sábado, 22 de outubro de 2011

Adriana Calcanhoto, Enguiço, 1990


Esse blog está com aproximadamente 200 discos resenhados e percebi que está faltando, entre outros, pelo menos um trabalho da Adriana Calcanhoto. Visando reparar essa injustiça, resolvi postar um CD dela, optando justamente pelo primeiro: Enguiço, lançado em 1990.

Muito conhecida hoje por trabalhos autorais, já que nos últimos CDs a maioria das canções são de autoria própria, nesse primeiro disco ela optou por priorizar seu lado intérprete, ainda que também tenha músicas próprias, como “Enguiço” (que deu nome ao disco) e “Mortaes”.

Embora eu goste muito de suas composições que certamente contribuíram para consolidar sua carreira nesses mais de vinte anos, esse primeiro disco acabou ficando marcado por algumas interpretações de canções de outros músicos, mas que com a voz e arranjos dela, adquiriram vida própria.

Eu hoje ando atrás de algo impressionante... Que me mate de susto... Um impulso...Um rompante...

Depois de iniciar com a citada “Enguiço”, ao som de uma banda de metais (saxofones, trumpetes, trombones, etc), vem “Naquela Estação”, bela canção de João Donato, Caetano Veloso e Ronaldo Bastos que tocou muito nas rádios na época e serviu para apresentar Adriana Calcanhoto ao público:

e o meu coração embora...finja fazer mil viagens...fica batendo parado naquela estação..

Em seguida, ela transformou completamente a canção do Roberto e Erasmo “Caminhoneiro” (cuja original eu particularmente não gostava). Com novo arranjo e uma voz límpida, o resultado ficou muito bom. Em seguida, fez a mesma coisa com “Sonífera Ilha”, desacelerando completamente a conhecida música dos Titãs, incluindo cordas e empregando à canção um novo sentido.

Disseram que voltei americanizada... Com o burro do dinheiro, que estou muito rica...Que não suporto mais o breque de um pandeiro...Que fico arrepiada ouvindo uma cuíca...

Ao interpretar velha canção de Luiz Peixoto e Vicente Paiva feita para Carmen Miranda, quando retornou ao Brasil após sua primeira viagem aos Estados Unidos, Adriana Calcanhoto consegue outro belo resultado.

Meu bem o azar foi seu...eu ganhei o carnaval....porque você perdeu...e me perdeu...

Na sequência, Calcanhoto desfila seu “Orgulho de um Sambista”, de Gilson de Souza numa suave canção de amor de carnaval.

Nunca... em que o mundo caia sobre mim...Nem se Deus mandar nem mesmo assim...As pazes contigo eu farei....

Fiel às suas origens (ainda que hoje seja, antes de tudo, uma cantora brasileira), ela ainda inclui no repertório “Nunca”, de Lupicínio Rodrigues, o mais clássico compositor gaúcho, novamente acompanhada por instrumentos de cordas que valorizam sua voz.

Depois de “Pão Doce” de Carlos Sandroni, que conta com a participação do também gaúcho Renato Borghetti (Borghettinho) e de “Mortaes”, a segunda música autoria própria nesse seu primeiro disco, ela finaliza com a bem humorada “Injuriado” de Eduardo Dusek, acelerando o ritmo, dando boa demonstração de sua versatilidade.

Quando voltei foi então que pude constatar
Que não adianta fazer nada
Pra essa coisa melhorar
E então melhorei!...

Desde o lançamento desse disco, Calcanhoto (que também desenvolve excelentes trabalhos paralelos como Adriana Partimpim) vem consolidando cada vez mais sua carreira e hoje é, certamente uma das cantoras e compositoras brasileiras mais versáteis. E embora discos posteriores dela possam ser considerados até melhores, Enguiço serviu como cartão de visita de uma intérprete que concilia suavidade com personalidade. Felizmente para nós, ela seguiu atrás de algo impressionante.

[Paul]

PS: para escutar algumas músicas desse disco:

http://grooveshark.com/#/playlist/Adriana+Calcanhoto+Engui+o/62137616

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