domingo, 22 de maio de 2011

Vingança, Azul Limão


Voltamos à programação metal e, conseqüentemente, às capas toscas e bizarras...
Entre outras idiossincrasias, o heavy metal é criticado por uma temática de fantasia, castelos, dragões, satanismo etc.
Mas esse disco também traz letras mais contemporâneas e críticas, APESAR da capa acima.

Como cantava a torcida mais gay do Rio 'recordar é viver'.
Representante do metal carioca dos anos 80, esse disco foi gravado em condições 'precárias', mas mesmo assim traz um som razoável (para a época, claro), principalmente o instrumental típico, já que a voz tem uma sonoridade sofrível, principalmente nos momentos 'gritos a Rob Halford', justamente pela provável inexperiência do estúdio em gravar esse tipo de som, aliado ao fatos de que o vocalista (Rodrigo Esteves) não é o Rob Halford nem o Bruce Dickinson e ainda os vocais não terem sido 'dobrados', recurso freqüente que encorpa vozes, principalmente agudos sem punch.

Lembro de vê-los tocar no arcaico Caverna II, 'templo do metal carioca' (depois honradamente substituído pelo Garage), que ficava ao lado do shopping Rio Sul próximo ao Canecão, no Rio de Janeiro, junto com outras bandas daquela época, tais como Calibre 38, Metalmorphose e Dorsal Atlântica (que em breve terá um disco postado aqui). Naquele solão de 40ºC e a galera toda de preto e coturnos...é, o metal não foi feito pro Rio, como desmonstram a ausência freqüente de shows que não mais passam por lá. Também tocavam no Circo Voador às vezes, dividindo inclusive o palco com Robertinho do Recife na sua fase metal e o lendário guitarrista, hoje habitante de Joinville, Celso Blues Boy (que também merece um disco por aqui). Tempos mais tolerantes.

Também lembro de demo-tapes que tocavam na rádio Fluminense FM, nos programas Guitarras e Rock Alive, quando eu e meu irmão Adolpho ficávamos com as fitas K7 a postos para gravar algo inédito e/ou interessante, não necessariamente ao mesmo tempo... O Azul emplacava às vezes 'Johnny voltou' e 'Não vou mais falar', depois regravada para este álbum aqui resenhado.

Antes, chegaram a gravar um compacto para o selo B.B. Records do Billy Bond, no estúdio da Polygram, mas não foi lançado por ser 'muito pesado' para as rádios rock da época, rendendo só uma versão bem gravada de 'Satã clama metal', tocada na programação da Maldita.

Trata-se de um disco curto (acreditem, já existiram discos com menos de 70 minutos, nos tempos do vinil!) e com letras ingênuas. Mas é original, com estilo e garra. E é METAL, porra!

Começa com uma 'Introdução' rápida e emenda em 'As portas da imaginação', que 'não são mais que ilusão'. Música que começa rápida e dá aquela quebrada no meio. Volta a acelerar e tem um belo solo com ótimo som (milagroso!) quase no fim.
'Satã clama metal' é legal, rápida e na adrenalina, mas é quase caricato com a letra típica.
'Sangue frio' é minha preferida, um blues heavy com aquela levada pesada e as convenções típicas. Além disso, a voz é menos gritada, e aí vemos que é bonita. E a letra também é bem melhor:
"Dias e noites passam
E eu sempre a procurar
Alguém que possa ver
Ou entender o que eu vou tocar
Às vezes me sinto só
Ao lado da hipocrisia
Virei um homem de metal
Perdia a noção de gostar
Somos o corte profundo
Luz do sol"
(Tá tudo bem, não é Caetano, mas nem é pra ser, né?)
Tem um solo bem bonito também, sem malabarismo e emocionante, com vocais coletivos fechando bem com os 'ô ô ôs'.
'Fora da lei' é mais um boa música, com intro metal e acelerada depois, e um baixão na cara. Mas a voz parece outra língua, totalmente incompreensível...exceto no refrão. Aqui um solo rápido e legal, mas mixado baixo. Urros e bateção de cabeça!
'Não vou mais falar' é uma das que tocava em rádios, boa música bem canata e tocada, com apelo quase pop e uma letra interessante:
"Não vou mais falar em amor
Pois o ódio se apossou
Não vou mais falar em estrelas
Pois o universo todo se apagou
Só este sonho permanece
Só essa vida me enlouquece
Estou perdido, perdido no espaço
Quero acabar com o meu cansaço
Tudo que eu tenho é rock’n’roll
Pois só ele me dominou
Não vou mais falar em paixão
Estou derrotado, caído no chão"
Ainda se cantava em português o metal nacional. Em inglês, tirando o Sepultura, eu nem ouço.
'O grito' é mais uma no clima blues metal, com um bom riff e mais uma vez a bela voz cantada. No meio tem uma guitarra limpa bonita que caiu muito bem na mixagem. E um solo magistral, dobrado com perfeição, depois espalhado e dialogando pelos canais direito e esquerdo (apesar dos elogios da Andréa, esses aspectos técnicos às vezes são entediantes pra quem não é músico, eu sei).
"Se num mar de estrelas
Nós vamos deitar
Com o mais lindo sonho
Nós vamos sonhar
Ver a liberdade fatigando a mente
Entrando num mundo que tudo é diferente"(sic)

'Você não faz nada' é a menos legal pra mim, mais uma rápida mas com uma letra ainda atual:
"Pra tanta violência basta indiferença de quem pode mudar, de quem pode gritar
E você não faz nada
E você não faz nada "

O disco termina bem, com a acelerada faixa título, onde se ouve melhor a voz e seus gritos em falsete, além do instrumental nítido e o solo de bateria no fim.

A banda, além do vocal citado, tinha os seguintes músicos: Ricardo Martins (bateria), Vinícius Mathias (baixo) e Marcos Dantas (guitarra). Depois Rodrigo foi cantar ópera na Espanha(!!), o baixista também deixa a banda e rola um show de despedida em 1989, sendo que por duas vezes, em visitas do Rodrigo ao Brasil, a banda tocou no Garage. Marcos e André Chamon (baterista do Stress que chegou a tocar com o Azul numa reencarnação mista) formaram o X-Rated, banda de metal que chegou a ter alguma projeção local.

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