Dia desses estava viajando numa muita improvável de conversar
com Mick Jagger (já que ele gosta
tanto do Brasil e de seus prazeres, thanx Zé pelo fantástico clipe em Paraty, She’s the Boss...) e é óbvio que para
manter a atenção de um popstar dessa
envergadura eu teria que fazer uma pergunta inteligente, e bem, eu pensei em
algo como “lá por volta de 65, quando vocês fizeram Satisfaction vocês tinham ideia exata de para onde estavam indo, isto
é, imaginavam que pouco depois estariam gravando coisas como JJFlash, Gimme Shelter, Honky Tonk,
ou estavam simplesmente na estrada, curtindo a paisagem e sem muita preocupação
sobre aonde ela ia dar?”
Ok, fim de papo, perdi a chance de conversar com um ídolo
(tem uma história do meu sobrinho que encontrou Jimmy Page no Rio, bem, é um tanto desastrada e longa e fica pra
próxima), ele pede licença e vai atender o telefone. E o que tem isso a ver com
a Rita Lee? Bem, ela já deve ter tido
o mesmo dilema, não? E o pior: deve ter alguma vez, de fato, conversado com
ele. E eu sonhei com a Rita Lee esses
dias também. Ela faria um show aqui em Curitiba, perto de São José dos Pinhais,
acho que no banhado onde resolveram fazer o Lupaluna. E no meu sonho eu
conversava com ela. E ela me perguntava o que eu queria ouvir no show, e eu fui
um desastre porque eu pedi Cowboy Fora da
Lei. Bem, pelo menos ela me deu um beijo na boca. E o melhor é que a Rita que
me beijou foi a loira desta capa aí, de 1970, e não aquela ruiva que armou
barraco na Alagoas.
Ah sim: o disco. Tô enrolando porque o disco é fraco. Apesar
do capricho nos arranjos, a coleção de canções deixa muito a desejar. Se não
fosse da Rita Lee, seria um disco
destinado ao total esquecimento, seu valor é meramente histórico (talvez esteja
exagerando, depois veremos, mas, pô, é Rita
Lee, hoje a gente sabe que ela pode mais...). Na teoria é o primeiro disco
da nossa rainha. Na prática é um disco de férias dos Mutantes. Ao que parece estavam testando o potencial comercial do
nome, da marca Rita Lee. Ainda
insistiriam anos mais tarde com Hoje é o
Primeiro Dia do Resto de Sua Vida, até que finalmente saiu um dia aquele
que é, de fato, o primeiro disco solo da Rita, livre dos Mutantes e com a
semente do Tutti-Frutti (que é o
primeiro lançado, porque o primeiro gravado foi o Cilibrinas do Éden, disco que nunca saiu, bem, isso é outra
história e eu pra variar me desvio, me desvio...).
É tão de férias que Sérgio
Dias Batista não se interessou pelo projeto e sai de férias pra valer. Na
falta de Serginho quem chamaram para assumir a guitarra? Lanny Gordin! Puta que o pariu, que luxo... E o fato é que talvez a
presença deste constrangeu um pouco os outros a ponto de levarem o projeto mais
a sério do que talvez o fosse com o irmão/cunhado. E o que Lanny traz pro disco
é de primeiríssima linha. Seus fraseados salvam, por exemplo, a fraquíssima Tempo Nublado. Os destaques do disco são
2, ou talvez 2 1/2 músicas... José é
uma versão de Nara Leão para une chanson
française (Joseph de Georges Moustaki),
que ficou interessante. Um tango chamado Prisioneira
do Amor talvez em outro contexto ficasse mais agradável, e a faixa de
abertura adverte: Sucesso Aqui Vou Eu
(demorou quase 10 anos, mas foi), assim como a derradeira, um gospel-rock com ares de jam session: Eu Vou Me Salvar!
Mas onde o disco é bom, ele é muito bom, ele é sensacional:
Hulla-Hulla é uma canção havaiana que
poderia ser a continuação da história daquele astronauta libertado de volta ao
planeta azul. O trabalho instrumental aqui é fundamental, nem consigo me fixar
na letra (pode trocar essa letra pel’O
Pato e nem assim se estraga a música), principalmente o trabalho de Lanny
numa havaianíssima slide guitar, que
não deforma, não tem cheiro e nem solta as tiras, nunca ouvi um lap steel na música brasileira tocada
com tanta maestria...
Aha! Mas espere: não é tudo. Em seguida entra uma versão
avassaladora e definitiva de And I Love
Her (Him) de John e Paul (aqueles lá),
e olhe que pra melhorar uma música dos Beatles
não é pra qualquer um! A versão começa com um movimento rápido de teclado
tocado duas vezes, intervalado pela marcação ritmada do chimbal. Quando Rita entra
cantando o acompanhamento é o piano (e banda ao fundo). Lanny só vai entrar pra
quebrar tudo depois do refrão. Seguindo uma preparação apoteótica a la Mutantes,
ele entra arrastando e abafando as cordas com wah-wah, como naqueles seriados policiais dos anos 70, um som
típico de negão, coisa pouco frequente no repertório dos Mutantes. São só 15 segundos e eu posso ver Steve Austin “correndo” acompanhado por esta guitarra.
Certamente Rita Lee não sabia para onde estava indo quando
fez este disco. E sem dúvida este foi um de seus maiores méritos, e o que
permitiu voos tão ecléticos e experimentais que nos deixaram um legado digno de
admiração e até uma pontinha de inveja.
Rita Lee, um beijo
[M]
Adorei!
ResponderExcluir[ANDRÉA]
Ta ficando constrangedor escrever nesse blog. Muito bom!
ResponderExcluirSo And I Love Her ja justifica a presenca dele aqui. Maravilhosa!
Esse é um caso excepcional em que o post ficou melhor que o disco-tema. Excelente texto!
ResponderExcluirMas sabe que eu até gosto desse disco? Bem...convenhamos, o "disco fraco" da Rita Lee ainda é melhor de muitos outros por aí.
Paul
Muito bom o Blog e o seu texto tambem, ótimo.
ResponderExcluirParabens...
Só falta os links... tem como consegui-los?
Valeuuuu!!!!!!!!
Ou ta todo mundo louco ou eu estou. Não sei se é porque nao se faz mais nada assim atualmente que admiro tanto esse album , mas ao meu ver o disco e absolutamente otimo. De 0 a 10 , a nota seria 10. Não peca em nada , nem na capa.
ResponderExcluirOlá Abrahao...
ResponderExcluirNinguém está muito louco (infelizmente!...). É uma questão de opinião, você gosta do disco, ótimo! continue curtindo... Pessoalmente eu gosto muito das duas músicas citadas, acho que estão entre as melhores que Rita/Mutantes já gravaram, e em relação à estas (e ao que a Rita fez ao longo da carreira), o resto do disco deixa muito a desejar. E isso é só uma opinião! Continue antenado...
[M]
Esse álbum carece de mais análises e comentários. Que bom ter achado este! Concordo em partes, acho que o caráter histórico desse álbum certamente o coloca num local especial; contudo consigo gostar da maioria das faixas. Sinto falta de maiores informações sobre a concepção do Build Up. Até onde localizei ele serviu tanto como um preencher de contrato com gravadora, teste pra o poder do nome Rita Lee (oras grafada Ritta - na versão LP gatefold, que aliás, tenho!), e ainda um álbum de férias dos Mutantes. Sei que ele serviu para um desfile da Rhodia, na FENIT. Sabem onde localizo uma espécie de faixa a faixa deste disco?
ResponderExcluirviagem ao fundo de mim... coisa linda... afff
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