sábado, 1 de maio de 2010

Café fresco e quentinho...

Pois é, um disco de chorinho pelo menos dentro de 1001... é o mínimo não? Este Café Brasil pode ser taxado de coletânea (o que na verdade não é), for export (o disco foi encomendado para ser lançado no mercado germânico/europeu) ou seja lá o quê. Pouco importa. Ou talvez até seja for export mesmo para ouvidos brasileiros mais acostumados à avalanche pop-rock que veio nos anos 80.

Não entendo lhufas de chorinho e gosto muito pouco de música instrumental. Uma das poucas exceções é justamente o chorinho. O nome também parece não combinar com a música que sugere alegria ao invés de tristeza, talvez sejam os tons agudos do bandolim e do cavaquinho. (while my guitar gently weeps...). Chorinho que tem gosto de manhã ensolarada de domingo no coreto da praça. Acho mesmo o chorinho mais interessante que o samba e, infinitamente superior a tal da bossa nova. Se o samba fosse uma feijoada, o chorinho seria a couve.

Em Café Brasil o nome pode parecer, cá pra nós, infeliz, mas para os gringos lá faz todo o sentido. Se o chorinho for café, é aquele passado em coador de pano, no fogão à lenha na casa da vó. E servido com rosquinha de polvilho bem fresquinha e broa de fubá no meio da tarde, naquela hora em que você ainda nem percebia que estava com fome...

Ah, o disco. A idéia é simples. Uma seleção de clássicos do choro (e não parece que qualquer chorinho é realmente clássico?) representado por seus maiores compositores, Jacob do Bandolim, Ernesto Nazareth, Pixinguinha, Benedito Lacerda, Waldir Azevedo, Chiquinha Gonzaga, Paulinho da Viola... E de quebra uma seleção de intérpretes que não deixa dúvidas, misturando a virtuose instrumental de Altamiro Carrilho na flauta, Henrique Cazes no cavaquinho, Joel do Nascimento no bandolim, Rildo Hora na harmônica, Maria Teresa Madeira ao piano e claro, e nem poderia deixar de ser diferente, o Conjunto Época de Ouro; artistas que vão se revezando entre as faixas e que são acompanhados aqui e ali por intérpretes que não são tipicamente ligados ao choro como Marisa Monte, Martinho da Vila, João Bosco, Leila Pinheiro e Sivuca.

Os destaques são muitos. Onde sopra Altamiro Carrilho a felicidade é plena, e aqui ele toca em duas faixas. Especialmente em 1 x 0, choro do velho Pixinga, o dueto com o sax de Carlos Malta é de tirar o fôlego. Sarau para Radamés, choro de Paulinho com o próprio no cavaco e Rildo Hora na harmônica; Onde Andarás, de Caetano Veloso e Ferreira Gullar traz Marisa Monte fazendo o que sabe melhor: cantar. Mas o que ficou o chantilly deste café (se a vó fizesse chantilly pra pôr no café) é Sivuca sanfonando em Noites Cariocas, meu choro favorito. Sem açúcar. Mas com muito afeto.

[M]

4 comentários:

  1. É bom, mesmo. Mas acho o segundo melhor. Vale escutar o lobão com o seu "chorando no campo" e o Moska com "insensatez". Essa última uma obra prima de interpretação. ZEBA

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  2. Caraca! Moska cantando insensatez!!! Disconjuro! Ainda bem que não vi, nem ouvi isso!!!

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  3. Nao entendi a comparacao com a couve. Apesar de gostosa, eh um componente secundario da feijoada. E acho que vc quis dizer o contrario, neh nao?

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  4. Não... quis dizer isso mesmo. Tire a couve da feijoada, e ela fica completamente sem graça... abs[M]

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