Continuando na Bahia, vamos à musa Maria Bethânia.
Este é um dos que também são citados no livro original, 1001 discos para ouvir antes de morrer.
É um disco belíssimo, às vezes com aquela performance e interpretação intensos da cantora, mas é assim mesmo, entrega e emoção.
Repertório primoroso, como é de costume em intérpretes não autoras que têm bom gosto, sensibilidade e curiosidade de garimpar novos autores.
Som extremamente límpido, tendo sida a gravação feita em vários locais: SP, RJ, LA, Bruxelas e Londres (Abbey Road!!), com a mixagem tb no Abbey e a masterização em LA zzzzzzz.....
Ainda mais o disco tem um trabalho gráfico muito caprichado e bonito, pena q eu não achei mais imagens para anexar aqui. Um bom motivo pra comprar.
Consta também que é um disco comemorativo: 35 anos de carreira, 35 álbuns e 50 anos de idade.
E começa com a bonita faixa-título, da Adriana Calcanhoto, um violão em estéreo discreto e bonito, um fundo orquestrado leve, assim como a percussão do multiplatinado Paulinho da Costa. Depois entra o trompete brilhante e sinuoso do Steve Tavaglione.
'Tá tudo aceso em mim
tá tudo assim tão claro
tá tudo brilhando em mim'
'Chão de estrelas' (Sílvio Caldas/Orestes Barbosa) é uma bela e depressiva canção, mas a versão definitiva é a dos Mutantes, eu sempre fico esperando a zoação deles...Mas nada com a Bethânia fica feio, né?
'E tu, pisava nos astros distraída
sem saber que a aventura dessa vida
é a cabrocha, o luar e o violão'
'Iluminada' é uma surpresa muito legal, um arranjo nada careta com muitas vozes 'saltitantes', fazendo fundo, percussão e harmonia. Quem será que são Marie Doulne (Zap Mama), Sabine Kabongo e Angelique Wilkie??
'Onde estará o meu amor' (Chico Cesar, parente do Xampu) começa só voz, grave e imponente, aos poucos entrando a harmonia através da harmônica (gaita, pros leigos) e depois a banda, com um clima meio sertanejo e rural, com o vialão de aço do Victor Biglione.
'Lua vermelha' (Carlinhos Brown/Arnaldo Antunes) é a mais bonita pra mim, etérea, calma, letra linda, auxílio luxuoso do pandeiro.
'O circo' (Orlando Moraes/Antônio Cícero) é daquela de crooner, bailão chique num grande salão com acantora vestida de gala. Arranjo meio jazzy, inclusive com uma slide guitar pelo Victor Biglione, que ao fim sola sem slide. Bonito isso.
'Leão, camelo, acrobata
e não há luar
E os deuses gostam de se disfarçar'
'Invocação', mais uma do primo do Xampu, é solene, quase uma oração pagã, com vozes graves ao fundo, bem percussiva e com cordas muito criativas.
'Deus dos sem deuses
Deus do céu sem Deus
Deus dos ateus
Rogo a ti cem vezes
Responde quem és?
Serás Deus ou Deusa?
Que sexo terá?
Mostra teu dedo, tua língua, tua face
Deus dos sem deuses'
Mais uma da Adriana Calcanhoto: 'Uns versos', belas cordas, belos violões, cordas lindas, letra bonita...Bethânia escolhe e interpreta com extremo bom gosto.
'Allez y', do Carlinhos Brown - e perguntem pra ele o que significa, é simples, voz, cordas e violão. Quando digo cordas, são os instrumentos orquestrais que usam cordas: contrabaixos, violoncelos, violinos e violas, sacou?
'Todos os lugares' é mais uma de crooner, piano, voz e cordas doces.
'Quando eu penso na Bahia' (Ary Barroso/ Luiz Peixoto) traz o convidado Chico Buarque cheio de 'iáiá' e 'iôiô' pra cá e pra lá...sambinha animado e legal.
'Ave Maria' tem aquele clima de igreja, violinos celestiais, beata beata beata. Mas é bela também, como uma oração sincera. E ainda tem guitarra e baixo!
'Eterno em mim', do mano Caetano, é grandiosa, com um arranjo que acentua isso, cordas em cascata, seguidas de um piano e voz que ficam bem bonitos.
'Duas coisas que dentro de mim
não podem ter fim
dois azuis no mesmo azul
meu horizonte sem nuvem nem monte
em mim o eterno é música e amor'
E pra terminar pra cima, 'Brisa', um poema musicado de Manuel Bandeira. VViola bonita, bem brejeiro (sempre quis usar esse adjetivo!), além de violão e guitarra discretos.
'Aqui faz muito calor
no nordeste faz calor também
mas lá tem brisa'
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