse aqui contem hits dos quais eu gosto muito e alguns são cantados/reinterpretados até hoje, ir a um show dele é cantar quase tudo mais antigo com quase toda a platéia.


Ao disco: o início com 'Casa (o eterno retorno)' já mostra muito do que são as músicas do Lulu: guitarras limpas e lindas com um arpejo criativo, letras narrativas e aqueles refrões ganchudos que normalmente já são cantados em seguida por quem ouve. Linha de baixo pulsante, guitarrinha slide discreta, solo mágico e emocionante com Ebow (afinal mágica é aquilo que feito/executado de um modo pelo qual vc nem sabe como, e eu nem imaginava o que era um Ebow; aliás se vc tb não sabe procura no google, ou melhor, no youtube, pra ver como funciona). Excelente canção com excelente embalagem.


O disco segue bem com uma música atípica para a época: 'Condição' traz uma guitarra mais pesada e é um quase-rap, sendo cantado uma vez por Lulu e na vez seguinte pelo genial baixista niteroense Arthur Maia, que acho que tocava no disco inteiro (não tenho esse disco fisicamente nem achei a ficha técnica na internet). Ainda tem aquela voz com vocoder que seria tão banalizada na música dance dos anos 00. E aquele feedback de guitarra que deve ter ensurdecido alguém no estúdio.


'Minha vida' é uma das músicas da qual eu mais me lembro no show citado, momento auto-biográfico do Lulu, mais um arpejo lindaço e um baixo fretless contribuem pro sonzão da canção. Piegas, mas compensa.


'Pé atrás' não é das conhecidas do Lulu, o que não quer dizer que seja ruim, é uma música bem balançada e balançante com apelo pop, antecipando uma linha um pouco mais brazuca e samba-rock que seria adotada no disco 'Popsambalanço e outras levadas'.


'Um pro outro' também é das clássicas e românticas do nosso ídolo pop, trazendo a característica slide guitar discreta e marcante. Refrão pra galera cantar fechando os zolhinhos..."Nós somos feitos um pro outro, pode crer, por isso é que eu estou aqui".


A música seguinte, 'Twist', é também muito legal, com uma letra estranha e uns harmônicos subliminares. Tem um solinho dialogando com o sax.


'Duplo sentido' é uma das desconhecidas, rápida e quase dispensável.


'Telegrama' diminui o ritmo, parecendo até com algo dos Paralamas mais antigos. Cantada com uma voz mais calma, é uma bela música. Aqui, Luís Maurício, guitarrista subestimado que mostrava todo a veia rock no trio Jacaré, nos brinda com um dos poucos solos com mais notas e bem mais drive.


'Demon' começa com um riff rock e desemboca num reggae cheio de ecos e dubs, e uma letra nonsense em inglês, finalizando com mais um solo dialogando com o saxofone. Interessante e bizarra, um pouco longa demais.


'Ro-que-se-da-ne' fecha o disco com um rock'n'roll rápido e mais uma letra estranha: "o cara fuma bebe e cheira e quer pegar no meu pau"...estranhíssima, aliás. Solo rock'n'roll pegando fogo. "as minas fuma bebe e cheira até passar mal, cheira a noite inteira, fala sem parar". Acho que estive nessa festa...


(Dão)

4 comentários:

  1. Da serie: a resenha eh melhor do que o disco.
    Belo final.

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  2. o final eu acho sempre o mais difícil. mas o disco é bonzão, Luma! só perde pro Tempos modernos. abç

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  3. Capa amarela, neh? O que lancou ele no mercado. Tem o melo do tarado (como uma onda no mar). Eu tinha em vinil. A ele, entao.

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  4. Bom disco! tenho em vinil e nunca encontrei em cd. "Condição" é ótima, "minha vida" constrangedora.

    ZEBA.

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