sexta-feira, 20 de maio de 2011

Sou (ou nós), Marcelo Camelo



Atrevo-me agora a postar uma resenha em complemento à da nossa querida amiga e infelizmente única mulher a postar por aqui - resenha logo aí embaixo, do disco da Mallu. Não cairei em generalizações ou simplificações, tais como 'mulher é mais sensível', mas é fácil notar que as resenhas da Andréa são lindas e bem diferentes das nossas (homens; se bem que não ponho a mão no fogo por ninguém...). Melhores? Eu acho.


Esse disco do Marcelo Camelo (pra quem acabou de chegar ao Brasil, vocalista e guitarrista da banda 'em suspensão temporária' Los Hermanos) é o primeiro solo dele. Como informação 'Caras', ele faz casal com a Mallu, com participações (e provavelmente influências) recíprocas nos discos uns dos outros.


A primeira curiosidade é o título, que oficialmente é 'Sou', mas olhando-se de ponta cabeça vira 'nós', como fica óbvio na capa. Surgiu de um poema visual do amigo Rodrigo Linhares.



Há um 'cantar baixo, quase sussurrado', como observou o irmão do Marcelo numa resenha aí pela net. Foi ajudado pelo grupo Hurtmold, com gravações ao vivo. Há também participações outras, como Dominguinhos, Clara Sverner, Mallu Magalhães e Domenico Lancelotti.

Há barulhos de mar e crianças entre as músicas e muito espaço nos arranjos, o que me sugere uma respiração mais tranquila, num ambiente praiano.

O disco se aproxima mais da MPB tradicional quase clássica, mas sem sê-lo na totalidade, não é a geração do Camelo, que, assim como eu, foi (ou é?) fã de Bon Jovi...

Foi lançado pelo selo do compositor, Zé Pereira, e distribuído pela Sony/BMG.


O disco começa com 'Teo e a gaivota', que originalmente tinha sido composta para um filme de um amigo. Introdução instrumental longa, Camelo só começa a cantar depois de mais de um minuto. Belo início. Não é um disco que você ache demais de primeira, demora pra perceber, digerir, ouvir detalhes e dinâmicas. No meio a música fica um pouco mais rock, mas depois retorna pra dinâmica mais tranquila. Como de costume, traz versos bonitos e melancólicos: "Todo amor encontra sempre a solidão".


'Tudo passa' quase cita uma música de bossa nova cujo nome esqueci ("eu, você ..."), mas é original e com muitas mudanças e boas ideias. "E até esse pra sempre / Tudo passa". Coincidência esa semana eu ter visto e compartilhado um video onde o fotógrafo fotografou as irmãs por 36 anos, o tempo passa, o que levou a piadinhas infames características, tais como tudo passa, até uva passa...hohoho.


'Passeando' traz um violão de nylon, instrumento não usado na banda antida do Marcelo, mais ligado a uma MPB clássica ou a música instrumental brasileira. Música curta com letra mínima "E lá vai deus sem sequer saber de nós/ saibamos pois / estamos sós".


'Doce solidão' conta com um assovio antes da voz cantando "posso estar só mas sou de todo mundo" (eco tribalista?), mais uma música tranquila e sossegada. E com um piano bonito.


'Janta' é a música que aproximou o casal, depois de Camelo ter 'assediado' (como ele disse) a cantora por emails. Fez a música e convenceu-a a cantar uma parte em inglês. Esta é bem a cara da Mallu, um quase folk com violões de aço e nylon dialogando, assim como os cantores, que alternam as partes no meio. "Pode ser cruel a eternidade".


'Mais tarde' já é um pouco diferente, começa com um tecladinho e o ritmo dá uma pequena levantada, quase rock, com uma guitarra invertida discretíssima no final.


'Menina bordada' continua o fictício lado B mais animado, numa levada com a bateria mais presente e suingada, sendo que no meio se mantém só com belos vocais. Parece feita pra Mallu: "menina bonita bordada de flor / eu vi primeiro / todo o encanto dessa moça / moça por favor / cuida bem de mim".


Dominguinhos aparece tocando a introdução da bela 'Liberdade', que respira e deixa entrar o violão e depois a voz, seguindo assim até o final. "De que vale ser aqui / onde a vida é de sonhar liberdade?". É uma música das mais antigas, que quase entrou no disco '4' dos Los Hermanos. Assim como 'Santa chuva', que já havia sido gravada pela Maria Rita.


'Saudade', 'Santa chuva' e as duas últimas, versões de 'Saudade' e 'Passeando' eu não posso comentar, pois não existe na minha 'versão' do disco (pois é, esse eu baixei e ainda não comprei...).


'Copacabana' é uma marcha-frevo, uma singela homenagem ao bairro, uma música alegre, ou pelo menos tanto quanto um 'quase samba' pode ser, com seus metais típicos.


'Vida doce' é mais uma que começa com violão, mais alegre e com a bateria e vocais bonitos. "Onde você for ó vida me leva / todo sentimento me carrega".


Um belo disco, tranquilo e original. Mas tenho a impressão que quem deveria ter postado esse disco se chama Andréa.

(Dão)

Um comentário:

  1. Dão, sua resenha tá super bonita! Gostei porque você achou um tom diferente, mas que ainda continua super teu. É muito legal isso.
    Tô naquela fase gulosa de aquisições cdríferas (fase perigosa para os orçamentos...) e SOU ou NÓS já tá na lista. Beijos.
    [ANDRÉA]
    ps: a capa desse cd é demais ein?

    ResponderExcluir