Eu estava agorinha ouvindo uma palestra do marido da querida Beba, o Ricardo Piglia. Ele disse uma coisa super interessante sobre o momento da leitura e que rapidinho me instigou a escrever esse texto. O Ricardo acha que o ato de ler, a relação entre o leitor e o seu livro é algo muito íntimo.
Nunca havia passado pela minha cabeça a palavra intimidade para o ato de ler. É raro o encontro entre um ser inanimado com um ser animado gerar algo tão sublime e acho que a música quando encontra o ouvido humano gera o mesmo sentimento – a intimidade.
“Bora Bora” me traz um pouco essa sensação de intimidade. Não só pelas músicas contidas no redondo, mas pelas lembranças que carrega… De todos os Paralamas, Bora Bora é meu favorito. Adoro a capa branca e o Bora Bora colorido, ensolarado-vivo, estampado como um retalho de patchwork.
“Bora Bora” é vibrante, reggeado-rock, maré cheia de sopros, bateria vigorosa. O som transborda malícia e malícia atrai intimidade. E esse realmente é o fio do disco: em “Beco” a violência explode como se não fosse nada, em “Fingido” não sei se te amo para sempre ou pra nunca mais, em “Don’t Give Me That” e a pirada “The Can” com o jamaica Peter Metro e seu sotaque que só quem tem intimidade com o seu mundo consegue decifrar – don’t give me no coke no crack…
E o disco vai rolando e o rock vai pegando fogo. “Uns Dias”, mistura sensações, sabores, vertigens, uma onda diferente. É o ponto máximo, super acelerado, quase o êxtase. Na lindíssima “Quase Um Segundo” o disco faz uma curva, volta para dentro, vai acalmando… É simultaneamente delicada e forte. Piano com notas precisas, teus pêlos, teu gosto, teu rosto, tudo/ Que não me deixa em paz.
Intimidade?
“Bora Bora” é sonzeira. E daqueles que a gente para e pensa: peraí, isso aqui é bom demais! É ticket de viagem, entrega e transcendência. Tudo que deliciosamente a intimidade pode te oferecer…
[ANDRÉA]
Que lindo...
ResponderExcluirsó quem tem intimudade com as palavras pra ecrever tão gostoso assim....
ResponderExcluirrose
Sensacional Déa!
ResponderExcluirÉ a sexta resenha dos paralamas, pelo quarto cronista distinto... É algo a se notar não? Mais alguém conseguiu tal proeza?
ResponderExcluirA vantagem aqui é a (merecida) visita da Andréa à minha banda preferida. Ao invés de dissecar o disco e suas canções, suas resenhas geralmente estão dou outro lado do alto-falante, o que enriquece muito a leitura, tornando única mas, não por isso, essencialmente deliciosa.
Esta resenha parece a cereja do bolo, o pingo no I: intimidade, palavra-chave que abre a porta unindo a música e o seu escutador...
[M]
O Caetano conseguiu! O que? hohoho...
ResponderExcluirO Caetano bate os Paralamas no 1001... Desculpa aí Mateus.
Obrigada pelo comentário. Adorei! Mas você se relaciona com gente da pior espécie - depois de um comentário lindo desse, em troca, leva uma sacaneada...
[ANDRÉA]
Muito bom, Déa...vou até tentar escutar esse disco que faz muito tempo que não escuto..
ResponderExcluirbjos
Paul