sexta-feira, 29 de julho de 2011
Âmbar, Maria Bethânia
segunda-feira, 25 de julho de 2011
Tropicália 2 - Caetano e Gil (1993)

A Tropicália foi um movimento artístico ímpar na cultura brasileira - não só por ter expressado uma nova atitude perante à política, a moral e ao corpo, mas porque soube fazer tudo isso de um jeito diferente. Os tropicalistas inventaram uma nova estética: misturaram plástico à miçanga, guitarra ao berimbau, Coca-Cola à Brigitte Bardot. A cena musical brasileira em 1968 foi se tornando cada vez mais polivox: conversavam o velho e o novo, e o Brasil com o mundo.
Em 1993, a Tropicália completou 25 anos e os dois pop-tropicalistas Caetano e Gil comemoram fazendo o que fazem muito bem: música! Se uniram ao Liminha, tropicalista histórico da primeira hora na produção e, juntos, foram costurando um novo projeto que tinha a ver com o passado, mas que também tinha muito a ver com o que a Tropicália tinha feito de todos eles. Como se a criatura estivesse sendo engolida pela boca do criador.
O cd abre com “Haiti” – rap em baixa velocidade, violoncelo de Moreno e percussão de Ramiro Mussoto se misturam à história lado B do Haiti. E na música, estórias vão se cruzando com questões raciais que não se apagam com o tempo, a outras estórias, e a sensação que nos resta é a de que não precisamos ir até ao Caribe, que o Haiti, é aqui. O Haiti não é aqui.
“Cinema Novo” é uma obra de arte. O cinema como fonte de inspiração para a Tropicália. A tela era um lugar, onde sem dúvida, se estabelecia “outras conversas sobre os jeitos do Brasil”. E num balanço delicioso, alegre, a música vai contando a estória do impacto do cinema na música. É a pororoca entre as duas artes: “as imagens do país desse cinema entraram nas palavras das canções”. Cinema Novo, o novo Cinema Transcendental.
“Nossa Gente” e “Cada macaco no seu galho”, bahianíssimas total. É o carnaval que corre nas veias e escorre desses dois baianos. A primeira do Olodum, dona da melhor frase do ano : avisa lá que eu vou chegar mais tarde! E segunda do Riachão, com a participação do Carlinhos Brown, engrossando a presença soteropolitana no cd.
O som negro roquenrrol de Jimi Hendrix era ouvido adoidado pela trupe tropicalista no apartamento paulistano, entre móveis de acrílico coloridos, onde morou Caetano entre 1967 e 68. Influência fundamental na Tropicália, Jimmi Hendrix não poderia faltar em “Tropicália 2”. “Wait until tomorrow”: leitura suingada, abrasileirada, com a presença mais uma vez da turma de Carlinhos Brown e de Nara Gil.
“Tradição” é uma das minhas músicas favoritas do Gil. É uma música que traz coisas da Bahia, um sentimento do lugar, mesmo pra quem nunca tenha vivido lá… Traz também o desabrochar de uma personalidade. É um menino que olha para uma menina, mas acaba observando que o rapaz que estava com ela era diferente de tudo que ele tinha visto até então. Uma coisa meio rock’n’roll, com calça americana. “Tradição” conta a estória de um projeto de ser um homem diferente, que acaba sendo mais importante do que ter aquela menina. O lindo na música é o interesse e a identificação pelo diferente.
“As coisas” a lindíssima de Arnaldo Antunes, além de mais suave na voz de Gil e Caetano, ganha também uma batida mais rock com as brincadeiras de Pedro Sá na guitarra e Liminha no baixo. Gosto especialmente da inclusão da aguda “As coisas”. Essa escolha é mais uma prova da intenção polivox tropicalista.
“Baião Atemporal”, gravada em Los Angeles, é quase uma oração para Tom Zé. De Irará para o mundo.
“Tropicália 2” é uma metamorfose feita em tom de festa. É o encontro com a necessidade de Caetano Veloso em esticar a palavra e seu sentido até a explosão, com a natureza aventureira e livre de Gilberto Gil …
[ANDRÉA]
Lisbela e o prisioneiro - trilha sonora

sábado, 9 de julho de 2011
Mula Manca & a Fabulosa Figura, Amor & Pastel (2007)

