terça-feira, 24 de maio de 2011

Abreugrafia (1997)

Liberadas as coletâneas, eis mais uma. Bem, na verdade esta não é exatamente uma coletânea, porque a cantora resolveu regravar novas versões de seus maiores sucessos e adicionou ainda, aqui e ali, canções (na sua voz) inéditas. Se os discos da Fernandinha eram um problema, pois muito irregulares, misturando poucas ótimas canções com alguns momentos simplesmente desprezíveis (bem, Veneno da Lata é acima da média. Da média dela), a solução veio melhor que a encomenda.

Abre com a faixa que dá nome ao disco, Raio X, uma introdução ao projeto musical, como abstract de um artigo científico. Gosto muito também de Aquarela Brasileira que vem em seguida, música que aparece disfarçada de colarzinho na capa do álbum. Em seguida Fernanda apresenta Jacksoul Lenine Brasileiro, convidado que rapidinho se tornaria maior que a anfitriã, grande canção do pernambucano, muito bem acompanhado da carioquíssima sangue bom.

E de olho em Pernambuco, a garota suingue traz Chico Science para o Rio 40 graus, onde ele se sente muitíssimo à vontade, e termina a melhor canção da Fernandinha entoando um único "sô carioca, pô!". Jorge da Capadócia é outra das minhas interpretações favoritas, mas a versão deste disco é muito inferior àquela lançada originalmente junto com Rio 40 Graus, em SLA 2 - Be Sample, disco de... 92? por aí...

Speed Racer não é uma grande canção. Passaria totalmente desapercebida se não fosse o arranjo primoroso e a guitarra limpa e precisa de Fernando Vidal. É o tipo do jantar em que o acompanhamento é melhor que o prato principal. Ponto alto também para Um Amor Um Lugar (do paralama colaborador e amigo Herbert), Veneno da Lata e Kátia Flávia a Godiva do Irajá, hit sem par do amigão e parceiro Fausto Fawcett que recebe aqui uma versão avassaladora.

Fechando o disco,
É Hoje o di-i-aaaa da alegri-i-a-aaaa e a tristeza, nem pode pensar em chegar!


Justo, para um disco tão festivo e inspirado, que representa o melhor de uma cantora que, se não tem aqueeeela voz, tem bom-gosto e sensibilidade suficiente para conceber esta obra-prima, uma das melhores dos anos 90.

Garota sangue quente, suingue, sangue bom!

[M]

Um comentário:

  1. Fernanda Abreu tem os "olhos livres" para o som das metrópoles brasileiras. É interessada nessa muvuca abafada das grandes cidades. Está sempre pinçando o que rola aqui e acolá.
    Acho genial a relação que ela mantém com o funk carioca! Não é uma relação "exótica", é uma relação de completo respeito e mais, ela se sente fazendo parte desse movimento musical urbano.
    Muito bem vinda uma resenha dela no 1001!
    [ANDRÉA]

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