sexta-feira, 27 de abril de 2012

Secos e Molhados II, 1974


Antes de tudo, uma luz sobre a cansada controvérsia sobre o Kiss ter copiado nossos heróis brasileiros...
http://whiplash.net/materias/curiosidades/068863-kiss.html

Eu ia postar o primeiro deles, aí fui pesquisar e o caríssimo e distante amigo Xampu já o fizera...

Mas vamos a segundo e também essencial, o último com a formação clássica: João Ricardo, Ney Matogrosso e Gerson Conrad, além dos músicos de apoio Willy Verdaguer, John Flavin, Triana Romero, Rosadas, Emilio Carrero, Norival e Jorge Omar.

Diferentemente do primeiro, com um pé no rock progressivo e no rock'n'roll underground, este aqui é mais acústico e menos ousado.

Tercer Mundo, apesar de ser em espanhol, é de autoria própria (João Ricardo e Julio Cortazar), bem levada latina, típica e bela, pré rótulo world music.

Único sucesso do disco, Flores astrais traz um slide muito legal, esperto e bem legal. Eu conheci a música naquele conhecido ao vivo do RPM...

Não: não digas nada tem uma curiosidade: é co-autoria entre João Ricardo e Fernando Pessoa, provavelmente uma poesia musicada pelo João. Música plácida, violão, voz e flauta.

Medo mulato inicia meio vaudeville com um pianinho, depois acompanhado de ruídos, voz do Ney, flautas, teclados e uma bateria meio percussiva e pontual. Bonita, bem diferente, retomando o tema meio sobrenatural Saramandaia (novela mutcho louca dos anos 70) do Vira.

Oh! Mulher infiel é um tema ousado pros anos 70 (um tempo onde não havia divórcio, acreditem), mas o arranjo é bem tranquilo criando um contraste inusitado.

Vôo já traz um som mais rock com um phaser ou flanger em estéreo bem diferente do som careta do disco...uma gaita complementa a viagem. Muitas vozes harmonizadas.

Angústia é das minhas preferidas, violão marcando o tempo, um clima meio drum'n'bass (cabe até um remix daquele comecinho), vocais dinâmicos, piano suingado, muito muito à frente do seu tempo! Só peca aquele som de guitarra dos anos setenta, fuzz magrinho e espetado, ninguém sabia gravar guitarra distorcida até o Ultraje aparecer...O pan das guitarras é até legal, mas o som é ruim.

O Hierofante (sacerdote supremo dos mistérios antigos do Egito e da Grécia, 1001br tb é cultura!) é uma das mais rock'n'roll daqui, guitarras na cara, é mais uma de co-autoria poéticas (João Ricardo e Oswald de Andrade), vocais divertidos e múltiplos em estéreo (aconselho ouvir com fone, viagem pura).

Caixinha de música do João é uma instrumental surpresa calminha com vocalizes do Ney, meio new age, fantasmagórica, curta e bela.

O doce e o amargo tem um som meio português, depois vira uma bela canção triste e melancólica, voltando à placidez acústica.

Preto velho podia ter uns tambores, mas é mais uma calminha com a letra nonsense e vocais harmonizados.

Delírio começa meio rock'n'roll com pianinho, entra uma guitarra suja, dá uma delirada meio diminuta no piano quadrado, solinho fuzz com um som quase bom...legal!

Toada & rock & mambo & tango & etc tem um nome sensacional...guitarra suingada, vocais sussurrados muito legais, Ney é foda etc, mudança no meio prum lance meio disco (?!!!).

Discaço quase esquecido e felizmente recuperado na coleção Dois Momentos com a compilação e masterização by Charles Gavin.

(Dão)

3 comentários:

  1. Claro que "Não: não digas nada" é uma poesia musicada, não uma parceria, pois Fernando Pessoa morreu em 1935...

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  2. Ah, e Saramandaia só estreiou em 76, impossível "Medo Mulato" ter sido "retomada" do estilo...

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  3. Em "Tercer Mundo" João Ricardo musicou uma poesia de Julio Cortazar, assim como ele fez com "Não: não digas nada".

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