Há uns meses, fuçando na internet tive a grata surpresa ao me deparar com um grupo que até então não conhecia: Mula Manca & a Fabulosa Figura. Não sei se foi a capa surrealista ou o nome quixotesco, mas o fato é que algo me chamou atenção e resolvi escutar uma música. Gostei e passei a escutar outras até decidir baixar o disco inteiro e fiquei animado com a descoberta pessoal.
No mesmo dia, apresentei a novidade para a Carol, minha namorada, com um leve receio de que ela, com maior rigor, se decepcionasse. Entretanto, não só isso não ocorreu, como ela se tornou rapidamente fã do disco, mais até do que eu.
Depois, pesquisando, descobri que se tratava de um quarteto Pernambuco (mais uma grata surpresa musical de lá) formado por Tibério Azul (voz, violão e canções) e Castor Luiz (voz, piano e canções), Dom Angelo (guitarra) e Bruno Cupim (percussão) e que Amor & Pastel, o disco em questão, era o 2º e foi lançado em 2007. No primeiro trabalho em 2004, a banda atendia pelo nome de Mula Manca & a Triste Figura.
Reparando bem, o Amor & Pastel apresenta, em sequencia, uma espécie de trilha sonora de um casal em crise. Começa com uma quase MPB “Se Lavo, Lavu”, com a voz masculina de Tibério Azul interpretando a esposa abandonada, tal como Chico Buarque em diversas canções. Em seguida, a bilíngue “Blond Girl”, que conta inclusive com um piano ao melhor estilo bossa nova para retratar a fossa do momento de crise:
No meu carro uma bossa
Um poça que tu gosta
Uma frase meio torta
Uma barriga em meu violão
Uma, duas luas
Uma cachaça, dois coração
Outro par me convidou...para dançar do lado de lá...eu vou. Em “Outro Par” surgem os primeiros sinais do desgaste da relação ao ritmo de um excelente samba de raiz, emendando em “Dinheiro” (uma das minhas preferidas), cuja letra criativa mexe com o imaginário da vida boa de um cara após ganhar dinheiro e esnobar a antiga paixão:
Paris! Europa! Chile! Argentina!
Girafas! Caribe! Charutos!
Hula - Hula! Baralho! Loiras!
Piscina na cobertura!
Massagem, passagem, uma bela paisagem!
Ah, você só vai olhar!
Com uma levada dos tempos do Iê-Iê-Iê, a introdução de “Dinheiro” remete muito à recente “Invejoso” de Arnaldo Antunes. Antes que surjam especulações maldosas, importante dizer que essa música do Mula Manca & a Fabulosa Figura é mais antiga.
“Loteria” vem em ritmo de samba com bossa e o piano volta ter uma participação na curta “Escravo”, onde a crise do casal apresenta-se em sua plenitude: Preciso me humilhar ... E ser só coração...Ou levá-lo numa bandeja...Pra ver se você se comove.
Refletindo a sopa de sentimentos pós-separação, vem “Fórmula 1”: Leio as notícias no jornal...são iguais...Faço um chá pra nós dois..você se foi.. Mas hoje me deu uma sensação... um sentimento de grandeza... uma vontade de dizer...voe voe voe querida..voe voe voe meu bem.... Trata-se de um som que remete ao tempo da jovem guarda. Se fechar os olhos, até a voz lembra o bom e velho Tremendão em mais uma letra divertida e até surrealista.
O céu testemunhou... Cecilia aquela flor...Não murcha, parece que se apetece...Esta cada vez maior cá em mim . “Cecília” começa com letra e sons tristes, mas traz também boas recordações em ritmo alegre dentro da mesma canção:
Aí me recorda,
aquela história da gente dançar como um par
O mesmo baile, eu no mesmo traje e teu vestido insiste em rodar
Juras e beijos, abraços, um regaco escondido pra noite durar
O teu sorriso, cabelo comprido, um adorno com a flor no lugar
Deita aqui...Eu arrumei a cama pra nós dois...Esquece tua mala aí, aqui.... Em “Deita aqui”, uma voz feminina numa canção suave reflete a busca pela reconciliação. O diálogo entre o casal continua depois em ritmo de forró pé-de-serra com “Animal”, afinal sou o mesmo rapaz de cabeleiras longas. Música sensacional.
A trilha da história segue com dois sambinhas “Terra, Água e Sal” e “Paletó”, que retrata brilhantemente a nostalgia que surge após a separação consolidada:
Pouco me tem interessado ultimamente
É que a saudade manda mensagem súbita
Você não está pra me fazer um cafuné
E a leveza já precisa ser
Aos sons de passarinho e com uma bela levada, em "Varanda" a esperança renasce...ainda que sob a incerteza:
Não fique triste, me promete
Que se derrete quando eu voltar
Se eu voltar (...)
O ritmo acelera em “Pé no Chão” com uma letra quase surrealista para encerrar em clima de suspense com “Arrepio”.
Enfim, não sei se foram as múltiplas influências, a alternância entre tropicália, mpb, jovem guarda e mangue beat, ou ainda as letras bem humoradas, mas o fato é que Mula Manca & a Fabulosa Figura me conquistou definitivamente e esse disco transformou-se numa deliciosa trilha sonora do último verão, quando ao lado da Carol, passávamos tardes ensolaradas tomando cervejinha na piscina de brinquedo. A diferença é que, ao contrário do enredo do disco, o clima dominante era de plena harmonia. Valeu Mula Manca! Esperamos ter a oportunidade de ouvi-los em algum show futuramente.
Paul
Obs: para conhecer o trabalho deles, www.myspace.com/mulamanca
Dente de ouro, Blues Etílicos

quarta-feira, 6 de julho de 2011
The ultra sounds of Shivaratri
