terça-feira, 18 de outubro de 2011

Nem que seja pela última vez...



“Invisível DJ” , de 2007, foi o último disco do Ira! com a sua formação clássica. Trata-se de um disco que passou batido, sem ter músicas tocadas nas rádios (fora poucas exceções) e até mesmo sem merecer maior destaque por parte dos fãs da banda, cuja maior preocupação, logo em seguida, recaia sobre o futuro da banda, que enfrentou sua maior crise com a briga grave do Nasi com o irmão empresário e o restante da banda.

Mais além de ter sido o último disco, também marcou um período em que o próprio formato de venda já apresentava fortes sinais de crise, já que passou a ser mais fácil baixar na internet qualquer disco do que compra-lo em lojas especializadas.

Nesse cenário, eu como um fã, comprei o disco assim que foi lançado antes mesmo de ouvir qualquer música (e quando a banda ainda estava aparentemente unida), sem esperar muita coisa, mas me surpreendi com a qualidade do som.

O disco abre com a canção que batizou o trabalho, com a guitarra do canhoto Edgard Scandurra a toda velocidade descrevendo a dura rotina de uma funcionária que pega 4 ônibus por dia embalada pelo som do dj das rádios.

Em “Sem Saber pra Onde Ir”, na única composição do Nasi nesse disco, o vocalista já dava os sinais dos seus próximos passos:

Eu não vou continuar aqui sozinho
esperando você vir
tenho que continuar, a minha estrada prosseguir
sem saber aonde ir

O ritmo muda em “Eu vou Tentar”, uma levada mais sossegada de Rodrigo Koala em que os sinais do fim e da saudade continuam em evidência:

Hoje eu saio cedo
Sem saber se vou voltar
Caminho entre os carros
Deixo a rua me levar
Vou ser feliz
Longe daqui

(...)

Eu vou tentar fazer você feliz...nem que seja pela última vez.

Em seguida, “Mariana foi pro Mar” narra a vida de uma garota que ao enfrentar uma crise conjugal, deu a volta por cima ao melhor estilo. Trata-se de uma das canções mais divertidas desse disco e com som de fácil audição. Agrada a gregos e troianos.

O rock volta a toda em “Não basta o Perdão”, novamente com a temática da separação e da crise conjugal:

é o desafio, meu bem
eis a questão
é preciso o amor não basta o perdão

Depois de uma espécie de blues em “Culto de Amor”, o Ira! resgata uma canção da década de 1970 de Walter Franco, uma espécie de músico da vanguarda paulistana, com “Feito Gente”. Pra mim, esse é o ponto alto do disco, uma letra que parece escrita sob medida para a voz do Nasi:

Feito gente, feito fase.
Eu te amei, como pude.
Fui inteiro, fui metade.
Eu te amei, como pude
.

O disco segue com “Tudo de Mim” e “Universo dos seus Olhos”, para emendar com mais uma feliz parceria do Scandurra com Arnaldo Antunes em “A Saga”, ao melhor estilo do Ira! Sonzeira...

caindo, cai
descalço, vai
na beira da calçada

olhando, vê
assiste a quê
anda atrás de nada

catando lixo,
correndo o risco,
fazendo arruaça

chutando lata,
xingando placa,
fazendo ameaça
passa, passa

No final, a temática muda, abrindo espaço primeiramente para a crítica política em “O Candidato”, ainda que não muito inspirada (acho o ponto fraco desse disco) para fechar com a excelente “La Luna Llena”, cuja letra em espanhol casa bem com o tom revolucionário:

Déjenos un gran legado
De amor y resistencia
Tenemos siempre una nueva manera
De olvidar los sentimientos
Y el ódio y la ganancia
Se apoderan de nosotros
La guerra no escucha la canción
La guerra no tiene educación
No te da las buenas tardes
Buenas noches
Buenos dias
Fuego en su corazón
Y la luna está triste
Porque mira lo que hacemos
Aqui

Enfim ,trata-se do último suspiro do Ira! Meses após o lançamento desse disco ocorreu uma série briga que, a princípio, separou para sempre Nasi dos demais, deixando órfãos todos os fãs de longa data dessa banda. Felizmente deixaram como herança uma vasta obra com som marcante que continuará sendo escutada. E Invisível DJ certamente serviu para fechar com chave de ouro essa fase. Quem sabe com as voltas que o mundo dá eles não resolvem voltar a nos brindar com trabalhos desse calibre...Nem que seja pela última vez.

Para escutar o disco: http://grooveshark.com/#/album/Invisivel+Dj/3480309

[Paul]

PS: confesso que só depois de escrever (mas antes de postar) vi que o Mateus postou outro disco do Ira! recentemente...legal, serve com um diálogo.

Um comentário:

  1. A capa ein? A combinação da mosca com a palavra invisível é genial.
    [ANDRÉA]

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