terça-feira, 10 de novembro de 2009

Pequeno Cidadão (2009)


Pode-se até definir o Pequeno Cidadão como um disco para crianças. É, de fato, a maneira mais fácil de olhar as coisas, o caminho do óbvio, uma vez que alguns artistas consagrados juntam-se com seus filhos das mais variadas idades e gravam um cd com músicas que os misturam, seja nas composições, seja nas execuções.


Mas aqui proponho um novo orelhar sobre o projeto, não é um “disco para crianças”, ou, a máxima concessão que faço, é um disco para crianças de todas as idades. Arnaldo Antunes, que dispensa apresentações, mas, vá lá, andou pelos Titãs e tem sólida carreira solo e o saudável hábito de se reinventar de tempos em tempos; Edgard Scandurra, guitarrista do Ira!, aliás, mais que isso, idealizador, compositor e motor da banda e que andou arriscando a eletrônica como Benzina; Taciana Barros, que era da Gang 90 e as Absurdetes (eu e minha gata rolando na relva! Rolava de tudo! Confesso que não lembrava dela, tive que pesquisar...); e Antônio Pinto, músico compositor de trilhas sonoras (Central do Brasil, Cidade de Deus...) juntaram-se da maneira mais natural possível: os filhos estudam na mesma escola. (É claro que, Edgard toca na banda do Arnaldo e Taciana é sua ex-mulher, mas os pais que viram amigos dos pais de seus filhos é evento típico).


A referência básica é a Palavra Cantada (já postada aqui), turma com a qual tanto Edgard quanto (e principalmente) Arnaldo já colaboraram, mas vai além, ou melhor, vai a outra direção. Lá, as músicas eram cuidadosamente compostas e arranjadas para as crianças, as letras, o ritmo, a melodia, os timbres... Aqui, o universo infantil das crianças é misturado ao dos pais e em muitas músicas, não fosse a voz das crianças ou as letras em tom de brincadeira, teríamos um disco de rock’n’roll tupiniquim. Da melhor qualidade, diga-se de passagem, é comparável à da melhor safra do Ira! e dos Titãs...


A faixa-título que abre o cd é irresistível, e já virou até propaganda de automóvel. Lá em casa ninguém resiste ao seu balanço. O Sol e a Lua, a minha favorita, tem um refrão contagioso, pegajoso no melhor sentido da palavra, linda música de Antônio Pinto que, como se não bastasse, conta com a elegante guitarra de Edgard tornando-a ainda mais interessante.


E o disco é recheado de momentos inspiradíssimos... o rock’n’roll das antigas Sapo-Boi que é cantado por um dos filhotes, e cá pra nós, e menino se supera e manda ver, totalmente à vontade e muito bem-humorado. Larga a Lagartixa é o momento metal geralmente inconcebível em discos de crianças, mas cá pra nós, pedagogos que não nos ouçam, nem só de xilofones, móbiles e gelatina colorida é povoado o universo infantil. Mas o disco não se limite ao rock, algumas passagens meio eletrônicas como o Uirapuru e a Bonequinha do Papai dão uma quebrada no tom. Mas tem também um sambalada estilo Marcos Valle, composta e cantada por Daniel Scandurra (filho do Edgard com a Taciana, já criança grande, com 21 anos) chamado Futezinho na Escola é a preferida do meu Joãozinho, de sete. Leitinho é a música mais estilo palavra cantada, um xotezinho gostoso do Arnaldo, enquanto que o Um Carrinho por Trás é um pagode malandro, no estilo criança levada que se justifica: não foi na demais!... foi um carrinho por trás (eu falei pro juiz...).


Delicioso disco feito em família termina com uma faixa bônus composta (e cantada) por Ziraldo para seus filhos quando eram pequenos: um deles é justamente Antônio Pinto! E o disco feito em família é melhor ainda curtido em família. Tipo de som que todo mundo em casa curte, pai, mãe, irmão, irmã...


[M]

2 comentários:

  1. ps: Este post é dedicado ao amigo Zé tatu-bolinha: a dica deste disco foi dele...

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  2. Queridos,

    Adorei a resenha! Meu Antonio tem esse cd e, não por acaso, nós curtimos o som juntos.
    Beijos,
    Arti

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