Atrevo-me agora a postar uma resenha em complemento à da nossa querida amiga e infelizmente única mulher a postar por aqui - resenha logo aí embaixo, do disco da Mallu. Não cairei em generalizações ou simplificações, tais como 'mulher é mais sensível', mas é fácil notar que as resenhas da Andréa são lindas e bem diferentes das nossas (homens; se bem que não ponho a mão no fogo por ninguém...). Melhores? Eu acho.
Esse disco do Marcelo Camelo (pra quem acabou de chegar ao Brasil, vocalista e guitarrista da banda 'em suspensão temporária' Los Hermanos) é o primeiro solo dele. Como informação 'Caras', ele faz casal com a Mallu, com participações (e provavelmente influências) recíprocas nos discos uns dos outros.
A primeira curiosidade é o título, que oficialmente é 'Sou', mas olhando-se de ponta cabeça vira 'nós', como fica óbvio na capa. Surgiu de um poema visual do amigo Rodrigo Linhares.
Há um 'cantar baixo, quase sussurrado', como observou o irmão do Marcelo numa resenha aí pela net. Foi ajudado pelo grupo Hurtmold, com gravações ao vivo. Há também participações outras, como Dominguinhos, Clara Sverner, Mallu Magalhães e Domenico Lancelotti.
Há barulhos de mar e crianças entre as músicas e muito espaço nos arranjos, o que me sugere uma respiração mais tranquila, num ambiente praiano.
O disco se aproxima mais da MPB tradicional quase clássica, mas sem sê-lo na totalidade, não é a geração do Camelo, que, assim como eu, foi (ou é?) fã de Bon Jovi...
Foi lançado pelo selo do compositor, Zé Pereira, e distribuído pela Sony/BMG.
O disco começa com 'Teo e a gaivota', que originalmente tinha sido composta para um filme de um amigo. Introdução instrumental longa, Camelo só começa a cantar depois de mais de um minuto. Belo início. Não é um disco que você ache demais de primeira, demora pra perceber, digerir, ouvir detalhes e dinâmicas. No meio a música fica um pouco mais rock, mas depois retorna pra dinâmica mais tranquila. Como de costume, traz versos bonitos e melancólicos: "Todo amor encontra sempre a solidão".
'Tudo passa' quase cita uma música de bossa nova cujo nome esqueci ("eu, você ..."), mas é original e com muitas mudanças e boas ideias. "E até esse pra sempre / Tudo passa". Coincidência esa semana eu ter visto e compartilhado um video onde o fotógrafo fotografou as irmãs por 36 anos, o tempo passa, o que levou a piadinhas infames características, tais como tudo passa, até uva passa...hohoho.
'Passeando' traz um violão de nylon, instrumento não usado na banda antida do Marcelo, mais ligado a uma MPB clássica ou a música instrumental brasileira. Música curta com letra mínima "E lá vai deus sem sequer saber de nós/ saibamos pois / estamos sós".
'Doce solidão' conta com um assovio antes da voz cantando "posso estar só mas sou de todo mundo" (eco tribalista?), mais uma música tranquila e sossegada. E com um piano bonito.
'Janta' é a música que aproximou o casal, depois de Camelo ter 'assediado' (como ele disse) a cantora por emails. Fez a música e convenceu-a a cantar uma parte em inglês. Esta é bem a cara da Mallu, um quase folk com violões de aço e nylon dialogando, assim como os cantores, que alternam as partes no meio. "Pode ser cruel a eternidade".
'Mais tarde' já é um pouco diferente, começa com um tecladinho e o ritmo dá uma pequena levantada, quase rock, com uma guitarra invertida discretíssima no final.
'Menina bordada' continua o fictício lado B mais animado, numa levada com a bateria mais presente e suingada, sendo que no meio se mantém só com belos vocais. Parece feita pra Mallu: "menina bonita bordada de flor / eu vi primeiro / todo o encanto dessa moça / moça por favor / cuida bem de mim".
Dominguinhos aparece tocando a introdução da bela 'Liberdade', que respira e deixa entrar o violão e depois a voz, seguindo assim até o final. "De que vale ser aqui / onde a vida é de sonhar liberdade?". É uma música das mais antigas, que quase entrou no disco '4' dos Los Hermanos. Assim como 'Santa chuva', que já havia sido gravada pela Maria Rita.
'Saudade', 'Santa chuva' e as duas últimas, versões de 'Saudade' e 'Passeando' eu não posso comentar, pois não existe na minha 'versão' do disco (pois é, esse eu baixei e ainda não comprei...).
'Copacabana' é uma marcha-frevo, uma singela homenagem ao bairro, uma música alegre, ou pelo menos tanto quanto um 'quase samba' pode ser, com seus metais típicos.
'Vida doce' é mais uma que começa com violão, mais alegre e com a bateria e vocais bonitos. "Onde você for ó vida me leva / todo sentimento me carrega".
Um belo disco, tranquilo e original. Mas tenho a impressão que quem deveria ter postado esse disco se chama Andréa.
(Dão)
Dão, sua resenha tá super bonita! Gostei porque você achou um tom diferente, mas que ainda continua super teu. É muito legal isso.
ResponderExcluirTô naquela fase gulosa de aquisições cdríferas (fase perigosa para os orçamentos...) e SOU ou NÓS já tá na lista. Beijos.
[ANDRÉA]
ps: a capa desse cd é demais ein?