Tem pouca música instrumental por aqui, é um fato.
Decorrente do fato de que realmente há poucos discos de música instrumental interessantes. Há muito exibicionismo, muita encheção de lingüiça e pouca originalidade, além de pouca criatividade e raras composições legais.
Mas, e sempre tem um mas, temos excelentes discos.
E este aqui é um deles.
O Duofel é uma dupla de violonistas (Fernando Melo e Luiz Bueno), daí o nome: dupla formada por Fernando e Luiz.
A princípio em conjunto de baile, depois em bares e casas noturnas, a dupla tocava muito (em freqüência e habilidade), posteriormente passando a suporte da banda de Tetê Espíndola. Inclusive são responsáveis pelo arranjo de 'Escrito nas estrelas' (se isto é um mérito eu realmente não sei...).
Posteriormente passaram a um terreno mais especificamente instrumental, com fortes influências de Egberto Gismonti e do gênio Hermeto Pascoal.
Depois de uns 5 álbuns chegaram a este aqui, onde várias composições próprias homenageiam suas influências e poucas são releituras bem livres e diferentes das originais.
O disco tem 2 versões e as outras são inspiradas em artistas importantes para a dupla.
Procissão (Gilberto Gil) inicia bem, meio etérea com uns instrumentos com arco (acho que são os Zig Zum, seja lá o que for isso), com a melodia fiel, clima de festa meio marcial (como uma procissão, oras...), improvisos no meio, bem legal. Começo bem pra cima!
Os violonistas alternam violões de aço, de nylon e de 12 cordas conforme a música.
Além deles há outros excelentes músicos, como Nenê (bateria), Sylvio Mazzuca Jr (baixo), Michel Freidenson (teclado e piano), Caíto Marcondes (percussão) e Teco Cardoso (flauta e sax soprano).
A música seguinte, Subindo o Tapajós, homenageia Sebastião Tapajós, violonista da 'clássica escola européia e a própria escola brasileira de violão personificada'! Tema bonito, sutil, dinâmica, vc quase consegue ver os caras se olhando e os instrumentos dialogando, música viva, muito longe da chatice instrumental.
Tetê Espíndola, cantora já citada, meio madrinha do duo, é a homenageada da música da vez, Floresta dos Elfos, já que ela havia sugerido o nome Duo Elfos. Gongos, sons de chuva, percussão discreta, tema límpido, bonito de ouvir.
Azul cor de manteiga homenageia o sensacional Hermeto Pascoal, que já trabalhou com os caras no disco 'Kids of Brazil'. Mais um belo tema. Mais caótica, meio pulante, com um pan bem legal, boa pra ouvir com fones ou caixas bem afastados.
Fax para Uakti é pro Uakti, óbvio...Se vc não conhece, deveria (e nós deveríamos botar um disco deles aqui, claro, quem sabe o 'I Ching'). Bem viajante, com uns sons psicodélicos de arco de rabeca, muito legal. Se o Syd Barret estivesse vivo...
Norwegian wood (this bird has flown) é dos Beatles (não conhece? Volte já pra Marte, porra!). Uma releitura ao mesmo tempo fiel e criativa, com improvisos viajantes mas sempre na estrutura consagrada.
O amigo da chuva tem um quê de música indiana, proncipalmente na percussão quase frenética, o que tem a ver com o homenageado Badal Roy, tablista indiano ligado ao free jazz norte americano.
É pra Jards homenageia o Jards Macalé, numa levada meio malandra, cheia de ginga e quebradas, ou melhor, breques.
Boissucanga é o nome de uma praia do litoral norte de São Paulo (muitos cariocas não sabem que há praias lindas por lá, azar o deles; azar não, ignorância), um trio de rock progressivo e o nome da música mais dinâmica por aqui, harmônicos saltitantes em afinações alternativas, um ping pong de violões desenfreados, bateria quebrando tudo e também tocando baixinho jazzy, quebradas e talz...O homenageado é o parceiro do trio de mesmo nome citado, Armando Sinkovitz.
Rock rural e instrumental! Surpresa é sair daquela simplicidade típica e do bucolismo, a música Atenção: lombada é bem animada, mesmo tendo 'só' dois violões de aço pilotados cheios de velocidade e sutileza. Zé Geraldo, o homenageado da vez, foi ajudado pela dupla como músicos e arranjadores no disco 'Caminhos de Minas', onde também tocaram guitarra e baixo.
Jazz à Vienne, nome de um dos maiores festivais de jazz da Europa, homenageia Michel Jules, violinista e compositor francês, que divulgou a dupla. Aqui a música é mais tranqüila, plácida, com um lindo sax soprano, cadências de acordes sofisticados.
Pra terminar um samba maluco, Garoando no Bixiga, com banda mais pesada, levada na frente que te faz mexer, tema insistente e incisivo. Aqui se homenageia a cidade de Sampa, 'muitas vezes quente e romântica, outras tantas caótica e agressiva, mas sempre se renovando', através de seu ilustre filho, a 'figura caricata de Adoniran Barbosa'.
(Dão)
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