quarta-feira, 21 de novembro de 2012
Bebel Gilberto - Tanto tempo
Este cd é um dos que também comparece no livro original ( '1001 discos para ouvir antes de morrer', se você ainda não sabe...), fato plenamente justificável diante do apelo internacional da obra.
Na época original e muito bem sacado, misturando bossa nova, mpb e música eletrônica num clima lounge, hoje em dia parece diluído, mas sempre é bom lembrar que esta aparência se deve aos muitos imitadores, incluindo muitas coletâneas e clones. Aqui nesse disco se criou esse estilo, facilmente reconhecido hoje mundialmente, chame-se de bossa eletrônica, lounge acústico, new bossa ou whatever... Fácil dizer que ela se apropriou de estilos e 'só' misturou, como se a música popular não fosse exatamente isso. Além de tudo ela o fez com extremo bom gosto e capricho, o que resultou em um tremendo sucesso internacional de vendas (mais de 2,5 milhões de discos vendidos) e de exposição (participando de muitas trilhas de filmes - 'Closer', 'Next stop wonderland' entre outros - e séries de TV - 'Sex and the city', 'Six feet under', entre outros).
O disco é agradabilíssimo, e isto obviamente não é um defeito, as canções seguem fluindo num clima calmo e cool, sem maiores sobressaltos nem surpresas estilísticas.
Misturando composições próprias e clássicos, às vezes nem tão clássicos assim, da bossa nova, o disco tem a cara da sua criadora.
Então vamos às músicas:
Samba da benção é uma escolha arriscada, diante das muitas versões, inclusive a consagrada pelos próprios autores (Vinícius de Moraes/Baden Powell), mas a novidade vem pela programação e clima, já com todos os elementos que fizeram do disco um sucesso. E o que é clássico pela qualidade nunca deixa de ser novidade.
"É melhor ser alegre que ser triste
A alegria é a melhor coisa que existe
(...)
Mas pra fazer um samba com beleza
é preciso um bocado de tristeza"
August day song (Bebel/Nina Miranda/Chris Franck) não tem programação, sendo mais orgânica sem fugir do clima, mais uma bela. Os co-autores, cantora e músico são do grupo Smoke City, seguidores dessa new bossa.
Tanto tempo (Bebel Gilbert/Suba) começa lembrando muito a bossa nova clássica, com cordas e violão, bem lenta, contendo um sample de 'Amor de carnaval' (Gilberto Gil), poderia estar num disco do pai dela, João...
Sem contenção (Bebel/G Arling/R Cameron) traz o internacional Celso Fonseca no violão, além do percussionista João Parahyba, que aparecem em várias faixas além dessa. Belas vozes, mais agitadinha mesmo sem bateria, deve ter alguns remixes por aí, existe mesmo um 'Tanto tempo remixes'...
Mais feliz (Bebel/Dé/Cazuza) é das antigas, com os 'barões', mais uma linda, onde o próprio Dé toca violão e baixo, nem sei se já tinha sido gravada pelo Barão, alguém aí sabe?
''o nosso amor não vai parar de rolar
de fugir e seguir como um rio
(...)
o nosso amor não vai olhar para trás,
desencantar nem ser tema de livro
(..)
rimas fáceis, calafrios,
fura o dedo, faz um pacto comigo
num segundo, teu, no meu,
por um segundo mais feliz"
Alguém (Bebel/Suba/Béco Dranoff) é mais uma calminha e bonitinha. Com participação especiailíssima de mestre Marcos Suzano na percussão.
So nice (Summer samba) já é das mais tocadas, tanto na versão original quanto nessa aqui, mais 'muderna', mas ainda fiel à original. De autoria dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle com Norman Gimbel (talvez responsável pela tradução), é daquelas típicas da bossa nova, calma, plácida, remetendo àquele ambiente praiano. Ambiência é tudo por aqui...
Lonely (Bebel/Roberto Garza) foi a primeira que eu ouvi, através do saudoso emule, achei muito legal, calma sem ser chata, leve sem ser sem graça, teclados e vozes bem colocadas, tem até percussão de Carlinhos Brown! Produção by Thievery Corporation & Bebel Gilberto.
Por falar em produção, ela é bem variada, incluindo Amon Tobin, Suba (principal produtor), Chris Franck & Nina Miranda (Smoke City), Mario Caldato Jr e até o João Donato, que co-produz a próxima, Bananeira (João Donato/Gilberto Gil).
Essa música minha filha adorava ouvir, então eu tive que ouvir obsessivamente 'de novo, de novo, de novo', quem tem filho entende...É uma versão da música do João Donato, que não é tão legal. Aliás, por falar nele, ninguém vai postar 'A Bad Donato'????
Aqui no disco da Bebel ele é responsável pelo arranjo e pelo Fender Rhodes, um piano elétrico. Além dele a equipe é luxuosa: Robertinho Silva (bateria e percussão), Jorge Helder (baixo), Vitor Santos (trombone), Ricardo Pontes (sax alto), Jessé Sadock (trompete) e Henrique Band (sax barítono).
Samba e amor (Chico Buarque de Holanda) é uma excelente surpresa, minimalista, só voz e violão pelo Celso Fonseca. Linda, mas acho que ela imitou meu arranjo de 1998...
Close your eyes é a última, uma das poucas de autoria do Suba, junto com Patricia Ermel/Dinho Ouro Preto/Bebel Gilberto/ Béco Dranoff, uma das que ouvi primeiro via emule (que saudade!). Arranjo mais cheio, muita percussão, sopros bonitos, é um disco de extremo bom gosto e delicadeza(ui).
E esta é a nota final triste desse disco: o produtor, compositor e músico sérvio radicado no Brasil Suba, na verdade Mitar Subotic, morreu durante a produção do disco, por causa de um incêndio no estúdio de seu apartamento, onde ao tentar recuperar parte do material gravado, inalou muita fumaça. Literalmente, deu a vida pela arte.
Além deste canto do cisne, produziu Edgar Scandurra (Benzina, que em breve aparecerá por aqui), Mestre Ambrósio, Marina Lima, Arnaldo Antunes, Dinho Ouro Preto e Edson Cordeiro.
Descanse em Paz.
Lembro aqui que este não é o primeiro disco da Bebel, ela, além de participação nos discos 'Pirlimpimpim' e 'Saltimbancos', em 1986 lançou um EP (extended play) auto-intitulado, que continha 'Preciso dizer que te amo', parceria com Cazuza, que infelizmente ela ainda não gravou nessa nova fase.
(Dão)
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