sábado, 27 de setembro de 2008

Porque hoje é sábado... (Tom, Vinícius, Toquinho e Miucha ao vivo no Canecão - 1977)


Esse é um dos poucos discos nacionais que teve a honra de ser incluído da publicação que serviu de inspiração para esse blog, e só isso seria já motivo suficiente para sua inclusão. Mas com pouco espaço, as suas inúmeras qualidades não foram suficientemente analisadas naquela lista.
Trata-se da gravação em 1977 do show no Canecão (casa de espetáculo famosa no Rio de Janeiro), que reuniu quatro gigantes da bossa nova em um momento de total sintonia, difícil de ocorrer em ocasiões semelhantes.
Começa em ritmo eletrizante com “Estamos Aí”, emendando com a entrada de Vinícius de Moraes recitando a sensacional “Dia da Criação”, porque hoje é sábado.... Confesso que naturalmente sou avesso a poesias em show de música e, mas dessa vez, o poeta acertou totalmente o tom. Em seguida, partem para uma “Tarde em Itapuã”, composição da parceria Toquinho/Vinícius que dispensa apresentação, emendando com “Gente Humilde” (Toquinho).
Em seguida, duas canções em uma: “Carta ao Tom” e “Carta do Tom”, uma espécie de brincadeira entre esses amigos que retratavam em carta ao distante Tom, como a cidade havia mudado:
“Lembra que tempo feliz, ai que saudade, Ipanema era só felicidadeEra como se o amor doesse em pazNossa famosa garota nem sabiaA que ponto a cidade turvaria este Rio de amor que se perdeu”
O disco segue com um cantinho e um violão do Tom Jobim interpretando o clássico “Corcovado”, canção que serviu de inspiração para batizarem, justamente diga-se de passagem, o aeroporto internacional do Rio de Janeiro de Maestro Antonio Carlos Jobim, emendando com “Wave”, cujo disco original foi o primeiro citado no presente blog..
Em seguida, Miúcha entra no palco para dar o toque feminino ao show, com a versão que se tornou definitiva de “Pela Luz dos Olhos Teus”, em interpretação dupla com Tom.
No momento certo, o ritmo diminui com “Saia do Caminho” e “Samba pra Vinícius”, mais uma homenagem de Miúcha e Toquinho ao poeta.
Mesmo com toda a fama, com toda a Brahma, com toda a cama, com toda a lama, o quarteto segue com “Vai Levando”, de Chico Buarque e Caetano (outro dois monstros sagrados que acabaram, dessa forma, também contribuindo para esse disco).
Na seqüência, “Água de Beber” é outra que dispensa comentários, seguida da mais famosa canção composta em mesa de bar por amigos inspirados pela beleza de uma garota que passa. “Garota de Ipanema” foi eleita a 14ª canção essencial da música brasileira pela revista Bravo recentemente e deveria ser matéria obrigatória no ensino fundamental. Nessa interpretação, há inserções de lembranças do Vinícius da garota vestida de normalista que olhava e sorria pra eles... por causa do amor...
Depois de “Sei lá”, mais um momento de pura inspiração da parceria Toquinho/Vinícius com frases lapidares como a hora do sim é um descuido do não. Genial.
Se você quer ser minha namorada..., o show segue em um momento romântico com mais uma bela interpretação da Miúcha com “Minha Namorada”.
Como se não bastasse, o disco finaliza com “Chega de Saudade” (eleita 4ª canção essencial da música brasileira pela Bravo), pois há menos peixinhos a nadar no mar do que os beijinhos que eu darei na sua boca, complementando com “Se todos fossem igual a você” e um bis de “Estamos Aí”.
Pessoalmente, esse disco me traz recordações da infância, pois lembro que minha irmã, mais velha, escutava-o sem parar e eu, sem a capacidade de absorver totalmente a magia que representava naquela idade, ironizava o “dia da criação” com todos os sentidos do sábado. Felizmente, depois de um tempo passei a valorizar esse disco que hoje ocupa lugar especial na prateleira. Tudo isso porque hoje é sábado.
[PAUL]

3 comentários:

  1. Esse disco é realmente emocionante. Me lembra muito meu padrinho, já falecido, que morava no Rio, adorava Vinícius e foi nesse show. Pra quem viu o documentário sobre Vinícius, meu padrinho foi a pessoa mais parecida com Vinícius que eu conheci.
    Luiz Marcelo

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  2. Vinícius me lembra muito Salvador, Arembepe e o litoral norte baiano, pois passeávamos muito com meus pais ouvindo-o.
    E cresci com "a referência" da música, chegando a chorar no dia de sua morte e cada vez fico mais vidrado em sua música e poesia.
    AD

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  3. É "corcovado" ou "samba do avião" que inspirou o novo nome do galeão?Em todo caso muito boa a resenha.

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