sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Noites do Norte ao vivo - Caetano Veloso (2001)


Pára de ondular, agora, cobra coral:

a fim de que eu copie as cores com que te adornas,

a fim de que eu faça um colar para dar à minha amada,

a fim de que tua beleza

teu langor

tua elegância

reinem sobre as cobras

não corais.


Caetano Veloso é fruta que perfuma com cor absoluta.


“Noites do Norte ao vivo” é mistura do velho com o novo - faz do velho o novo e o novo ainda mais novo. E celebra algo muito especial: música é um universo aberto onde se pode mexer, mudar, pôr e tirar - absorve transformação. A música pode ser um mar antes navegado, mas em que, a cada viagem, você pode descobrir uma parada nova. Isso é de uma liberdade incrível.


Na voz de Caetano muita gente aparece em “Noites do Norte”. Todos gente de primeira: Gil, Jorge Ben, Lulu Santos, Tom Jobim, Waly Salomão, Luiz Melodia, Carlinhos Brown. Aparecem também aquelas pedras preciosas perdidas: Alain Tavares e Gilson Babilônia.


É um disco sem rumo, vai parando em vários portos, enfrenta águas mais ou menos turbulentas, mas é um disco fundamentalmente brasileiro e tropicalista. “Noites do Norte” permite misturas, permite interferências: fala da gente, das nossas heranças, do nosso jeito de amar, do nosso jeito de ser e de fazer rock e da nossa língua.


Parte da África na procura de explicação com a linda “Zumbi”, “Noites do Norte” ou a rápida “Sugar cane fields forever”. Mas na procura a nau se perde nas águas profundas do amor com a obra-prima de quase todos os tempos “Nosso estranho amor”, com a doce e deliciosa, dessas de cair de paixão, “Mimar você”, com “Dom de Iludir” funkeada – Caetano aí é perfeito na mistura de águas – com “Caminhos Cruzados” e finalmente com “Magrelinha”, que naquele amontoado de palavras, torna a poesia puro ecstasy.


Num rock profundo com muita percussão, música que eu queria pra mim, Caetano volta do fundo com “Tigresa”, maravilhosa. “Tropicália” que contém a agressividade sonora do rock surge para provar que o velho continua novo e ainda repleto de sentido. E do fundo surge também a nova “Rock’n’Raul”. Essa eu adoro e dispensa qualquer comentário.

Na marola, “Menino do Rio” chega com mais balanço, “Gatas extraordinárias” malandraça total e “Menino Deus” que fecha “Noites do Norte” já na praia, com sensação de missão cumprida.


"Você provocou

Tempestades solares no meu coração

Com as mucosas venenosas de sua alma de mulher

Você faz o que quer

Você me exasperou

Você não sabe viver onde eu sou

Então adeus

Ou seja outra:

Alguém que aguente o sol"

[ANDRÉA]

2 comentários:

  1. Andréa tem a arte de tornar qualquer disco maravilhoso... [M]

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  2. "Mimar vc" é tão infantil que chega a ser constrangedora.

    Um amigo meu diz sempre: "Zeba, deixei de me preocupar com Caetano depois do Circuladô".

    ZEBA

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