sexta-feira, 26 de junho de 2009

Oblesqonversation... Õ Blesq Blom - Titãs (1989)


Minha primeira lembrança do Õ blesq blom, foi de um show dos titãs em Recife, no centro de convenções a meio caminho de Olinda... A banda estava instigadíssima e eu estava... bem, deixa pra lá... O legal é que quem abriu este show foram Mauro e Quitéria, pessoalmente! Então quando a banda atropelou com tudo em Miséria, miséria em qualquer canto, a platéia foi à loucura!...

Esse show foi muito bom, eu estava acompanhado de grandes amigos, nos divertimos muito e de quebra ainda encontrei umas primas na entrada, que eu nem sabia que curtiam os titãs... Tudo isso transformou õ blesq blom no meu disco favorito dos titãs. Foi minha primeira bolacha deles (comprei no dia seguinte!). Faz muito tempo que eu não ouço o disco, então prefiro começar esse papo mais de memória do que com uma impressão mais "amadurecida" sobre o disco, o que seria, talvez, injusto (com minhas lembranças, principalmente).


Que massa... cabeça feita, amigos queridos, Titãs de cabo a rabo, Mauro e Quitéria e ainda em Recife? Um privilégio... Eu já não tive tanta sorte... o meu Õ blesq blom foi só ouvido (e é ainda), mas ouvido de corpo e alma. Esse disco é muito bom! Com todos os Titãs e cheio de música de prima.

Os Titãs também pintaram cedo na minha vida, meu primeiro show deles foi o Sonífera Ilha e me lembro de ter ficado assustada pela quantidade de gente no palco. Eles eram um montão! E chegaram para fazer estória, pelo menos na minha vida...

O que é Õ blesq blom? Nesse documentário que saiu dos Titãs (que você deveria ver, porque é bem emocionante) mostra o grupo nas areias de Boa Viagem e conta a estória que foi justamente nessas areias que o grupo travou seu o primeiro contato com a voz de Quitéria e de Mauro. Parece que quando os Titãs ouviram os dois cantando aquele monte de língua misturada, que o Paulo Miklos e acho que o Marcelo Fromer, sairam correndo atrás deles, enloquecidos.

Esse disco é cheio de memória. Acho que música boa tem esse viés, o da memória...

E o encarte? Gosto do jeito que as letras estão dispostas, como num xadrez, como num jogo da velha. O título é daquele jeito, com letrinhas recortadas de revista, sabe? E sobre um fundo que parece um azulejo do Brennan. Uma misturança genial: tradição lá de cima com o rock lá de baixo! E as fotos são super inusitadas (e bem engraçadas)! Cada um meio que vira um personagem de si próprio. E o cabelo do Nando naquela época crescia para cima! O Nando sempre brincou com a sua cabeleira!

ps: Acabo de descobrir que a capa é do Arnaldo Antunes... Agora as letrinhas começam a fazer sentido...!


Musicalmente este õ blesq blom me parece um pouco diferente dos outros anteriores. Acho que aquela fúria do cabeça dinossauro e de jesus não tem dentes no país dos banguelas fica mais sutil aqui. O próprio título do disco já é um sinal. A mais furiosa talvez seja Medo, que é uma das minhas favoritas. Na voz de Arnaldo, os titãs te conclamam a perder o(s) medo(s) na marra, na porrada. Além do vocal mais gritado, o ritmo é alucinado, bateria bem marcada, guitarras mais pesadas e repetitivas.

Além do Medo, minhas favoritas são a faixa-titulo Miséria, onde eles exploram o ping-pong sonoro que já tinham usado em Diversão (do disco anterior), mas agora de uma maneira mais rítmica, dançante. E a letra é um achado, com o jogo riquezas são diferentes / riquezas são diferenças. Gosto também de Flores, que foi a música de rádio deste disco. Ainda que a letra não seja das mais titânicas, o trabalho de banda é excelente, uma música muito bem construída pelos dois guitarristas. O Pulso é outra sensacional. A construção em forma crescente é demais. Tem um divertidíssimo rock de raiz em 32 dentes e o funk Deus e o Diabo, conferindo diversidade sem tirar a coesão do trabalho. Nesta última, Paulo Miklos canta o dilema de todos nós, com deus e o diabo habitando a mesma morada... Os pontos fracos do disco (fracos porque comparados às outras!) são o camelo e o dromedário e, por incrível que pareça, as duas do Nando Reis (Raciosímio e Faculdade), justo ele que é hoje o melhor dos músicos pós-titãs...
Mas a minha favorita mesmo é Palavras, que eu comecei a gostar mesmo depois do disco de quarentena, acústico mtv, com outra roupagem, totalmente diferente:

Palavras não são más / Palavras não são quentes

Palavras são iguais, sendo diferentes

Palavras não são boas

Os números pros dias / E os nomes pras pessoas


Õ blesq blom é um disco meio híbrido, com timbres menos punks, mas ainda muito profundo, com muito sangue correndo nas veias - como se fosse criado em pleno êxtase, onde a dor te retorce, mas é uma dor incolor, e você consegue continuar criando - daí talvez um som que soe menos agressivo, mas as letras são carregadas na angústia, dando um tom poético e ácido. Acidez e poesia, tá aí. Os Titãs por muito tempo foram um dos melhores tradutores do nosso inconsciente, sabiam como ninguém nomear nossas dores e desejos.

O discp abre com a reinvenção de uma língua na voz da dupla Mauro e Quitéria, língua onde ninguém entende nada, mas todo mundo entende tudo. Todo mundo tem sua própria língua. E vem Miséria, a língua entendida sem equívoco e fantasiada com cores modernas, para fácil digestão.

Filhos Amigos Amantes Parentes Fracos Doentes Aflitos Carentes

A morte não causa mais espanto / O sol não causa mais espanto

Camelo e o Dromedário dá a leveza na angústia. Adoro uns sonzinhos que pulam no meio da música, como se fossem um ponto de interrogação sonoro. Gosto do balanço, uma coisa meio reggae, meio relaxante, que dá um gosto especial pros nossos ouvidos. Afinal, porque um camelo e um dromedário poderiam nos trazer tantas dúvidas? Magnífico!

Palavras eu preciso preciso com urgência / Palavras que se usem em caso de emergência. As palavras escapam da boca de uma maneira frenética, parece que com uma necessidade mesmo de colocá-las para fora. Palavras que se diz / Se diz e não se pensa". Eu quero todas elas!

O Pulso é outra entre as minhas favoritas totais. Aquela lista de doenças do corpo e outras da alma conectadas com aquela palavra falada pulso, que tem hora que soa uma respiração e outras com a pulsação é um escândalo! É um escândalo de vida com morte. E o corpo ainda é pouco.

E eu sigo com Medo, que é outra obra-prima. O Pulso e Medo caminham juntas, na mesma frequência, na mesma tentativa de se livrar de algo. Enquanto Medo é alucinada, rápida, desesperada, Pulso é a própria pulsão, é a vida em si. O Medo é mental, o Pulso é físico e Deus e Diabo é a nossa fantasia.

E os Titãs simplesmente nos descrevem, nos musicam. Õ blesq blom vai embora na mesma voz que veio - na de Mauro e Quitéria - e o que fica é a sensação de um desenho do ser humano, um desenho que foi musicado - tá lá sua mente, seu corpo, sua imaginação, suas palavras.

Carteira de identidade / Perda de identidade / Identidade dupla / Identidade xerox / Não tenho mais identidade!


[ANDRÉA] & [M]

6 comentários:

  1. Ficou lindo...[ANDRÉA]

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  2. Esse é o único disco dos caras que gosto. Aliás acho que todos andam na maior dureza...só isso pra justificar insistir na carreira de forma tão constrangedora.ZEBA.

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  3. hahaha vc achou o seu proprio post lindo? Isso eh que eh modestia. Mas ficou o legal o lance a 4 manos. Da pra ver bem o estilo de cada um. Abs, LM

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  4. Oi Andrea!
    Eu fui neste Show lá em Olinda.
    Foi demais, também me lembro bem de muita gente com a famosa garrafinha de Pau do Índio do seu Cardoso.
    Grandes lembranças de tempos que só retornam com os Titãs no volume máximo.
    Até!

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  5. Você foi ao show em Recife? "O camelo e o Dromedário" é fraca ou magnífica?Fora isso a resenha tá boa.

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    Respostas
    1. Oi Ademar
      Tudo bem? Bom saber que temos um leitor tão atento. Isso contribui muito.
      Seguinte: esse blog é uma criação coletiva de uns 8, 10 amigos.
      Esse disco, sem percebemos em um primeiro momento, foi resenhado duas vezes por autores diferentes: Déa e Mateus.
      Posteriormente, quando descobrimos isso, um dos colaboradores (não sei quem ou se foram eles mesmos), resolveram juntar as duas resenhas. E isso acabou gerando pequenos trechos onde o contraditório apareceu, como na questão levantada por você: um deles acha a música em questão fraca e a outra gostou.
      Continue comentando...está legal
      abs
      Paulo

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